POV CATRA
Nasci e cresci em uma cidade pequena no interior do estado de São Paulo, daquelas que o forte é a agricultura familiar e os artesanatos locais. Pra ter uma noção maior, os partos eram feitos por parteiras nas casas das próprias gestantes, infelizmente foi em um destes que minha mãe morreu, eu tinha dois anos e ela e meu irmão partiram. Ficamos só eu e meu pai, ele foi um homem bom e um excelente pai a sua maneira.
Na minha cidade havia só uma creche e uma escola de ensino fundamental, pra fazer o ensino médio tinha que pegar ônibus e ir pra cidade ao lado. Ninguém tinha muita pretensão de se formar e fazer faculdade, sem muitos sonhos pro futuro... Dos alunos que iniciaram os estudos na creche comigo, somente mais dois concluíram o ensino médio, a maioria largou o estudo bem antes disso pra poder trabalhar.
Apesar de ser ruim o fato de ter perdido minha mãe tão cedo, de certa forma isso me ajudou um pouco, sendo somente duas pessoas em casa, a despesa era menor. Meu pai não tinha muito estudo, mas de alguma forma ele me incentivou para que eu estudasse.
Uma vez quando eu era pequena tive uma dor abdominal absurda, eu me lembro até hoje da dor. Meu pai me deu chá, banhos com umas ervas fedidas, umas sopas estranhas, me levou em benzedeira e nada adiantava. Até que um dia ele me fez tomar um banho bem caprichado e botar a roupa de domingo, iríamos ao médico que ficava na cidade ao lado. Ele mal precisou me examinar, me passou dois xaropes e meia hora depois eu estava melhor, na época eu achei que fosse tipo uma mágica. Nesse momento eu soube que eu seria médica...
Assim que eu tive consciência que o médico não era um mágico e sim uma pessoa que estudou muito pra poder salvar vidas foi a isso que eu me dediquei: estudar, estudar, estudar... Eu passava na biblioteca após a escola pra pegar livros e mais livros o mais avançados possíveis para me enfiar nas minhas horas livres.
Imagina só, na época do vestibular eu não tinha muita condição de sair fazendo vestibular pra tudo quanto era canto, então eu procurei pelas faculdades que aproveitavam melhor as notas do Enem, na época as federais não utilizavam o Enem... Foi uma correria pra ir pra uma metrópole e ficar fazendo prova atrás de prova, ainda bem que eram todas em seguida...
Quando chegou o resultado eu fiquei feliz demais, parti com o pai pra Campinas fazer minha matrícula e procurar meios pra me manter por aqui por no mínimo seis anos, fiz inscrição no diretório acadêmico pra bolsa moradia/trabalho e torci os dedos... Agora só precisava esperar por mais três semanas pra minha vida de verdade começar.
Voltei alguns dias antes do início do ano letivo, pra poder iniciar o trabalho na biblioteca e ajeitar meu quarto na moradia estudantil, meu pai foi me levar na rodoviária, parecia um pombo, com o peito todo estufado de orgulho falando pra todo mundo que a filha ia ser doutora... Eu chorei muito esse dia e prometi a mim mesma que encheria ele ainda mais de orgulho... Já conseguia até me ver de beca entregando o diploma pra ele.
Logo que as aulas começaram eu fiz amizade com três garotas: Scorpia, Entrapta e Netossa, viramos inseparáveis... Já formamos um grupo na primeira aula de anatomia e assim foi por quase quatro anos. Nós nos encontrávamos logo de manhã nas aulas, íamos em seguida bandejar, voltávamos pra mais aula, depois enfiávamos a cara nos livros da biblioteca, eu ia trabalhar após isso tudo, é claro que eu aproveitava pra estudar mais ainda, depois bandejava antes de ir pra moradia e reiniciar tudo no dia seguinte.
Logicamente que com essa rotina a Entrapta e eu tivemos médias muito boas no primeiro semestre, Scorpia e Netossa estavam mais na média porque elas acabaram se integrando mais na atlética e acabaram participando mais da bateria e dos jogos... Mas como eu disse antes nós não nós afastamos, o que acontecia bastante eram as duas nós arrastarem para as festas e eventos esportivos.
