Torre Eiffel é uma linda vista, tenho que concordar. As diversas cores que piscavam dela eram de tirar o fôlego e só de imaginar estar aqui observando e sentindo tudo isso é uma coisa de outro mundo. Estava muito frio e por mais que eu esfregasse minhas mãos, o friozinho ainda permanecia. Clara estava agarrada em mim como se eu fosse seu cobertor humano e toda vez que eu me mexia mais ela se aproximava. Por puro impulso, pego suas mãos e acabo enfiando as dentro do bolso do casaco onde as minhas se encontravam. A exposição seria em algumas horas e pelo que escutei do Adam; a decoração se encontrava um máximo, os quadros estavam todos posicionados, e seria como uma festa de alta elite. Estou meio receosa com tudo isso, digamos até que um medo percorria levemente minhas costas, como um leve sussurro em meus ouvidos. Era como voltar ao colegial, tendo que apresentar os trabalhos para os professores e seus convidados. Devo admitir que além de péssimo, era frustrante ter que falar em público.
-Nervosa? – Clara, beija minha bochecha, atraindo minha atenção para si.
-Um pouco. – confesso, sorrindo brevemente. -Pelo que sei muitas pessoas vão estar lá. Pessoas que nunca vi na minha vida!
-Você não estará sozinha, Lucy. -ela fala, me fazendo acenar positivamente com a cabeça.
Clara se coloca a minha frente, passando os braços sobre meu pescoço, beijando de leve meus lábios. Eu sigo seu ritmo e acabo passando os braços sobre sua cintura, a abraçando completamente. Percorro minhas mãos por dentro do seu casaco e escuto ela reclamar sobre o gelo que minhas mãos estavam. E desse modo aconchego em seu pescoço, sentindo seu perfume; e posso dizer que passaria minha vida toda desse jeito que não me importaria. Respiro em sua pele, apreciando a forma como ela se arrepiava ao meu toque... "Eu amo quando me toca, quando me beija e quando me abraça, parece que vou derreter no infinito que sinto por você." - era o que ela disse noites atrás. E acabei levando um tapa por brincar com isso, por dizer que sou demais e me garanto no que faço.
Mas a verdade era que sempre pela manhã, eu acordava antes do despertador e ficava lá observando Clara dormir ao meu lado. Podem me chamar de estranha, mas era magnifico observa-la daquela forma adormecida. Deixo um sorriso espaçar ao me afastar de seu abraço.
-Quem ir tomar um café comigo? – inclino a cabeça, puxando seu corpo mais para perto do meu. Clara só aceno, voltando a me beijar.
∞
"Pessoas andavam de um lado para o outro, levando consigo flores e bandeiras de bebidas. A luz ambiente deixava o lugar mais calmo, porém se você parar pra pensar na quantidade de pessoas que viram hoje, aquele lugar se tornaria macabro em questões de segundos". - penso, fechando meus olhos, respirando pesadamente, sentido um nervosismo enorme. Eu havia dito que só iria da um volta e que logo estaria de volta, mas estou repensando em simplesmente ficar aqui sentada no banco e observar tudo. E parando pra pensar era mais divertido estar aqui do que lá, sofrendo com o nervosismo e tendo que escutar grosseira de graça. Eu vou ficar aqui, sentada e desfrutar dessa praça uma bela vista a uma fonte majestosamente linda.
Cruzo os braços, enquanto observava distraidamente a fonte jorrar água em sua volta. Aquilo era hipnotizante, ver o movimento que a água fazia, simplesmente sugava toda a minha atenção e é tão prazeroso ficar com o olhar fixo em algo que eu não conseguia desviar. As luzes de diversas cores piscavam incansavelmente, iluminando a água, fazendo um verdadeiro espetáculo! Fico extasiada com essa pequena e despercebida apresentação. As pessoas que por ali passavam apressadamente, estavam perdendo um grande e magnifico espetáculo! Sopro todo o ar contido em meus pulmões, observando a fumaça se formar sobre minha respiração.
"Não estou psicologicamente preparada para isso!" - penso, puxando meu casaco mais perto, na falha tentativa de se aquecer. Tenho certeza que nesse exato momento todos já deveriam estar arrumados e prontos para a exposição. Provavelmente eles já estivessem lá e a euforia está tão grande em relação ao tanto de pessoas ricas que nem lembre de mim. "Não, mesmo." - Deixo um singelo sorriso escapar, mas logo volto a ficar séria por lembra que isso não iria acontecer. Pois eles sentiriam minha falta com toda a certeza.
-Só uma volta hein? – ergo minha cabeça rapidamente, assustada com a voz, mas ao ver Clara parada em minha frente toda arrumada, passo a respirar tranquilamente. - Lucy?
-Estava criando coragem para voltar. – confesso, baixando a cabeça, evitando seu olhar, mas posso sentir seu olhar sobre mim.
Entretanto ergo novamente o olhar só pra vislumbrar, ela colocando as mãos nas cinturas e por deus como ela estava linda! Seus cabelos estavam mais lisos, porém se encontravam cacheados nas ponta, e nossa como aquele vestido preto se agarrava perfeitamente em seu corpo, casando muito bem com suas curvas. Tudo que eu faço é sorrir bobamente em sua direção, mas Clara me observava séria, e em seu rosto dava pra ver um brilho de desafio. Suspiro cansada ao ver que aquilo iria se prolongar por algumas horas... Porque ela não pode simplesmente me deixar aqui ou se preferir poderia me fazer uma companhia silenciosa.
-Eu não vou embora se é isso que está pensando... – ela diz, aproximando.
-Eu sei. - falo vendo ela se senta ao meu lado, cruzando as pernas e passando um dos braços sobre os meus ombros. – Não vou voltar.
