Ela respira ofegante, os dedos já haviam encontrado o ventre sentindo inconscientemente a necessidade de protegê-la, ainda assustada com a reação de Aurélio. Aquele não era seu Aurélio, pois seu Aurélio era sempre muito gentil, calmo e amoroso, o homem com a respiração pesada a sua frente ela não conhecia.
“Você não tem o direito, não tinha o direito...”- Ele balança a cabeça de um lado para o outro em indignação sem notar as lagrimas deixando seus olhos – “Não é possível que mesmo depois de tudo que passamos... Que não...”- Ele deixou escapar um soluço e respirou fundo algumas vezes antes de colocar seus olhos nos de uma Julieta assustada – “Você não confia em mim Julieta.”- Aurélio afirma simplesmente, na face uma careta de dor profunda.
Os dois caem em um silencio de longos minutos, Aurélio passando as mãos nos cabelos e sentando-se na cama de costas para sua noiva respirando fundo com os olhos fechados enquanto Julieta observa cada um de seus movimentos acalmando as batidas de seu coração.
“Eu não quis assusta-la.”- Ele quebra o silencio. Em seguida ela o vê se levantar caçando pelo quarto o calção e quando ela o vê vestir sente as emoções ferverem e consequentemente o sangue.
“Onde você vai?”- Ela pergunta com a voz transbordando indignação.
“Vou para o meu quarto me retirar”- Respondeu seco e direto.
“O que?”- Ouvi-lo referir-se a outro quarto naquela casa como dele e não como deles foi como uma facada no coração. Ela se levantou e esbravejou – “Você não pode estar falando sério, Aurélio! Esta exagerando!”
“Eu exagerando? Se você não entende meus motivos por estar me sentindo assim acho pudente lhe deixar com seus pensamentos para ver se nos entendemos”- Diz colocando a blusa que vestia antes.
“Você não pode me deixar!”- As lágrimas dela se formavam, mas ela estava muito brava para dar-lhes importância, estava frustrada e revoltada, seu tom alto e cortante mostrava isso a cada silaba, no entanto, Aurélio estava muito próximo de seus sentimentos também. O quarto da Rainha se tornou muito pequeno para tantas sensações.
“E você pode Julieta?”- Ele gritou jogando os braços para cima – “Pode não me contar coisas importantes como desmaios e tonturas desconfiando que estivesse seriamente doente e me deixar no escuro?”
“Você diz como se fosse o maior dos crimes que cometi ao esconder essas coisas, sabendo que eu o fiz porque achei que iria poupa-lo de preocupações”- Ela respondeu também gritando deixando as lagrimas cortarem seu rosto.
“É por que foi Julieta, foi seu maior crime sim porque eu vivo por você, vivo pra você e se eu te perdesse eu nunca mais conseguiria respirar!”- A voz embargada tornava difícil a fala, o que o irritou ainda mais – “Eu não vivo sem você, e a senhora dona de si própria não compreende que...”- Ele continuou forçando as palavras pela garganta praticamente fechada, e teria falado e falado muito mais se Julieta não houvesse pulado em seu pescoço e o calado com um beijo.
Ela o desestabilizou tanto que cambaleou poucos passos para trás segurando a cintura dela até a parede próxima a porta que era seu destino a alguns segundos atrás. Julieta o beijava como nunca o fez antes, com um desespero diferente, com medo e frustração, com dor e amor, o fez para calar suas palavras e calar os pensamentos de abandono que a tomavam.
Aurélio já recuperado do susto gruda seus corpos prensando o próprio corpo contra a parede para que Julieta estivesse mais e mais colada em cada centímetro de seu corpo.
“Estou aqui.” – A Rainha do Café sussurra contra seus lábio puxando os cabelos do filho do Barão para o lado pendendo sua cabeça para ter acesso ao pescoço do homem distribuindo mordidas até chegar a seu ouvido e sussurrar – “Estou bem Aurélio, estou gravida e muito, muito brava”- Ela vê o corpo dele se arrepiar com suas palavras e Julieta aproveita para morder seu lóbulo da orelha sentindo Aurélio apertar sua cintura.
“Julieta...”- Ele respira seu cheiro e suas palavras que mexem com sua mente o fazem acalmar-se, ele une suas testas e controla seu desejo por aquela mulher insuportavelmente sexy a sua frente para continuar – “Eu te amo tanto que me dói tanto... Tanto... Só imaginar alguma coisa acontecendo com você!”- Ele sente o corpo dela relaxar em seus braços e a mulher respira fundo.
“Eu prometo nunca mais lhe esconder nada se prometer nunca mais ameaçar me deixar”- Ela argumenta com a voz embargada. Aurélio se afasta o suficiente para olhar em seus olhos chorosos e fica assim por alguns segundos, somente a admirando.
“Eu nunca poderia te deixar Julieta. Não ouviu eu mesmo confirmando que vivo pra você? Me perdoa meu amor! Não queria ter gritado com você”- Ele acaricia seu rosto e seca as lagrimas que caem quando a empresária fecha os olhos para sentir mais profundamente seu carinho.
“Perdoe-me por não te contar nada.” – Ele sorriu e ela sabia enquanto tivesse aquele sorriso, nada poderia abala-la – “Eu te amo tanto Aurélio”- declarou erguendo-se nas pontas dos pés buscando seus lábios para um beijo terno e doce.
