História Una Nuova Possibilità - Capítulo 4

Matteo e eu continuávamos no quarto vendo mais algumas coisas da Sol, ele parecia mais calmo e eu também, a cada instante que passávamos conversando eu ia me sentindo melhor.

–Nossa, ela teria adorado te conhecer. – ele disse enquanto me ajudava a separar alguns dos livros dela, eu ficaria com a maioria e ele também pegou alguns. -Quer dizer, vocês se conheceram, mas eram tão pequenas.

–Eu sei... Às vezes eu ainda tenho algumas lembranças, desse quarto, da gente acordada até tarde conversando coisas de meninas com cinco anos de idade... – sorri com as vagas lembranças. -Eu queria lembrar mais.

–Eu mal me lembro do que fiz ontem, não se culpe por isso. – ele tentou me confortar e eu sorri.

–Ei vocês... – Mauricio apareceu na porta do quarto nos assustando.

–Vamos sair para almoçar, Miguel se animou e temos que aproveitar o momento, topam?

–Claro, por mim tudo bem, vou aproveitar e pedir ao meu pai para passarmos no mercado e fazer umas compras. – pelo pouco que eu tinha visto os armários e a geladeira estavam bem vazios e eu iria cuidar bem do Miguel e deixar tudo organizado quando tivesse que ir para a faculdade.

–Tudo bem. – Matteo falou e vi a alegria do Mauricio, acho que ele estava mesmo preocupado com o filho.

–Depois eu continuo com isso. – suspirei deixando uma caixa de lado.

–Eu te ajudo... Se você quiser. – Matteo ofereceu.

–Eu quero sim, preciso. – sussurrei.

–Então vamos? – Mauricio nos chamou e assentimos indo até ele.

Quando descemos Miguel nos esperava, ele passou um braço ao redor dos meus ombros e saímos os quatro juntos. Fomos no carro do Matteo, e ele me contou com orgulho que o tinha montado todo praticamente sozinho, eu sempre gostei de carros, em uma das cidades que morei fui vizinha de um mecânico e adorava ficar conversando com ele enquanto o via mexer nos carros, era uma boa diversão pra mim na época... Matteo pareceu se animar quando contei isso e tivemos assunto por um bom tempo. Miguel e Mauricio pareciam felizes em ver que estávamos nos dando tão bem.

–Vamos na lanchonete da Tamara? – Matteo perguntou quando chegou no que parecia ser o centro da cidade.

Estava bem movimentado, a chuva tinha parado.

–Sim, lá mesmo. – Mauricio respondeu e Matteo diminuiu a velocidade do carro parando em uma pequena lanchonete logo em frente.

–Então chegamos. – ele disse e todos saímos do carro.

–É a melhor lanchonete da cidade, sempre almoçamos aqui, a comida é uma delícia. – Miguel falou.

–E a Tamara é uma grande amiga, ela vai adorar te conhecer. – Mauricio sorriu e ele e Miguel foram entrando na lanchonete, Matteo e eu fomos mais atrás, lado a lado.

Percebi que todos me olhavam, alguns surpresos, outros assustados... Foi estranho e começou a me incomodar.

–Não esquenta, vai ser assim mesmo por um tempo, mas depois passa. – Matteo sussurrou.

–Espero que sim, nunca gostei de ser o centro das atenções. – murmurei. -Mas acho que todos vocês ainda vêem a Sol quando olham pra mim.

Olhei para o Matteo e ele me deu um sorriso sem graça, eu sabia que ele também ainda via muito da Sol em mim, mas não o culpava, apesar de isso parecer me machucar.

–Oh meu Deus, mas elas são mesmo idênticas. – uma mulher um pouco mais alta que eu me abraçou com força me pegando completamente de surpresa, eu fiquei meio sem reação.

–Luna, essa é a Tamara. – Miguel veio em meu auxílio, Mauricio sorria já acomodado em uma mesa num canto e Matteo ainda me olhava parecendo um pouco sem graça pelo que eu tinha dito antes.

–Olá Tamara. – a cumprimentei quando ela me soltou.

–Olá querida, seja bem-vinda de volta e sinto muito pelo que aconteceu com sua irmã.

–Obrigada. – sorri levemente.

–Agora vamos nos juntar ao Mauricio e fazer nossos pedidos. – Miguel me abraçou nos encaminhando para perto do Mauricio e ela nos seguiu com o Matteo.

–Sei que todos estão te olhando, mas não liga, logo eles param. – Miguel sussurrou em meu ouvido. -Assim que te conhecerem melhor eles vão ver que você é única e vão se encantar por você como se encantavam com sua irmã.

