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História Uma vida ! - O Fim


Escrita por: Katanu

Notas do Autor


Nada a declarar...

Capítulo 1 - O Fim




Nasceu o garoto. Em casa, um casarão mal cuidado com um jardim morto e sem graça. A chuva caía forte naquela noite. Raios iluminavam a fachada da velha construção. 
             No quarto mal iluminado o garoto saíra do ventre materno, seu mais aconchegante lar, como todas as crianças normais, raptado. Pelado, gordinho e coberto de sangue, confuso pela luz e o barulho. Sentiu o ar entrar por sua traquéia, queimando-o por dentro. Ele descobriu então que respirar é doloroso e viver é chorar.
           Cresceu em sua casa cheia de quartos fechados, intransponíveis. Porém, ele não se importava, estava conseguindo ser o centro das atenções. Acostumaram-no a isso.
Era feliz. Uma criança sorridente. Encantada com todas as cores e formas. Com o canto dos rouxinóis ou com o grasnar dos corvos. Uma criança esperta e estúpida, como as demais. 
           Mas então aconteceu. Ele cresceu.
           A partir de seus 9 anos passou a brincar mais na rua. Gostava de passar o dia no jardim de sua mãe. 
           O jardim de sua mãe era imenso, do tamanho de seu coração. Muito espaço para seu filho divertir-se. Existiam umas árvores secas espalhadas pelo terreno acidentado. Urtigas, rosas vermelhas e brancas, espinhais, um bosque de flores douradas que, no outono avermelhavam e, no inverno, caíam ao chão cobrindo as estradas com um tapete de folhas secas. Havia também um lago artificial, negro e sem vida. Existia apenas um banco em sua beirada, onde o garoto sentava-se para ver a lua. Fascinava-se com o reflexo desta nas águas. Gostava de banhar-se no lago refletindo a luz prateada dela. 
De manhã ia à escola. Era um garoto tímido, reservado, que adorava cantar músicas de suas bandas favoritas e tocar instrumentos imaginários. Ainda, era fraco, entristecia-se com facilidade e tinha uma fala um pouco mais suave. Isso lhe dava a fama de estranho, “bicha”, chorão. Mas, ele não se importava tanto com isso. Durante as tardes corria descalço por entre os espinhais, sobre pedras, até cansar-se. Então ele se deitava sobre uma roseira, e cheirava as pétalas das rosas que adorava. Olhava para o céu, enquanto os acúleos penetravam e rasgavam sua carne. Seus olhos dirigiam-se ao céu constantemente nublado, e ele implorava pela chuva, para poder sentir os pingos gelados em seu corpo. 
           Era um garoto apaixonado. Perdia-se imaginando o carinho das garotas que pensava amar, mas era rejeitado por todas, por causa de seu jeito. Apesar de ser um rapaz inteligente, não se importavam com isso. "Você poderia me vender um abraço? Um daqueles bem apertados, sabe? Daquele que nos fazem ficar sem ar. Não ligo de parar de respirar se você me der um desses. Parece uma troca justa, meu ar por seu carinho.“
           Em uma tarde, o menino conheceu uma linda garotinha chamada Loucura. Nunca vira alguém tão bela quanto ela. Estava enfeitiçado, apaixonado. Aquela paixão estúpida da infância. Ali estava sua companheira de brincadeiras, já que o garoto não possuía tantos amigos.
           Certo dia, o garoto e Loucura corriam de mãos dadas pelo jardim, como sempre faziam, quando de repente avistaram um cachorro. Negro como a noite, mais parecia um lobo. Como ele queria aquele cachorro. Logo, aos poucos foi conquistando o mesmo, até que o adotou, nomeando-o como Vynter.
           Logo eram em 3 brincando no jardim.
           Mas o garoto continuou a crescer, assim como Loucura. Embora a amasse, tinha mais paixões. Manteve a paixão pelas garotas, embora com mais intensidade, mais desejo, assim como pela música. Mas incluíra, também, pelos livros. E passou a tardes e mais tardes lendo, às vezes escrevendo. Trancafiava-se em seu quarto durante a tarde para ler e escrever, às vezes falava com suas paixões, outras com seus amigos, mas aos poucos desapegava-se de Loucura. 
