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História Unintended - Hayashi


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Oiii! Bem-vindos de volta!

Finalmente terminei de postar todos os capítulos que tinha já prontos dessa fanfic, como deu trabalho! A partir de agora, postarei um capítulo por semana, a medida que eles forem ficando prontos junto com suas respectivas fanarts :D
Mais uma vez, me empolguei e passei do meu limite pessoal de palavras com esse aqui, mas melhor pecar por excesso do que por falta né?

Aproveitem! :)

Capítulo 15 - Hayashi


 Rin acordou por conta própria naquela manhã. Ela havia achado que não ia conseguir dormir depois de tudo que acontecera naquele longo dia anterior, mas acabara que, no fim, o dia havia sido longo demais, e a menina caíra no sono logo que deitou a cabeça no confortável travesseiro.

Ela não dormia bem daquele jeito há tanto tempo! Os lençóis de seda abraçavam seu corpo revigorado de forma simplesmente divina. Era como se tivessem sido feitos especialmente para acariciar sua pele da forma mais deliciosa possível. Passarinhos cantavam do lado de fora, o som fazendo com que as pinturas de pássaros nas paredes parecessem ainda mais realísticas. O sol entrava pela janela timidamente, iluminando o quarto inteiro com uma calorosa e aconchegante luz dourada.

— Isso deve ser um sonho. – Ela murmurou com um sorriso, rolando preguiçosamente para o outro lado, afim de aproveitar todo o espaço de seu futon.

— Vejo que já está se sentindo melhor, senhorita. – A criada do dia anterior disse, sobressaltando-a.

Rin sentou-se abruptamente, não acostumada a ter seu quarto invadido por estranhos enquanto ela ainda não estava nem perto de apresentável.

— A cozinheira disse que você deveria comer isso. – Prosseguiu ela, sem se importar com o desconforto da nova ama. – Aparentemente, o próprio senhor Sesshomaru definiu suas refeições, então creio que o prato deve estar de seu agrado...

A humana procurou se recompor do susto, diante da naturalidade da criada. Além disso, o cheiro parecia maravilhoso quando a bandeja suspensa foi deixada ao lado de seu futon.

Eram os cogumelos que Jaken havia colhido no outro dia, preparados de forma tão impecável que Rin não podia acreditar que aquela cozinheira jamais havia cozinhado para humanos. Não podia ser o caso. Além do prato principal, havia uma delicada xícara de chá verde ao lado do prato. A porcelana era lindamente trabalhada em tons de roxo e dourado.

— Obrigada... Er... Me desculpe, eu não sei o seu nome... – Rin admitiu, constrangida.

— Meu nome é Asai, senhorita Rin. – A criada respondeu educadamente, seu tom de voz ainda perfeitamente sério e formal.

Rin dividiu olhares entre o prato e a moça a sua frente, lembrando-se de mal ter prestado atenção nela diante do estado deplorável que se encontrava quando foram apresentadas, no dia anterior. Aparentava ter o dobro de sua idade, era magra, mas extremamente baixa, com cabelos lisos de cor amarronzada presos em um coque baixo atrás da cabeça. Os olhos eram perfeitamente pretos e brilhantes, a íris tão grande que quase ocultavam totalmente a parte branca.

— Você não é inuyoukai, é, Asai? – Ela perguntou enquanto pegava seu par de hashi.

— Não, senhorita. Há muitos tipos de youkais trabalhando como servos no castelo. – Asai explicou, ainda com a mesma compostura de antes. – Sou de uma raça bem inferior, uma youkai lontra.

Rin ouvia enquanto colocava a primeira porção da comida na boca, e confirmava o que já imaginava. Era delicioso!

A comida rapidamente desapareceu da pequena mesa, e logo Rin estava de pé em uma situação que ainda a desconcertava. Asai insistira em ajudá-la a se despir para o banho, embora a humana tivesse dito que podia fazer isso sozinha. Aparentemente, naquele lugar, não era só porque você podia fazer algo que você devia fazer, se havia alguém que pudesse fazer para você.

