1. Spirit Fanfics >
  2. Universo Atemporal >
  3. Me perdoa!

História Universo Atemporal - Me perdoa!


Escrita por: rainbownizer

Notas do Autor


HELLO GUYS!!!
OPA, O CAPÍTULO TEM MÚSICA, HEIN? Partiu ouvir Say Something, porque o capítulo vai ser pesadíssimo. Tem naquela lista que eu passei pra vocês na temporada passada, mas eu vou deixar o link nas notas finais também. Eu aviso a hora de ouvir a música.
Eu sei que eu demorei tanto pra postar e pedir desculpas não vai adiantar nada, mas eu sinto muito mesmo, eu odeio isso tanto quanto vocês, eu fico péssima quando não escrevo pra vocês, é sério. Falando em ficar péssima, esse capítulo foi um desabafo bastante pessoal pra mim. Eu escrevi ele com sentimentos reais, eu espero que vocês possam sentir isso. Eu também ouvi diversas músicas de uma outra playlist minha do Spotify. Então, se você quiser estar no mesmo clima que eu estive quando escrevi, é só ir no meu perfil e colocar a playlist "Invisível" pra tocar. Eu vou deixar o link nas notas finais também. Mas só comecem a ouvir a playlist após a música do capítulo, ok?
Ah, algumas pessoas têm conversado comigo em algumas redes sociais e eu acho isso incrível, quem quiser conversar comigo, fiquem à vontade, é sério, eu gosto de conversar com vocês.
Enfim, eu espero que gostem do capítulo, aproveitem bastante e se permitam sentir...
Boa leitura! <3

Capítulo 9 - Me perdoa!


- Alycia? - A voz sobressaiu mesmo com o burburinho das pessoas e o som da música ao fundo. Eu me afastei rapidamente de Eliza e encarei os olhos tristes de Costia parada na porta da varanda.

 

Quando nossos olhos cruzaram, foi como um grande choque, porque eu não achei que um simples olhar pudesse demonstrar tanta dor. Mas podia. Na verdade, naquele momento, eu percebi que apenas um olhar pode demonstrar o quanto alguém está destruído por dentro.

 Ela não me de deu nenhuma chance de falar ou fazer qualquer coisa, porque ela simplesmente virou e saiu muito rápido. Dessa vez, eu fui atrás dela sem nem mesmo olhar para Eliza, e por mais errado que meu coração dissesse que isso era, ela não parecia importar tanto agora. Meu coração apertava muito mais dolorosamente pela morena que tem me dado nada menos que amor. 

Ela tinha se metido entre as pessoas tão rápido que eu tive que me esticar nas pontas dos meu pés para tentar achá-la em meio a massa, mas eu não conseguia vê-la em lugar nenhum. A música também estava muito alta, e eu já tinha consumido uma quantidade considerável de álcool, o que me impedia de me concentrar totalmente. Quando eu passei pelos meus amigos, eles apenas apontaram para a cozinha e eu fui rapidamente para lá. Foi uma daquelas cenas que a gente acha que só acontece em dramas americanos, mas era real e doeu bastante. Assim que nossos olhos se chocaram novamente, a eletricidade foi tão grande que até as pessoas que estavam na cozinha, pegaram seus copos e saíram, nos deixando sozinhas. Os olhos de Costia estavam muito vermelhos, mas nem uma lágrima se quer descera de seu rosto. Era muito claro o quanto ela lutava para não deixá-las cair. Nossos olhares foram quebrados quando ela levou uma garrafa de vodka direto na boca e tomou goles tão generosos que eu mesma pude sentir a queimação em minha garganta. A careta que ela fez depois apenas confirmou o quanto aquilo ardia. Mas ela passou por mim tão ferozmente que seu ombro se chocou com o meu, e mesmo que eu quase tivesse caído, eu puxei seu braço, fazendo seu corpo se chocar contra o meu.

- Me desculpa. - Eu disse, ela riu sem humor e tomou mais um grande gole da bebida ardente. 

- Eu sou uma idiota. - Ela disse e me empurrou, tentando livrar-se do aperto, mas eu continuei segurando-a firme. De longe eu pude ouvir a música parar e um coro de pessoas desapontadas.

- Agora é a hora dos casais, música lenta DJ! - A voz de Marie soou alta da sala e quando a música começou a tocar, eu ri internamente. Não era uma música romântica, nem um pouco. (podem dar play)

- Não, eu sou uma idiota. - Eu disse com firmeza, ela apenas confirmou, bebendo mais um gole da bebida.