           Conhecera um novo amigo, Melancolia. Melancolia o inspirava a escrever cada vez mais. E ambos faziam amor, loucamente. Suas transas eram alternadas entre garotas que não amava e Melancolia, mas as outras garotas que amava, nunca as tinha. E sentia-se vazio com essa rejeição. E crescia a mágoa. E a mágoa virava dor. "Ah, o amor! Se aparecesse voando na minha frente, juto que metê-lo-ia uma bala.”
           E o garoto entregava-se à tristeza. Não tinha mais vontade, não tinha mais desejos. De dia dormia, de noite chorava. Às vezes pelas paixões, mesmo Melancolia, que continuava a amá-lo, às vezes porque sabia que todos esperavam mais dele do que ele poderia oferecer e, muitas vezes, por razão alguma, senão o vazio que sentia.
           E escrevia. Entregava-se ao desejo paranóico de escrever tudo o que sentia, tudo o que via. 
           Então conheceu o sentimento de perda. Vynter morrera. Seu melhor amigo não humano. E sentia-se deveras perturbado, culpava-se por não ter amarrado seu amigo e, assim ter permitido que o mesmo fugisse e fosse atropelado. E convidou seus amigos para o funeral de Vynter. Melancolia, Loucura e outros quatro amigos, que há muito não via. E beberam à memória de Vynter, e riram, relembraram, e o garoto chorou.
           E chorando o garoto foi crescendo, mais e mais, e até Melancolia um dia o deixou, entretanto Tédio veio em seu socorro. Conheceu-o em um dia de aula, em que dormia sobre sua mesa, na faculdade. Deram-se bem logo.
           Por falar em faculdade, como se animara tanto com aquilo e, agora, como odeia.     No fim, não aguentava mais aulas, mas fingia gostar. Não aguentava mais as pessoas, mas fingia ter prazer em sua companhia.
           Era engraçado, querido, mas não amado. Entretanto, não se apaixonava mais. Não por mulheres. Apaixonou-se por carros, por filmes, por viagens, mas não mais por pessoas. Contudo, mesmo assim, não sentia mais tanto prazer. E via sua existência sem muita razão. Sentia-se como se não precisasse ou não merecesse viver. Aliás, sentia como se as pessoas não precisassem existir, como se fosse um erro de Deus ou da natureza, não sabia ao certo. E isso o deixava constrangido. 
           Pelo menos conhecera outra garota. E, apaixonou-se, depois de muito tempo. Nicole era seu nome. E namoraram, amaram-se, e Tédio foi embora.
           Por um ano o garoto só tinha olhos para Nicole. Respirava-a, cobria-se com ela. Mas, aos poucos, a intensidade dessa paixão foi se apagando. Não sentia mais tanta atração e afeto, ou melhor, começava a duvidar se algum dia sentira isso. E, incapaz de fingir amor, acabaram.
           E agora… tudo voltara. Suas amigas esquecidas, Loucura e Melancolia, voltavam uma vez mais. 
           A falta de sentido na vida permanecia. Ele se isolava. Procurava sentido na dor, na solidão, na vida. Mas nada encontrava. 
           Um dia apareceu alguém, uma mulher, e ela disse que poderia oferecer a ele a razão das coisas que tanto procurava. No entanto, para isso, teria de deixar que ela tomasse-lhe a vida. Ele estranhou tal oferta, hesitou por um instante, mas aceitou. A mulher chamava-se Maia, mas para o garoto era a Morte. Bela com a pele lívida e frígida, os lábios rosados, alta, imponente, com olhos azuis como as águas do Pacífico. Os cabelos longos e negros. E ele a desejou, tanto quanto desejava a resposta para suas perguntas. E ela se entregou, por uma noite. Depois partiu, dizendo ao garoto que voltaria na noite seguinte, e que o mesmo deveria aguardar por sua volta, e despedir-se do que quisesse despedir-se, se existisse tal coisa.
           Então deitou-se o garoto e dormiu, tranqüilo, excitado.
           E hoje ele escreve um poema. Estúpido como tudo o que fizera até o momento, mas tão sincero quanto poderia ser. Ouvia “Like a Rolling Stone” na voz de bob Dylan, tomava um café forte e fumegante, e simplesmente escrevia.
Sem razão para viver, sem razão para morrer.
Aqui está seu palhaço risonho, e ele me assusta
Aqui está sua melodia melancólica
Não preciso dizer como ela me deixa.
Sem razão para rir, sem razão para chorar.
Uma brincadeira sem graça
Quem está sorrindo agora?
