Meu nome é Edwin Jeremiah Wilde; hoje tenho 69 anos. Tive uma vida relativamente boa, filho único de uma próspera família da cidadezinha de Painswick, no sudoeste da Inglaterra. Cresci acostumado a ter cada desejo meu atendido, dos mais simples aos mais prepotentes, tinha o quintal de minha casa que se fundia à um pequeno bosque para explorar com meus quatro melhores e inseparáveis amigos, e tinha o carinho e lealdade de todos que me cercavam.
Muitos me diziam que eu tinha sorte: eu sobrevivi à Segunda Grande Guerra, e não tive nenhuma “sequela física ou psiquica”; porem eu não via dessa forma. Um pedaço de mim ficou perdido para sempre naqueles dias horrendos. Foram nesses dias, que eu perdi a mulher que eu amava. E nem a vitória da Inglaterra e seus aliados, nem nada que eu tenha adquirido pôde me devolver por completo a felicidade que me foi tirada desde que ela se foi.
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Fui despertado ao final da tarde, quando ouvi o barulho da caminhonete de minha filha se aproximando pela estrada de cascalhos que dava acesso à minha propriedade. As visitas de Rosalie e meus netos não eram tão frequentes, e por esse motivo eu sempre ansiava pelos finais de semana que vinham passar aqui no interior. Vincent provavelmente já havia ido embora, mas antes jogou um cobertor sobre minhas pernas.
Me levantei com dificuldade – afinal, a idade estava me alcançando – e me apoiando no tronco do imenso carvalho sob o qual Anne e eu havíamos vivido tanta coisa – e onde agora ela jazia. Tentei caminhar o mais rápido possível em direção à entrada de veículos para recebe-los. Elias foi o primeiro a saltar do carro, correndo animado em minha direção e me dando um grande abraço, sendo seguido por Emily, a irmã mais velha. Ambos estavam cada vez mais lindos, com o porte esguio, cabelos escuros e olhos azuis, beleza herdada da mãe e da avó.
E por fim, após descer todas as bagagens da traseira da caminhonete, Rosalie veio me cumprimentar. Como sempre, notei que minha Rosie se parecia muito com aquelas típicas professorinhas, doce e gentil, de 4ª série. Bom, e realmente ela era. O nosso abraço foi o mais demorado; sempre fui muito apegado a ela, que era minha única filha e a única lembrança preciosa que eu tinha de Anne.
Em dias como o de hoje, as coisas costumavam ser mais difíceis. Se ela ainda estivesse aqui, estaríamos completando 50 anos de casados. Passei toda a tarde sentado sob nossa árvore, pois costumava “conversar”, ou ler para ela seus livros preferidos quando mais sentia sua falta. Rosalie se separou minimamente de mim para me observar, com as mãos em meu rosto, e eu imitei o gesto.
- Ah papai, que saudades! Como tem se sentido? Está tomando todos os remédios no horário correto? Tem se alimentado bem? – Assim como a mãe, Rosie tambem era a personificação da bondade, e sempre nos metralhava com perguntas sobre nosso bem-estar e sentimentos.
- Estou bem, estou bem. Posso estar velho, mas ainda sou forte como um touro! – digo e todos rimos, enquanto pegamos as malas. – Vamos entrar, está esfriando aqui fora, e tenho que começar a preparar algumas coisas para o jantar antes que Suzan, Thom e Vincent cheguem.
- Eles virão esta noite? – ela pergunta com um sorriso se iniciando nos lábios, pois sempre fora louca por eles.
- Sim – respondo enquanto chegamos na varanda principal da casa carregados com as coisas dos três. – Estamos combinando esse jantar há dias.
Fomos para a ampla cozinha de cores claras e piso de mármore branco, e começamos todos os preparativos para o encontro antes da chegada de meus velhos amigos.
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