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História (Un)Breakable - Te amo pelos seus olhos cruéis de quem viu o inferno em mim


Escrita por: elisavonwilde

Notas do Autor


What is love, Olivia? ❤️

"What is love?
Baby, don't hurt me
Baby, don't hurt me
No more..."

Jaymes Young responde.

Capítulo 27 - Te amo pelos seus olhos cruéis de quem viu o inferno em mim


Fanfic / Fanfiction (Un)Breakable - Te amo pelos seus olhos cruéis de quem viu o inferno em mim

Um mês depois.

Uma vez eu perguntei ao meu pai o que é o amor. 

— Appa? Como alguém sabe que ama outra pessoa? — perguntei com genuíno interesse. 

Nenhum dos meus livros ou artigos, autores famosos ou doutores aclamados, mesmo que detalhassem o significado do que é o amor, podiam ser capazes de revelar a verdadeira essência do sentimento que aflige um coração apaixonado. 

O único tipo de amor que conheço é o parenteral, o amor de um pai e uma filha. Posso dizer que uma parte de mim também sente algo especial por Jimin, por Namso e até pela senhora Kim, agora o tipo de amor ao qual me refiro é o amor de um homem e uma mulher. 

Eu me pergunto como posso ter certeza de que o que sinto por ele é amor e não apenas confusão, atração, às vezes, gratidão. Que quando acordo de manhã e sua face me atinge em pensamento não é apenas uma armadilha da minha mente. 

Meu pai assistia à qualquer coisa na nossa TV velha, eu não era mais uma criança, nem adolescente, mas o amor sempre foi um tabu para mim. 

— Ah Abelhinha, o appa não tem estudo, eu aprendi tudo com a vida e muitas vezes acho que errado. Não sei o que devo dizer, mas vou dizer o que sinto. — Afirmou desligando a TV. — O amor como todos os sentimentos é invisível aos olhos e muito claro ao coração. Ele não morre, mas muitas vezes perece. Eu soube que amava sua mãe assim que a olhei pela primeira vez. Eu estava certo, mas ela errada porque confundiu o que sentia por mim com amor, enquanto eu sempre soube o que era. 

Lembro que no meio da sua fala uma expressão de desgosto mal disfarçada marcou minhas feições por ele ter usado justamente ela como exemplo. Apesar de tudo appa ainda a amava, ele sempre a amou.

Lembro também do fatídico dia em que descobri que ele ainda pagava as escondidas o cartão de crédito dela, foi a primeira vez que discutimos, eu fiquei com tanta raiva. Embora quisesse, não o pressionei mais com esse assunto por saber o quanto aquela conversa afetava-o de forma negativa.

Quando aceitei o contrato de casamento e todas as cláusulas exigidas pelos Kim, pedi ao Tom Hagen que a partir daquela data desconsiderasse toda e qualquer cobrança em nome daquela mulher, que nada tinha a ver conosco desde o princípio. Com a operação, tratamento e finalmente o início de sua recuperação, meu pai ficou afastado de tudo por um bom tempo, impossibilitado assim de tomar decisões.

Então, ali eu vi a minha chance. 

De início ele não percebeu, e quando o fez, de nada adiantou, afinal, seu estado não admitia esforço físico, ou seja, sem renda provinda do seu trabalho duro e quanto a mim, pelo menos ele não teve o disparate de pedir nada. E mesmo que tivesse ousado fazer isso, do meu bolso não sairia um won em prol da mulher que para mim está morta e enterrada, mesmo que não esteja. 

— Ela nunca amou o senhor, muito menos a mim. — Ditei em tom sério. — Aquela mulher só amava e ama a si mesma. 

Ele suspirou passando os olhos pela trança esmigalhada que eu desfazia depois de um longo dia de mentiras. 

— Não confunda fadiga com desamor Abelhinha, você não sabe os motivos dela. 

Obviamente um dos motivos foi o desamor. Ela nos abandonou para fugir com outro homem, aproveitar a liberdade que não podia ter com uma casa, uma filha e um marido. A mulher que o deixou sem dó nem piedade não merecia sua consideração, mas ele não conseguia enxergar isso. 

Suspiros.

Os anos passaram, e eu não pensei mais no significado do amor que as pessoas declamavam nas janelas, aos quatro ventos e para qualquer um. 

Mágoa, medo, abandono e rancor. 