Naquela noite, Julieta dormiu mais uma vez nos braços do amor de sua vida, mas com uma diferença: ele já não acariciava seu rosto como lhe era de costume, mas sim sua barriga e sorria, sorria como bobo, sorria um sorriso que ilumina o aposento todo e que ilumina a escuridão que um dia foram suas noites.
DÉCIMA SEGUNDA SEMANA:
Aurélio acordou após aquela noite mais renovado para a vida, e o restante daquela semana dedicou-se a cuidar para que Julieta não saísse da cama. O tornozelo piorou devido à discussão dos dois que a fez se levantar sozinha por pura energia do momento fazendo o inchaço na manhã seguinte nascer mais dolorido que no dia do acidente.
Ele cuidou da noiva com esmero, a banhava roubando-lhe beijos e caricias, recusava-se a colocar as roupas na mais nova para vê-la indignada com sua petulância, trazia o almoço e o jantar na cama e comia com ela contando toda e qualquer novidade que se passava pelo Vale e ficava cada segundo que podia ao seu lado. Quando ele não estava (eram as horas tristes que tinha de cuidar dos negócios para Julieta), o primeiro que se propôs a ficar em sua ausência foi Camilo.
“A senhora tem certeza? Rômulo diz a Jane que tem de manter-se muito hidratada”- Camilo diz em desafio a mãe oferecendo o copo de água mais uma vez.
“Camilo! Você me fez tomar dois desses cheios desde que chegou, meu filho! Estou cheia e daqui a poucos minutos precisarei ir até o banheiro novamente desse jeito!” – A Rainha do Café exclama um pouco indignada com a ousadia do filho. O mais novo ri dela e senta ao seu lado na cama enquanto abandona o copo perto da jarra.
“Como esta se sentindo?”
“Estou me sentindo um balão de água”- ela responde brincalhona e ambos gargalham – “Estou bem meu filho. Sinto o tornozelo melhorar mais e mais a cada dia. Aposto que ao final desta semana poderei ficar de pé sozinha”- Ela se exibe com o queixo erguido, orgulhosa de seu progresso.
Camilo ri levemente, mas logo volta a ter uma expressão séria no rosto enquanto encara a barriga da mãe que talvez estivesse com indícios de um novo ser, mas poderia estar imaginando.
“Será que eu posso pedir um favor?” – Ele pergunta voltando a encarar a mãe.
“Claro, o que quiser” – Ela vê o menino crescido a sua frente esfregar as mãos uma na outra como ela fazia quando se encontrava nervosa.
“Eu queria... Conversar com ele”- Ele diz tímido com as bochechas coradas e o olhar receoso. Julieta demora alguns segundos para entender a quem ele se referia e quando ela percebe, é quase impossível segurar a emoção que a toma.
“Você quer... Falar com o seu irmão?”- Ela pergunta surpresa mesmo sabendo da resposta.
“Se não lhe for estranho”- Ele confirma abrindo um sorriso. Julieta responde já balançando a cabeça:
“Não me é estranho. Quero dizer, é, mas Aurélio passou a fazer isto desde que soube e quando o indaguei ele disse não irá parar nem que eu peça”- Ela conta rindo, exalando felicidade ao lembrar-se da manhã seguinte à discussão que tiveram e ter acordado com os desenhos que Aurélio fazia com as pontas dos dedos em seu ventre enquanto sussurrava conversando sobre ela com o bebê – “Esta tudo bem, querido”- respondeu suavemente a pergunta que seus olhos ainda lhe faziam.
Camilo pareceu aquele menino sapeca que foi um dia quando abriu um sorriso largo e os olhos brilharam, ele se deitou e colocou a cabeça nas coxas da mãe, ficando atravessado na cama. Ele tocou-lhe a pele coberta pela seda que vestia e encarou os olhos chocolates da mãe mais uma vez, recebendo um balançar de cabeça positivo para que fizesse o que tinha no coração.
“Oi.”- Ele começou tímido sorrindo levemente – “Sou eu, seu irmão, Camilo.” – Ele arrumou-se um pouco mais ficando de lado, o corpo virado para o de Julieta, a mão ainda pousada em seu ventre – “Eu ainda não sei se você é um menino ou uma menina... Mas isso não importa, por que Dona Ofélia faz roupas sempre brancas para os recém-chegados.”
A grande Rainha do café sentia-se a mulher mais emocional do mundo com a cena, seu filho, seu menino crescido conversando livremente com uma sementinha que crescia dentro dela. Ela coloca a mão na frente da boca tentando não atrapalhar o momento com os soluços de seu choro.
“Dona Ofélia é mãe de Jane, o amor de minha vida e quando você a conhecer vai ver o quão maravilhosa ela é. Jane espera um filho meu, alguém que como você vai ser muito amado e esperado por aqui, claro, o filho da Rainha do Café...”
O homem continuou falando enquanto sua mão acariciava levemente a barriga com cuidado, ele sorria e os olhos continuavam brilhosos. Camilo sentia o peito encher de amor tanto pela mãe quanto pelo irmão ou irmã, a vida nunca havia sido tão bela.
Julieta descansa a cabeça na cabeceira secando os olhos e acariciando os cabelos do menino homem, agradecendo aos céus pela felicidade plena que vivia. E ficaram assim até a noite vir e a promessa do dia seguinte ser tão feliz quanto aquele enche-la de esperanças para um mundo cheio de amor para sua sementinha.
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