Não sou eu, tenho certeza.
Sem razão para acordar, sem razão para dormir.
Um pesadelo amargo.
A diversão se foi com um simples sopro
O tédio sobra, o sangue escorre.
Sem razão para amar, sem razão para odiar.
Onde está a diversão?
Uma dor, um abraço
Um beijo de traição.
Sem razão para viver
Sem razão para morrer.
           Após escrever caminhou até a porta do quarto. Deixara o computador ainda ligado, com a música repetindo até que alguém visse e apagasse aquilo. 
           A xícara em que tomara café estava vazia sobre o mousepad. CDs espalhados pela mesa e seu caderno de textos e das fotos das garotas as quais amou, pelo menos pelos 40 minutos ou 3 horas de sexo que lhe permitiram ter, ou aqueles breves momentos em que podia sentar-se próximo, ver seus cabelos movendo-se, seus pescoços à mostra… Com sorte conseguia algum toque, mesmo sem querer, apenas para sentir um pouco de seu calor… Enfim, o caderno estava aberto sobre a carta que escrevera há poucos minutos, quase esquecida. O mesmo caderno de seu “semanário”, por assim dizer, já que diários davam trabalho demais e ele nunca gostou de escrever esse tipo de coisa. Mas o psicanalista disse que seria uma boa ideia, junto com aqueles tarjas preta e vermelha, e nada de álcool.
           Os livros estavam jogados, o celular quebrado no canto em que jogara, uma tesoura e uma lâmina gilette, a qual achara que faria sujeira demais ao utilizar para buscar prazer com a dor, estavam ainda sobre o papel higiênico, manchado de sangue. 
Estava descalço, com uma camiseta vermelha e um calção negro, cansado, sonolento e, sobretudo, entediado.
           Caminhava devagar e silenciosamente sobre o piso gelado, sentindo-se tão leve quanto uma pluma. Parecia flutuar. O mundo girava à sua volta e tudo o observava com olhos que sua mente criava.
           Loucura estava sentada em sua poltrona favorita, com uma cigarreira dourada entre as mãos, um cigarro entre os lábios carnudos e molhados, pintados de carmesim. Os cabelos negros caiam sobre os seios nus, e as pernas cruzadas escondiam seu sexo. Impressionou-lhe como só nesse momento não a via mais como a criança que corria nua com ele pelos jardins, há muito tempo atrás.
           Melancolia bebia uísque à janela, fitando a rua, onde uma chuva fina caía do céu cinza-chumbo, molhando a terra, deixando o aroma característico de dias chuvosos, e umedecendo as folhas douradas e avermelhadas que ainda restavam nas poucas árvores do jardim. Tamborilava os dedos no copo, enquanto, vez ou outra, olhava o reflexo do rapaz no vidro da janela. Estava com seu sobretudo, embora por baixo estivesse nua, com coturnos nos pés. Pode-se dizer que realmente não sabia vestir-se…
           O garoto olhava seus companheiros, com um sorriso amargo nos lábios. Balançava a cabeça, um pouco espantado. 
           - Não foram embora ainda? O que mais querem? Está acabando… Estou indo embora. Acompanhem o Tédio e sumam.
           Loucura sorriu, olhando-o, abrindo a boca apenas para expelir anéis de fumaça. Melancolia apenas deu mais um curto gole de seu uísque com gelo, olhando um pássaro que tentava, inutilmente, levantar vôo com suas asas molhadas.
           O rapaz, vendo-se ignorado, continuou caminhando pela casa, em silêncio. 
Seguiu para a porta principal, que dava para o jardim, abrindo-a devagar. O vento frio adentrou o recinto, abraçando seu corpo e fazendo arrepiar todos os seus pêlos. Ele estremeceu de leve, encolhendo-se um pouco ao sentir as gotas da água trazidas pelo ar gelado que viera da rua. 
           Relutante, deu alguns passos em direção à saída. Os pés tocaram o chão encharcado, quase escorregando. Passo a passo desceu os 4 degraus entre sua varanda e o gramado. Olhou para a direita e enxergou seu balanço sendo embalado pela ventania. O barulho das correntes mal lubrificadas não o incomodou. Olhou para a direita e viu Tédio, com seu famoso terno cinza, sentado sobre um banco, sozinho, aguardando-o. Andou devagar, deixando o gramado e pisando a terra fofa e ensopada. O solo marcava seus passos. Olhou para o céu, por alguns segundos. Estava completamente molhado, a água escorria pelo seu cabelo e pele, a roupa ensopada estava colada ao seu corpo, marcando os contornos de sua silhueta. 
