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História Unintended - Epifania


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Oiii!

Muuuito obrigada pelos comentários no capítulo anterior! Sei que deixei muita gente preocupada né?
Espero que esse aqui acalme um pouco os nervos ;)

Boa leitura!

Capítulo 28 - Epifania


Rin cobriu o rosto com as mãos, lembrando-se com uma mistura amarga de desejo e pesar daquela tarde, quando o grande amor de sua vida a surpreendera com um beijo impulsivo. Seu primeiro beijo. Ela lembrou de como aquilo significou tanto para ela, como uma resposta para as suas preces. E apenas uma noite atrás, quando ele a levou até o litoral, ela quase chegou a pensar, por um momento, que poderia mesmo tê-lo, que eles poderiam fazer aquilo funcionar de alguma maneira.

Tola, ela realmente achava que tudo que ela precisava era fazê-lo dizer sim, sem perceber que o resto do mundo sempre diria não, não importando o quanto ela tentasse lutar contra isso. Eles não podiam fazer aquilo, ela via agora. Nunca poderiam estar juntos naquele mundo, nem ao menos como amigos... A percepção foi muito mais dolorosa do que ver aquela mulher morta do lado de fora, do que ver seu senhor, o homem a quem ela mais admirava, a última pessoa no mundo a qual ela iria querer prejudicar, ter que ver seus próprios homens tentarem matá-lo por causa dela.

- Eu sinto tanto... - Ela murmurou em meio às lágrimas. - Eu nem devia... Ter vindo... Eu sabia que minha presença na sua vida apenas lhe atrapalharia, mas eu fui tão egoísta. Eu tinha que pensar só no que eu queria, eu...

Silenciosamente, ele embainhou a espada e caminhou até ela, estendendo uma mão para acariciar seus cabelos desgrenhados. O youkai se sobressaltou ao vê-la se afastar do toque, encolhendo-se para mais longe dele.

- Por favor, não. Eu não consigo lutar contra isso se me tocar assim...

Sesshomaru sentia-se quase idignado com aquela pequena rejeição. Primeiramente, depois de tudo que ele havia arriscado perder apenas para mantê-la, era inaceitável que ele fosse acabar perdendo a ela também. E havia ainda a pequena parcela de seu orgulho ferido ao ver que Rin era capaz de ouvir a voz da razão em um momento de crise, enquanto ele simplesmente estava permanentemente surdo para o bom senso, independentemente de o mundo estar se despedaçando ao seu redor. Ela era tudo que ele queria ouvir, era tudo o que ele queria enxergar.

Se era verdade que ele não podia tê-la por perto, então ele simplesmente escolhia acreditar na mentira.

Tomando o queixo dela para si de uma forma quase violenta, ele a obrigou a olhar para ele com aqueles belos olhos castanhos que ele tanto adorava, exceto pela inundação de lágrimas que o incomodava enormemente. Estava tão furioso com toda aquela situação, aquele despertar nada pacífico, o ferimento no rosto dela, a mensagem ameaçadora lá fora, a visita desleal ali dentro, e agora ainda havia isso. Rin culpando a si mesma, negando a si mesma o que ambos sabiam que ela mais desejava.

Ele não aceitaria aquilo.

Abruptamente, Sesshomaru a puxou para si, selando seus lábios contra os dela em um quase desespero, de forma quase dolorosa. Ele envolveu seu corpo frágil, sentindo-a contra ele através da fina youkata que ela vestia, sua mente revolvendo-se entre diferentes pensamentos sobre as mais diversas formas que ele poderia livrá-la daquelas roupas.

A humana derreteu-se naquele abraço, seus braços envolvendo-o pelo pescoço, ao mesmo tempo em que tentavam erguê-la para que ficasse mais à altura dele, para que pudesse beijá-lo ainda mais profundamente, para que pudesse pressionar-se ainda mais contra ele. O youkai mordeu seu lábio inferior com o mínimo de delicadeza necessária para não feri-la, mas apenas o mínimo. Ela suspirou audivelmente em resposta, o que apenas agravou ainda mais o fogo que brotava entre eles, a própria revolta dos dois amantes contra o mundo injusto que os cercava se espalhando pelo quarto como uma onda flamejante que deixou os dois sem fôlego.

Sesshomaru liberou seus lábios apenas para espalhar seus beijos pelo rosto da humana, lambendo sua bochecha até chegar à sua orelha arredondada.

- Não, Rin. - Respondeu ele, em um sussurro, ao pé do ouvido dela. A respiração que escapou com a fala a fez tremer em arrepios. - Sou eu quem não consigo lutar contra isso.

Ela queria dizer algo em resposta, mas nada parecia adequado, e ela mal conseguia pensar com o barulho da própria respiração parecendo tão absurdamente alto, pulsante e frequente, como as batidas desesperadas de seu coração.