— Asai. – Rin disse, sentada na banheira, de costas para a empregada, enquanto ela lavava seus cabelos negros com água perfumada.

— Sim, senhorita?

— Por favor, me chame apenas de Rin. – Ela pediu, ansiosa por acabar com toda aquela formalidade.

— Como quiser, senho... Rin. – Asai riu com o deslize, fazendo Rin rir também.

— Você pode me levar para ver o resto do castelo? – A humana disse o que queria perguntar inicialmente. Não tivera a chance de ver muita coisa no dia anterior, e a curiosidade a devorava agora que não estava mais preocupada com certas notícias chocantes. – Eu pediria ao senhor Sesshomaru, mas não sei onde ele está e... Acho que está ocupado, de qualquer forma.

— Ah sim, certamente nosso senhor tem muitos afazeres. – Concordou a youkai lontra. – Coincidentemente, aquele youkai Jaken já havia me transmitido ordens de te fazer companhia hoje.

Rin vestia um de seus melhores quimonos naquele dia, dessa vez perfeitamente arrumado com a ajuda de Asai. Era ao lado dela e de Jaken que ela caminhava pelos corredores elegantes, absorvendo a vista estonteante de todos os cômodos que Asai lhe apresentava, apesar da maioria ser considerado privativo. Mas agora ela sabia dizer, apesar de o caminho exato ainda estar um pouco nublado, onde ficavam os aposentos de Sesshomaru exatamente, e seu gabinete; a sala de chá; as cozinhas; a sala de conferências e a de audiências públicas.

Rin aprendeu a localização dos estábulos, dos campos de treino, dos arquivos e uma certa sala de artefatos.

E então, eles chegaram finalmente ali.

Os jardins.

Os jardins ficavam nos fundos do castelo. O acesso se dava através de uma espaçosa varanda. E a partir dessa varanda, um campo verde se estendia, calçado com pequenas pedras espaçadas para permitir a passagem dos visitantes. Era rodeado por árvores altas, antigas, que floriam, magníficas. Pétalas voavam livremente ao vento, trazendo uma aura ainda mais etérea para o jardim.

Havia ainda flores em arbustos e em plantas rasteiras que se espalhavam entre as raízes das árvores, convidando beija-flores e pequenas borboletas para se fartarem com seu néctar.

Arcos de metal se erguiam sobre o caminho central, servindo de apoio para os ramos das árvores que se trançavam nas estruturas, dando a impressão de que estavam brotando flores também.

Por fim, ao alcançar o centro do jardim, um pequeno lago nascia do chão, uma ponte curva se elevando sobre ele para permitir a caminhada sem interrupções. O fundo era coberto por pedras escuras de formato perfeitamente oval e textura lisa, mas a água translúcida permitia a visão de inúmeros peixes carpa exibindo suas cores vibrantes, nadando entre flores de lótus flutuantes.

Rin nunca vira um lugar tão bonito em toda a sua vida. Durante todo o tempo em que Asai falara sobre os diferentes tipos de plantas, ela sentira como se estivesse prendendo a respiração, seus olhos atentos a todos os detalhes, a boca entreaberta inconscientemente.

Ela estava tão distraída, tão maravilhada, tão presa em seu próprio mundo florido e perfumado, que nem ao menos percebera ambos Jaken e Asai se curvarem ao seu lado. A humana permaneceu com os olhos fixos em uma espécie que ela nunca havia visto, analisando a forma como verdadeiros cachos de flores amarelas se penduravam dos galhos de uma árvore.

— Rin! – Jaken chamou, encarando-a de canto de olho enquanto se curvava.

Ela se virou imediatamente, saindo de seu transe, e dando de cara com uma figura de armadura, com longos cabelos brancos como a neve, de pé logo a sua frente.

