O garoto olhou-me depois de dizer seu nome e lhe dei um pequeno sorriso para parecer simpática. Desviei o olhar de seu rosto e olhei para o copo de leite em minhas mãos e dei um gole no mesmo.
- Então, Elizabeth...
- Pode me chamar de Lizzy. Se quiser.
- Claro. Ahn... Então, Lizzy, você tá gostando da escola? - Ele disse, acho que estava querendo puxar assunto.
- Sim, sim. No começo eu confesso que não havia gostado muito. Mas agora eu consegui bastante amigos e estou gostando o bastante.
O garoto fez uma cara de compreensão assentindo coma cabeça e meteu sua mão na pequena embalagem dos salgadinhos. Eu tratei de tomar logo o leite.
Confesso que estava sem jeito diante do garoto. Cujo nome agora eu havia descoberto que era Peter. Nunca havia ficado sozinha com um garoto num lugar enorme tamanha meia-noite. Tá certo que havia mais pessoas na casa, mas tenho plena certeza que todas elas estavam dormindo e nem perceberiam se algo acontecesse comigo.
- Bom, eu vi você quando havia acabar de chegar. Sabe, sua performance no jardim. - ele estava se referindo ao que o Professor havia pedido para mim. Para eu mostrar meus poderes. - Também vi você me encarando pela a janela do seu quarto hoje.
Depois dessas palavras eu corei. Corei violentamente. Nunca pensei que ele poderia tocar no assunto. Pelo visto ele havia percebido que tinha ficado um pouco - tipo, muito - sem jeito porque abriu um sorrisinho de canto. E eu dei uma risadinha envergonhada.
- É que... Bom, eu vi você lutando com seu amigo. Achei interessante.
- Ah, claro...
Voltei a tomar meu leite que já havia chegado ao fim. Me virei e fui até a pia e lavei o copo. Terminei de lavar o copo e me virei pronta para despedi-me de Peter. Mas ele se levantou da cadeira e veio caminhando em minha direção antes que fizesse algo. Eu fiquei um pouco tensa, confesso. Ele estava caminhando calmamente e trazendo consigo a embalagem de salgados vazia e o copo de isopor em que tinha bebido algo. Então ele desviou. E foi para uma lata de lixo que estava bem ao meu lado. Fiquei olhando todos seus movimentos.
Ele depositou tudo na lata de lixo e me olhou por um segundo e se despediu.
- Tchau, Lizzy. Nos vemos amanhã. - ele disse e como um vulto, desapareceu da minha frente. Eu até me assustei um pouco. Balancei a cabeça e também resolvi ir para meu quarto. O sono já estava batendo novamente.
Saio da cozinho e subo as escadas com lentidão. Logo já estava em meu quarto. Jogo-me na cama não demoro a cair no sono novamente.
***
Olho o relógio logo acima do quadro em que o professor Hank escrevia. Ótimo, já estava chegando o fim da aula. Termino rapidamente de anotar o conteúdo no caderno.
Minutos depois Hank no dispensa e eu me levanto imediatamente. Estudar não era um forte meu. Trato logo de sair da sala e ir direto para meu quarto, mas sou impedida pelo Professor Charles chamando-me. Me viro e ele estava vindo em minha direção e sua cadeira de rodas. Abaixo meu olhar e encaro seus olhos azuis serenos.
- Ah, Elizabeth, estava lhe procurando. Vamos á minha sala, preciso falar com você, sim?
- Ahn... Sim... - confesso que naquele momento eu senti um pouco de medo. Não me lembrava de ter feito algo errado. Estava indo tudo bem. O que era de tão importante para eles conversarem?
Com um sorriso em seu lábios, Professor virou-se e conduziu sua cadeira de rodas em direção a sua sala. Entramos na mesma e ele foi ate sua mesa e parou lá.
- Sente-se. - ele disse e eu me sentei colocando meus matérias em meu colo. - Então, Elizabeth, creio que está bem curiosa para saber o porque de eu ter chamado você até minha sala para conversarmos.
- Bem, sim... Olha, seu eu fiz algo de errado, eu tento concertar e....
- Oh, não, não. Elizabeth, você é uma ótima aluna. Não se preocupe. - disse e deu um sorriso divertido e eu suspirei em alívio. - Eu chamei você aqui porque quero conversa a respeito de seus poderes, Lizzy.