- Eu não sei o que eu teria feito. - Continuou ele, o som sensual de sua confissão fazendo Rin sentir como se seus ossos tivessem virado água dentro dela. - Se você tivesse decidido não vir comigo. Por todo o tempo em que eu te deixei para trás, a minha maior preocupação foi que você não fosse me escolher.

Respirando fundo, ela sentiu mais uma lágrima escorrer por seu rosto, embora não tivesse certeza sobre o motivo. Sentindo as mãos deles descerem pelas laterais de seu corpo até apertarem sua cintura, ela instintivamente o abraçou mais apertado, enterrando o rosto no pescoço do youkai, tocando-o com seus lábios de uma forma tão suave e delicada que tudo em que Sesshomaru conseguiu pensar por um momento foram atividades nada suaves ou muito menos delicadas.

- Não me diga que se arrepende daquilo. - Ele pediu, a voz baixa mas urgente, quase suplicante. - E eu não te direi que me arrependo disso.

Como se quisesse ilustrar do que estava falando, ele voltou a beijá-la com ardor, as mãos freneticamente rondando seus quadris, subindo por suas costas, embolando-se ao redor do laço que prendia as roupas dela no lugar, prestes a puxar a ponta correta que faria tudo cair aos pés dele em instantes quando-

Um zumbido suave soou pelo quarto, uma segunda flecha atravessando o ambiente, cravando-se no chão a alguns metros de distância dos dois daquela vez. A realidade caiu sobre o o casal como um véu negro que abafava as chamas acesas no cômodo, apagando-as lentamente, trazendo consigo o frio e escuridão que cercava o mundo real.

Observando a singela flecha, Sesshomaru se afastou do objeto de suas afeições, sua respiração exasperada acalmando-se lentamente.

- Temos que ir. Isso está saindo do controle.

Rin não sabia se era a revolta ou se eram eles dois quem estavam saindo do controle, mas de qualquer forma tratou de se recompor, voltando à gravidade de toda a situação que eles quase esqueceram por um momento de loucura.

O senhor das terras do Oeste voltou-se para ela, seu dedo traçando suavemente o pequeno corte no rosto perfeito da humana.

- Você tem alguma coisa para isso?

Ela assentiu, rapidamente procurando entre suas coisas a sacola que trouxera com suas ervas medicinais e remédios.

- Ótimo. Cuide disso, rápido. - Comandou ele, o tom de seriedade natural voltando à sua voz de líder. - Depois, vista algo mais adequado e venha comigo.

Rin rapidamente tratou de aplicar um pouco de pomada transparente sobre seu corte superficial, antes de correr para encontrar um quimono apresentável e vesti-lo por cima da youkata simples de dormir que ela usava, percebendo a pressa de seu senhor. Ela parou por um instante, certificando-se de que não estava esquecendo de nada, até ver sua faca jogada no chão, ela nem ao menos se lembrava de tê-la soltado. Precavendo-se, decidiu apanhá-la e escondê-la entre suas roupas. Com mais um último olhar pensativo, ela resolveu pegar a bolsa de remédios também.

Quando estava pronta, Rin seguiu seu senhor porta afora. Os dois caminharam a passos apressados, por todo o castelo até o lado de fora, até encontrarem Hayashi e alguns homens em um campo aberto, uma região mais pacata do território. Havia corpos ao redor deles, e o youkai conhecido como o braço direito de Sesshomaru estava acabando de remover a espada da barriga de um desertor quanto o general e a humana chegaram.

- Ah, ótimo, agora você aparece. – Hayashi disse, parecendo exausto. Estava sujo de terra e suor, com ferimentos de baixa gravidade aqui e ali. – Espero que vocês tenham se divertido ontem a noite, pois eu tive uma madrugada cheia, contendo malditos rebeldes.

Sesshomaru se aproximou do amigo, observando a situação ao redor mais cuidadosamente. Havia os soldados de pé ao lado de Hayashi, os corpos mortos atirados ao chão, mas também um pequeno punhado de homens gravemente feridos jogados em um canto, com as cabeças abaixadas entre os joelhos em um sinal universal de rendição.

- O que está acontecendo aqui?

Hayashi embainhou a espada, passando o braço na testa para limpar o suor e sangue escorrendo por seu rosto.

- Um bando de malucos decidiu que ia dar o jeito deles de matar a Rin, eu os impedi. Esses daqui são leais, lutaram ao meu lado. – Ele acenou com a cabeça para os guerreiros que o cercavam, e em seguida para os do canto. – Aqueles viram que a ideia era loucura e se renderam.

- E os desertores? Disseram-me que foram muitos.