- Me deixa ir. - Ela disse e eu a soltei. - Não só agora, me deixa ir. - Agora ela não conseguia mais segurar. As lágrimas vieram como uma tempestade devastadora. - Me deixa ir. - Ela me empurrou. - Você não tem nenhuma intenção de ficar. Você nem mesmo gosta de mim! Me deixa ir, Alycia. Você sempre me traz de volta e sempre me machuca!

- Eu sei, eu sei. Mas eu gosto de você, acredite em mim, eu nunca quis te machucar.

- Você gosta de mim, certo. Mas eu amo você. Caramba, eu realmente amo você. - Ela riu sem humor e enxugou em vão as muitas lágrimas no rosto. Mas eu estava assustada demais que essas três palavras saíram de sua boca.

- Eu sinto muito. - Eu não conseguia dizer mais nada. - Eu sinto muito mesmo.

- Eu não quero suas desculpas, merda, estou farta delas! Merda, estou farta dessa porra toda! - Eu nunca tinha visto ela tão brava. Eu estava tão assustada com tudo. 

- Eu... - Tentei dizer algo coerente, mas nada saiu.

- É claro que você não vai dizer nada. Você nunca diz, por Deus! Qual o seu problema? Você não percebe o quanto magoa as pessoas? Você acha que me fodendo vez ou outra e usando esses olhos contra as pessoas, a porra desses olhos, é o suficiente e todo mundo vai ficar bem? Porque no final, não é nada sério? Pelo amor de Deus, as pessoas não são objetos, merda! - Ela me empurrou de novo. - E você fica olhando dentro dos meus olhos extremamente ingênuos, remexendo tudo dentro de mim como se você realmente se importasse quando na verdade é tudo tão falso que você nem percebe mais. Você não está cansada disso também? Por que você simplesmente não pode ser honesta? 

- Eu sempre fui honesta! Eu nunca te enganei sobre nada.

- Talvez não com palavras, mas você fez ainda assim, não percebe? Você pode não ter dito que queria um relacionamento comigo, mas você diz isso quando aparece na minha casa dizendo que sentiu minha falta, quando você olha pra mim como se eu fosse especial, quando você sorri toda vez que me vê, você diz isso quando se importa com as minhas merdas e perde tempo me ouvindo. Céus, você está dizendo isso agora olhando desse jeito pra mim e isso é simplesmente tão injusto, porque não é verdade. Nunca foi! Eu aguentei todo esse tempo, porque eu achei que você apenas não era boa em verbalizar seus sentimentos, mas a verdade é que você simplesmente não os tem. Não por mim, pelo menos. Percebe? Percebe? - Ela estava quase ofegante, a expressão pesada e sofrida. Eu me sentia culpada, realmente mal. Eu simplesmente não sabia o que fazer ou dizer.

- Eu não sei o que você quer de mim.

- Eu não quero nada de você, absolutamente nada. Eu só queria que você fosse honesta sobre seus próprios sentimentos. É simples assim. Ou você gosta de mim ou não.

- Mas eu gosto.

- Parece que não o suficiente. Não do jeito que eu gosto de você. 

- Eu sinto muito. Eu queria que as coisas fossem mais fáceis. A gente não pode simplesmente ficar bem? - Ela riu mais uma vez sem humor.

- Eu desisto.

- Não... - Eu a segurei novamente. Dessa vez ela deixou e eu a abracei tão forte quanto eu pude e ela chorou livremente em meu ombro, dessa vez eu chorei junto com ela.

- Eu desisto. - Ela disse mais uma vez em um sussurro depois me soltou, bebeu tanto da vodka que eu mesma fiquei tonta, bateu a garrafa pela metade no balcão e saiu. Dessa vez, eu não fui atrás dela. Eu sabia que eu deveria, eu sabia que a culpa era minha. Eu sabia que eu não deveria deixar ela ter bebido tanto e saído naquele jeito. Eu sabia de tudo isso, mas, como sempre, eu falhei com ela. Fiquei ali, parada, sozinha e com o coração na mão.

