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História Uma Semana de Natal - 20 de Dezembro


Escrita por: anna_voeg

Notas do Autor


🎄❤️

Capítulo 2 - 20 de Dezembro


CAPÍTULO DOIS

"Santa Claus won't make me happy

With a toy on Christmas Day"

("Papai Noel não vai me fazer feliz

Com um brinquedo no dia do Natal")


[Terça-Feira, 20 de Dezembro]

Sarah viu o exato momento em que o relógio marcou 00h00, iniciando o dia vinte de dezembro. Ela estava deitada em sua cama enquanto, mentalmente, procurava algo para fazer. Sua casa estava perfeitamente arrumada, já que ela nunca passava tempo suficiente nela para conseguir bagunçá-la. Não queria assistir televisão, pois nada de interessante passava naquele horário e ela também não estava com paciência para procurar algum filme ou série, pois sabia muito bem que só perderia tempo na procura e não se interessaria em assistir nada. Também não estava a fim de ler. Resumindo: não havia absolutamente nada para ela fazer. 

 De acordo com a hora, ela deveria estar dormindo, mas também não sentia um pingo de sono. No dia anterior, depois de ser dispensada do hospital, tinha chegado em casa antes das 10h00, e como estava morrendo de cansaço, dormiu o dia inteiro, acordando quando já estava perto de dar 20h00. Ela tinha tomado um banho, se arrumado minimamente, e estava com a intenção de dar uma volta nem que fosse apenas pelo bairro, para respirar outros ares e ver como andavam as coisas pela vizinhança. Mas é claro que, na mesma velocidade que aquela vontade surgiu, ela também desapareceu, fazendo com que Sarah ficasse em casa. 

 Ela já estava se dirigindo até o guarda-roupa para procurar um pijama, convencida de que realmente não acharia nada para fazer e que era melhor se deitar e esperar que o sono viesse, quando, a assustando, o celular tocou. 

 De primeira, imaginou que Sharon tivesse voltado atrás em sua decisão e que estaria ligando para pedir que ela voltasse para o plantão da noite. Foi correndo pegar o telefone e atendeu sem ao menos olhar o identificador de chamadas. 

 — Alô? 

 — Oi Reese. 

 A resposta a deixou mais do que assustada. Esperava a voz de Goodwin e o que ouviu foi uma voz grossa, provavelmente masculina. Afastou um pouco o celular da orelha, para ver no identificador de chamada se aparecia algum nome, mas só encontrou um número desconhecido. 

 — Quem é? 

 — O Connor. Achei que fosse saber. Você não tem meu número salvo? 

 — Não. Aliás, como é que você tem o meu? 

 — Ok, isso me ofendeu um pouco. A April criou um grupo com todos nós do hospital, salvei seu número quando o vi lá. Achei que tivesse feito o mesmo. 

 — Desculpa, eu não sou muito ligada nessas coisas. Raramente entro naquele grupo. 

 — É, eu sei disso. Enfim, é… Por acaso eu te acordei? 

 — Não. Dormi o dia inteiro, não tenho sono o suficiente para dormir agora. 

 — Imaginei. Eu estou do mesmo jeito. Não tem nada para fazer nessa casa, é terrível. 

 Sarah ficou calada, sem saber o que responder. Todas as conversas que já tinha tido com Connor aconteceram no hospital, e os assuntos principais sempre foram pacientes, doenças e procedimentos clínicos. No máximo falavam sobre a rotina, quando se encontravam por acaso na sala dos médicos, nos momentos de descanso. Ele nunca tinha ligado para ela, assim como ela nunca tinha ligado para ele. Eram apenas colegas de trabalho e nunca haviam ultrapassado as barreiras do Chicago Med. Então, naquele momento, ela não sabia ao certo como agir, afinal não estava acostumada com tal comportamento vindo de Connor. 

 — O que você acha de fazermos alguma coisa? — ele disse do outro lado da linha, depois de um tempo de silêncio, tirando Sarah de seus pensamentos.

 — A essa hora? O que faríamos agora? 

 — Ir ao bar beber alguma coisa. É o único lugar que sei que funciona durante toda a madrugada. 

 — Eu, é…

  — Sei que está achando tudo isso muito estranho, mas fique tranquila, eu também acho. Pensei mil vezes antes de ligar. Mas, acontece que você é a única pessoa que conheço e que tenho o mínimo de proximidade que não está trabalhando nesse momento. E como estamos no mesmo barco com esse tal recesso de Natal, pensei que ia entender o meu lado e querer dar uma volta. 