- Eu não tive tempo de fazer uma contagem. – Hayashi respondeu com sarcasmo. – Eu não sei se você reparou, mas eu estive um pouco ocupado.

Sesshomaru o encarou com olhos duros, estava realmente de mal humor naquela manhã e as graças de Hayashi não estavam ajudando a melhorá-lo de maneira nenhuma. Ele não havia previsto nada daquela dimensão. Que os soldados estavam insatisfeitos com o rumo que as coisas estavam tomando era uma coisa, mas revoltas internas e deserção de metade de seus homens... Era outra coisa completamente diferente.

Afinal, o próprio conselho havia concordado com a decisão. A população sempre tendia a concordar com o conselho, era exatamente por isso que ele retinha tanta importância. Sua sabedoria era altamente valorizada, o povo confiava em suas decisões e se sentia seguro com elas. Se era para haver uma reação como aquela, Sesshomaru podia muito bem ter simplesmente feito o que bem entendia desde o início, teria lhe poupado muito estresse e tido o mesmo resultado.

- Eu te avisei que isso aconteceria. – Hayashi repetiu pelo que certamente não era a primeira vez, também parecendo bem infeliz com a situação. – Mas você tinha que deixar o rancor pela Mizuno vencer, não é?

- Por acaso você está querendo se juntar à pilha de cadáveres no chão, Hayashi? Ou talvez à pilha de rebeldes?

- Claro, eu passei a noite toda matando esses desgraçados, porque te trair é exatamente o que eu quero fazer!

Enquanto os dois inuyoukais começavam uma discussão acalorada, Rin se via distraída pela cena bárbara ao seu redor, sua atenção voltando-se para os homens gravemente feridos, esquecidos em um canto. Era uma visão tão horrível.

Discretamente, ela deu um passo na direção deles, percebendo que ninguém fez nada para tentar impedi-la. Agarrando sua sacola entre mãos hesitantes, ela respirou fundo e se aproximou.

O soldado mais gravemente ferido tinha um corte muito profundo em sua perna, certamente sangraria até a morte se nada fosse feito. Fosse um humano, já estaria morto na melhor das possibilidades. Estava fraco e esgotado, os olhos fechados se abrindo apenas quando ele percebeu a presença da humana.

Rin puxou uma faixa de pano de sua bolsa, levando-a até a perna ferida do homem a fim de fazer um torniquete e parar o sangramento. Antes que ela pudesse encostar nele, garras afiadas investiram contra seu braço, cortando quatro linhas estreitas em sua pele, sangue brotando imediatamente do ferimento.

- Tire suas mãos de perto de mim, humana imunda!

Rin instintivamente recolheu sua mão, sibilando com a dor repentina. De repente, Sesshomaru estava atrás dela como um vulto, puxando-a para trás ao mesmo tempo que Hayashi arrastava o ferido para o lado oposto.

- Rin, o que está fazendo? Esses malditos são traidores! – Sesshomaru rosnou, ainda mais furioso do que estava enquanto brigava com Hayashi.

- Ele se rendeu! – Justificou ela. – Significa que não queria morrer. Mas se o sangramento não parar, ele irá.

- Se rendeu. – O daiyoukai cuspiu, enojado. – Eles simplesmente perceberam que iam perder e voltaram atrás com os rabos entre as pernas. Além de traidores, são covardes, sem convicção para terminarem o que começaram. Mate-os todos.

Hayashi assentiu, puxando novamente a espada ensanguentada, mas Rin o impediu antes que ele pudesse agir.

- Não! Senhor Sesshomaru, que utilidade nós temos para mais sangue derramado? – Questionou, lágrimas brotando em seus olhos. Estava cansada daquela manhã sangrenta, aquilo tinha que acabar. – Deixe-me ajudar esses homens, é tudo que eu posso fazer.

- Bom, nós não estamos podendo desperdiçar pessoal depois das perdas que sofremos durante a noite, Sesshomaru. – Hayashi emendou, tomando o partido dela.

Sesshomaru estava prestes a brandir a espada e acabar com aquilo ele mesmo, quando uma outra voz se juntou aos pedidos:

- Meu senhor, se minha lealdade me dá o privilégio de pedir alguma coisa. – Um dos soldados do grupo de Hayashi se aproximou, abaixando-se sobre um joelho. – Eu gostaria de lhe implorar para poupar a vida do imbecil do meu irmão, se essa possibilidade existe. Ele cometeu um erro, não vai acontecer novamente.

Rin encarou o homem ajoelhado com surpresa. Mesmo que o irmão tivesse mudado de lado, ele havia permanecido fiel ao senhor do Oeste, mas agora implorava pela vida do parente. Sua resolução de salvar o traidor apenas aumentou. Rin tinha horror a ver famílias destruídas por batalhas.