Sorri agradecida por suas palavras de conforto, o único que realmente me via apenas como Luna era ele, meu pai sempre amou a mim e a minha irmã igualmente, mas também sempre soube nos diferenciar e nos tratar como pessoas únicas e especiais, agora eu enxergava isso e me culpava por ter acreditado tão facilmente em todas as mentiras contadas por Lilly.

Tamara nos atendeu prontamente, e mesmo com todos ainda me olhando, consegui me desligar disso e tivemos um bom almoço. Matteo pareceu um pouco distante em alguns momentos e pensei se ainda era pelo que eu tinha falado, nós estávamos nos dando tão bem e eu não queria estragar isso.

–Está gostando da comida, Luna? – Mauricio perguntou e eu assenti.

–Sim, é mesmo muito boa... Já tinha essa lanchonete quando eu ainda morava aqui?

Miguel acariciou minha mão e negou.

–Não... A Tamara abriu a lanchonete alguns anos depois de você... – ele engoliu em seco e desviou o olhar. -Depois de você ter ido.

–Gostei muito daqui. – sorri para tentar deixá-lo mais alegre de novo.

–Então quando tiver um tempinho de folga das aulas venha nos visitar e viremos sempre aqui. – Mauricio também parecia querer deixar o clima sempre ameno.

–Eu virei mesmo... Nunca mais ficarei tanto tempo longe. – segurei com força na mão do Miguel que agora sorria mais tranquilo.

Continuamos a comer e conversar, hora ou outra eles falavam algo sobre a Sol e eu ficava sabendo mais dela... Por momentos me peguei imaginando-a aqui, com o nosso pai, com Matteo ou o namorado dela, o tal de Simón... E acho que meu pai e Matteo também pensavam nisso porque às vezes ficavam meio distantes.

Tamara estava sempre voltando à nossa mesa, me oferecendo doces e mais doces como sobremesa, ela me trouxe o preferido da minha irmã e eu adorei, ela era bem simpática, mas às vezes me incomodava o modo como me olhava, como se eu fosse um tipo de alienígena, ou um fantasma... Eu teria que me acostumar a ser uma sombra da Sol por um tempo ainda aqui nessa cidade.

–Pai, o que acha de irmos logo ao mercado? – sugeri quando terminamos de comer.

–Eu posso ir com você... – Matteo interrompeu antes de Migeul responder, o que me surpreendeu já que ele estava meio calado durante o almoço todo. -Vocês dois ficam aí conversando com os velhos amigos e assim faz eles pararem com os cochichos e olhares.

–É uma boa ideia. – Miguel falou e me olhou.

–Tudo bem. – me levantei e Matteo também, vindo logo para o meu lado.

–O mercado é bem perto então vamos andando mesmo, tudo bem? – Matteo perguntou e eu assenti.

–Claro, até prefiro assim, vou vendo mais da cidade.

Miguel me deu o dinheiro para as compras, e Matteo e eu saímos atraindo mais alguns olhares.

Começamos a caminhar em silêncio, até que ele suspirou e quebrou o silêncio...

–Sinto muito se de algum modo fiz você pensar que vejo a Sol o tempo todo em você ou algo assim.

–Não precisa se desculpar Matteo, eu não falei por mal ou me queixando, mas é verdade, e eu sei que será assim por um tempo. – dei de ombros e sorri para tentar provar que estava tudo bem.

–Não vou negar que quando te vi pela primeira vez foi nela que pensei, só nela... – ele murmurou. -Mas nós já conversamos tanto e apesar de idênticas fisicamente vocês também tem muitas diferenças, e eu quero ser seu amigo, ser amigo da Luna... Do mesmo jeito que fui da Sol.

–Eu também quero isso, Matteo. – sorri sinceramente vendo o quanto suas palavras eram verdadeiras.

–Bom, então vamos ao mercado. – ele pareceu mais tranquilo e continuamos a caminhar.

–Você vem muito aqui no centro de Buenos Aires? – perguntei me lembrando que ele mora no aras, que fica bem afastado e eu não me lembrava de lá.

–Não muito, nós temos tudo que precisamos por perto, mas quando estudava aqui na cidade eu estava sempre por aqui com uns amigos... Você vai ao aras antes de ir para a faculdade né?!

–Sim, quero muito ir lá... É uma pena eu ter só alguns dias aqui, mas na primeira folga que tiver das aulas corro pra cá de novo. – falei e ele concordou me guiando para virarmos uma esquina.