 

- Tudo ok? - Ricky apareceu na cozinha depois do tempo que eu fiquei apenas encarando um ponto fixo na cozinha. Eu apenas acenei com a cabeça para ele. - Tem certeza? - Ele perguntou e se aproximou, colocando uma mão em meu rosto. Ele tinha um olhar bastante preocupado, aquela expressão em seu rosto quando ele assumia a posição de meu irmão mais velho pronto para cuidar de mim. Eu apenas sorri levemente e ele suspirou compreensível, abraçando-me com força. - Vai dar tudo certo, aproveite a festa, amanhã lidamos com todo o resto, ok? - Ele sussurrou no meu ouvido dando um beijo em minha testa logo em seguida. Eu concordei com a cabeça, ele me lançou mais um olhar acolhedor e saiu da cozinha. Eu decidi pegar a garrafa de vodka que a Costia tinha deixado em cima do balcão e voltei pra sala bebendo o conteúdo ardente.

 

A princípio eu queria esquecer de todo o resto e só fechei meus olhos e movi meu corpo de acordo as batidas da músicas, mas de repente tudo ficou meio mórbido e sexy em minha cabeça. Talvez a bebida estivesse ajudando nisso. Quando abri meus olhos, a primeira coisa que vi foram os olhos azuis do outro lado da sala, olhando-me de um jeito estranho. Ela também movia seu corpo no ritmo da música e a gente apenas compartilhou um olhar complacente até alguém capturar os lábios da loira e ela se concentrar no beijo. Aquilo intensificou tudo dentro de mim e depois... Nada. Eu voltei a me concentrar na garrafa e nos movimentos do meu quadril.  Vi Eliza beijando tantas pessoas depois que eu nem podia mais contar, mas, eu sinceramente, não sabia se isso era culpa do meu nível alcoólico ou da quantidade de pessoas. Talvez os dois. Mas eu não podia culpá-la. Eu não conseguia sentir nada naquele momento de qualquer forma, eu estava anestesiada e não de um jeito bom.  

Música. Alcóol. Olhos fechados. Olhos na Eliza. Sentimentos estranhos me corroendo. Vazio. E repeat.

- Você está bem? - Ouvi a voz algumas horas depois e eu me assustei verdadeiramente, porque eu não fazia ideia que ela estivesse tão perto de mim agora. - Desculpa, eu não quis te assustar. - Eu assenti com a cabeça, não consegui responder mais nada, eu já estava muito tonta também. - Okay... Eu acho que vou indo.

- Não - eu disse, segurando-a pelo pulso. -, fica. - Eu disse e acho que ela percebeu o quão bêbada eu estava, porque fez uma careta e depois uma expressão de desapontamento quando eu falei muito perto do seu rosto. Ela puxou sua mão, libertando-se do meu aperto, mas eu não quis machucá-la.

- Até segunda. - Ela disse e foi embora. Ótimo. Que bela noite.

Voltei a beber.

 

...

 

Há muito tempo eu não dormia bêbada e acordava bêbada, mas aconteceu. E é bom, porque você não precisa se sentir tão mal (ressaca) logo que acorda. Abri meus olhos e foi meio surpreendente que eu tinha dormindo tão profundamente na cadeira da varanda com mais duas pessoas deitadas nos meus pés. Cenas pós festas são sempre cômicas e sempre envolvem pessoas dormindo pela casa das piores e desconfortáveis formas possíveis. Eu não queria, mas enquanto eu andava pela casa, as imagens das cenas do dia anterior me acertavam em cheio. Eu só queria beber de novo. Não era uma vontade difícil de conseguir, mas eu também queria voltar pra casa, então eu simplesmente saí. Eu também sabia que não estava no estado adequado pra pilotar uma moto, mas eu não me importei naquele momento, eu só queria ir embora e ficar bêbada de novo. E assim o fiz.

 

...

 

Eu não conseguia me lembrar com detalhes do meu domingo, só sei que cheguei no mercado perto do meu apartamento, comprei algumas garrafas de vinho barato e fiquei no meu apartamento assistindo algo aleatório na TV e esvaziando todas as garrafas sozinha. Não chequei meu celular, não chequei e-mail, não me importei com absolutamente nada. Mas às seis em ponto, meu celular despertou e eu acordei com aquele mal-estar terrível. Algo que embrulhava o estômago e me deixava levemente tonta. Sentei na cama, peguei o aparelho nas mãos e a quantidade de notificação me assustou. Fui lendo cada uma delas e, na maioria, eram meus amigos preocupados, tranquilizei-os com algumas mensagens e fui me arrumar. Eu estava muito envergonhada de não ter me organizado para a aula de hoje, mas eu já tinha preparado algumas coisas, felizmente. O dia seguiu normal como de costume, com exceção da minha completa falta de paciência e mal-estar. No almoço, eu vi Eliza com alguns colegas no mesmo restaurante que eu fui e nós apenas nos cumprimentamos de longe, muito cordialmente. Eu esperava Marie e Lindsay, que tinham dito que me encontrariam, mas ambas estavam atrasadas, então eu já tinha feito o meu pedido. A minha mesa ficava à duas mesas da de Eliza, mas conseguíamos nos ver tranquilamente, então nossos olhos vagavam uma para a outra com frequência. Na verdade, eu estava olhando descaradamente pra ela o tempo todo e ela só olhava para mim algumas vezes e, por consequência, nossos olhos se encontravam. Ela já estava levemente incomodada com isso, mas eu não estava me importando com muita coisa ultimamente. Já estava tudo uma merda mesmo.