- Senhor Sesshomaru. – Insistiu ela, usando seu melhor tom de convencimento. Aquele que ela secretamente sabia que Sesshomaru tinha extrema dificuldade em negar. – Eu não quero ter mais sangue em minhas mãos. Se eu puder salvar algumas vidas hoje, dormirei melhor à noite. Por favor.

- Esse homem nem ao menos quer a sua ajuda, Rin. – Ele lembrou, sinalizando para o braço ferido dela.

- Ele quer viver. Por isso se entregaram. Eu posso ajudar.

Ela observou todos os presentes a olharem como se ela fosse louca, mas não se importou. Claro, quem iria querer ajudar pessoas que conspiraram para vê-la morta, que talvez a tivessem matado com as próprias mãos, se tivessem tido a chance? Mas Rin sabia que não podia simplesmente virar as costas, aprendera com Kaede a tratar qualquer um que precisasse, mesmo que fosse uma pessoa detestável, como a própria Kikyou havia cuidado do bandido Onigumo em sua época. Além do mais, ela se sentia diretamente culpada por todo aquele caos. O exílio de Mizuno não teria causado tanto alvoroço se aqueles homens não estivessem convencidos de que Sesshomaru estava secretamente se envolvendo com uma humana. A presença dela ali apenas agravou enormemente uma situação que já era instável.

Desvencilhando-se de Sesshomaru, ela voltou a se aproximar do homem ferido, decidida a fazer seu trabalho. O daiyoukai moveu-se para impedi-la, mas se conteve quando a viu se ajoelhar em frente ao paciente e não receber qualquer ameaça em retorno.

O rendido estava fraco, e no fundo sentia-se inevitavelmente grato. Ele esticou a perna rasgada e deixou que ela amarrasse a fita de pano bem apertada acima do ferimento.

- Isso vai impedir que sangre até a morte. – Ela disse com um sorriso breve, antes de voltar ao trabalho, amassando ervas velhas e colocando a pasta formada sobre o ferimento. – E isso vai te ajudar com a dor e acelerar a cura.

Assim que terminou os cuidados básicos, a humana se voltou para seu senhor que a observava em silêncio junto a todos os outros, os olhares admirados e surpresos dos homens deixando-a um pouco acanhada, mas ela prosseguiu de qualquer maneira:

- Senhor Sesshomaru, eu gostaria de ficar responsável por tratar dos feridos. Todos eles.

O daiyoukai não sabia se estava realmente surpreso com aquele pedido, mas de jeito nenhum ele deixaria Rin sozinha depois de tudo o que aconteceu. E havia muita coisa que ele precisava consertar no meio de toda aquela bagunça, mais do que se preocupar com a saúde de traidores.

- Rin, eu tenho assuntos a resolver, não posso ficar aqui vigiando-a.

Ela abaixou a cabeça em pesar, insatisfeita com a resposta mas vendo a razão nela. Depois de tudo, a última coisa de que Sesshomaru precisava era ter que ficar seguindo-a o dia inteiro enquanto ela fazia o que bem entendia.

- Meu senhor. – O guerreiro de antes voltou a falar, seus olhos se fixando no irmão ao fundo por um momento antes de voltarem ao seu superior. – A humana salvou a vida do Kotarou. Eu a protegerei com a minha própria.

Surpreso, Sesshomaru estava prestes a dizer que apenas aquilo não seria o suficiente. Ele jamais entregaria Rin para ser protegida por um único homem, não era proteção o bastante. Entretanto, antes que ele pudesse dizer algo, outro homem cuja lealdade se encontrava intacta deu um passo à frente.

- Se ela realmente pode nos ajudar a encontrar e matar quem atacou o Castelo nas Nuvens, então permita-me me responsabilizar pela guarda da menina também, meu senhor. – Pediu ele, humildemente. – Eu tinha parentes que foram assassinados lá.

- Eu também, um primo. - Outro emendou, abaixando a cabeça. - Também quero protegê-la, senhor.

- Aparentemente, a humana faz visitas frequentes à minha esposa, na cidade. - Mais um se pronunciou. - Akiyama me pediu pessoalmente para tentar me certificar de que ela ficasse bem, assim que soube da possibilidade de revolta. Acho que encontrei a oportunidade perfeita de cumprir o desejo da minha mulher.

Os quatro voluntários se alinharam, suas expressões sérias pegando todos de surpresa. Rin não conseguia encontrar os músculos necessários para fechar sua boca, e Sesshomaru por pouco não a imitou. Aquele era o acontecimento mais inédito nas terras do Oeste, ter youkais puros se oferecendo de bom grado para guardar uma reles humana, uma humana que muitos culpavam por toda aquela confusão em primeiro lugar. Como era possível que com um ato tão estúpido e simples quanto se oferecer para salvar a vida daqueles que pretendiam matá-la pudesse ganhar a confiança de tantos tão de repente?