—  Senhor Sesshomaru! - Ela disse, rapidamente fazendo uma mesura para compensar por seu deslize. – Eu não havia visto o senhor aí!

— Creio que já tenha sido apresentada ao castelo. – Sesshomaru supôs, vendo-a tão envolvida a ponto de não reparar em sua chegada.

— Eu já achava lindo ontem. À luz do dia... É quase surreal! – Rin respondeu em um tom sonhador. – Asai me mostrou tudo! Bom, quase tudo. Eu ainda quero conhecer a cidade lá fora.

A criada ficou tensa ao seu lado, seus olhos negros se dirigindo para o mestre inuyoukai.

— Rin... Digo, senhorita Rin. – Ela corrigiu, vendo Sesshomaru franzir o cenho com a informalidade. – Não tenho permissão para te levar lá fora, pode ser perigoso.

— Ah, verdade? – Os ombros da humana caíram, desanimados. Até que ela pareceu ter uma ideia. – Senhor Sesshomaru, e se o senhor me levasse?

O general olhou para trás, e Rin seguiu o olhar, só então reparando que Hayashi estava na varanda, conversando com três soldados.

— Ainda estou ocupado. – Ele respondeu com franqueza. Estava apenas passando por ali e decidira ver como ela estava indo.

A postura de Rin voltou a murchar. Desde o início, a cidade, com pessoas e comércio, era o que ela mais ansiara por ver. Isto é, antes de saber que havia um jardim como aquele.

Sesshomaru observou a decepção de sua protegida por apenas um instante, antes de oferecer uma solução:

— Hayashi a levará até lá.

As orelhas pontudas do youkai mencionado se mexeram, mesmo à distância. Em um instante, ele estava ao lado de seu líder, com olhos questionadores e a expressão claramente irritada.

— Está na hora de você parar de fingir que trabalha, e realmente fazer algo útil para mim. – Sesshomaru disse, em resposta ao olhar do companheiro.

— Olha quem fala, nunca trabalhou na vida. – Rebateu Hayashi.

Rin e Jaken ficaram tensos observando a discussão, sem saber o quão sério o subordinado estava falando e o quão a sério Sesshomaru o estava levando.

— Ande logo, não deixe seu mestre esperando. – Sesshomaru insistiu, o tom de voz frio e calmo como sempre.

O subalterno colocou a mão sobre o cabo da espada, pronto para sacá-la. Sesshomaru fez o mesmo, deixando a Bakusaiga pronta.

— Olhe só para você, um dia de governo e já está bancando o tirano!

— Hayashi... Eu sempre fui um tirano. – Lembrou o daiyoukai ainda em seu tom monótono, mas foi o suficiente para fazer o suposto amigo rir, mostrando caninos perfeitamente brancos.

— Pelo menos fala a verdade. – Concordou, recuando na sua posição de ataque, deixando a espada de lado. – Só por ter demonstrado humildade de admitir seus próprios defeitos, vou levar sua humana de estimação para passear.

Rin se sobressaltou com o modo de falar, mas era difícil se sentir realmente ofendida com o tom bem-humorado, claramente descontraído, de Hayashi. Se mesmo Sesshomaru não se ofendeu com as repetidas provocações, quem era ela para fazê-lo?

Rin andava a uma distância cautelosa de seu novo guia, alguns passos atrás e alguns passos à direita. Ela lembrava que Sesshomaru dissera na noite anterior que ela podia confiar naquele homem, e ela sabia que era verdade. Caso contrário, o próprio Sesshomaru não a deixaria a sós com ele. Mas ainda assim, a figura alta, ainda não muito familiar, era intimidadora.

Eles passaram pelos portões, que se abriram diante de um mero aceno de seu acompanhante e se fecharam de novo com um baque pesado em suas costas.