As meninas chegaram antes do meu pedido e eu me levantei para cumprimentá-las, logo nos sentamos e eu voltei a minha atenção exclusivamente à elas.

- Você assustou a gente pra caralho, filha da puta! - Linz disse com uma cara realmente brava. - Você é louca de sair de moto depois de ter bebido a noite toda?

- Mas eu só sai de moto no outro dia. - Eu disse.

- E faz alguma diferença? Você deve ter acordado bem mal.

- Vou ter que concordar. - Marie disse e eu apenas dei de ombros.

- Eu precisava ir pra casa.

- Custava pedir um táxi? Custava nos avisar antes de ter sumido por um dia inteiro?

- Vocês podiam ter ido lá em casa ver como eu tava.

- E cê acha que a gente não foi? Ninguém atendeu! - Marie apenas observava a conversa e chamou o garçom discretamente.

- Desculpa, Linz, eu só precisava ficar sozinha e encher a cara. - Ela respirou fundo. 

- Eu estou tão puta!

- Eu sei, eu sei. Eu ando decepcionando todo mundo ultimamente. - Eu disse, colocando meu rosto entre as mãos. Ninguém disse nada, porque o garçom chegou e elas fizeram seus pedidos.

- Ei - Marie chamou minha atenção e esticou sua mão para que eu a segurasse, assim o fiz. -, o que aconteceu sábado?

- Eu quase beijei a Eliza. - Eu disse e meus olhos foram automaticamente até ela, mas dessa vez era ela quem me observava. Paralisei com medo dela ter entendido o que eu acabara de falar e desviei o olhar. - Mas a Costia chegou bem na hora. - Eu disse mais baixo.

- Putz. - Linz disse.

- Eu tinha imaginado que tinha sido algo parecido.

- Pois, eu fui atrás dela, mas ela tava bebendo na cozinha. Bebendo de verdade, ela estava virando uma garrafa de vodka. - Eu disse. - Tentei conversar com ela, mas não tinha o que dizer, na verdade. Eu fui uma idiota e não estou falando apenas de sábado, eu venho machucando ela há tempos. Eu nunca tinha visto ela tão ferida, tão brava e vulnerável. - Elas não disseram nada, Linz colocou a mão sobre a minha e a da Marie juntas e elas apertaram ainda mais em solidariedade. - E então, Eliza. - Suspirei pesadamente e olhei pra ela novamente, mas dessa vez todos em sua mesa estavam levantando-se para ir embora, então ela não reparou em mim. - Eu simplesmente sai atrás da Costia e a deixei lá. Nem a procurei depois, nem falei nada, nem me expliquei. 

- Ela ficou com bastante gente.

- Que bom que ela fez isso. Porque eu ia me sentir muito pior se ela simplesmente fosse embora da festa, porque eu pedi pra que ela fosse e ela gastou o tempo dela indo. Eu não queria estragar a festa de mais alguém, principalmente a dela e ela precisava se divertir. - As meninas sorriram compreensivas. Meu pedido chegou à mesa e começamos a falar de outros assuntos, mas a verdade é que minha cabeça ainda estava na festa e nas coisas que Costia me disse e em como ela simplesmente foi embora naquele estado. Decidi então passar na casa dela depois do trabalho. Foi o único pensamento que me fez relaxar um pouco: a perspectiva de vê-la e tentar conversar mais calmamente.

 

...

 

Subi as escadas até o seu apartamento e bati na porta. Eu estava nervosa em vê-la novamente, mas eu tinha que fazer isso. Bati novamente na porta, mas ninguém respondeu. Continuei batendo durante os próximos minutos e não tive resposta. 

- Costia, sou eu. A gente pode conversar? - Falei após bater o punho com força na madeira. - Costia, por favor, abre a porta. - Bati novamente. - Costia? - Nada, então eu desisti.