Engoli o seco. Ele nunca havia chamando-me para conversar a respeito disso. Desde o ocorrido eu nunca tinha tocado no assunto sobre eles -apenas quando fora obrigada-.
- Certo... - eu disse hesitante.
- Bom... Eu sei como seus poderes Se manifestaram pela primeira vez. É traumatizante, eu sei. Mas precisamos estudar mais sobre eles. Precisamos estudá-los para poder ajudar você a controlá-los. - ele ia dizendo e eu assentos com a cabeça, em silêncio. - Eu quero saber de você o que aconteceu naquele dia.
- Eu... - engoli o seco novamente. - Bom, eu tinha acabado de sair da sala de aula. Eu estava me sentindo um pouco estranha. Na verdade, eu já estava sentido isso vários dias antes.
- E o que era que você estava sentindo.
- Minhas mãos formigavam demais. Eu sentia dores de cabeça e eu sentia que estava ficando fraca.
- Oh, sim. Continue o que aconteceu. - ele disse e sorrio.
- Depois que eu sai da sala e peguei meu celular e o carregador para ligar ao meu pai, já que o celular estava descarregado. Fui a tomada que estava mais próxima e quando eu iria conectar o carregador na tomada eu, bem, era como se tivesse... Sei lá, sugando a energia... Foi bem estranho....
- E você sentiu alguma coisa?
- Não,. Quer dizer, senti, senti como se estivesse, bem, recarregada. Como se aquela energia tivesse me revigorado.
- Ah, entendi. - o professor que estava acompanhando tudo que eu falava atentamente, disse expressamente. - Tudo o que você estava sentindo durante aqueles dias eram só sintomas de que seus poderes surgiriam em alguma hora.
- Então quer dizer que isso ia acontecer de uma forma ou outra?
- Sim, sim. Isso se chama eletrocinese. Ou seja, você pode absorver eletricidade ou energia de qualquer fonte que esteja próxima a você. Você pode também usar isso de várias formas possíveis. Mas acho que agora não é a hora de falarmos sobre isso. Aposto que teve um dia cheio hoje - ele disse e eu balancei a cabeça. - Pode ir, outra hora iremos conversar sobre isso direito.
- Certo...
Levantei-me e acenei com a cabeça e recebi um sorriso de volta. Caminho calmamente até a porta do escritório e abro a mesma saindo logo em seguida. Viro-me para fechar a porta e a fecho. Estava cheia de pensamentos. Será que o professor Charles iria consegui a controlar o que eu sentia. Eu sentia a energia em todos os cantos. Nas paredes, no chão em que pisava, até mesmo nas pessoas. Eu não sabia o que era aquilo, mas confiava no professor e sabia que ele iria me dar respostas.
- Ora, se não é a Liza. - virei-me assustada em direção a voz que estava um tanto próxima a mim. Era Peter. Estava encostado na parede ao meu lado. E... Nossa, ele era bem bonito. Certo, sem pensamentos desse tipo na minha cabeça, por favor.
- Oi. - disse timidamente. Ele sorriu. E que sorriso. Ele vestia uma jaqueta cinza por cima da blusa branca com um desenho qualquer, usava também uma calça preta e um tênis.
- Eaí? Já arrumando encrencas nas primeiras semanas, Elizabeth? - ele disse com um sorriso divertido no canto dos lábios. Franzi o cenho por um segundo e logo percebi o motivo da pergunta. Eu estava acabando saindo da sala do Professor Charles.
- Não, não. O Professor só me chamou para conversar. - eu disse rindo. Certo, agora eu fiquei sem o que falar com ele. E parece que ele também. Ele estava me encarando por muito tempo e eu fiquei desconfortável. - Bom, eu já vou indo. Tchau.
Dei um sorriso meio torto e virei-me para o lado oposto. Indo para o meu quarto.
- Liza! - escutei ele me chamando. O que ele queria agora?
- É Lizzy.
- Ahn, certo, Lizzy. - ele disse e deu um sorriso amarelo. - Bom, eu vou sair com uns amigos meus amanhã. Quer ir com a gente?
Ele tava me convidando para sair? Certo, por essa eu não esperava. Olhei para ele em dúvida. Ele me parecia bem mais velho -mas ainda sim bonito -. Quantos anos aquele cara tinha? E o que meus pais diriam se a filha deles de 16 anos saísse com um cara mais velho e com seus amigos que provavelmente também eram mais velhos. Eu já sabia o que responder.