           Retomou a caminhada ao banco. Contornou-o por trás e sentou-se ao lado de Tédio, olhando o vazio à frente de ambos. Assim ficaram por longos minutos, em completo silêncio, alheios à chuva, ao vento e à Loucura e Melancolia que os observavam da janela.
Enfim, Tédio quebrou o silêncio.
           - Apaixonou-se pela Solidão então, não foi? É de dar pena. *Ele sorriu ironicamente, ainda sem tirar os olhos do vazio. O garoto nada respondeu, permanecendo como estava. 
           Notando o completo silêncio da companhia, Tédio continuou.
           - Sabe… Não vou dizer que eu avisei, pois isso, desculpe o uso da expressão neste momento,… *Ele disse, ainda sorrindo, agora olhando para cima, a chuva* - … seria chover no molhado. Porém… Eu lhe alertei. E agora que até Solidão lhe deixou você quer o fim, não é? 
           O garoto o olhou, sem responder. Parecia uma casca vazia, pois nada expressava. Tédio sorriu de novo.
           - Você vai mergulhar na escuridão. Afogar-se em lágrimas e sangue. Mas ao menos a dor… Bem, ao menos isso vai embora. A saudade, arrependimento, tristeza. Tudo vai embora, como seus amigos, suas paixões, sua vida…
           Suspirou, olhando o garoto.
           - Tudo se foi, menos você. Até sua alma já se foi. Todos que lhe restaram fomos nós. Quer mesmo deixar-nos? Os únicos que realmente importam-se com você?
           Ao falar em “nós”, referia-se a ele mesmo, lógico, bem como à Melancolia e Loucura, a platéia silenciosa da janela.
           - Sua nova amiga logo virá. Aliás, já está vindo. *Ele sorriu ao ver uma mulher alta de pele lívida e cabelos negros, vestida de negro, aparentando não ter mais do que vinte anos, caminhando sob a chuva, sobre pedras brancas que trilhavam o caminho até o rapaz. Seus lábios rosados pareciam sem vida. Mais parecia uma aparição do que uma mulher.
           Tédio levantou-se, olhando o garoto pela última vez.
           - Sentiremos sua falta. Acredite, queríamos desfrutar de sua doce companhia por mais tempo. Mas tudo tem um fim, não? Até nossa companhia solitária.
           Após, saiu, caminhando em direção à casa.
           O garoto permaneceu ali, olhando a figura em um vestido negro de algodão, curto, colado ao corpo por estar encharcado, aproximar-se.
           Ela sorriu para ele, ocupando o espaço de Tédio. Suavemente puxou o corpo do rapaz sobre seu colo, deixando-o deitado, enquanto, maternalmente, alisava seus cabelos.O toque era frio mas, ainda assim, carinhoso. Uma canção quase inaudível saía de seus lábios.
“Thank you, dear God, for putting me on this Earth. I feel very privileged, in debt for my… thirst!”




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Estava sentado em sua carteira durante a aula. Nunca prestara atenção à sua volta… Na verdade, em quem estava à sua volta. Mas naquele dia o cabelo dela chamou sua atenção, escorrido para trás, negro. Em perfeita sincronia com a pele alva do pescoço liso e fino. Enfeitiçou-se pelo cabelo, e não conseguira prestar atenção em nada mais ao longo das aulas.
Enfim saíram ao intervalo. Apenas deu-se conta do mesmo quando a garota levantou-se. Seguiu ao refeitório, e parecia segui-la. E seguindo-a descobriu que ela partilhava de seu gosto pelo mesmo suco de maçã. Ninguém tomava aquele suco de maçã… E continuou a prestar atenção nela. Percebeu-a juntando-se a uma garota de cabelo azul, linda também, e ficou observando-as conversarem de longe, enquanto bebia seu suco de maçã.
E dia após dia fora observando-as. Encantado com o cabelo negro que tão serenamente tocava a pele pálida no pescoço fino da primeira. O cabelo azul que parecia colorir suas manhãs. Estava enfeitiçado, e nesse ponto esquecera-se de Loucura e seus outros companheiros. Só tinha olhos para as garotas cujos nomes não sabia.