Algo estava acontecendo ali, algo novo brotando do solo como uma planta, as raízes se fixando na bondade de Rin e as pequenas folhas sendo alimentadas pelo seu calor contagiante. Sesshomaru ainda não sabia o que era, era cedo para dizer, mas ele mal podia esperar para ver no que aquela pequena semente podia se transformar.

Colocando-se diretamente à frente da linha formada pelos guardas, ele vestiu sua expressão mais séria, mortal e ameaçadora.

- Se qualquer coisa acontecer à ela, eu vou matar cada um de vocês da forma mais dolorosa possível, e farei o mesmo a cada pessoa com as quais vocês já se preocuparam na vida. A humana bondosa não estará lá para salvá-los. - Ele ameaçou, o tom de voz firme e amedrontador. - Eu não vou perder minha maior jogada nessa guerra graças aos caprichos estúpidos de alguns. - Emendou, antes que sua preocupação pudesse parecer pessoal demais.

- Sim, senhor! - Os homens disseram em uníssono, suas vozes graves ressoando pelo campo.

- Ótimo. Vocês cuidarão da segurança de Rin. Os outros, ajudem com o que ela precisar. - Ele distribuiu as tarefas, voltando-se para o seu segundo em comando por último. - Hayashi, você vem comigo. Tenho uma missão para você.

Rin observou seu senhor deixar o campo ao lado de Hayashi, antes de se voltar para a bagunça que ela se comprometeu a arrumar. Era desesperador agora que ela realmente se confrontava com a tarefa, mas estava decidida a completá-la.

Justamente quando ela tentava decidir por onde começar, um pequeno youkai verde apareceu correndo em desespero.

- Riiiin! - Jaken chamou quando a viu, ofegante. - Você viu o senhor Sesshomaru por aí? Mas o que é que está acontecendo nesse lugar?

A humana sorriu como se o pequeno fosse a sua pessoa favorita no mundo, e como se o próprio mundo não tivesse desmoronado do dia para a noite.

- Senhor Jaken, que ótimo que o senhor está aqui! O senhor Sesshomaru nos deu tarefas. - Ela anunciou, vasculhando sua sacola de pano e puxando quatro folhas distintas de lá de dentro. - Precisa encontrar mais dessas, eu não tenho o suficiente.

- Mas... - Ele tentou dizer, enquanto Rin fechava os três dedos dele forçadamente ao redor das ervas.

- O senhor é muito útil para o senhor Sesshomaru! - Ela elogiou, empurrando-o delicadamente de volta para a direção de onde viera. - Vá e encontre-as, o senhor Sesshomaru está contando com isso!

Rin riu após vê-lo correr para cumprir a missão, satisfeita consigo mesma. Quando trouxera aqueles remédios, nunca imaginou que precisaria ter o suficiente para cuidar de um exército. Recuperando-se do humor, ela se voltou aos homens que a rodeavam, percebendo que eles esperavam que ela lhes desse ordens também.

- Ahn... Eu preciso movê-los para um lugar mais adequado, não podem ficar embaixo desse sol escaldante. - Ela começou sutilmente, mas funcionou. Os guerreiros moveram-se para erguer os feridos do chão, guiando-os de volta para o alojamento.

A humana tomou alguns passos para segui-los, e parou por impulso ao perceber os seus quatro guardas virem acompanhá-la imediatamente, aproximando-se muito mais do que quaisquer outros youkais dali haviam feito além de Asai, Hayashi e Sesshomaru.

- Muito obrigada. - Ela sussurrou para eles com um de seus famosos sorrisos. Sesshomaru nunca a teria deixado fazer aquilo se não fosse por eles, então estava realmente grata.

 

Rin suspirou, secando o rosto com um pedaço de pano enquanto observava seus pacientes espalhados em esteiras ao longo de todo o saguão do alojamento. Ela ainda estava chocada por eles não terem nenhum tipo de curandeiro ali, como simplesmente esperavam que seus youkis os restaurassem de volta à saúde ou então morriam no processo.

Porém, vendo todos devidamente tratados, enfaixados e se recuperando, ela sentia uma sensação gostosa de dever cumprido. Levara-lhe a tarde toda, mas estava feito. A senhora Kaede ficaria orgulhosa, Kagome também. No fim das contas, havia sido mais fácil do que ela havia esperado, os youkais, mesmo os traidores rendidos, pareciam ter desenvolvido um tipo de respeito por ela. E, até mesmo quando criadas vieram trazer comida, os guardas se recusaram a deixá-la tocar um único bolinho de arroz sequer antes que todos eles tivessem os inspecionado e cheirado o suficiente para decidirem não estarem envenenados de nenhuma maneira.