 Mais silêncio. 

 — Por favor, Sarah, estou a ponto de surtar. Faz tanto tempo que não passo uma madrugada no hospital que nem estou sabendo como agir. 

Ela respirou fundo para então responder 

 — Está bem. Onde nos encontramos? 

 — Te mando o endereço por mensagem, pode ser? — o tom da voz dele já era muito mais animado. 

 — Perfeito. Saio em dez minutos. 

 — Ok, vou sair agora. 

 E, assim, a ligação foi encerrada. 

➤➤➤➤➤ 

 Ao entrar no bar indicado por Connor, Sarah rapidamente o localizou sentado em uma das mesas do fundo. Ela esperava que o lugar estivesse mais vazio, devido ao horário e por ser uma terça-feira mas, tirando eles dois, deviam ter mais umas quinze pessoas. Talvez não fosse só eles que estavam em recesso de Natal, pensou Sarah. 

 Ela se aproximou e abriu um sorrisinho sem graça quando seus olhares se encontraram. Connor indicou a cadeira à sua frente e prontamente ela se sentou. 

 — Espero que não esteja brava comigo e que não tenha aceitado o convite só porque ficou com vergonha de recusar. 

 — Imagina, claro que não. Você tinha razão, é terrível ficar em casa sem ter o que fazer. 

 — Pois é. Bom, agora que já estamos aqui, vamos pedir as nossas bebidas. 

 Enquanto Connor chamava um garçom, Sarah tirou seu casaco e colocou em uma das outras duas cadeiras disponíveis na mesa, juntamente com sua bolsa. Depois, ficou observando o lugar, que já estava completamente decorado com adereços natalinos.

 Connor pediu uma cerveja e Sarah pediu vinho. Mentalmente, Reese se perguntou como Connor aguentaria tomar uma bebida tão gelada numa época tão fria como aquela, mas não disse nada. Os dois foram degustando suas bebidas enquanto discutiam sobre assuntos do hospital. Aqueles mesmos assuntos de sempre. 

 Num momento de reflexão, Sarah concluiu que não deveriam falar só do hospital até mesmo quando estavam fora dele. De certa forma, aquilo poderia ser considerado uma obsessão e, por outro lado, não queria ser resumida àquilo. Não que o seu trabalho e a medicina não fossem sua grande paixão. Eram, e ela gostava de ser lembrada por aquilo. Mas ao olhar as pessoas ao redor, percebia por suas expressões e gestos corporais que elas falavam sobre diversos assuntos. E era aquilo que ela queria, pelo menos naquele momento. 

 — Será que a gente pode tentar não falar do hospital? — Sarah disse, de repente. — É que estou tentando deixar o trabalho um pouco de lado durante essa semana. Sabe como é, né? Sei que a intenção da Goodwin era essa, então vou seguir por essa linha. 

 — Claro — Connor respondeu. Sua fala saiu em meio a um suspiro aliviado, como se ele também já não quisesse mais falar sobre o assunto anterior. — Então, já começou os preparativos para o Natal? 

 Sarah soltou uma risadinha involuntária ao ouvir aquilo. 

 — Não. Nem começarei. E você? 

 — Também não. Aliás, percebi a cara que você fez quando a Sharon disse todas aquelas coisas sobre aproveitar o Natal e tudo mais. O que tem contra essa data? 

 — Não tenho nada. Você também não me pareceu muito satisfeito com o que ela disse, significa que tem coisas contra? 

 Connor se remexeu na cadeira, um pouco desconfortável. Não sabia se aquele era o melhor assunto a ser discutido. Mas como ele próprio tinha iniciado, resolveu responder com sinceridade. 

 — Não tenho nada contra, mas também não comemoro. Não tenho boas lembranças dos meus natais, então, desde que cresci, finjo que a data não existe. 

 — Por que não tem boas lembranças? Por acaso alguma vez ficou preso na sua enorme pilha de presentes caros? 

 A fala de Sarah foi descontraída, mas assim que viu a expressão de Connor ela se arrependeu do que tinha dito. 

 — Desculpa, eu não queria te chatear. Só disse isso porque é assim que imagino sua infância: recheada dos presentes mais caros e inusitados. 