Foi em uma dessas choppadas que eu “conheci” a pessoa que viraria meu mundo de ponta cabeça, bom não conhecer, conhecer... Porque né, a gente estava na mesma sala, já se conhecia e tínhamos trocado talvez meia dúzia de palavras. Mas foi nesse dia que nós realmente nós conectamos mais, foi mais exato em um momento que eu resolvi buscar alguma coisa pra beber e ela estava no bar servindo as pessoas, ela era alta, loira, olhos azuis muito claros, linda, simpática e popular, fazia amigos por todos os lugares...
- Hey Adora...
- O-o-oi Ca-atra, hey você está aqui...
- Bem da última vez que chequei, eu era eu mesma... Ou será que eu fui sequestrada e substituída por um robô?
- Haha, muito hilária você – A garota estava simplesmente conversando comigo como se não tivessem várias pessoas em volta esperando para serem servidas – Você gostaria de algo pra beber??
- Uma soda, por favor...
- Hum interessante, você não bebe?? – Falou me servindo um copo
- Não tenho nada contra beber, é que eu detesto cerveja, e essa vodca não me parece uma opção muito boa, então tô achando melhor ficar no refri mesmo.
- Ahn não, para... Primeiro – Disse levantando um dedo – Cerveja é algo que você precisa degustar, algum dia vou te levar pra um lugar pra te ensinar isso melhor. Segundo – Levantou um segundo dedo – Realmente você faz bem de ficar longe dessa vodca – Ela lançou o sorriso mais lindo que eu já havia visto em toda minha vida, logo em seguida voltou com um garrafão marrom e encheu um copo de um líquido esverdeado – Terceiro, você tem mais opções: Tadaaaaaaaa... Jurupinga, isso, minha gatinha, é o néctar dos deuses pra quem gosta de bebida doce...
– Joguei meu tronco pra frente usando um sorriso travesso - Sua gatinha é?? – Peguei o copo das suas mãos e experimentei a bebida – Nossa, isso é bom mesmo!
- Aaaaaaaaahn – A garota parecia bugada, completamente vermelha e visivelmente sem jeito – Aaaaaaaahn.
- E aí Adora, você vai ajudar a gente aqui ou não?? Um veterano gritou na outra ponta do bar.
- Ahn, eu fico feliz que você gostou da bebida – Ela finalmente pareceu voltar a realidade.
- Sim, muito obrigada pela dica, a gente se vê por aí... – saí buscando meu grupo de amigas, elas se encontravam em uma roda agora bem maior de pessoas, todo mundo parecia se divertir muito, eu me enturmei e passei a dançar.
Voltei ao bar mais algumas vezes para buscar do “néctar dos deuses”, ou melhor, ver a deusa que depois de algumas horas de festa já havia arrancado a camisa social e a amarrado no cós da calça, agora no tronco usava somente um top esportivo preto. Deveria ser proibida a exibição de uma cena dessas, pensa em um corpo torneado... braços fortes de quem puxa ferro pra caramba, um abdômen super definido, aquelas duas entradinhas na região da pelve. Nossa, acho que agora fui eu que buguei.
- Catra, oi Catra... Tá tudo bem?? – Adora passava as mãos na frente do meu rosto com as sobrancelhas franzidas.
- Oi, tá sim, eu só dei uma viajada aqui pensando em umas paradas.
- Tá certo, mais uma Jurupinga?? Aproveita que tá acabando.
- Me dá logo é duas então – Praticamente virei a primeira, precisava passar alguma coisa pela minha garganta urgentemente – Tá quente aqui né??
- Bastante, eu não tava mais aguentando essa camisa, o Bow que insistiu pra que eu me agasalhasse porque segundo ele podia esfriar.
- Que bom que ele errou – Disse encarando mais uma vez aquelas entradinhas – Eu detesto frio – Voltei os olhos ao seu rosto enquanto ela servia mais algumas pessoas.
- Hey, que horas são??
- Cinco pras duas...
- Que maravilha... Me espera um pouco?? – Eu balancei minha cabeça concordando enquanto ela foi indo pra dentro do bar, eu terminei de beber minha primeira bebida enquanto olhava em volta. Levei um susto quando senti alguém me agarrando minha mão.