Sorrindo com a lembrança, ela voltou por todo o percurso de feridos, certificando-se de que não precisavam de nada, até chegar novamente no caso mais grave daquela manhã, o irmão de um de seus guardas, Kotarou.

- Como se sente? - Perguntou gentilmente, trocando o pano ensanguentado no pescoço dele por outro limpo.

Ele abriu apenas um olho, o outro estando escondido por curativos. Sua boca se distorceu em uma careta de arrependimento.

- Desculpe-me por isso. - Pediu ele, segurando o braço dela e analisando os cortes que ele mesmo havia feito no primeiro encontro dos dois.

Ela deu de ombros com um pequeno sorriso, erguendo os braços para prender os longos cabelos em um coque com seu enfeite favorito, adornado com belos lírios de tecido e brilhantes cristais no lugar do que seriam as anteras. Estava tão quente ali com todos aqueles corpos em um espaço tão fechado, em pleno verão.

- Não se preocupe com isso. Vou sarar antes de você, garanto.

O olho do youkai focou em outra coisa enquanto ela falava, o enfeite preso em seu penteado desajeitado.

- É por isso que a chamam de Lírio do Oeste, então. - Ele observou, trazendo à tona o apelido pelo qual algumas pessoas na cidade insistiam em chamá-la, desde que ela apareceu lá com aquele enfeite no cabelo e um buquê de lírios de verdade nos braços para distribuir aos seus amigos. - Eu vejo agora porque ele gosta tanto de você. É difícil não gostar, não é?

Rin rapidamente mexeu em alguns remédios sobre um suporte de madeira ao seu lado, procurando qualquer coisa para se distrair, para que não entregasse qualquer reação descabida diante daquela fala.

- Engano seu. Eu apenas tento não irritá-lo, como todo mundo. - Ela respondeu, a cabeça abaixada escondendo o rubor em seu rosto enquanto ela transferia um líquido esverdeado de um recipiente para o outro sem motivo algum.

- Mas é claro.

xXx

Sesshomaru viu o dia escorrer entre suas mãos como água, da mesma forma como a organização de seu território se esvaia e, por mais que tentasse, não conseguia colocar tudo de volta no lugar, as coisas apenas pioravam.

Assim que deixou Rin ocupada com a tarefa que ela insistira tanto em executar, não perdeu tempo em mandar Hayashi em sua importante missão. Os soldados desertores não desertaram sem razão. Embora certamente alguns apenas temessem que o Oeste não tivesse mais uma reputação tão segura e provavelmente apenas queriam garantir paz para si mesmos, a maioria estaria de fato se voltando contra o grande general inuyoukai.

Aqueles homens estavam indo se juntar ao inimigo e, se realmente conseguissem, Sesshomaru podia tirar vantagem disso. O mais rápido possível, ele mandou Hayashi para segui-los e fingir ser um deles. Assim, se os desertores encontrassem Takayama para se unirem à causa dele contra o Oeste, significaria que Sesshomaru também o terá encontrado. Pelo menos uma coisa boa poderia vir disso tudo.

Mas havia ainda outros problemas que continuavam a crescer. Os soldados nortenhos mantiveram uma inércia preocupante durante a revolta da noite anterior. Aparentemente, se recusavam a tomar qualquer partido sem um parecer de seu senhor, Tsugaru. E Sesshomaru conhecia Tsugaru bem o suficiente para saber que, se chegassem até ele rumores de que a tal humana que ele tivera a oportunidade de conhecer na verdade corria o risco de ocupar o lugar de Mizuno, o Oeste perderia seu apoio imediatamente. Os soldados também sabiam disso, por isso mesmo não fizeram nada para impedir que os rebeldes tentassem se organizar e simplesmente enviaram um mensageiro até o norte para obter novas ordens.

Sesshomaru enviara um patrulheiro para encontrar o mensageiro e matá-lo. Enquanto valessem as últimas palavras de Tsugaru, os nortenhos responderiam aos inuyoukai, e Sesshomaru precisava se certificar de que as últimas notícias nunca chegassem ao destino, ou perderia ainda mais homens.

Por outro lado, uma contagem rápida confirmou que na verdade os desertores não chegavam à metade dos números totais afinal. Era um ínfimo alívio no meio de todas as outras incertezas, considerando que a diferença ainda era muito pequena. Claramente, em seus duzentos anos de solidão, Mizuno não esteve tão só assim, firmando uma base muito sólida de apoiadores que rapidamente trataram de desaparecer no momento em que ela se foi.  

Finalmente farto de tanto tentar controlar os danos causados, o daiyoukai decidiu ver como sua protegida estava indo com seu próprio controle de danos.

