História Uncover - Mistérios

 - Não deveria ter saído do lugar de onde veio. – O homem disse apressadamente e correu. Taehyung continuou onde estava, imóvel.

 - Você conhece ele? – Perguntei ainda confusa.

Toquei seu braço, mas ele se afastou com meu ato, ainda estava processando tudo que aconteceu, mas havia algo bem mais intenso acontecendo ali, algo que eu não fazia a mínima ideia do que podia ser.

– Taehyung... o que aconteceu? Quem é Alex? – Ele continuava a encarar a rua vazia pela qual o homem passou para fugir.

 - Você precisa ir embora. Agora. – Sua voz estava rouca e tensa. Algo em mim dizia que não iria conseguir respostas dele de imediato.

 - O quê? Você sabe o que ele queria? Você sabe o que queria comigo? – Ele piscou algumas vezes até recobrar o folego.

 - Você tem que ir embora. – Seu tom passou a ser mais sério.

 - Eu não vou a lugar algum se você não disser o que está acontecendo aqui! Quem é Alex? – Insisti.

 - Você não precisa saber! – Aumentou o tom tenso e olhou para mim rapidamente.

 - Preciso sim! Ele tem algo com você, algo que eu não faço a mínima ideia do que seja e preciso que me diga.

 - É melhor que não saiba. – Começou a caminhar para o lado oposto.

 - Para aonde está indo?

 - Levar você para casa.

 - Eu vou para casa! Não saio daqui até que me diga! – Exigi. – Há pessoas demais querendo o seu mal e nem a razão disso eu sei. Esse Alex tem a ver com o seu passado? – Vi seus punhos cerrarem e engoli em seco. Talvez eu o estivesse tirando do sério, mas eu precisava de respostas e não iria conseguir tão cedo já que ele se mantinha em silencio.

– Tudo bem, não vai me contar, vai? – Suspirei irritada. – Tudo bem! Que seja! Já sabe o suficiente de mim para escrever um testamento sobre meus problemas idiotas e melancólicos, mas o que eu sei de você? Você poderia morrer amanhã e eu nem ficaria sabendo porque você não diz o que há na sua vida! Quem é você? E o que eu sei sobre você? – Explodi.

- Você sabe o bastante para poder ficar comigo, eu não quero que saiba sobre meus erros. Não quero que se afaste por pensar que sou um monstro ao saber a verdade sobre mim. – Aumentei a força em meus punhos fechados.

 - Como poderia pensar que eu te acharia um monstro? Está julgando muito mal os meus conceitos!

 - Eu não preciso saber sobre seus conceitos para ter certeza do que acharia de mim se eu fosse um criminoso! – Eu me negava a acreditar que ele poderia estar cogitando uma ideia dessas.

 - E você é um criminoso? Eu não sei, porque você não me conta! Se contasse, eu não iria tratá-lo com indiferença, eu poderia tratá-lo normalmente como o trato agora, porque você estaria sendo sincero. E mesmo não sabendo sequer se você tem parentes ou não, sei que existe alguém por aí que se importava com você.

 - Você perdoaria o assassino de seu pai? – Perguntou do nada. Fiquei sem resposta por alguns segundos.

 - Meu pai não é o assunto de agora.

 - Me responda. – Exigiu. Percebi que ele se negava a olhar para os meus olhos por mais que eu o encarasse intensamente.

 - Eu não tenho que o perdoar. Quem deveria perdoá-lo é meu pai, porque foi ele que foi morto, não eu. Mas senti que estivesse morta quando meu pai foi levado. Então não, eu não o perdoaria porque meu pai estava usando o dinheiro sujo para viver, para conseguir cuidar de minha família e não para luxo, e o assassino dele não considerou isso. – Seu olhar foi para mim.

 - Se eu fosse o assassino de seu pai, você me perdoaria? – Seus olhos demostravam dor e arrependimento, mas eu não poderia saber para o que se referiam.

 - Você não é. Não torne as coisas assim, por favor, eu não quero me afastar de você por não saber quem realmente é.

 - Se eu fosse um assassino? Você se afastaria? – Engoli em seco e desviei o olhar.

 - Eu sei que você não é. – Afirmei e ele negou com a cabeça.

 - Não sabe, você não sabe quem eu sou. – Suspirei cansada.

 - Eu saberia se você dissesse, mas sei que isso não vai acontecer... Taehyung, você não confia em mim?

 - Confio o bastante para não querer machucá-la com a verdade. - Mordi o lábio e fechei os olhos para conseguir tomar forças para me afastar dele, seguindo o rumo oposto. - O que está fazendo? – Perguntou baixo.

Eu não queria conseguir sentir o que sua voz demonstrava, mas eu não podia negar o que estava sendo transmitido pelo seu tom baixo, era dor. Fechei os olhos enquanto continuava a me afastar. Doía em mim saber que ele estava sofrendo, mas eu não podia ajudá-lo.

 - Me afastando. – Murmurei.

 - Iria fazer isso se soubesse quem eu sou.

 - Eu estou o fazendo por não saber.