- Vamos dançar?? Quero aproveitar um pouco da festa.
A loira nem esperou eu responder e já foi entrelaçando nossos dedos e me puxando para a pista de dança.
- Seus amigos estão do outro lado.
- Eu sei – Ela simplesmente pegou meu copo e virou o resto da bebida, deixando ele em algum canto. Depois me puxou mais ainda e começou a dançar sem soltar a minha mão – Bora, dança comigo... – Nós dançamos, pulamos, jogamos cabeça, nós divertimos muito, não saberia dizer por quantas músicas...
Até que se iniciou um ritmo mais lento, mais melodioso. Eu olhei pra loira na minha frente e ela parecia confusa, como se não soubesse ao certo como agir. Acho que meu nível alcoólico me ajudou a perder a inibição, dei um passo pra frente e enlacei o seu pescoço com meus braços, comecei a me mexer no ritmo da música enquanto encostava meu rosto na curva do seu pescoço. Ela imediatamente passou os braços pelas minhas costas e também começou a se mexer no ritmo.
O cheiro do perfume misturado com o seu suor estava me deixando mais inebriada do que todos os copos que eu havia ingerido naquela noite, não resisti de dei um fungada na região. Senti ela prender a respiração na minha primeira fungada, na segunda acredito muito ter ouvido um suspiro pesado e longo, na terceira senti ela me apertar e grudar ainda mais nossos corpos.
Uma de suas mãos subiu se enganchando nos meu cabelos trazendo meu rosto mais próximo de seu pescoço, eu não tive dúvidas, passei a beijar e dar pequenas chupadas na região. Quando eu ouvi ela soltar um gemido, as minha mãos foram automaticamente descendo pelas suas costas arranhando de leve toda extensão percorrida.
Foi aí que nós demos o nosso primeiro beijo, nossos lábios se moviam em sincronia, como se já fizéssemos isso há anos... Minha língua pediu passagem e nossa, aí que a gente percebe que tudo que é bom sempre pode melhorar. Esse beijo deve ter durado muito porque quando nos separamos, a festa parceria muito mais vazia do que quando iniciamos o beijo
Olhei pra ela e novamente estava lá, aquele sorriso que poderia me desmontar sem nem fazer muita força, novamente nos beijamos demoradamente dando alguns selinhos após. Quando eu olhei no relógio quase caí pra trás...
- Adora já passam das quatro da manhã.
- E daí?? A gente não tem aula amanhã...
- Eu combinei de dormir na República da Entrapta.
- Então com certeza ela deve estar em algum canto te esperando, suas amigas não iriam embora sem você, fica calma... – Quando eu dei por mim estávamos novamente nos beijando, e o mais engraçado era que cada beijo parecia melhor do que o anterior, nossa, como eu queria me perder naquele corpo... Nossas mãos foram ficando cada vez mais bobas, passeando pelo corpo uma da outra. Era delicioso estar naquela situação.
- Caham..
Nós separamos imediatamente assustadas.
- Então, eu não queria ser chata, de verdade... Mas deu a hora de irmos embora Catra.
- Hey Trapta, ahn... Você conhece a Adora??
- Mas é claro que eu conheço a Adora, nós estudamos juntas... Eu te espero no carro... Tchau Adora.
- Até mais Entrapta...
Nós duas nós encaramos por alguns segundos, eu arrisquei mais um daqueles meus sorrisos travessos – Eu te vejo por aí... – Fui puxada pra mais um beijo calmo seguido de alguns selinhos.
- Não se eu te ver primeiro.
Demos uma risada e trocamos mais uns selinhos e eu infelizmente consegui me desgrudar da loira e fui me encontrar com minhas amigas...
As três já estavam dentro do carro e somente a dona do carro parecia acordada, dei graças a Deus por isso. Eu sentei no banco do passageiro da frente e fomos em direção a república que ela morava em silêncio. No dia seguinte acordamos tarde e aproveitamos para descansar a beira da piscina, era um belo domingo de sol e um dia de descanso não iria prejudicar o começo do segundo semestre. Mais tarde eu fui pra minha casa e capotei sem nem mesmo tomar um banho.
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