Rin reconhecia a trilha a sua frente como a mesma onde Ah-Un havia pousado no dia anterior. Mas ela não havia reparado nas ramificações que se abriam para as laterais, novos caminhos a serem explorados.

— Você é muda ou algo assim? – Hayashi perguntou após algum tempo com apenas o som dos passos deles na estrada de terra batida.

— Eu fui, uma vez. – Ela respondeu, com honestidade. – Mas o senhor já me ouviu falando.

— Se já foi muda uma vez, pode sempre voltar a ser, não é verdade?

Ela balançou a cabeça em negação, sem perceber que com a curta conversa ela inconscientemente se aproximara dele, agora estando lado-a-lado.

— Isso foi antes. – Ela explicou, lembrando-se dos tempos de infância que pareciam tão distantes. – Antes do senhor Sesshomaru.

Era fácil para Rin dividir sua vida em antes e depois de Sesshomaru, pois tudo que vinha antes parecia nublado, incerto, confuso. Era tudo coberto de memórias que ela não queria ter, que era melhor permanecerem enterradas nas profundezas de seu coração.

E depois, havia apenas luz, tudo era claro, e todos os momentos eram preciosos, mesmo os mais difíceis. Era como se ela tivesse descoberto todo um novo mundo onde a dor não existia, onde não havia medo ou solidão.

— Como diabos isso aconteceu, afinal? – Ele questionou, curiosidade preenchendo sua voz. – Você e Sesshomaru?

A humana hesitou, incerta. Se o próprio Sesshomaru não havia contado nada, ela certamente não deveria. Estava ali para conhecer a província do oeste, não para fazer de si mesma o foco de interrogações. Especialmente quando ela sabia que boa parte daquele assunto poderia soar incrivelmente comprometedora se fossem ditas as palavras erradas, ou até mesmo as palavras certas de forma errada.

— O senhor devia perguntar ao senhor Sesshomaru. – Ela disse, evasiva. – Ele se lembra melhor do que eu, de qualquer forma. Eu era só uma criança.

 O youkai parou abruptamente, olhos dourados arregalados se voltando para a humana. Rin se sobressaltou, parando também, se perguntando se não havia falado demais.

— Uma criança?

— Bom, é uma longa histó- Não! Eu não devo falar nada! – Ela corrigiu a tempo, percebendo que estava prestes a falar ainda mais. – Pergunte ao senhor Sesshomaru.

— Ah, Rin! Ele não vai contar nem sob tortura! – Hayashi insistiu, quase implorando. – Mesmo se contar, imagina uma história interessante dessas sendo contada por ele: “A humana insolente me seguiu, e aqui estamos.”

Rin não pôde evitar rir ao ouvir Hayashi imitar perfeitamente o tom sério de Sesshomaru.

— Acho que isso resume bem. – Ela disse, após se recuperar do humor. – Senhor Sesshomaru é realmente bom em ir direto ao ponto.

— Você realmente não vai me contar, não é? – Ele suspirou, voltando a caminhar em passos desanimados de derrota.

— Eu tenho uma ideia melhor. – Rin sugeriu, seguindo-o para não ficar para trás. – Conte-me sobre o senhor. Tenho certeza que fiquei tão surpresa quando soube que vocês dois são tão próximos quanto você ficou quando soube de mim.

Eles seguiram o resto da trilha enquanto Hayashi falava sobre os dias passados, dias muito antes de Rin sonhar em existir. A fala dele fluía fácil como um rio seguindo seu curso, como se tivesse em memória perfeita toda aquela história, e a menina humana ouvia atentamente cada detalhe, fascinada.

Ele contou que eram primos distantes, por isso tinham algumas semelhanças, apesar de Hayashi ser de uma família secundária, portanto, fora do espectro da nobreza no qual Sesshomaru nascera. Eles se conheciam desde filhotes, e, de acordo com Hayashi, ele havia torrado tanto a paciência de Sesshomaru que, com o tempo, o daiyoukai acabou tendo que aceitá-lo como aliado, percebendo que jamais teria paz, de qualquer maneira.