 — Eu não estou chateado com o que você disse. Na verdade, você tem razão. Em todas as datas comemorativas, principalmente no Natal, eu e minha irmã recebíamos pilhas de presentes. Os empregados de casa se esforçavam ao máximo para fazer todo aquele ritual da vinda do Papai Noel e, até os meus seis anos, isso deve ter sido divertido. Depois eu descobri que o Papai Noel não existe e que meu pai quem comprava todos os presentes. A partir daí, tudo que eu queria era ter um Natal em família. Daqueles em que as pessoas se reúnem para fazer decoração, comprar a árvore, patinar no gelo, assar biscoitos. Aquelas coisas típicas dos filmes, sabe? Mas isso nunca aconteceu. Tudo estava sempre ali, pronto. No dia da ceia, a companhia que eu e minha irmã tínhamos era a da nossa babá. E, claro, daquela pilha de presentes enorme. Todos os anos, nem meu pai nem minha mãe estavam presentes. Tinham outras ocupações mais importantes do que passar o feriado com os filhos. É por isso que não me importo com o Natal, não significa nada para mim. 

 Depois de seu relato, Connor soltou o ar, como se dizer aquilo fosse um alívio para ele. Já Sarah não sabia ao certo como reagir, se é que havia uma reação certa para aquilo. Ela não queria dizer palavras de apoio, porque poderia ser confundida com a Dra. Reese, psiquiatra, e ali ela estava só como Sarah, uma amiga. 

 — Eu sinto muito por isso — foi o que ela disse. Espontaneamente, ela segurou a mão dele, que estava pousada em cima da mesa. Connor aceitou o toque e retribuiu o contato dando uma leve apertada na mão de Sarah, e assim eles ficaram. 

 — Agora me conte o motivo de você sequer pensar em entrar no clima natalino — Connor perguntou. Isso fez com que Sarah soltasse a mão dele e encostasse totalmente o tronco na cadeira, inclinando-a levemente para trás. 

 — Ah, não é nada… 

 — Até parece que não. Vamos lá, me conte. 

 Ela desencostou da cadeira e pegou a taça de vinho, virando todo o líquido que estava dentro. 

 — Realmente não é nada demais. Eu, assim como você, não tenho lembranças boas em relação a essa data. Eu sempre fui muito sozinha desde criança, então, se a minha mãe não fizesse as coisas, nada acontecia. E é claro que ela não fazia nada, só se preocupava em trabalhar o tempo inteiro. Na maioria dos anos, era como se o Natal não existisse. Era um dia comum, a gente jantava o de sempre, ia dormir, e quando eu acordava não tinha nem um simples recado do “Papai Noel” para mim. Teve duas ou três vezes que ela até tentou fazer algo. Colocou um peru para assar, me deu um presente. Mas todas as vezes o peru queimou e o presente era uma nota de dinheiro que, embora fosse algo bom, afinal eu poderia comprar algo que eu quisesse, não tinha significado algum. 

 Sarah parou por um momento, refletindo as próprias palavras, voltando ao passado e sendo tomada por aquelas lembranças nem um pouco agradáveis. 

 — Não tenho tradições natalinas, isso nunca fez parte da minha realidade. Então não é agora que vou inserir isso na minha vida — concluiu.

 — Mas você ainda é jovem, ainda tem dezenas de anos para viver o Natal de um jeito típico. Dá para criar o costume. Devia tentar. 

 — Você também é jovem. Só tem cinco anos a mais do que eu. Por que não tenta? 

 — Nunca foi algo que esteve nos meus planos — Rhodes respondeu dando de ombros. 

 — É, nem nos meus. Não quero isso. Deixo os costumes para quem gosta de verdade da data.

 Um clima levemente pesado tomou conta da mesa. Todo aquele ambiente tão natalino ao redor parecia engoli-los à força. 

 — Essa é a primeira vez que eu falo disso com alguém — Connor falou, a fim de espantar o clima ruim. — No geral, todo mundo acha que a família Rhodes sempre foi perfeita.

 — Eu também nunca tinha contado. Mas como a minha família não é famosa igual a sua, isso não tem a menor importância. 

 — Claro que tem importância. É a sua história e os seus sentimentos. E depois de todo esse desabafo, acho que precisamos de uma dose de tequila. 

 Connor fez um sinal para chamar o garçom, o que fez com que Sarah ficasse em alerta. Ela fechou os olhos por alguns segundos, na esperança de identificar qual era o seu nível de sobriedade, afinal já tinha perdido as contas de quantas taças de vinho bebera.

 — Isso não é uma boa ideia. Se eu tomar tequila, vou deixar de estar sóbria, e se eu deixar de ficar sóbria, não vou conseguir acordar bem para ir trabalhar amanhã — ela protestou. 

