- Pete? Tá aí? Disse Samantha, uma mulher de cabelos castanhos, ondulados até as costas, olhos verdes, vibrantes, e pele bronzeada. Seu cabelo estava solto, mas parte dele preso em um pequeno coque no alto de sua cabeça. Deixando cair as ondas levemente aloiradas sobre suas costas. Ela entrava na casa de Peter. Um de seus irmãos. A casa passava a maior parte do tempo destrancada, era uma mania de família.
- Ué, pensei que nos encontrariamos no restaurante. Respondeu Peter, enquanto saia da cozinha e a encontrava na apertada sala, o encarando. Peter era alto, a pele pouco menos bronzeada que sua irmã, o cabelo castanho e os olhos num azul apagado. Tinha fortes sardas no nariz, característica que o irritava desde a infância.
- Tava super cheio. Eu te disse que ia ta um inferno, eu odeio lugar cheio, me dá até agonia pensar no tanto de voz falando alto por lá.
Peter revirou os olhos, conformado:
- Quer almoçar onde então, Sam?
Samantha se jogou no sofá do irmão. Pensativa:
- Que acha daquele vegetariano na rua do seu trabalho? Perguntou.
Peter acenou positivamente com a cabeça e os dois seguiram para o seu carro, indo na direção apontada pelo aplicativo.
- A Lizze não quis vir? E o Jake? Perguntou, Sam, sentada no banco do passageiro da larga SUV do irmão.
- Eu nem chamei, a Lizzie ia fazer algo com a mamãe e Jake não atende o telefone, parece que começou a namorar e esqueceu do mundo. Disse irritado com o irmão. Sam sorriu:
- Acho incrível como nunca sou chamada pra fazer nada, quando se trata da mamãe e Lizzie. Desabafou, Sam. Olhando reflexiva pela janela.
Peter intercalou o olhar entre a irmã e a direção:
- Ah, qual é Sam. Como se você gostasse de qualquer coisa que elas saem pra fazer. Iria no shopping bater perna? Olhar vestido de casamento com Lizzie?
- Deus me free. Disse com a sobrancelha arriada. - Mas não é porque não temos absolutamente nada em comum, que eu não gostaria da companhia delas. Enfim, que seja. Disse encerrando o assunto. Peter respeitou e não deu continuação.
Ao chegar no restaurante, estava parcialmente vazio, animando Samantha. Eles sentaram em um lugar ao lado da janela e abriram o cardápio enquanto papeavam.
- E Sophia? Perguntou Peter com cautela.
Samantha encarou o chão, ressentida:
- O que é que tem? Perguntou com hostilidade.
- Nunca mais? Não vão voltar mesmo?
- Desde que ela me deu o maior pé na bunda do século, acredito que não. Respondeu com naturalidade.
- Você não parece muito feliz com isso. Nunca contou pra gente o que aconteceu. Insistiu.
- E nem vou. Sophia é um assunto completamente fora dos limites, não vou falar sobre ela, não pergunte mais por favor. Disse ainda encarando o cardápio. Peter ergueu as mãos em sinal de rendição.
- Peter? Perguntou uma voz grave feminina, interrompendo os irmãos.
- Sra. D'Orsay? Perguntou se levantando educadamente. - Que coincidência. Disse sorrindo com simpatia.
- Não sabia que era vegetariano. Respondeu a mulher. Brooke D'Orsay era alta, elegante, madura, usava um vestido preto colado ao corpo, o vestido seguia até o joelho e as mangas eram compridas. Seu salto alto preto, scarpin cintilante, denunciava sua classe alta. Seu cabelo era escuro, curto, algumas mexas pegavam nos olhos quando piscava, era liso e cheio de brilho e aparentava maciez. Ela sorria ao expressar sua dúvida, era um sorriso contido, curto, porém sincero.
- Não sou, na verdade minha irmã é. Disse ao apontar para Sam que permanecia sentada. Mas se levantou apressada, querendo demonstrar boa educação:
- Samantha O'Neill. Se apresentou, estendendo a mão até Brooke, que sorriu gentilmente, apertando sua mão.