- Ahn... Acho melhor não. Talvez outro dia. - dei-lhe um sorriso amarelo. E ele fez um barulho com a boca.
- Ah, que pena. - ele disse e fez uma cara meio que decepcionada. - Até outra hora então.
Ele disse e deu mais um sorriso. Apertei meu matéria contra o peito e retribui o sorriso. Só que de uma maneira menos encantadora que a dele.
- Até... - disse e me virei novamente. Senti que ele estava me observando. Não me atrevi olhar para trás para saber se era verdade. Apenas caminhei o mais normal que conseguia até meu quarto.
Larguei meus materiais em um lugar qualquer, sem nem me importar se Jubileu estava ou não lá e me joguei na cama.
- Ih... O que aconteceu, Lizzy? Se jogou ai nessa cama toda sorrindente... - de fato Jubileu estava lá. E... Sorrindo? Eu estava sorrindo? Droga, porque eu estava sorrindo? Tratei logo de fechar minha boca e a encarei.
- Nada.
- Ah claro. - ela disse revirando os olhos. - Eu vi você conversando com o Peter. O que ele disse pra você ficar sorrindo pro nada? - reviro os olhos.
- Nada. Só conversamos.
- Sobre o que? - Jubileu perguntou com uma curiosidade irritante.
- Dá pra você para de se intrometida? - Já falei que me irrito muito facilmente? Pois é, eu me irrito muito facilmente. Jubileu dá um sorrisinho malicioso.
- Por que você ficou irritada? - ele disse e riu. Revirei os olhos. - Ele é bem bonito, não é? Não é a toa que você veio toda boba de lá.
Argh, quando Jubileu quer ela consegue ser mais irritante do que ela já é. Bufo e jogo o travesseira da minha cama fortemente contra ela. Recebo um olhar mortal na minha direção e um travesseiro com toda a velocidade contra mim. Apenas ignoro e abraço o travesseiro.
- Lizzy?
- O que você quer? - falei com uma voz irritada. Eu não estava mais irritada mas queria passar essa idéia para Jubileu não encher meu saco.
- O que vocês conversaram? - fecho os olhos e respiro fundo.
- Não irei dizer.
- Tá bom.
Um silêncio se formou no quarto. A única coisa que se ouvia era o barulho que a lixa fazia contra as unhas de Jubileu. Ficamos assim por um longo temo e isso já estava me irritando.
- Ele me convidou para sair. - disse e Jubileu me lançou um olhar vitorioso.
- E você aceito, não é? - ela disse despreocupada. Ainda lixando sua unhas.
- Não.
- Não o quê?
- Eu não aceitei.
Jubileu tratou logo de parar de lixar suas unhas e me olhou como se quisesse me esganar.
- Um dos caras mais gatos desse colégio te convida pra sair e você diz não? O que você tem na cabeça? Um cérebro? - ela falava como se fosse uma das coisas mais graves que eu estava fazendo. Apenas a encarava dando seu show com cara de tédio.
- Eu o conheci na noite passada e ele deve ser bem mais velho do que eu. Eu não iria aceitar. - disse como se fosse óbvio.
- E o que que tem? Ele.... Espera, você disse que o conheceu noite passada? - Merda, agora eu teria que dizer tudo para ela.
- Eu disse noite passada? Deve estar enganada....
- É melhor você começar a me contar tudo, Elizabeth Turner. - ela diz ameaçadora e eu solto um muxoxo.
- Tudo bem... - eu comecei a contar tudo pra ela. Apenas omiti o fato do pesadelo que tive. Terminei e Jubileu estava encarando-me sem piscar. Ela era legal, mas bem estranha.
- Ele ficou encarando você? Cara, ele tá tão na sua. - ela disse e eu revirei os olhos.
- Aposto que ele encara todas as garotas que ficam de pijama na frente dele, não? - disse e dei um sorriso falso pra ela. Que apenas rolou os olhos.
- Que seja. Eles está na sua e você está na dele também. - ela diz e eu solto uma gargalhada. Tá, ele poderia ser bonito e tudo mais. Mas eu não estava dele. E nem quero estar. Ele tem cara de ser daqueles, bem, galinha.
- E você está precisando de um médico. - dou um sorrisinho irônico. - Vou estudar. E o melhor que eu faço.
- Claro, vai estudar aqueles olhinhos negros encarando você. - ela disse se levantando e saindo correndo pela porta quando viu que eu ameacei jogar o caderno nela. Que louca.
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