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História Universo em conflito - Você não precisa de máscara para ser herói


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 14 - Você não precisa de máscara para ser herói


Ela estava morrendo de medo, mas ainda assim tentou falar com sua mãe só mais uma vez. As duas estavam tomando o café da manhã sozinhas, já que seu pai tinha saído para trabalhar mais cedo.

- Mãe, eu não preciso mais trabalhar com a Srta. Duister!

- Sim, você precisa. Está muito rebelde ultimamente, agora deu até para colocar seu pai nesse assunto!

- Mas só ele tá me entendendo nessa casa! Não agüento mais!

- Um dia você vai entender.

A moça não queria entender aquilo, queria apenas poder ser ela mesma.

- Eu não vou trabalhar hoje, cansei. – Falou cruzando os braços e batendo um pé.

- Você não tem que querer. É menor de idade e vive sob o meu teto!

- Meu pai não quer que eu continue!

- Mas você saiu do meu útero, então vai fazer o que EU mandar.

- Não, isso eu não vou fazer mesmo! Pára de me tratar desse jeito, eu não agüento mais e pronto!

Um tapa foi desferido em seu rosto. Luiza logo recuou a mão chocada com o que tinha feito, mas não tinha mais volta.

- Me entristece muito você agir dessa forma! Não é assim que eu quero a minha filha! Você vai continuar trabalhando com a Srta. Duister e eu vou falar para ela ser mais severa com você!

Mônica correu para o quarto chorando, sentindo-se sozinha e desamparada. Não importava o que fizesse, ela nunca seria boa o suficiente e sua mãe nunca ia amá-la. Para ser amada, ela teria que se transformar numa criatura sem opinião nem personalidade. Só que isso ia contra seu jeito de ser. E sua mãe não gostava do seu jeito de ser e nunca ia gostar. Não havia outra solução para ela.

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Enquanto trabalhava, Cebola não parava de pensar na Mônica. Ele não tinha notícias dela desde o último dia de aula e nem podia ligar porque não tinha telefone em casa. Rosália e Rômulo só usavam celular pré-pago. E ele não tinha autorização para usar o telefone da lanchonete a não ser em casos de emergência.

“Eu preciso saber como ela tá!” pensou sentindo um aperto estranho no coração. Alguma coisa estava errada, embora ele não soubesse o quê.

O movimento caiu um pouco e ele parou para descansar. Mônica não saia dos seus pensamentos de jeito nenhum, lhe causando uma sensação ruim.

“Eu tenho que vê-la de qualquer jeito, ainda hoje! Mas como?” o rapaz que trabalhava no turno da manhã ficou doente e ele estava tendo que trabalhar em tempo integral. Depois do expediente ele tinha que ir para casa, pois Rosália não tolerava atrasos. Poderia levar dias até que ele pudesse visitá-la, mas algo lhe dizia que não podia esperar tanto tempo.

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Não era preciso portas ou janelas para saber o que estava acontecendo naquela casa. Ele podia ver tudo através das paredes apesar de ser muito difícil e desgastante.

“Ele precisa chegar logo ou será muito tarde!” pensou ao ver o que aquela moça estava fazendo. “Tenho que continuar insistindo!”

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A hora do almoço estava chegando. Depois era hora de ir trabalhar com a Srta. Duister. Mais um dia horrível ao lado daquela mulher tenebrosa e Mônica não agüentava mais. Se fosse somente isso, ela até poderia fazer algum esforço, porém lhe doía muito saber que tudo aquilo estava acontecendo porque sua mãe não lhe amava e não era capaz de lhe aceitar.

Ela não podia mais ser ela mesma e a pessoa que era obrigada a ser não valia a pena. Nada mais valia a pena.

- Mônica, sua mãe falou que não vai poder almoçar com a gente, mas vai vir te buscar no horário de sempre. Você tem que estar pronta. E menina, não fica assim não!

- Não se preocupe, Durvalina. Eu vou ficar bem, prometo.

A empregada foi cuidar dos seus afazeres e ela correu para o banheiro do quarto dos seus pais. No armário havia uma gaveta somente de remédios e itens de primeiros socorros. Eram muitas caixas e ela foi examinando uma a uma até encontrar a que queria. A tarja era preta, mostrando que era um medicamento controlado. Bem, ela estava mesmo precisando controlar algumas coisas.

- Hoje eu não vou ver a Srta. Duister. Nem hoje, nem nunca mais!

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Quando chegou a hora do almoço, Cebola montou sua bicicleta e correu em disparada para a casa da Mônica. Aquela sensação estava cada vez pior e ele tinha certeza de que ela estava em perigo. Não dava mais para ignorar.

- Hein? Cebola? O que faz aqui? – Durvalina perguntou surpresa ao ver o rapaz naquela hora.

- A Mônica está? Preciso falar com ela urgente! – a mulher ficou sem jeito.

- Ela não tem andado muito bem esses dias, sabe? Deve estar no quarto descansando e acho melhor não incomodar. Coitadinha, ela não quer sair dali nem pra comer!

- Eu preciso falar com ela! – o rapaz insistiu.