- Brooke D'Orsay. Muito prazer.
- Igual a atriz? Perguntou Samantha com doçura. Brooke sorriu sem jeito, mas Peter interrompeu sua intenção de responder.
- A Sra. D'Orsay é minha chefe, Sam. Disse Peter apreensivo.
- Oh. Respondeu a irmã, sem se importar com a seriedade imposta pelo irmão.
- Essa é Mary, minha esposa. Disse Brooke, pegando a mão da moça que permanecia ao seu lado.
- Mary Gardner. Encantada. Disse Mary, uma mulher madura, como Brooke. Tinha os cabelos na altura dos ombros, castanhos, mas com traços grisalhos, detalhe que Sam achou charmoso. Tinha os olhos escuros, cor de jabuticaba. Estendeu a mão até Samantha que apertou de volta, sorrindo.
Mary retribuiu o sorriso, e um momento constrangedor se instalou quando ninguém mais dizia uma palavra, mas perceberam que Mary e Samantha não paravam de se encarar. Brooke coçou a garganta em voz alta:
- Bom, vou deixá-los comer em paz. Disse sucinta.
- Imagine. Nos vemos segunda-feira, Sra. D'Orsay. Disse Peter sem jeito.
- Prazer em conhecê-la. Disse Mary encarando Samantha. Mary deixou o restaurante e antes que pudesse perceber, levou seu olhar para trás, até Samantha, que a encarava sem o menor puder.
- Bom, isso foi bem desconfortável. Disse Peter, pegando o cardápio novamente.
- Porque? Perguntou Samantha, achando graça.
- A esposa da minha chefe te encarou demais. E não é segredo que o casamento das duas já não é a mesma coisa, mas não precisava esculachar assim né.
- Olhar não arranca pedaço. Deixa ela. Garçom, por favor. Disse, acenando para o rapaz de gravata borboleta que perambulava atrás de Peter.
*****
Quase um ano após aquele encontro se passou.
O celular de Samantha tocava insistentemente:
- Mas será o benedito. Alô. Respondeu a morena, irritada.
- Porra, Samantha, difícil atender essa merda heim?
- Elizabeth, eu tô no meio do mato, conhecendo uma aldeia de índios, eu nem sei como meu celular tem sinal. Disse em voz baixa.
- Porque ta falando baixo assim?
- Tá rolando uma cerimônia e você está atrapalhando. Disse, se sentando em um tronco próximo a uma grande aldeia que existia em suas costas.
- Que seja, eu preciso que você vá provar seu vestido.
- De novo? Eu já provei uns sete vestidos, Elizabeth.
- Mas só agora eu tomei uma decisão sobre qual vestido eu realmente quero, oras.
- Vai insistir naquela cor horrorosa, né? Perguntou coçando os olhos sem paciência.
- Champagne não é horroroso, voltou a moda, e meu consultor veio diretamente de Paris, você jura, que uma riponga desempregada como você, vai saber mais do que ele? Perguntou.
- O fato de você não valorizar meu emprego, não quer dizer que ele não exista, Lizzie. Disse magoada. - Eu não vou usar porcaria de vestido nenhum, se eu não puder ir com a roupa que eu quero, prefiro nem ir. Disse se levantando do tronco e encarando o círculo de pessoas que se formava próximo a aldeia.
- Você é uma selvagem. Quer saber, então não vá. Disse sua irmã, desligando seu telefone.
Os olhos de Samantha se encheram de lágrimas por um momento, mas ela encarou o céu, empurrando as lágrimas pra de volta de onde vieram. Atravessou a pequena mata e voltou para a aldeia, se misturando na ciranda que ali acontecia, com homens brancos e índios misturados.