–Nós podemos fazer uns passeios, o que acha de ir ao aras amanhã? Eu posso ir te buscar, ou você pode ir com o Miguel, ele não tem saído muito de casa ultimamente. – ele sugeriu.

–Amanhã está ótimo pra mim... Vou falar com o meu pai e se ele não quiser ir você vai me buscar. – sorri e ele assentiu.

Fomos o restante do caminho conversando, quase não falamos sobre a Sol e senti realmente que estávamos formando um laço de amizade, talvez a primeira amizade verdadeira da minha vida... Mas uma parte minha ficava cada vez mais encantada com o Matteo, meu coração ainda dava uns saltos quando ele sorria ou falava algo que me fazia sorrir.

Chegamos ao mercado e eu já não me importei muito com todos os olhares em minha direção, não podia ficar irritada com isso, era uma curiosidade natural e só posso torcer para que passe logo.

Peguei um carrinho logo na entrada e Matteo foi empurrando-o comigo enquanto andávamos lentamente entre os corredores do mercado e eu ia pegando o que sabia que estávamos precisando em casa... Lembrei de pegar alguns materiais de limpeza também porque queria fazer uma faxina em casa e deixar tudo bem arrumado para o Miguel, pelo pouco que vi ficou bem claro que nos últimos dias, depois da morte da minha irmã, ele não tinha se importado com muita coisa.

–Você parece uma dona de casa desse jeito. – Matteo brincou.

–Desde pequena eu ia fazer compras com Lilly, depois que fiquei maiorzinha eu ia sozinha enquanto ela trabalhava, e até gosto. – dei de ombros.

–É, mas tem algumas coisas que são indispensáveis também. – ele me puxou para o corredor de guloseimas e eu ri quando ele começou a colocar alguns biscoitos e doces no carrinho.

Estava distraída tentando convencê-lo a tirar algumas daquelas coisas dali quando um grupo se aproximou da gente, dois rapazes e uma menina, todos me olhando de olhos arregalados.

Matteo os viu no mesmo momento que eu e sorriu para eles.

–Ei pessoal. – ele os cumprimentou.

–Matteo... Não esperava te ver por aqui. – a menina o abraçou apertado.

–Oi Jim, eu saí da toca um pouco. – ele murmurou e ela sorriu.

–Tudo bem cara? – os rapazes sorriram para ele, mas os três ainda me olhavam.

–Tudo indo... – Jacob sussurrou e depois me olhou. -Essa é a Luna, irmã da Sol, mas isso vocês já viram.

–Uau, são tão idênticas. – a menina disse.

–Esses são Jimena, Pedro e Nico... Nós estudamos juntos, eles eram amigos da Sol também. – Matteo nos apresentou.

–Ah sim... Olá. – olhei para eles tentando não me incomodar tanto com o jeito como me encaravam.

–Vocês já podem parar de olhar assim pra ela. – Matteo falou e eles ficaram um pouco sem graça.

–Desculpa... – Jim falou. -É que é um choque, nós a perdemos há tão pouco tempo e te ver assim...

–Tudo bem... – a interrompi ao ver que ela estava mesmo constrangida. -Eu entendo, não se preocupem.

–Você fica de vez aqui? – Pedro perguntou.

–Não, fico só até começar as aulas na faculdade, mas estarei sempre por aqui com meu pai. – respondi e eles assentiram.

Depois de mais uns instantes de uma conversa rápida os três se foram.

–Eles parecem bem legais. – comentei voltando para as compras.

–São sim, mas depois quero te apresentar meus amigos, eles são como irmãos e a Sol também os adorava, e garanto que eles não ficarão te encarando daquele jeito.

–Já estou me acostumando com isso. – ri.

–Foi assim que eu fiquei te encarando quando nos vimos mais cedo na cozinha? – ele fez uma careta. -Antes de sair correndo como um idiota...

–Esquece isso, Matteo... No lugar de vocês eu provavelmente agiria do mesmo jeito. – dei de ombros. -Agora vamos terminar essas compras.

Ele assentiu e rapidamente terminamos ali e voltamos para a lanchonete para encontrar nossos pais.

–Matteo eu posso levar algumas sacolas. – ele tinha insistido em carregar todas.

–Mas eu posso levar todas então me deixa ser um pouco cavalheiro, okay?! – ele arqueou a sobrancelha e eu acabei rindo e concordei.

