História Uncertain Future - Shawn Mendes - Run

04/09/2015

Pickering, Ontário

13h36min, horário de Toronto

O começo do meu primeiro mês escolar estava no mínimo conturbado, desde o começo do ano letivo (01/09) eu faço parte do grupo famoso da escola, os estrelas. Eu concordo com todas as más línguas que dizem que sou sem sal e não tenho nada de mais, isso é totalmente verídico. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa normal, minhas notas são muito boas, não posso reclamar – até porque não faço esforço para estudar e me dou bem, ta ótimo –. Não sou maravilhosamente linda ao olhar dos canadenses, ou seja, magríssima e altíssima, acho que para eles sou uma espécie de garrafa de 600ml enquanto as meninas são de 1l, lindas para caralho e sem nada para reclamar.

Como disse, não chamo muita atenção desde o começo, talvez por ser uma brasileira fora dos padrões que eles impõem – morena e gostosa –, mas me aceitaram por alguma razão e pelo que parece, apenas por ser considerada “homossexual”. Se antes eu já era considerada diferente por ser comum, mas andar com os estrelas, agora que eu estava jogada nos braços de Shawn Mendes, acho que tudo piorou.

– O que? – perguntei totalmente atrapalhada, tentando entender o que caralhos estava acontecendo e por que.

Você que tem essas crises de idiota, às vezes acho que você é autista, sério.

Cala a boca, Macrow.

– Você está bem? – Shawn Mendes estava com suas mãos em minha cintura, me impedindo de desabar no chão. Todas as pessoas do corredor olhavam para nós com os lábios entreabertos de pura surpresa, Felicity não estava diferente, mas seus olhos estavam arregalados.

– Ah… Claro – respondi totalmente sem jeito, sentindo suas mãos se afastarem de mim. Logo todos voltaram a prestar atenção em seus armários e Shawn voltou a conversar com um garoto que mexia em seu armário e brincava com ele.

– Você ta’ bem? – Matt e Felicity falaram juntos, demonstrando preocupação. Vi Shawn virar a direita para ir para sua sala, me bati mentalmente por não ter agradecido.

– Ah, preciso conversar com os três, agora! – falei apontando para eles, Felicity olhou para seu relógio para ver se tinha tempo. Sai pelo portão D esperando eles.

– O que foi, hein? – Amanda foi a primeira a chegar, já perguntando de cara o que eu queria.

– Quem mais “sabe” sobre eu ser homossexual? – atirei rapidamente, vendo Matt chocar-se e encolher-se. – Que porra vocês tem na cabeça? Momento algum eu falei que era ou não. Vocês não tem a porra de um cérebro e não se importam em perguntar?

– Você não é? – Amanda mantinha-se congelada, tentando entender tudo que falei.

– Não, caralho. Eu gosto de homem, pinto, entendeu? Não tenho preconceito algum, mas puta merda, nem para vocês pensarem, hein? – fiquei vermelha de tão brava que estava. – Pra quem mais vocês falaram?

– Não contei para ninguém… Você nunca falou de mim – Felicity foi a primeira a falar, Amanda assentiu com ela, demonstrando que nunca falara sobre o assunto.

– Matt? – perguntei já ansiosa.

– Talvez eu tenha comentado com o Freddy… – Matt começou, mas o interrompi antes.

– TALVEZ? PORRA! – gritei, chamando atenção de dois garotos que vinham em nossa direção e por incrível que pareça, era Freddy e um garoto que chama Cameron.

– O que ta acontecendo, galera? – Freddy chegou perto de nós, apontando para Cameron ir à frente.

– Freddy, preciso que seja verdadeiro. Você comentou com alguém sobre a minha sexualidade? – perguntei diretamente, vendo-o estremecer.

– Como? – ele começou, coçando a cabeça. – Não, por quê?

– Não sei o que te disseram – lancei um olhar mortífero para Matt. – Mas vou deixar bem explicado: gosto de homens, ok?

– Eu sei, não da para pensar que você gosta de mulher… Na aula de esportes você sempre da uma olhada em alguns meninos… Uma bela olhada. – ele fez graça, me fazendo rir junto. Acabamos escutando o sinal tocar e seguimos para nossas salas, mas antes eu cochichei para Amanda.

– Não sei o que você pensa ou deixa de pensar sobre mim, mas a Felicity é apenas uma amiga, nada mais. Não estou contra você, apenas ajudei uma menina simpática que pode ser minha amiga no futuro. – apenas cochichei e entrei pelo portão D, virando para a direita e dando de cara com a sala de Historia dos EUA.

O professor Pierre estava prestes a começar a aula, bati duas vezes na porta e pedi licença, entrando e dando de cara com apenas dois lugares vagos: ao lado do moleque atentado, que muitas vezes assedia algumas alunas ou sentar ao lado do Shawn Mendes, o garoto que por acaso, estava tentando não encarar após aquele ataque. Sr. Pierre comentou alto para mim sentar-me logo que ele queria começar a aula, segui em direção ao fundo, decidindo que sentaria do lado do tarado que já me encarava com um sorriso no rosto.