Naquela noite, Samantha se sentava na frente de uma fogueira, usava uma saia leve que cobria toda sua perna e comia direto de uma cumbuca, uma sopa saborosa. Alguns índios conversavam ali em volta, crianças corriam e o calor parecia só aumentar. Terminou sua sopa e foi até a tenda onde estava acampada. Sentiu uma forte pontada próximo a sua costela:
- Ai. Disse, se ajoelhando no chão, com os olhos apertados. Um de seus amigos a ouviu reclamar e entrou em sua barraca:
- Sam?
Samantha perdeu os sentidos e a última coisa que viu, foi o teto de pano de sua barraca.
*******
Samantha abriu os olhos delicadamente e se viu em um quarto limpo e branco, os olhos ardiam com a claridade, olhou em volta de si e usava uma camisola clara, rosada. Tinha um acesso no braço, recebendo algum tipo de medicamento que não conseguiu identificar. Estava no hospital.
Peter, seu irmão entrou no quarto:
- Acordou do sono, princesa?
- O que aconteceu? Perguntou confusa.
- Apendicite. Você desmaiou lá naquele fim de mundo que você estava.
- Desmaiei? Mas que droga, Pete, eu tava trabalhando, eu ia receber por aquele job. Disse tentando ficar sentada, mas sem sucesso, devido a dor no abdômen.
- Samantha! Ouviu uma voz gritar seu nome enquanto entrava. Era Elizabeth, sua irmã três anos mais velha. Elizabeth era baixa, tinha os cabelos estilo black power, tinha a pele negra e um pequeno piercing no nariz, embora todos seus irmãos insistissem que a moda já havia passado.Tinha os lábios parecidos com os de Samantha, marca registrada da família. Era irritada naturalmente e toda palavra que saia de sua boca, aparentava ser algum tipo de bronca ou briga com alguém, mesmo que fossem palavras de afeto. - Quanto tempo vai ficar internada? Preciso que vá provar seu vestido com urgência.
- Achei que tivesse me desconvidado para o seu casamento. Disse revirando os olhos.
- Sam! Disse um terceiro irmão, era Jake, irmão 5 anos mais velhos que Samantha, era alto, tinha os cabelos aloirados, puxados para o ruivo, e um olho marcante azul. Jake tinha largos ombros, e por isso seguira a carreira de nadador. Era musculoso e fazia sucesso entre as garotas e garotos.
- Pelo amor de deus, quanta gente, eu só tive um probleminha, não é como estivesse morrendo. Disse Samantha se irritando.
- Aqui é o quarto 406? Perguntou uma mulher mais velha, que tentava encontrar o número do quarto na porta:
- Sra. D'Orsay? Perguntou Peter, reconhecendo sua chefe. Brooke então pôde ver quão cheio estava o quarto de Samantha antes de entrar, e sentiu seu rosto corar, ficando vermelho de constrangimento.
- Samantha arregalou os olhos:
- O que faz aqui? Perguntou surpresa
- Eu tentei te ligar diversas vezes, mandei mensagem, fiquei preocupada.
- Mas como você me encontrou? Perguntou ainda em estado de choque.
Seus irmãos acompanhavam a discussão entretidos. Com exceção de Peter, que tinha a mão na cabeça em sinal de preocupação.
- Alguma enfermeira atendeu o seu celular, disse que parecia importante e me passou o endereço.
Samantha a encarou, sem dizer nada.
- Ah, com licença. Disse mais uma voz feminina que adentrava o quarto.
- Sophia? Disse Samantha, em tom de choque.
- Isso tá ficando bom. Disse David cutucando Elizabeth que colocou a mão na boca pra esconder o riso.
- O que, o que, o que...Você, hum...
- O que minha irmã ta tentando perguntar, Soph, é o que você faz aqui? Peter completou, se irritando com sua irmã enferma.
Samantha respirou fundo, sentindo seu abdômen se manifestar com as pontadas.
- Lizzie me disse que você estava aqui, eu fiquei preocupada. Fiz mal em ter vindo? Perguntou.
- Não, claro que não. Samantha se apressou em dizer. - Eu só não esperava, faz tanto tempo que não te vejo. Disse claramente sem jeito.