- Melhor outro dia e... espera, você não pode ir entrando assim!

Cebola driblou a empregada e correu para dentro de casa indo direto para o quarto da Mônica.

- Mônica? Você tá aí? Sou eu, o Cebola! Preciso falar com você!

Nenhuma resposta. Durvalina veio atrás ofegante com a pequena corrida. Ele continuou insistindo.

- Mônica? Caramba, ela não atende! – Durvalina também bateu na porta e chamou.

- Mônica? Você está aí? Oi? Ela deve estar dormindo.

- Não mesmo!

Ele tentou abrir a porta e viu que estava trancada, deixando a mulher preocupada.

- Ela não tem o costume de trancar a porta! Ai minha nossa, o que está acontecendo?

- Você não tem as chaves?

- Não, acho que só ela tem. E agora?

Como ela não atendia, ele resolveu bater na porta com o ombro para ver se conseguia abri-la.

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Dentro do quarto ele observava a moça em seu sono profundo. O sono da morte. Será que ele ia ter que levar aquela alma? Do outro lado da porta o rapaz chamava de forma insistente, só que ninguém ia atendê-lo. Não se ele não fizesse nada.

A chave foi girada, destrancando a porta.

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Cebola investiu contra a porta novamente e dessa vez ela abriu, fazendo-o cair no chão. Ele levantou-se depressa e correu para a cama onde Mônica estava deitada.

- Mônica? Ei, acorda, vamos! – ele a sacudiu várias vezes. Ela estava desacordada e seu corpo parecia mole como o de uma boneca de pano.

Havia uma cartela vazia de comprimidos em cima do criado, junto com um copo com água. Não foi preciso falar mais nada.

- Durvalina, a gente tem que chamar a ambulância urgente!  

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No corredor do hospital, Luiza chorava copiosamente. Ela não se importava nem um pouco da sua maquiagem estar borrada e seus cabelos desgrenhados. A vida de sua filhinha estava por um fio e não havia nada que ela pudesse fazer. Durvalina tentava lhe consolar em vão.

- Luiza? Querida, eu estou aqui! – seu marido chegou e lhe deu um forte abraço fazendo-a chorar mais ainda.

- É tudo culpa minha, Luis, eu sou a culpada! Meu Deus, o que vou fazer se perder a minha filha?

O homem também chorou desolado, pois não conseguia nem pensar nessa possibilidade. Aquilo parecia um grande pesadelo do qual ele queria acordar o mais rápido possível.

Passado um tempo, que para eles foi como a eternidade, o médico foi ao seu encontro.

- Doutor, por favor, diz que minha filha vai ficar bem! – Luis falou, pois sua esposa nem tinha forças para mais nada.

- Não se preocupem. Fizemos uma lavagem estomacal para eliminar os calmantes que ela ingeriu e aplicamos alguns estimulantes para cortar o efeito. Ela terá que ficar em observação hoje, mas creio que amanhã receberá alta.

Os dois desabaram no banco do corredor chorando de alívio.

- Obrigado, doutor! Muito obrigado! – Luis agradeceu várias vezes. – Podemos ver nossa filha?

- Sim, ela foi mandada para o quarto. Mas está inconsciente no momento. Espero que entendam.

Mônica estava deitada numa cama recebendo soro na veia, o que deixou o casal com o coração em pedaços. O que eles tinham feito com sua filha amada?

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Cebola perdeu a hora do almoço e mal teve tempo de engolir uma coxinha antes de voltar ao trabalho. Ainda assim ele não ligou nem um pouco porque tinha conseguido impedir uma tragédia e era isso que importava. Perder a Mônica teria sido infinitamente pior, ainda que fosse um duplo.

“Droga, por que eu deixei passar batido sem fazer nada? Eu devia ter feito algo para ajudar, caramba! Isso não tá certo!”

Sua consciência pesava muito porque ele já tinha visto que ela não estava bem e não fez nada usando o DC como desculpa. Fazendo assim, ele estava agindo como seu duplo que só pensava em si mesmo e não ligava se os amigos estavam ou não sofrendo.

“Rosália que se dane. Quando a Mônica sair do hospital, vou dar um jeito de ir falar com ela.”

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Chegar em casa era sempre um alívio. Rosália sentia o corpo pesado e só um bom banho poderia resolver aquilo. Pelo menos Cebola estava dando conta do serviço da casa, pois ela sozinha não ia agüentar tudo aquilo. Era muita coisa sobre seus ombros.

Falando no Cebola, ele estava tirando o pó de alguns bibelôs e ela resolveu avisá-lo do seu compromisso no fim do mês.

- Cebola, venha aqui agora!

- O que foi, tia? – respondeu com a mesma empolgação de quem era chamado para limpar uma fossa.

- É o seguinte: A Srta. Duister vai dar uma festa no dia trinta de julho, mas o garçom que ela contratou não vai poder aparecer e eu sugeri que você fosse no lugar dele.

O rapaz levantou as sobrancelhas. Srta. Duister? Aquela mesma tia caretona que visitou a sala do diretor outro dia e da qual todos tinham medo? Então Rosália trabalhava para ela? Mundo pequeno aquele...