Nos próximos dois dias, eu mandei várias mensagens pra ela, mas nenhuma fora respondida. Eu também fui no seu apartamento após o trabalho, mas em nenhum desses dias a porta foi aberta. Eu não achava que era maldade dela, na verdade, comecei a acreditar que não tivesse ninguém em casa realmente, porque tudo estava muito silencioso, e o porteiro que já me conhecia, me olhava estranho toda vez que eu ia lá. Então, eu decidi ir em seu consultório, coisa que eu nunca tinha feito antes. Mas era uma emergência, certo?

O lugar era lindo logo na entrada, o que me fez lembrar que Costia, na verdade, tinha uma família com bastante dinheiro, além de uma carreira que lhe proporcionava, no mínimo, conforto. Eu esquecia disso muitas vezes, porque ela não era o tipo de pessoa que demonstrava isso. Digo, normalmente as pessoas que têm bastante dinheiro possuem algumas manias, gostam de esbanjar o nível educacional e possuem motoristas, secretários e tudo mais. Ela não, ela era muito simples, a pessoa mais doce e envolvente que qualquer um pudesse conhecer. Sempre carinhosa e amável com todos, pronta a ajudar da melhor forma que pudesse. Respirei fundo e entrei no ambiente. A recepcionista já me enviou um sorriso simpático antes mesmo de eu chegar ao balcão.

- Boa tarde, posso ajudar?

- Boa tarde, eu gostaria de falar com a Dra. Costia, ela está disponível?

- Você tinha alguma consulta marcada?

- Na verdade não, eu sou uma amiga, meu nome é Alycia.

- Ah, sim. A Dra. Costia não está vindo ao consultório, suas consultas foram transferidas para o Dr. Augusto, amigo da própria, que se disponibilizou para atendeu seus pacientes.

- Ela está de férias? - A mulher se contorceu desconfortável na cadeira.

- Não, ela não está em condições de trabalhar no momento. Desculpa, eu não posso dar mais informações. Apenas posso dizer que ela está no hospital. Aqui - a mulher disse, anotando-me instruções em um papel e entregando-me depois. -, é só isso que sei.

- Ok. - Eu disse, bastante confusa, agradeci e saí de lá indo direto ao hospital escrito no bilhete. Chegando lá, me identifiquei no balcão e procurei por ela.

- Sim, achei. Ela está internada aqui sim, mas o horário de visitas é daqui há uma hora. - A atendente disse. E uma onda de preocupação me corroeu tanto que eu senti um tremor em minhas pernas.

- Tu-tudo bem, eu espero. - A recepcionista acenou com a cabeça e eu me sentei na primeira poltrona vazia que encontrei. Coloquei a mão sobre a boca e eu só pensava uma coisa: a culpa era minha.

Não consegui ficar sentada naquela poltrona, então eu saí e apenas andei em volta do hospital, eu precisava fazer alguma coisa, esfriar a cabeça, eu estava me sentindo um lixo. Minha cabeça estava me matando, eu ainda estava bastante enjoada e tudo parecia muito pesado agora, eu me sentia sobrecarregada. Andei por tempo indeterminado, mas decidi parar pra comprar algo para comer, foi então que eu percebi a fome que eu estava, eu não comia desde o meio dia e já eram quase seis e meia da tarde. Me sentei, tentei me acalmar e não pensar muito sobre as coisas. Ela podia estar só com uma virose. Gente rica tem essa mania de ir pro hospital por qualquer coisinha. Certo?

Depois de algum tempo, eu voltei e a recepcionista me autorizou a entrar. Dei meus dados, elas fez um cartão, me deu as coordenadas e eu fui até seu quarto. Tinha duas pessoas do lado de fora conversando com um médico, eles pareciam preocupados, todos eles.

- Com licença. - Eu disse, tentando esbanjar um sorriso amigável. - Eu sou amiga da Costia, fiquei sabendo que ela está internada aqui e vim vê-la, está tudo bem? - O casal olhou um para o outro e então a mulher colocou a mão em meu ombro.

- Estamos recebendo notícias agora. - Eu conseguia ver a sua luta interna. - Mas você pode entrar, ela está dormindo, mas aposto que ela adoraria companhia. - Ela disse de um jeito amável e eu apenas assenti. O médico nada disse durante esse tempo, então eu apenas entrei. 