Rin mal viu o tempo passar, entretida com os contos da juventude de seu senhor. Quando ela deu por si, já estavam na entrada do povoado, e ela quase esbarrou em um homem que passava apressado, carregando uma caixa pesada.

— Fique perto de mim agora, Rin. – Hayashi alertou, falando baixo.

Rin assentiu, postando-se logo ao lado do guia, mas os olhos curiosos corriam livremente para todos os cantos, absorvendo todas as cenas que se passavam ao redor.

Hayashi a levou pelas ruas calçadas, entre construções de madeira e de pedra, dos mais variados tamanhos e formas. Pessoas passavam por eles, youkais de todos os tipos, todos os olhos inevitavelmente se fixando em Rin, e depois em Hayashi com seu brasão do clã inu orgulhosamente estampado no peito, e as sobrancelhas se arqueavam ainda mais. Porém, aquilo era tudo, pois no fim todos os curiosos intrigados acabavam por passar direto sem uma palavra.

Havia algumas casas no início, mas a maioria das edificações eram estabelecimentos comerciais ali. Rin podia identificar lojas de tecidos, armaduras, armas, carnes de caça; casas de chá, com clientes sentados à varanda para apreciarem a bebida quente no início do dia. Hayashi a ajudava a identificar o que ela não reconhecia, como as estalagens, uma taverna mais escondida. Uma loja de poções e artefatos mágicos. Outras, ele preferia não revelar, deixando-a ainda mais curiosa. Mas, pelo tom dele, Rin imaginava que era melhor mesmo não saber.

— A maioria das comidas vendidas aqui não devem servir para você. – Hayashi disse, enquanto eles paravam em uma praça para que ela descansasse. – Mas ouvi dizer que chá é universalmente apreciado.

A praça era circular, com uma torre alta no centro. A torre tinha forma cilíndrica e possuía um grande sino de metal no topo, visível através de vãos em arco. O sino era usado como um sinal de alerta em casos de emergências, como incêndios ou ataques.

— Chá de ervas seria ótimo. – Ela consentiu, sentada em um banco de madeira

Hayashi pediu duas xícaras para uma vendedora que trabalhava ali, servindo bebidas sobre uma bancada de madeira, e entregou uma para a humana ao seu lado, tomando a outra para si. Juntos, eles beberam em um silêncio amigável, um pouco cansados de tanto falar, na verdade.

Rin raramente tinha oportunidade de estar com alguém que não só estava disposto a ouvi-la falar sem parar, como também competir páreo a páreo com ela para ver quem falava mais.

— Você realmente não vai me contar, Rin? – Ele insistiu pelo que deveria ser a quinta vez, nas contas dela. Hayashi estava realmente decidido a entender de onde ela havia surgido para acabar em um lugar como aquele. – Pelo menos me diga o porquê Sesshomaru decidiu fazer de você a protegida dele.

— Se você descobrir, me conte. – Ela rebateu. – Ele nunca me disse. O dia que o senhor Sesshomaru explicar seus motivos para fazer o que faz, será o dia em que o inferno congelará.

— Você está certa sobre isso. – Concordou Hayashi. – Pelo menos é uma humana agradável. Sem ofensas.

Rin sorriu docemente, tomando um gole de seu chá. De fato, não havia como ficar realmente ofendida quando era ele quem falava, embora de vez em quando ela fingisse, só para provocá-lo e ver se conseguia deixá-lo menos à vontade. Não funcionava.

Era estranho pensar que apenas naquela manhã ela estava se curvando educadamente e chamando-o de senhor, e apenas horas depois, estavam se tratando como amigos próximos.

— Isso é muito surpreendente, Hayashi, eu nunca teria pensado que um amigo do senhor Sesshomaru poderia se dar tão bem comigo. A minha personalidade é tão oposta à dele que, às vezes, me surpreendo por sermos amigos também. Ou algo do tipo.