Ele não sabia bem o que estivera esperando, mas definitivamente não era o que ele encontrou quando a localizou no saguão do alojamento. Mantendo-se em silêncio na porta, o inuyoukai observou a humana cuidar pessoalmente de cada um dos feridos que requeriam sua atenção, sempre preocupada em saber se eles precisavam de qualquer coisa. Mas, mais do que o desempenho excepcional dela, ele estava surpreso ao ver o comportamento dos youkais a respeito dela, a forma cordial como a tratavam, alguns até mesmo parecendo afeiçoados.

Os quatro guardas que se voluntariaram para protegê-la acompanhavam-na de perto sempre, inclusive ajudando-a a carregar pequenos objetos que ela poderia facilmente carregar sozinha, mesmo que ela não tivesse pedido ajuda em nenhum momento.

E então Sesshomaru a viu conversando com o traidor que fora o responsável por começar tudo aquilo, e seu instinto protetor quase o fez ir até lá para se certificar de que o miserável não a feriria novamente. Mas era justamente o contrário, os dois conversavam de forma amigável enquanto Rin prestava seu serviço alegremente, o homem até riu genuinamente quando ela disse que ele parecia um coelho com aquela atadura amarrada no topo da cabeça.

- Sabe, Rin... Eu posso te chamar assim, não é? - O ferido perguntou, prosseguindo quando ela assentiu prontamente. - Eu estava pensando... Quando eu me recuperar, pretendo me juntar à sua guarda pessoal.

Ela parecia surpresa com aquilo, e Sesshomaru também estava.

- M-minha o quê?

- Bom, do que você chama soldados que juraram protegê-la acima de tudo? Se o senhor Sesshomaru estivesse em apuros e você também, meu irmão e os outros estão jurados a ir ao seu resgate primeiro. - Explicou o youkai, divertido com a expressão de confusão no rosto dela. - É uma guarda pessoal. E eu quero fazer parte dela. Já tenho até um nome: A Guarda do Lírio.

Rin riu uma risada tão contagiante que de repente Sesshomaru reparou, estupefato, que a maioria das pessoas no ambiente tinha pelo menos um pequeno sorriso no rosto também. Mesmo com tanta morte, mesmo com tanto sangue, mesmo com toda a desgraça. Ele nem podia ter certeza de que ele mesmo não estava sorrindo um pouco naquele instante.

E então ele percebeu, bem ali, naquele momento onde o tempo pareceu parar para dar lugar à imensidão daquela percepção. Mal cabia nele, mal parecia caber na realidade, parecendo escapar pelas bordas de tanto excesso, como a erupção de um vulcão há muito adormecido. Foi bem ali, onde aquele sorriso magnífico parecia congelado no rosto da criatura mais incrível que ele já conhecera em toda a sua longa vida, que Sesshomaru percebeu pela primeira vez, sem a menor sombra de dúvidas, que ele a amava.

Por quanto tempo ele estivera com os olhos fechados? Não, por quanto tempo ele fora completamente cego? A verdade agora brilhava tão forte à sua frente que ele não conseguia entender como pudera ignorá-la por tanto tempo, mas agora era tão claro, tão óbvio que ele quase podia rir da própria estupidez. E realmente não havia mais nenhum tipo de argumento que pudesse justificar qualquer motivo para tentar negar algo tão perene quanto aquele sentimento.

Pois, se ele não aceitasse que a amava, o que mudaria?

Veneraria os seus sorrisos esplendorosos da mesma maneira. Cobiçaria os seus beijos da mesma maneira. Careceria de seus toques da mesmíssima forma; arriscaria a própria vida por ela igualmente; ansiaria por sua proximidade ainda assim. Sentiria horrivelmente a falta dela quando a morte finalmente viesse clamá-la, ao mesmo modo.

Se não aceitasse que a amava, a amaria da mesma maneira. Não mudaria nada, exceto, talvez, que fosse perder a oportunidade de admitir isso à ela e deixá-la saber o quanto ela foi importante antes que seu tempo se esgotasse, e teria que viver toda a eternidade com aquele vazio que ela poderia ter preenchido, se ele tivesse sido honesto com ela e consigo mesmo. E não, não valeria à pena.

Porque Rin desafiava tudo que ele conhecia e acreditava, desde o início. Parando para pensar, foi exatamente daquela mesma forma que ela o ganhou na primeira vez, demonstrando compaixão, coragem, vontade de fazer o que é certo acima de tudo. Sua força, sua convicção. Nada havia mudado entre a garotinha que cuidou dele após aquele ataque em cheio da Ferida do Vento e a mulher que cuidava de dezenas após eles terem planejado assassiná-la.