Senti isso por muito tempo e ainda sinto. Desejar se desfazer de sentimentos ruins não é tão fácil quanto parece, mesmo para mim que busca não sentir. Em algum momento penso que lutei tanto à favor da ideia de que meu coração não tivesse a capacidade necessária para sentir que eu realmente passei a não fazer isso. 

Eu não sinto.

Muitas noites passei aos prantos, derramando as lágrimas que ela tanto tinha pavor. Diversos  dias passei sentada de frente para a janela da pequena sala somente esperando um vislumbre de sua presença. Que sua sombra se materializasse diante de mim e seus braços mais uma vez me acalentassem. Mas ela não voltou, ela nunca mais voltou. Quando percebi isso eu tomei uma decisão na minha vida e à partir dali passei a não confiar.

Eu não confio. 

Deveria ter aprendido a muito tempo, talvez e com certeza essa é a única lição que ela foi capaz de me dar durante seu curto período de maternidade: o mundo é cruel com aqueles que sentem demais.

Ela não sentia. 

Ela não chorava.

Ela não amava.

Pelo menos a nós, ela não amava. 

E por isso eu cresci não sentindo, não confiando, não chorando, e nunca, nunca amando. 

Eu não sei amar. 

Mas sinto que quando estou com ele esse sentimento teima em me maltratar. Por que de frente para ele eu desejo saber como é o amor que pensei ter apagado da minha memória pela eternidade? 

Em muitas manhãs assim que transpassava as portas do Kim Medical aqui de Ilsan eu me sentava em um dos bancos de madeira de frente para o parque à espera de Kihyun. 

Lá eu assistia casais apaixonados montando toalhas quadriculadas na grama, andando de bicicleta juntos e dividindo sorvetes de baunilha no verão. Eu ficava imaginando como devia ter sido o fatídico momento em que aquelas pessoas perceberam-se apaixonadas. 

Em uma dessas manhãs passei tempo demais observando uma garota de cabelo ondulado e casaco amarelo. Ela parecia orbitar ao redor de um cara alto de topete esquisito, e analisando os dois juntos eu tentei entender o que ela sentiu quando soube que o amava. 

Borboletas no estômago? Gagueira? 

Será que perto dele suas frases e pensamentos começaram a ficar desconexos? Ou o topete dele começou a brilhar em um tom dourado reluzente pelas ruas?

O que diabos uma pessoa sente quando está apaixonada? 

Todos os bancos da praça são desconfortáveis e pequenos demais, e precisam de no mínimo uma pintura. Ali eu perdia minutos incontáveis apenas lutando para desvendar os mistérios da vida dos outros. Eu lutava para entender o mundo e suas perspectivas através dos olhos alheios. 

Todos os casais analisados carregavam suas minuciosidades, mas eu tinha plena certeza de que aquela segurança e confiabilidade presentes no ar que os cercava não aconteceu da noite para o dia. 

Amar é mais do que batimentos cardíacos acelerados e língua presa. São atitudes. Se apaixonar por uma pessoa não tem absolutamente nada a ver com a sua aparência física e a imagem que o espelho entrega. É mais. É um gesto, um carinho, um cuidado, um olhar que não pode ser comparado a nenhum outro. 

É paciência, insistência, calor. 

O amor é quente, ele te faz quente e você irradia calor por todos os poros do corpo quando entende que o que está sentindo é aquilo que sempre pensou não ser capaz de sentir. 

Ainda pequena me ensinaram que o mundo é cruel com aqueles que sentem demais e por isso, eu nunca quis sentir. Mas como o inferno eu ainda sinto, apesar de negar com todas as minhas forças eu sinto. 

Foi aos poucos e gradativamente. 

Os copos de chá ruim de ginseng no início do plantão, as balas de canela nos meus globos de neve, as caronas mesmo quando dizia que não poderia me levar para casa por conta de uma reunião. Os "bom dia" pela manhã antes de me lembrar de tomar os remédios e depois os beijos na testa de "boa noite" já de pijama e um jeito sonolento. 
A atenção com meu pai quando eu não podia fazer isso, o carinho pela irmã, o respeito pela avó, o sorriso largo sempre que via o pestinha correndo pela casa. 
A forma responsável com que lida com a vida ao mesmo tempo em que tropeça do nada nos próprios pés.