***

 Por algum motivo meus olhos ardiam, e eu sabia bem qual era esse motivo, mas continuava a afastá-lo de dentro de mim. O caminho de casa parecia ainda mais longo e quanto mais eu pensasse em Taehyung parado naquela viela, mais parecia difícil dar os passos que me afastavam ainda mais dele.

 Não sabia por quanto tempo ficaria sem vê-lo, mas estava determinada a passar algum tempo sem falar com ele, pelo menos até que confiasse em mim o suficiente para dizer o que o machucava tanto a ponto de esconder isso tão arduamente.

 Eu parecia ser tão estupida assim? Entregar minhas experiências mais traumáticas para um estranho quando sequer sabia da vida dele. Quanto mais pensasse nisso, mais parecia estupido da minha parte, e o mais idiota ainda era que eu estava nutrindo sentimentos por ele. Sentimentos fortes que me deixavam desnorteada e desorientada. Não saberia por quanto tempo conseguiria ficar longe dele.

 Seu mistério era como um imã para mim, quanto menos informação ele me desse, mais perto dele eu queria ficar. E isso podia me prejudicar, e muito. Já estava prejudicando.

 Abri a porta sem receios e não vi sinal de minha mãe. Ela deveria chegar pela noite, ainda era de dia, pelo menos ainda era fim de tarde. Subi os degraus até o corredor que me levava para meu quarto e tomei um susto quando vi minha mãe parada em meu quarto, encarando minha linha do tempo de polaroids pregadas a um cordão na parede.

 - Mãe? – Indaguei surpresa e ela se virou rapidamente. Sua face demonstrava surpresa e desconfiança. – O que está fazendo no meu quarto? – Percebi que faltava uma foto no cordão e vi que ela segurava uma polaroid em mãos.

 - O que estava fazendo antes de chegar em casa? Passou na casa de Jessie antes de voltar? Ou a mãe dela lhe expulsou por não saber que dormiu na casa dela? – Engoli em seco. Minha mãe era uma detetive, não era fácil escapar de seu talento em descobrir mentiras, fui tola em acreditar que ela acreditaria em qualquer desculpa.

 - O quê?

 - Eu liguei para a mãe de Jessie e a ela disse não saber do que eu estava falando quando perguntei se você estava dormindo lá. Onde passou a noite Abby? Na rua tenho certeza que não foi. – Antes que eu pudesse responder ou simplesmente ficar em silêncio por não saber o que dizer, ela levantou a mão com a foto polaroid. - Quem é Taehyung? – Perguntou, mostrando a foto de Taehyung.

 Eu gostaria de saber.

 Engoli em seco e pisquei algumas vezes sentindo minhas mãos suarem.

 - Não é ninguém. – Andei até ela e tirei a foto de sua mão. Olhei de relance e vi ser a foto na pista de skate.

 - Ninguém é algo que ele não é.

 - Pode ter certeza que é. – Respondi com desgosto.

 - Você o conhece, se não conhecesse não teria uma foto dele estampada em seu quarto e ainda com o nome dele escrito. – Suspirei e fechei os olhos por instantes.

 - Mesmo que eu saiba pelo menos o nome dele. – E era realmente parte do pouco que sabia. – Eu não o conheço, você não o conhece e antes que se pergunte, não, eu não dormi na casa dele ou algo do tipo. Não tenho nada relacionado a ele, espero que fique claro. – No fundo queria que parte disso fosse verdade, mas estávamos sim relacionados, ou pelo menos ligados. Mas poderia não ser reciproco, já que apenas eu tinha a certeza do que sentia por ele.

  - Então por que tem uma foto dele no seu quarto?

 - Eu gostei da paisagem. Tirei por vontade momentânea, só coloquei o nome dele porque sou uma pessoa educada e perguntei se poderia ficar com a foto e ele disse seu nome, foi apenas isso. Tirar fotos de qualquer porcaria que aparecer faz parte da minha terapia pós-trauma de Austin, se lembra? – Preguei a foto novamente no cordão. – Mais alguma pergunta? – Mostrei desinteresse.

 - Onde você dormiu?

 - Não dormi, passei a noite com Jessie e Andrew em uma boate, okay? Te faz melhor saber que sua filha estava fazendo merdas na madrugada? – Ela suspirou resignada.

 - Você foi para uma boate depois que te contei toda a verdade sobre o seu pai? – Deixou seus braços cair ao lado do corpo, decepcionada. – Realmente Abby, eu não te reconheço mais. Achei que seus atos de rebeldia acabassem depois da confissão.

 - Sair para se divertir não é um ato de rebeldia.

 - Mas em plena semana de aulas sim, e você mentiu para mim.

 - Isso se tornou um hábito para você por muito tempo. – Seus olhos pararam em mim por um tempo, ainda mostravam decepção.

 - Eu vou descobrir o que você está escondendo, pode ter certeza. – Afirmou. – E... eu não estava bisbilhotando nas suas coisas, sei que odeia isso. Eu só quis chegar mais cedo do trabalho para lhe desejar feliz aniversário, mas acabei vendo a foto. – Se explicou. - Você mudou, está tão claro quanto as coisas que guarda aqui. – Terminou e saiu do quarto.

 Suspirei cansada e me atirei na cama.

Esse dia poderia acabar? O que eu estava fazendo?