Achei que nunca o fosse encontrar... Depois de tanto tempo, uma das minhas mais importantes lembranças. Hoje, 29 de março de 1958, fazem 13 anos que ganhei meu urso de pelúcia preferido, e na verdade um dos únicos, de minha avó materna após a morte do meu pai, em 1943, eu tinha apenas 9 anos.
>Flashback on >
~ Março de 1943, Berlim, Alemanha - Bairro de Kreuzberb.
- Evelyn! Vem almoçar! - Minha mãe me chamava de dentro de casa, enquanto eu brincava na rua.
Entrei alguns minutos depois para almoçar com minha mãe, a sopa que ela tinha preparado. Ficamos comendo em silêncio por alguns instantes, até que decidi me pronunciar.
- Mamãe, tem notícias do meu pai? - perguntei, com medo da resposta que ela poderia dar. Meu pai havia saído para lutar na Segunda Guerra Mundial há dois meses, e raramente podia nos enviar cartas.
- Ainda não. - Ela respondeu parecendo preocupada. - Mas tenho certeza de que ele nos escreverá logo. - ela disse, dei um sorriso fraco e voltamos a comer.
Depois que acabei de comer fui para o meu quarto, quando ouvi minha mãe avisar de fora do quarto:
- Evelyn, estou indo ao mercadinho, daqui a pouco eu volto.
- Tudo bem, mamãe!
Fiquei brincando com minhas bolinhas de gude e depois de amarelinha. Havia uma hora que ela tinha saído e ainda não tinha voltado. Nesta hora, alguém bateu na porta e eu fui atender.
- Pois não? - eu disse abrindo a porta.
- Mariele Brückner? - perguntou um homem alto, vestido como militar.
- Ela não está, o que deseja?
- Qual o seu nome?
- Evelyn Brückner.
- Vim informar que o soldado Joseph Brückner foi morto hoje pela manhã, pelas forças comunistas.
- O que disse? - falei sem acreditar.
- Infelizmente, é apenas isso que venho informar, sinto muito. - disse se virando para ir embora.
- COMO ASSIM, AONDE MEU PAI ESTÁ ?! - Eu gritava já aos prantos. Ele me ignorou e foi embora.
Cai chorando na porta da minha casa, não acreditando que isto estava acontecendo. Ele disse que ia voltar! Ele disse!
Logo depois minha mãe chegou em casa, e descobriu o que tinha acontecido. Ela tentava me consolar, mas também chorava muito. Digo até hoje que essa foi a pior tarde da minha vida.
Ao anoitecer, minha avó veio nos visitar, eu estava no quarto, chorando, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo. Ela veio até mim para me ver.
- Não vou dizer para superar isso. - ela disse calma.
- Por que tinha que acontecer logo com meu pai?
- Pense que esse deve ser o motivo.
- Como assim?
- Agora ele está em um lugar melhor do que esse mundo violento.
- Pode ser... - eu disse enxugando as lágrimas.
- Eu quero te dar isso... - disse me oferendo um urso de pelúcia marrom com laço no pesoço. - pense nele como algo que lembre seu pai para te dar forças.
- Obrigada vovó. - eu disse a abraçando.
> Flashback off <
~ 29 de março de 1958.
Foi assim que ganhei meu querido urso, este que, um certo dia, esqueci na casa de minha vó para brincar. Anos depois, infelizmente, ela faleceu e eu nunca mais fui buscar.
Eu me perguntava se ela teria guardado em algum lugar que eu pudesse ir buscar. Anos se passaram e aqui estou eu, caminhando entre as arvóres perto da casa da minha avó, que decidi visitar, quando avisto algo longe, me aproximo e vejo um urso de pelúcia velho e sujo, encostado em uma árvore. Fui até com cuidado e tive a certeza que realmente era o meu. O peguei e o levei de volta para minha casa.
Apenas gostaria que minha avó soubesse, que eu o encontrei a tempo, e que consegui superar a morte de meu pai, mas nunca irei esquecê - lo, e agora, também nunca irei esquecê - la.
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