Claro que prestar tanta atenção assim em alguém chamaria a atenção. E chamou a atenção da de cabelo azul. As duas olharam-no certa manhã, conversando e sorrindo a ele. Ele, sem jeito, ficou rubro e tentou desviar o olhar… Mas este sempre voltava às duas, que olhavam-no e sorriam. Quando levantaram-se e vieram sentar-se junto dele… Bom, aí ele perdeu-se de vez. Não sabia o que falar, mas era fácil conversar com as duas, e elas ajudavam-no. E ele se soltou, aos poucos. Sorriu com elas e dividiu ideias, gostos e, após certo tempo, até segredos superficiais. Deixou-se levar pela mistura de seus perfumes e pelo som de suas vozes. Assim nasceu a amizade entre os três. Só que ele ainda não sabia seus nomes.
Dia após dia tornou-se quase um ritual encontrarem-se no refeitório nos intervalos entre as aulas… E ele e a garota de cabelo negro tomando seus sucos de maçã, do qual ninguém mais gostava, e a garota de cabelo azul seu café com leite bem adoçado. Sentia-se alegre em sua presença. Como dito antes, era fácil conversar com ambas.
Durante as aulas, trocava poemas com a de cabelo negro, assim como desenhos. Ele, que nunca fora dado a desenhar… Ela canhota, ele destro. Cada um com suas particularidades na escrita e nos traços. A letra miúda dela. A dele, deitada. Os traços suaves dela. Os dele, bruscos. Desenharam até uma imagem juntos. Metade de um, metade de outro.
Então, aconteceu. Certo dia a de cabelo negro disse que a amiga não voltaria mais às aulas. Avisou-a antes, e decidiu largar os estudos. Claro que o garoto não conseguiria aceitar isso. Não por estar preocupado com o futuro acadêmico da garota, mas por seu egoísmo não deixá-lo aceitar não vê-la mais nos intervalos. E falou com a que lhe enfeitiçara nas aulas para irem juntos atrás da amiga.
Encontraram-na… Com outro homem. Em verdade, o homem saía do apartamento dela, ainda arrumando a roupa enquanto ganhava o lado de fora do apartamento. E aquilo o feriu, de certo modo… Afinal , nunca imaginou nenhuma das duas com alguém. Aliás, com alguém além dele mesmo. É claro que a amiga de cabelo colorido sorriu ao ver os dois companheiros, e ofereceu aos dois café, conversa e biscoitos. Mas por mais que ele tentasse, não conseguia tirar da mente o fato de que ela estivera com outro homem…
Tentou deixar isso de lado, e convencer a garota a voltar às aulas. Usou de todos os argumentos de que se valia. Exceto  o da sua necessidade doentia em vê-la todos os dias.
Não precisou. Ela prometeu voltar às aulas, como habitualmente fazia. E isso apenas o satisfez parcialmente. A imagem do homem saindo do apartamento dela ainda o atormentava.
Enfim, passaram-se os dias, e novamente os três encontravam-se no refeitório nos intervalos. E tudo parecia normal.
Entretanto, certo dia despertara em sua carteira, olhando em volta. Procurava a menina de cabelo negro e não a encontrava. Saiu da sala e foi ao refeitório. E lá também não estava nem ela, nem a de cabelo azul. Aquilo o deixara um pouco ansioso. O que acontecera, afinal de contas? Por que nenhuma das duas estavam onde deveriam estar?
Os dias passaram-se, e nenhuma das duas apareceu. Tomado por uma aflição perturbadora, perguntou por elas… Mas ninguém sabia quem eram… Ninguém havia as visto. Nenhum sinal delas se fazia presente em lugar algum.
Aquilo o enchera de desconfiança dos outros. Pareciam dizer a ele que elas não existiam. Com que direito? Como poderiam fazer aquilo?
O suco de maçã que só ele gostava, e ninguém mais pedia, já não tinha mais o mesmo gosto. As aulas, que nunca o atraíram, continuavam chatas. E a carteira à sua frente permanecia vazia.  
Os poemas que ele escrevia, com a mão esquerda, e com a mão direita, ele guardou. O desenho, metade canhoto, metade destro, ele rasgou. E dos cabelos, tanto o negro quanto o azul, ele esqueceu em um canto de sua mente. Mas nunca os tirou do coração.
Mas não por muito tempo sozinho ficou… Loucura e os outros sempre estiveram lá por ele.
 



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