O youkai riu, seus caninos em evidência no sorriso aberto.

— Não é surpresa eu me dar bem com você, Rin. – Ele corrigiu. – Você é adorável, qualquer um que não seja um completo desalmado vai concordar comigo. A surpresa é alguém nesse mundo tolerar o Sesshomaru além de mim.

Dessa vez foi ela que riu, se sentindo um pouco culpada por concordar com ele. Era verdade que ela amava Sesshomaru, mas precisava admitir que ele tinha uma personalidade que a maioria das pessoas consideraria difícil de lidar.

A risada dela foi interrompida abruptamente quando um objeto bateu em sua perna, pegando-a de surpresa. Aquilo teria assustado qualquer um, mas diante da leve paranoia que ela estava experimentando depois de ser perseguida por um mercenário, por um segundo, ela pensou que seria o seu fim.

Mas era apenas a bola de uma criança que havia chutado errado em sua direção.

Só então Rin reparou que havia um grupo de quatro crianças youkai brincando ali perto, na praça. Eles a olhavam com receio, os pequenos olhos das mais diversas e incomuns cores oscilando entre seu rosto e o objeto esférico ao lado de seu pé.

A humana sorriu, repousando a xícara vazia no banco ao seu lado, antes de recolher a bola do chão e pôr-se de pé. Ela deu um passo em direção ao menino mais próximo, o que havia chutado, afim de devolver-lhe o brinquedo, mas Hayashi a parou, segurando a longa manga de seu quimono.

— Está tudo bem. – Ela disse a ele, com um sorriso confiante. – São apenas crianças.

Ele relutantemente a soltou, e Rin seguiu em frente, se agachando na frente do garotinho para ficar na mesma altura. Ele a encarou com confusão, mas não fugiu.

— Isso é seu, não é? – Ela disse, com uma voz amigável e gentil.

— Sim! – Respondeu ele, com um aceno exagerado da cabeça, e um sorriso que mostrava uma presa de leite faltando.

Rin ofereceu a bola para ele, que pegou alegremente.

— Obrigado, moça bonita. – Agradeceu, curvando a cabeça educadamente. Rin corou brevemente, apesar de ser apenas o elogio de uma criança, ela sabia que crianças dificilmente mentiam sobre suas opiniões.

De repente, Rin se viu rodeada pelas outras crianças, algumas tentando cheirá-la mais de perto, outras curiosamente tocando seu cabelo, que ela usava completamente solto naquele dia.

Ela apenas riu, começando uma pequena e informal conversa com os pequenos, perguntando seus nomes e onde moravam. Eles perguntavam de volta mais do que respondiam, todo tipo de curiosidade sobre o que ela era, como ela tinha um cabelo tão brilhante, e porque não tinha presas ou garras. Ela respondeu a todos da forma mais educativa que conseguia pensar, esquecendo completamente de onde estava, até Hayashi aparecer e puxá-la delicadamente pelo braço, fazendo-a levantar do círculo de crianças.

— Você está chamando muita atenção, Rin. – Ele sussurrou para ela.

Ela olhou em volta, surpresa ao ver que toda a atividade que fervia na cidade durante todo o dia havia simplesmente congelado. Todos os youkais ao redor haviam parado todos os seus afazeres e a observavam, com as expressões mais diversas. Curiosidade. Confusão. Simpatia. Ódio.

Rin os fitou de volta sem entender, o rosto começando a corar automaticamente, como se ela estivesse fazendo algo errado. Porém, alguns observadores – as mães das crianças entre eles, talvez – a olhavam com um sorriso amigável no rosto, o que a deixou um pouco menos tensa.

— Devíamos voltar agora. – Hayashi determinou, mais sério do que estivera durante o passeio inteiro. Seus olhos treinados encontravam olhares menos agradáveis ao redor deles.