Aquela magia que ele temera dias atrás estava exposta como a um clarão de luz. A magia de Rin. Com simples atos de gentileza, ela ganhou a simpatia de uma cidade inteira. Ele pensou novamente nos números, surpreso por não ter visto de cara a razão por trás deles. A grande maioria dos habitantes da cidade do Oeste permanecia fiel e leal, muito embora quase metade dos militares tivessem partido. Em uma situação onde civis acreditassem que o Oeste pudesse vir a ruir a qualquer momento, seriam eles os primeiros a fugirem em debandada, mas eles ficaram. Não por acreditarem na força e liderança de seu senhor, não. Mas por acreditarem na bondade de Rin, por não temerem que ela pudesse ser uma ameaça para o equilíbrio. Era graças à Rin que aquelas pessoas permaneciam lá, movimentando o comércio e serviços, porque de certa forma elas a amavam também, simplesmente não conseguiam evitar.

Sesshomaru sempre soube que Rin e ele eram completamente diferentes, mas só agora ele via como eles se complementavam tão perfeitamente. Porque se por um lado ele tinha a espada, por outro, Rin tinha o coração. Ela podia fazer as coisas que ele jamais poderia, pois intimidar súditos com seu poder ameaçador era completamente diferente de fazê-los morrerem e matarem em seu nome por paixão, usando um carisma irresistível. Ele foi o primeiro a cair naquela pequena armadilha engenhosa que só ela sabia montar, mas certamente não seria o último, e agora ele via o poder destruidor que aquela inocente habilidade representava.

E ele a queria. Não como vinha querendo nos últimos dias, desejando seus beijos e suas carícias como um louco desesperado e inconsequente, não. Ele a queria pela pessoa que ela era, pela aura que ela emanava, pelo respeito absoluto que ela despertava. Ele queria ter tudo aquilo para si e ter o orgulho de vê-la fazer sua mágica, arrastando multidões, e poder dizer que aquela criatura extraordinária era dele. Ele a queria porque finalmente fazia sentido querer, do ponto de vista prático e racional ao qual ele procurava sempre consultar antes de tomar decisões arriscadas.

Afinal, com Rin ao seu lado, não havia nada que eles não pudessem conquistar, nada que não pudessem fazer. Onde o calor dela não conseguisse alcançar, o frio do metal da espada dele certamente daria conta.

Tão abalado pela sua grandiosa descoberta que ele quase perdeu o equilíbrio por um embaraçoso momento, o magnânimo daiyoukai finalmente entrou no saguão, os homens curvando-se por onde ele passava. Ignorando-os, ele só parecia ver Rin, seu foco e objetivo fixados na humana que falava com o paciente, de costas para ele. Sesshomaru sentia o impulso de simplesmente pegá-la no colo e sumir com ela dali, para onde ele pudesse tê-la só para si. Mas ele sabia que ainda era cedo para tamanha ousadia em sua abordagem.

- Rin. - Ele chamou, como sempre. E ela se virou para ele com um sorriso pronto, como sempre. Aquele sorriso era especial, era o sorriso dele e Sesshomaru queria se certificar de que em breve muitas outras coisas naquela humana seriam dele também.

- Sim, senhor Sesshomaru?

O general acenou para a tal Guarda do Lírio, como um sinal de que estavam liberados de seus serviços para com ela por enquanto. Afinal, ele estava ali para tomar conta dela agora, e certamente tomaria.

- Venha comigo. Você e eu temos algo a fazer.

 


Notas Finais


Fanart do capítulo: https://c1.staticflickr.com/1/408/31943328383_c368ef0e65_b.jpg

Omg, será que vemos uma luz no fim do túnel? Será que o Oeste não tá tão na merda graças à Rin? *-*

E nossa, esse momento da revelação do Sesshomaru foi mágico pra mim, é meu parágrafo favorito. Por muito tempo eu estive desapontada com as minhas ideias pra como seria esse momento, porque elas não pareciam fazer sentido pro personagem. Eu tinha decidido que ele apenas se apaixonaria pela Rin e decidiria mandar tudo às favas pra ficar com ela, mas apesar de ser um conceito romântico pôr amor acima de tudo, ainda é uma coisa meio burra pra um governante fazer né? Eu não queria passar essa imagem e tava bem insatisfeita com ela. Até que quando cheguei aqui, eu de repente vi o que ele via nela e porque tudo isso valeria à pena, e porque, mais do que estar só apaixonado por ela, ele também desenvolveu um senso de respeito por ela que é o que eu acho mais louvável.
Fiquei feliz pra caramba de ter resolvido meu dilema da melhor maneira possível <3

Espero que vocês tenham gostado desse capítulo, porque o próximo... O próximo é o que todas nós estivemos esperando esse tempo todo! Se preparem!

Até lá! :*


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