A cena que vi me chocou tanto que eu nem fui capaz de fechar a porta atrás de mim. Coloquei  a mão na boca e a vontade de chorar me atingiu em cheio. Não só sua perna estava enfaixada, como seu rosto estava horrível! Sua cabeça estava enfaixada e seu rosto estava todo machucado, inchado e roxo. Alguém entrou no quarto e colocou a mão em meu ombro, mas eu não conseguia fazer nada, eu não conseguia acreditar no que via, eu não conseguia nem lembrar como respirar.

- Ela bateu o carro. - O homem disse, acho que era o pai dela. - Parece que tinha saído de uma festa, porque o exame de sangue detectou álcool. 

Eu não disse nada, apenas saí correndo do prédio e só parei de correr quando meus pulmões não aguentaram mais, foi quando sem nenhum aviso prévio, eu comecei a vomitar todo o álcool que tinha consumido no dia anterior. Eu simplesmente não conseguia parar, por mais que eu estivesse completamente constrangida em estar fazendo isso no meio da rua. Mas lá estava eu, sem controle nenhum sobre meu corpo. 

Quando parecia não ter mais nada para colocar pra fora, eu simplesmente sai correndo dali novamente. A boa notícia é que eu me sentia melhor depois disso. Quando eu estava longe o suficiente, me sentei em um banco e comecei a pensar em todos os acontecimentos dos últimos dias, pensei até nos últimos anos. Pensei em quando conheci Eliza, nas contantes visitas ao hospital, em minha Eliza doente, nos seus pais, na nossa pequena família de amigos, na praia, na morte, em como tudo sumiu, como eu acordei e tudo parecia ter sido um sonho, no bilhete, na falta de memória de todos, na faculdade, nos estudos, no trabalho, em como eu já sabia de tudo e tinha ido muito bem na faculdade, nas vantagens que eu tive, na graduação, em como eu não conseguia tocar ninguém ou me deixar ser tocada em um nível mais íntimo, no meu isolamento, no meu apartamento, na distância dos meus amigos, na festa que conheci Costia, em nosso primeiro beijo, em seu sorriso, em seu toque, na nossa primeira vez, no quanto ela me deixava confortável e no quanto eu confiei tão facilmente nela. Pensei em nós, no meu trabalho, nos meus alunos, em cada um deles. Em como é amadurecer. Pensei na nova Eliza, pensei na pequena versão dela, ah... o Adam! Pensei no cigarro, na fumaça que saia da boca de Eliza, pensei em seus olhos e nos seus lábios, pensei na sensação que era toda vez que eles encontravam os meus, pensei que eu não conseguia lembrar disso com clareza, lembrei que eu poderia ter feito isso no sábado, lembrei no olhar de Costia, na garrafa de vodka, no jeito que ela olhou pra mim com tamanha decepção. Lembrei de suas palavras, do quão machucada ela parecia, lembrei dela saindo da festa daquele jeito transtornado e em como eu não fui atrás dela ou fiz algo pra impedir. Lembrei da garrafa de vodka em minha mão e do líquido em minha boca. Lembrei da boca de Eliza em outras que não eram a minha. Lembrei do olhar de decepção dela e em como ela foi embora. Lembrei do que eu senti e do que eu não senti. Lembrei de tudo de novo, de novo e de novo, eu não conseguia fastar os pensamentos, então, como se eu não tivesse vomitando o suficiente, vomitei de novo. E dessa vez eu não estava ligando quem olhava ou não, dessa vez eram lágrimas e gritos e vômitos e eu me sentia tão mal. Eu não me sentia tão mal assim desde que Eliza...

Eu jurei pra mim mesma que nunca mais me sentiria daquela forma de novo.

Falhei.

Agora eu estava com raiva de mim mesma e em como eu decepcionei todo mundo. Em como eu afastei meus amigos de mim, que, na verdade, eram minha família. Em como eu nunca mais tinha visitado meus pais, em como eu tinha enganado Costia esse tempo todo, em como eu tinha me enganado esse tempo todo. Mas eu gosto dela, caramba, eu gosto dela tanto.

Eu preciso consertar isso.

Agora eu vou fazer certo.

Agora eu vou dar tudo de mim pra você, Costia.

Costia.

Me perdoa!


Notas Finais


LINKS:
Say Something: https://www.youtube.com/watch?v=-2U0Ivkn2Ds
Playlist da temporada passada: https://open.spotify.com/user/12174958689/playlist/7f1TI1dHB6tCI0LGhJ7GgC
Playlist pra esse capítulo: https://open.spotify.com/user/12174958689/playlist/19IRu9uKfwJuuVGkg1iXMk

Espero que tenham gostado, falem comigo sobre, comentem, gritem, reclamem, tô aqui por vocês <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...