– Senta do meu lado. – ouvi antes de sentar-me ao lado do Henrique, o cara assediador. Era Shawn apontando para o banco que sobrava ao seu lado e eu, claro, corri até lá. Ele que pediu.

– Obrigada, é um porre ficar do lado do Henristalker* – comentei baixo para que somente ele escutasse, o que gerou uma risadinha saindo pelos seus lábios.

– Acredite, eu sei bem. – foi a única coisa que ele falou, logo voltando sua atenção para o professor que marcava algo na lousa.

O resto da aula foi péssimo. O professor toda hora perguntava alguma coisa para mim e eu podia jurar que ou ele me odiava ou queria muito uma opinião de alguém de outro país sobre os EUA. É claro que eu fiquei com a primeira opção, até porque, eu estava parecendo um morto-vivo fisicamente e o Sr. Pierre queria porque queria que eu debatesse com outros alunos. Não sei se era por causa do calor que estava fazendo, mas meu corpo estava queimando e eu podia jurar que tinha dois Sr. Pierre na frente da lousa branca. E assim que deu o sinal eu tive que ficar uns cinco minutos a mais, esperando todos saírem para finalmente poder respirar novamente.

– Tudo bem, querida? – o Henrique pareceu ter me esperado, e confesso, tive uma grande surpresa quando olhei para o lado e lá estava ele.

Foge enquanto dá, flor.

Macrow, não piora ou eu vou ter um ataque cardíaco.

– Tudo ótimo. – respondi calmamente enquanto pegava o resto do meu material e saia pela porta. Percebi Henrique me seguindo e no mesmo instante todos os pelos do meu corpo arrepiaram.

– Que tal a gente dar uma saída? Hein? – apenas neguei, andando pelo corredor praticamente vazio, a maioria dos alunos já estariam no caminho de casa. Virei a esquerda a procura do meu armário. – Vai, querida. Eu não sou de aceitar não como resposta.

– Então finja que eu falei um ‘sim’ e vaza. – falei, abrindo meu armário com as mãos tremulas. Henrique tinha uma má fã no colégio: gostar de garotinhas indefesas.

– Já te falaram que é melhor escutar isso saindo da boquinha? É tão sexy. – ele tentou se aproximar, eu rapidamente fechei meu armário com força, o olhando brava.

Querida, sua cara de fome não vai assustar o capeta. Ele da três de você, é melhor correr que eu não to preparado para fazer nada com ele.

Macrow, porra. Você só me coloca mais medo desse jeito.

– Tchau. – me virei para ir embora, sentindo meus pés dormentes, acho que se eu pisasse no prego seria melhor que essa situação, até mesmo pisar no lego. Rapidamente sua mão segurou meu pulso de maneira impetuosa, machucando-me.

– Licença. – uma menina, provavelmente com seus doze anos chegou perto de nós. Ela era a única pessoa no corredor, mas duvido que pudesse fazer algo para me livrar.

– Aaliyah, que saudade, minha querida. – Henrique silabou calmamente, vi a tal da Aaliyah retesar inteira, provavelmente com medo. – Saudade das nossas tardes? Acho que vocês não se importam de comermos os três juntos, não é?

– Vá se foder, seu doente. – vociferei enquanto tentava me soltar de suas mãos, ele deu uma risadinha, fazendo Aaliyah sair correndo. Bom, agora eu me fodi mesmo.

Concordo.

Macrow, tem como desligar você? Já cansei.

– O que você pensa que está fazendo? – ouvi alguém gritar no final do corredor com uma voz impetulante, acho que me assustei mais com seu grito do que com o fato de um tarado estar me prendendo.

– Já foi chamar seu irmão, Aaliyah? – ele disse e me soltou, colocando ambas as mãos para cima, como se tivesse se rendendo. Eu travei, assustada com a situação, senti Aaliyah vindo até mim e me puxando um pouco pra longe de Henrique, mas sem muito sucesso.

– Ainda não aprendeu a não mexer com garotas? – vi Shawn vindo até nós.

– Pensei que não era para mexer com suas garotas, Mendes. – ele caminhou até mim e Aaliyah, passando as mãos no meu cabelo. – Você não pode salvar todas elas, sabe disso, não é? Saia com sua irmã e nos deixem.

– Claro… – ele segurou o pulso da Aaliyah e colocou-a atrás dele. – Mas as duas vem comigo.

– O que… – antes que Henrique terminasse sua frase, senti Shawn segurar por trás dos meus joelhos e me jogar em seus ombros, correndo comigo em seu colo e sua irmã a frente. A ultima coisa que escutei antes de virarmos o corredor foi o grito estressado de Henrique. – MENDES!