-Eu sei. – Clara diz, encostando a cabeça em meu ombro, me dando um abraço meio desleixado.
Viro o rosto, observando seu novo corte de cabelo. Sua franja estava caindo constantemente em seus olhos, porém ela não se importava. Pelo contrário, ela estava amando ter um novo corte, um novo visual e um novo estilo. Beijo o topo de sua cabeça, fazendo ela vira o rosto pra mim. E assim beijo seus lábios levemente. Sinto seu sorriso contra meus lábios e eu sabia que Clara não me forçaria a ir pra a exposição, talvez nem mesmo ela quisesse ir... O simples fato de ter várias pessoas admiradas em ver a inspiração em carne e osso a assustava de certa forma. Clara volta a encostar seu cabeça contra meu ombro, movendo seu corpo ainda mais perto. Várias pessoas passavam de um lado para o outro naquela praça, tentando fugir o mais rápido possível do frio, elas cruzavam caminhos diferente, mas nenhum olhar era feliz... Todos pareciam estar tendo um dia difícil. Seguro forte a mão de Clara, sentindo ela retribuir o gesto, me deixando mais despreocupada com tudo. Todos estavam tendo um dia difícil e ser o centro das atenções não era o estilo de muitos.
-Como está lá? Lotado? – pergunto, quebrando o calmo silêncio entre nós.
- Sim. Todos estavam esperando por você, mas como eu sabia sobre sua “caminhada”, resolvi sair mais cedo da festa. – Clara se vira, me encarando brevemente.
Ela parecia meio distante ou seria impressão minha? “Eu deveria ter trazido você comigo desde o começo.” – penso, sustentando seu olhar. Um vento frio passa rapidamente entre nós, fazendo com que ela puxe seu sobretudo mais pra perto; o fechando. Pigarreio um pouco incomodada com o frio também, mas tiro meu cachecol, passando sobre seu pescoço. Clara me olhava intrigada, porém não disse nenhuma palavra para meu gesto, ela simplesmente sorriu, mas não como antes... algo estava estranho... E como um estalo mental entendo o motivo de seu distanciamento repentino.
-Eu estava pensando...- paro de falar, ficando em pé. Deixando ela sentada no banco. – Que tal um encontro? Você e eu? Já que estamos em Paris podemos ir jantar ou qualquer coisa que quiser.
-Isso é uma espécie de desculpa? – ela questiona, arqueando as sobrancelhas. – Por não ter me trazido com você?
-Sim e sim. – respondo sua pergunta, arrancando uma gargalhada maravilhosa dela. – Deve ser estranho pra você essa exposição... Já que é você nos quadros... Eu deveria ter.... De qualquer modo você está aqui e dessa vez não vou te deixar sozinha.
-Sou mais cara que isso Lucy...
-Quando voltarmos para o hotel, vou te fazer uma massagem! – digo alegre ao ver seu rosto brilhando de desejo.
Vejo ela ficar em pé, e um rubor cobria seu rosto belamente, a deixando ainda mais linda... Ah... Se eu soubesse que seria assim teria tirado uma foto e teria o imenso prazer em retratar essa bela imagem de uma garota perfeitamente linda, sorrindo amavelmente em uma bela noite de inverno. Teria retratado as estrelas que estavam estampadas em seu olhar e faria questão de contar quantas estrelas tinham e acabaria desistindo, porque mais constelações apareceriam, impossibilitando a conta... E por fim morreria de felicidade ao saber que aquelas constelações eram nossas... Somente nossas. Ficaria agradecida por saber que aquele era nosso universo.... nossa paz, nossa calma e por fim nosso amor! Pintaria com cores vibrantes traços apaixonantes e decididos, como um sentimento certo por alguém que ama. Do azul mais claro ao vermelho mais intenso, existente das paletas de cores. E me apaixonaria mais uma vez, por esses lindos olhos intensos que me observavam amáveis. Seria possível fazer uma fantasia virar realidade? Seria possível acreditar que existia alguém assim no mundo? Às vezes tenho medo que isso seja só um sonho... Tenho medo que isso acabe e que eu a perda como uma estrela cadente no céu... Que aparece do nada e quando menos esperamos some de nossas vistas em questão de segundos.
“Não quero que seja uma estrela cadente." - penso, baixinho dentro da minha mente, como uma prece a qualquer Deus disposto a escutar minhas orações. “Não quero perder você.” - Não quero voltar a ser somente eu... Quero acordar todos os dias e ver você ao meu lado adormecida, quero ter uma família como você. Quero viver para você.
-Clara. – murmuro, me aproximando lentamente. - Não quero um céu com você, não quero ter somente um momento, não quero ter segundos, não quero ter horas ou até mesmo dias, semanas..., Mas sim uma vida, uma vida inteira. Quero ter um universo cheio de constelações de todos os tipos... Eu quero ser seu universo... Eu quero ser seu infinito! Quero você pra mim.
-Mas eu já sou sua. – ela diz, me fitando calorosamente.
-Não... Você não está entendendo... – falo, erguendo os braços sobre os seus, sentido o calor com o contato. Minha respiração saía rápido e descompassada. Meu coração batia forte, mais tão forte que parecia querer me parte ao meio.
-Então seja clara! – engulo em seco ao escutar ela falar.
-Você aceita se casar comigo? – finalmente falo, puxando seu corpo contra o meu.
Um leve vento naquele inverno percorria em torno de nós, soprando todo o nervosismo, soprando todas as indecisões e levando consigo as certezas de um novo futuro ou um novo passado. Porém minhas orações devem ter sido atendidas, pois um beijo aquecido e apaixonado me surpreende, me suspendendo da terra. Como um sussurro de uma promessa silenciosa entre corações apaixonados.
- Eu aceito.
E como crianças começamos a correr em direção a uma igreja mais próxima.
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