Ele me deu carinho, aconchego e alento quando só o que eu fazia era renegá-lo, mas ele não desistiu de mim quando qualquer outro em seu lugar teria. Pequenas coisas pouco a pouco foram tomando um significado enorme, e aquele sorriso, e aquelas covinhas? Eu nunca conheci alguém assim, ninguém como ele passou pela minha vida. 

Namjoon é paciente. Namjoon é persistente. Namjoon é quente. 

Eu não sei como é o amor, como deveria agir ou de que forma devo levar isso, mas de uma coisa tenho certeza, embora seja um sentimento novo, eu amo.

[...]

É de manhã, mas eu mal consegui dormir a noite. 

Uma trilha tortuosa formada pelos meus cacos marcou o caminho da mesa de café da manhã abandonada até a porta do seu escritório.

Minhas mãos estão suadas. 

Em um dos diálogos de "Pulp Fiction" do Quentin Tarantino, o John Travolta e o Samuel L. Jackson falam sobre milagres.

— O que é um milagre Vincent? — o personagem do Samuel L. Jackson perguntou.

— É um ato de Deus.

— E o que é um ato de Deus?

— Quando Deus torna algo impossível, possível. 

E foi exatamente isso o que Ele fez comigo.

Toc toc.

Duas batidas e uma respirada funda. 

Lá de fora ouvi sua voz mandando quem quer que fosse entrar. Pus a mão na maceta gélida e aos poucos adentrei antes de me escorar na mesma porta. 

— Ah! — Exclamou. — Bom dia, já acordou? — disse após uma olhada rápida, voltando para o amontoado de papéis que lhe cerca na mesa de carvalho. 

Seja de manhã, tarde ou noite o perfume dele nunca muda. O cheiro de canela está intrincado em seu corpo como pede passagem para inundar o meu. 

— Eu quero conversar com você. 

Namjoon tombou a cabeça de lado digitando algo rapidamente pelas teclas do notebook.

Ainda é bem cedo, ele nem sentou para o café, mas já está trabalhando e atarefadíssimo ao que parece. Sua roupa casual combina com a forma como seu cabelo está penteado, quer dizer, despenteado. Uma pequena mancha do líquido escuro da xícara ao seu lado marca a gola da sua camisa simples e branca, seus olhos se enrugam por detrás dos óculos de grau.

Ele é só um cara comum que passou a ser totalmente incomum, singular, especial para mim. 

— Tem que ser agora? Tenho negócios com meu administrador daqui a pouco, e ainda preciso revisar o contrato feito pelo Tom para a terceirizada, sem contar...  — Ele pegou a caneta dourada marcada com o Kim da família que ganhou do pai quando completou 18 e estava prestes a finalizar sua fala quando eu o interrompi de uma vez. 

— Acho que te amo. — Sussurrei tão baixo quanto o possível.

Imediatamente ele largou tudo, as folhas pousaram na mesa, a caneta caiu no chão, a cadeira se afastou com um barulho e seus passos começaram a vir na minha direção.

Por que meu coração está palpitando? 

Seus olhos se tornaram enormes, sua voz mesmo mostrando descrença, é tão gentil.

— Você me ama? — perguntou com o mesmo tom mostrando incredulidade, receio, esperança. 

— Acho — Foquei. 

Parecendo achar graça da minha dúvida, ele retirou os óculos e pareceu ficar sem saber o que fazer com as mãos, sendo assim, as dobrou em frente do corpo e com um sorriso presente, perguntou:

— E por que você acha isso Olivia? — As covinhas fundas se afundaram mais e ali eu me perdi. 

Acho que foi o sorriso.

— Pelo seu sorriso — respondi. — Como a sua avó um dia constatou, eu nunca conheci alguém com um sorriso assim. 

 Admiti com coragem o suficiente para me aproximar dele. Namjoon ergueu uma das mãos depois de descartar os óculos em cima da mesa e esperou. 

Eu desejo seu toque, seu olhar, sua áurea cativante aquecendo partes irreconhecíveis e adormecidas em mim. 

Deixei que seus braços envolvessem minha cintura, permiti que meus dedos desenhassem sua face vidrada e já tão conhecida antes de me entregar ao doce prazer de seus lábios carnudos e chamativos. 

— Mesmo quando meus olhos estão fechados, é o seu sorriso que eu vejo. — E ali estava o sorriso, o início do meu céu e quem sabe do meu inferno. 

 


Notas Finais


:OOOOOOOOOOOOOOOO


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