Sophia era alta, mas não como Brooke. Tinha longos cabelos loiros, com algumas ondas e mechas mais claras. Os olhos acinzentados e as bochechas com pequenas e sutis sardas, mas conquistara Samantha mesmo, pelo simples sorriso. Era espontâneo e aparecia a todo momento.
Brooke percebeu a reação de Samantha diante de Sophia e a olhou, encarando-a.
Samantha sentiu suas costas suar de nervosismo, quando vira um médico entrar no seu quarto e encostar ao lado de sua cama, no pouco espaço que sobrara por lá. Ele observou todas aquelas pessoas e em seguida encarou Samantha, que tinha leves tremores. A jovem o encarou e num suplico silencioso sussurrou:
- Socorro.
O médico entendeu a deixa:
- Pessoal, duas visitas por vez, pelo amor de deus, isso aqui tá parecendo uma repartição pública, duas pessoas aqui apenas, e o resto desça, faz o favor. Pediu em tom ríspido.
Samantha respirou fundo, aliviada:
- Eu vou ficar. Disse Peter.
- Eu também. Declarou Lizzie.
- O bom é que vocês nem perguntam se eu não quero ficar né, valeu. Disse Jake incomodado. - A mamãe vem te buscar amanhã Sam Bam. Disse com seu apelido carinhoso a irmã mais nova.
Após todos se despedirem, Peter se sentou na poltrona de acompanhante e exigiu:
- Eu quero saber agora, porque demônios, minha chefe veio te visitar.
- Não minta Samantha. Exigiu Lizzie.
Dos irmãos, Elizabeth e Peter sempre foram os que mais cobraram Samantha das coisas, eles eram completamente diferentes da mais nova e por isso temiam tanto por suas decisões.
- Vocês não vão gostar dessa história. Avisou.
- Não acho que tenha alguma história que nos conte em que nós gostemos, Samantha. Disse Elizabeth, nervosa e hiperativa.
- Tudo bem...
********
A história se iniciava a quase um ano atrás, quando Samantha e Peter almoçavam no restaurante vegetariano. Depois de pagarem a conta, Peter avisou que iria ao banheiro. Samantha se levantou e foi acender um cigarro na porta do restaurante:
- Tem isqueiro? Perguntou uma voz feminina.
- Claro. Disse Samantha se virando para moça, a olhou e reconheceu. - Nós não acabamos de nos conhecer? Disse dando uma leve tragada em seu cigarro.
- Sim, você é irmã daquele funcionário da minha esposa né? Samantha?
- Pode me chamar de Sam. Disse sorrindo.
- Eu esqueci uma blusa aqui. Disse levantando uma jaqueta jeans que estava em sua mão. -Precisei voltar. Disse dando de ombros.
Samantha a encarou por uns instantes, a moça era bem atraente, tinha um sorriso fácil. O que encantava Sam.
- Que sorte que cê encontrou a blusa segura aqui, imagina voltar e não encontrar nada. Disse despretensiosamente.
- Teria valido a pena mesmo assim. Disse sem encarar Samantha, logo atrás de uma tragada.
- Vamos? Disse Peter se aproximando da irmã sem perceber a presença de Mary.
- Pode ir, Pete, eu vou encontrar uns amigos. Disse apagando o cigarro na rua e recolhendo a bituca.
- Tudo bem. Cuidado. Respondeu dando um beijo terno na bochecha da irmã.
- E então? Perguntou Samantha logo após ver seu irmão se distanciar do restaurante.
Mary fez uma expressão de confusão
- Tem um bar bacana a dois quarteirões daqui, termine seu cigarro. Te espero lá. Disse se virando em direção ao bar. Mary congelou. Tudo bem flertar inocentemente, mas acompanhar aquela garota super atraente até um bar, era levar tudo isso a um novo nível.
Ela olhou para os lados, como se precisasse ter a segurança de que ninguém a seguia, e foi rapidamente atrás dos passos de Samantha, sem muita certeza do que estava fazendo e onde estaria se metendo seguindo uma jovem que acabara de conhecer...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.