Era bem rápido o caminho do mercado até a lanchonete então entre muitas conversas chegamos rapidamente... Enquanto eu ajudava Matteo a colocar as sacolas no porta malas do carro olhei para dentro da lanchonete e vi Miguel e Mauricio conversando com algumas pessoas, eles não nos viram.

–Não sei se quero entrar lá agora. – imaginei como todos ficariam me olhando e talvez fazendo perguntas e não queria mais disso por hoje.

–Eu posso ir chamá-los, acho que chega de olhares e cochichos por hoje não é?! –Matteo disse e eu assenti agradecendo.

Ele entrou para chamar nossos pais e eu me encostei no carro olhando em volta, a cidade era pequena e bem pacata, mas eu teria amado ter crescido aqui.

Estava distraída esperando por eles quando vi pelo canto dos olhos alguém se aproximar e me virei.

–Minha nossa. – o rapaz quase arfou parando em minha frente.

O olhei e logo soube quem era... Simón, o namorado da Sol, o reconheci pelas fotos espalhadas no quarto da minha irmã.

–Você é a Luna né?! – ele sussurrou me olhando de cima abaixo. -É claro que é, vocês são muito idênticas.

–Oi, é, sou a Luna... E você é o Simón, era namorado da minha irmã. – falei e ele assentiu. -Vi fotos sua com ela e meu pai me contou.

–Ah, claro... – ele sorriu. -Nem acreditei quando soube que você estava na cidade e quando te vi agora quase pirei... Você não faz ideia do quanto são parecidas, tirando a cor dos cabelos.

–Eu sei sim... – murmurei, o jeito como ele me olhava me incomodava mais do que todos que já me olharam hoje. -E todos deixam isso bem claro por aqui.

–Luna, eles já vem e... – Matteo saiu da lanchonete falando, mas parou ao ver que eu não estava sozinha. -Ah... Simón.

–Eu devia imaginar que você estava por perto, nem reparei, mas é seu carro né?! – Simón bufou cruzando os braços e ficou bem claro que eles não se davam bem.

–A gente veio almoçar com nossos pais... – falei tentando amenizar o clima tenso. -Eu cheguei ontem e está tudo meio louco ainda.

–Eu imagino. – Simón sorriu e me olhou.

Matteo se aproximou ficando ao meu lado e Simón passou a olhá-lo então sacudiu a cabeça e deu um passo pra trás.

–O que foi Matteo? Já substituiu sua melhor amiga?

–Vou fingir que nem ouvi isso Simón. – Matteo disse entre dentes.

–Ei, acho melhor vocês se acalmarem. – resolvi interferir antes que as coisas ficassem pior.

Matteo se encostou no carro cruzando os braços.

–Foi mal, você não tem porque ficar presenciando isso... – Simón disse me olhando. -É que nós nunca fomos muito amigos.

–Deu pra ver... – murmurei. -E não sei o que acontecia, mas acho que você não foi muito justo dizendo aquilo, pelo pouco que eu vi Matteo foi um grande amigo para minha irmã.

–Parece que ele já te conquistou também, não é?! – Simón arqueou a sobrancelha.

–Chega Simón! – Matteo voltou a ficar do meu lado. -Sério, chega! Luna já está passando por muita coisa, não tem porque ficar ouvindo tudo isso.

Simón respirou fundo e assentiu.

–Okay... Me desculpe Luna, está tudo muito confuso e doloroso ainda... – eu só assenti e ele continuou a falar. -Mas eu ia mesmo te procurar, você e o Miguel, para conversarmos, e eu queria ver algumas coisas dela também, enfim.

–Claro, quando quiser. – sussurrei, era meio estranho aquela situação toda e o jeito como eles se tratavam, mas não quis ficar pensando nisso agora.

–Eu tenho que ir, foi um prazer te conhecer Luna, depois conversamos mais e com calma. – ele acenou e se afastou sem nem olhar para o Matteo.

–Vamos entrar no carro, nossos pais já estão vindo. – Matteo falou abrindo a porta pra mim e eu assenti entrando. -Desculpa por isso.

–Tudo bem... – sussurrei.

Ele não falou mais nada então também não insisti.

–O passeio no aras amanhã está de pé ainda? – sussurrei tentando quebrar o silêncio tenso.

Matteo me olhou.

–É claro que sim.

Sorrimos, Miguel e Mauricio logo chegaram.

Pelo jeito ainda tinha muita coisa sobre a vida da minha irmã que eu não sei, mas a cada instante que passava eu percebia que queria estar ao lado do Matteo não só para conhecer mais da Sol... Eu queria conhecer mais dele... E isso começou a me preocupar!