 — Somos proibidos no hospital por uma semana, Sarah. Pode beber o quanto quiser, não vai trabalhar amanhã. 

 O desânimo bateu nela ao se lembrar daquilo. Por alguns minutos tinha esquecido totalmente que era uma viciada em trabalho. E antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, um copinho já estava sendo colocado em sua frente, juntamente com uma fatia de limão e um potinho de sal. 

 — Vamos lá.

 Com a deixa de Connor, os dois seguiram o ritual da tequila e engoliram todo o líquido ao mesmo tempo. A sensação do álcool descendo pela garganta fez com que eles se sentissem mais vivos, e até um pouco animados. 

 — Vou pedir que ele traga a garrafa. 

 — Ficou maluco? — Sarah espantou-se. — Isso deve custar o seu rim. 

 — Ah, tudo bem, finge que é um presente de Natal. 

 Os dois riram. Com a garrafa na mesa, tomaram mais um shot. Depois mais outro. E em menos de dez minutos tudo já parecia diferente. 

 — Connor — Sarah começou a falar. Era a primeira vez que ela o chamava pelo primeiro nome, e achou estranho aquela palavra saindo de sua boca tão naturalmente. — Por que ignora suas escalas de trabalho? Ontem você me disse que era alguma coisa a ver com o currículo e uma pesquisa, mas sei que isso é desculpa furada. 

 — Não é não. Eu quero iniciar alguma pesquisa para, um dia, ser um médico premiado. 

 — Certo, mas esse não pode ser o único motivo.

 — Ta… —  ele suspirou, se dando por vencido. — Tudo que eu tenho para fazer está dentro daquele hospital. Não tenho vida fora dele, por isso estou lá o tempo todo. 

 Sarah concordou com a cabeça, como se já esperasse ouvir aquilo. 

 Outro shot. 

 — Mas e você? Sei que é inteligente, que vive estudando e que quer continuar sendo a melhor residente do hospital, mas acredito que também existe outro motivo para que você trabalhe tanto. 

 — É o mesmo que o seu — Sarah confessou, apoiando a cabeça em cima das mãos. — Não tenho nada aqui fora, não faço nada aqui. No hospital eu sou importante e, aqui, do outro lado, é como se eu não existisse. Como se só existisse a Doutora Reese, e não a Sarah. 

 Outro respirar profundo dos dois, seguido de outro shot. 

 — Somos patéticos, não somos? — Connor falou, rindo como se aquilo fosse algo muito engraçado. — Dedicamos a nossa vida a uma única coisa, e esquecemos que podemos ser algo além disso também. 

 — Isso me faz pensar que pareço a minha mãe. 

 — E eu o meu pai.

 Aquilo fez com que ambos ficassem pensativos. Longos minutos se passaram em silêncio, até que Connor estalou os dedos, chamando atenção da psiquiatra. 

 — Não precisamos ser iguais a eles. Podemos ser algo além de médicos que só pensam em trabalhar. 

 — Como? 

 — Pelo menos durante essa semana, podemos aproveitar o embalo das festas de Natal e comemorar essa data. Assim seremos como seres humanos normais e nos distraímos. 

 — Você está brincando comigo, né? — ela perguntou com as sobrancelhas franzidas. 

 — Não — respondeu Rhodes, como se fosse óbvio. — Sharon disse que muitos gostariam de estar em nosso lugar, tendo esse recesso. Então vamos aproveitar por aqueles que não podem, e vamos ter uma semana de Natal. Pode ser legal e, também, talvez possamos ressignificar essa data, criando uma lembrança melhor dela. 

Sarah não se aguentou e caiu na gargalhada, atraindo alguns olhares e deixando Connor confuso. 

 — O que tinha nessa garrafa? Porque uma bebida normal não faria isso.

 — Qual foi? Isso é tão absurdo assim? 

 — Não, a sua ideia não. Mas a minha resposta, ela sim parece absurda. Mais do que isso, parece completamente improvável! 

 — Por que?

 — Porque eu aceito — ela respondeu, enfim. — Eu não faço a menor ideia de como faremos isso, mas vamos ter uma semana de Natal! 

 Connor sorriu abertamente, empolgado com uma coisa que nunca tinha se empolgado antes. A sensação era boa, como a de uma criança descobrindo algo novo. E Sarah sentia a mesma coisa. Numa alegria compartilhada, os dois encheram seu copinhos de novo e, depois de brindarem, viraram outro shot. 



Notas Finais


Obrigada por ler ❤️


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