— Certo... – Ela concordou relutantemente.

Rin voltou ao seu quarto no fim da tarde, definitivamente exausta de tanto andar o dia inteiro. Ela apenas teve tempo para remover as sandálias, antes de Asai pedir licença e entrar.

— Rin, já que vai ficar com o quarto por tempo indeterminado, eu tomei a liberdade de arrumar as suas coisas nos armários. – Ela disse, abrindo as portas para mostrar à sua ama todos os seus belíssimos quimonos guardados lado a lado em seus suportes.

Rin sorriu, feliz por não ter que ser ela a fazer aquela arrumação. Apesar de estar acostumada com trabalhos ainda mais cansativos do que aquele, hoje ela realmente estava esgotada.

— Ficou ótimo. Muito obrigada, Asai. – Ela agradeceu, sentando-se em uma almofada, os músculos doloridos das pernas relaxando finalmente.

— Eu guardei a maioria dos seus enfeites também, mas achei melhor não mexer nos itens mágicos.

— Itens mágicos? – Rin perguntou, confusa. Ela passou em sua mente uma lista de todas as coisas que trouxera, e ainda assim não entendia do que Asai estava falando.

— Bom, eu preciso fazer um outro serviço agora. – Disse a empregada, já se preparando para sair. – Você pode guardá-lo onde for mais apropriado, certo?

A humana assentiu relutantemente e se levantou assim que Asai saiu. Em um dos cantos do quarto, estava a última trouxa de viagem que não fora completamente esvaziada para ter seu conteúdo realocado.

Rin caminhou até ela, sentando-se no chão para analisar o recipiente. Abrindo o tecido, ela suspirou de alívio ao encontrar o objeto misterioso. Era apenas a Meidou Seki, da mãe de Sesshomaru. Ela havia esquecido completamente que estava junto de suas coisas, com Ah-Un.

Pretendendo devolvê-la a Sesshomaru, Rin tomou o colar perolado em suas mãos, analisando-o de perto em um momento de curiosidade. A pedra no centro era negra como a noite. Não, mais negra do que isso, era simplesmente a ausência de qualquer luz. Rin sentia que podia se perder no fundo daquela escuridão e, de repente, uma sensação horrível a atingiu.

Ela piscou, assustada, e quando seus olhos se abriram, o quarto se fora, e tudo ao seu redor era breu.

Antes que ela pudesse gritar por Sesshomaru, uma figura se materializou em sua frente, e Rin arfou em surpresa diante da visão.

Não pode ser...

— Então é você, afinal. – A fêmea inuyoukai falou, sua figura alta e esguia, os cabelos prateados presos em partes iguais dos dois lados, suas vestes elegantes que se arrastavam pelo chão, e a pelagem envolvendo seus ombros, tão similar à usada pelo filho. – Vejo que cresceu bastante desde nosso primeiro encontro, menina.

Rin estava perplexa. Toda a situação era desconcertante, e ela mal conseguia respirar. Ela não entendia o que ela estava fazendo naquele lugar, nem como a imagem perfeita da mãe de Sesshomaru podia estar ali, falando com ela.

— C-como... – A humana conseguiu falar, a voz saindo entrecortada pela respiração difícil. – A senhora estava...

— Morta? – Completou ela, em seu tom de voz levemente sarcástico. – Eu estou, é verdade. A única forma de eu estar aqui lhe falando isso agora, é porque eu transferi minha alma para a Meidou Seki no último momento que precedeu a minha morte.

— E como eu vim parar aqui? O que está acontecendo? – Rin perguntou, o ápice de seu choque se esvaindo, permitindo a ela fazer perguntas mais lógicas.

— Não é a primeira vez que você vem a esse lugar, humana, embora você não deva se lembrar. – A youkai explicou. – Você estava morta na época, assim como eu agora.

A boca de Rin se abriu, lembrando vagamente da primeira vez que ela viu aquela mulher. Um portal havia sido aberto, e um enorme monstro quadrúpede saltara de dentro dele e a devorara. Depois disso, ela estava deitada, e Sesshomaru repousava uma mão sobre o rosto dela como se o peso do mundo inteiro tivesse sido tirado dos ombros dele.

— M-mas...

— Sua alma esteve alojada neste lugar, assim como a minha. – Prosseguiu a aparição. – A alma foi retornada para você, mas a questão é: é muito difícil filtrar e separar substâncias etéreas, como alma e escuridão. Quando eu lhe devolvi a sua, ela continha fragmentos do Meidou dentro dela.

Rin arfou, imediatamente se perguntando o que aquilo significava. Ela ia morrer? Algo a possuiria?

A mãe de Sesshomaru percebeu o desespero da humana, e se divertiu a princípio, mas logo decidiu acalmá-la.

— Não se preocupe, nada de ruim lhe acontecerá por isso. Pelo menos, não diretamente. – Explicou. – Mas isso significa que você e a Meidou Seki estão ligadas.

— Ligadas? O que isso quer dizer?

— Os mortos de tudo sabem, e você está destinada a grandes coisas, menina. – A ex matriarca disse, prendendo a atenção de sua ouvinte. – Eu poderia lhe contar, mas não vou. Se é realmente digna do meu filho, encontrará seu próprio caminho.

Rin congelou. Digna de seu filho...

— Há muito a ser revelado, e a primeira coisa deve ser o meu assassino. Diga a Sesshomaru que espero uma vingança à minha altura, sim? – Pediu ela, um pequeno sorriso sádico em seus lábios escuros. – Mas antes, ele precisa estar preparado. E você também.

— Eu? Mas o que eu-

— Como você é tola. É realmente isso que o destino reservou para ele? – Ela suspirou em uma decepção teatral, antes de voltar a encará-la diretamente, com duros e sérios olhos dourados. – Certa vez, os mestres das relíquias do submundo, a Tenseiga e a Meidou Seki, fomos InuTaishou e eu.

Ela pausou, deixando o silêncio aumentar o suspense na atmosfera. Rin não podia piscar, esperando pela conclusão.

— Agora, - Continuou ela, finalmente. – são Sesshomaru e você, filha.

Rin não sabia o que dizer, embora soubesse que provavelmente devia aproveitar aquela oportunidade para fazer mais perguntas. Ela era sempre tão curiosa, justo em um momento como aquele as palavras lhe faltavam.

— Fique com a pedra, Rin. – A youkai disse, pela primeira vez chamando-a pelo nome. - É sua agora, pois estão inseridas uma na outra, e só você poderá controlá-la.

— Mas como eu-

De repente, a figura da mãe de Sesshomaru desapareceu e, em seguida, o fundo de escuridão também. Rin estava de volta em seu quarto, deitada no chão, o colar de contas em sua mão parecendo ter o peso de uma saca de arroz.


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c1.staticflickr.com/6/5456/30099597440_6238b531ee_b.jpg

Aaaah, mãe do Sesshomaru, sua linda! Como é bom te ver de novo por aqui! ♥

E entramos mais um pouco na personalidade do Hayashi e o relacionamento dele com a Rin.

Já quero deixar avisado aqui pra ninguém se decepcionar que PODE SER que não tenha update semana que vem, tenho prova de Cálculo IV e não sei nada. Apesar de os capítulos já estarem escritos, eu sempre levo muito tempo pra revisar (sempre acabo escrevendo mais e mudando um monte de coisas) antes de postar, além do tempo que leva pra fazer a fanart (por mais apressado que seja). Enfim, se não ouvirem falar de mim semana que vem, não fiquem surpresos ;)

Beijos e até breve (ou não tão breve, mas breve [eu to esperando há mais de um ano por atualização da minha fanfic preferida e ainda não perdi as esperanças hahaha])


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