- Peraí, e a faxina da casa? – ela levantou uma mão para interrompê-lo, pois estava cansada demais até para praguejar.

- A casa está limpa. Se for o caso, deixa para a próxima semana. Agora deixa eu ver uma coisa.

Ela o examinou e ficou satisfeita ao ver que seus cabelos estavam bem cortados, muito melhor do que aquele abacaxi que ele deixava crescer em cima da cabeça. Os hematomas do seu rosto estavam sumindo e se fosse o caso, dava para usar base corretiva.

- É, vai servir. Se trabalhar direito, prometo não deixar o Rômulo te bater.

Com aquela decisão tomada, ela foi tomar um banho feliz por ter conseguido resolver aquele assunto. Foi graças a sua sugestão que a Srta. Duister lhe dispensou mais cedo apesar das reprimendas da sua mãe, aquela velha chata e rabugenta.

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Antes de se recolher, ela passou no quarto dos seus pais para lhes servir o chá que eles costumavam tomar todas as noites antes de dormir.

Seu pai já estava na cama e sua mãe tinha terminado de colocar a camisola.

- Mãe, pai. Trouxe o seu chá. – ela falou com muita formalidade. – Como sempre?

- Sim, como sempre. – sua mãe respondeu deitando na cama ao lado do marido e recostando no travesseiro.

Ela serviu o chá para cada um com pequenos biscoitos do tipo água e sal. Geralmente eles comiam um ou dois, cada. Não mais do que isso. A filha odiava aqueles biscoitos que não tinham gosto de nada, mas os pais só compravam daquele tipo.

- A senhora está bem, mãe? Parece cansada.

- Não é nada, só tive um dia cheio.

Seu pai já tinha caído no sono e a mulher foi dormir também. Ambos pareciam frágeis, dois corpos decrépitos que mal se agüentavam.

Ela saiu do quarto com a bandeja e a levou para a cozinha onde Rosália ia lavar e guardar tudo no dia seguinte. A casa estava escura e silenciosa, fazendo alguns barulhos aqui e ali por ser antiga. Ela contemplou pela janela a noite sem lua com aquelas estrelas apagadas no céu.

Do lado de fora tinha uma vegetação ressecada, árvores mortas e poucas ervas daninhas que insistiam em crescer naquele terreno quase estéril. Tudo estava secando e morrendo, o que não era bom. Graças à arrogância daquele velho, o planeta estava definhando aos poucos. Dentro de algum tempo, tudo ia apodrecer e morrer. Ela não podia deixar que isso acontecesse, pois ia comprometer muito os planos.

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Por volta das nove da manha, Luiz e Luiza chegaram do hospital trazendo a Mônica. Ela ainda estava fraca e um tanto grogue, por isso eles não falaram nada a não ser palavras gentis. Luiza a levou para o quarto e junto com Durvalina, lhe ajudou a trocar de roupa e deitar na cama para que pudesse descansar.

Ela ficou ao lado da filha por um tempo afagando seus cabelos e notou que os fios estavam ralos, opacos e quebradiços. E tinha até algumas falhas nos cabelos! E no lugar dessas falhas, a pele parecia irritada e vermelha.

Sua pele estava pálida e sem brilho, grandes olheiras cobriam seus olhos e pela primeira vez ela percebeu como sua filha estava magra. Talvez estivesse até com anemia. O que ela tinha feito com sua menina? Por que não percebeu antes o estrago que estava fazendo?

Ao ver que Mônica estava dormindo, ela foi para o quarto de casal onde o marido trocava de roupa para ir trabalhar.

- Como ela está? – perguntou quando a esposa entrou no quarto.

- Está dormindo agora. Mais tarde vou acordá-la para comer alguma coisa.

Ela sentou-se na cama e escondeu o rosto com as mãos, sentindo dor e vergonha.

- Como pude deixar isso acontecer? A culpa é toda minha, eu devia ter te escutado!

- Querida, não fique assim... eu também fui culpado porque não fiz nada.

- Mas a maior culpa é minha. Ela pediu várias vezes, você tentou conversar e eu não ouvi ninguém! E agora a pobrezinha está um fiapo, quase não a reconheço!

Ele sentou-se do lado dela.

- Às vezes fico me perguntando por que você se preocupa tanto em deixá-la dócil e obediente. A Mônica nunca foi malcriada, nunca nos deu trabalho. Tudo bem que ela tinha um gênio difícil quando criança, mas nada que fosse fora de normal!

- Eu... eu não sei... quer dizer, ah Luiz, nem eu consigo entender isso! Ela é nossa única filha, queria dar o melhor a ela, que fosse perfeita!

- Acho que isso só lhe fez mal. Agora ela pensa que você não a ama.

- Que absurdo, eu amo demais minha filha!

- Mas não consegue aceitá-la como ela é e tenta mudá-la o tempo inteiro. Claro que ela percebeu isso e pensa que não é boa o suficiente para ter seu amor.

Luiza voltou a chorar, pois não imaginava que estava causando tanto sofrimento a sua filha.

- Converse com ela, diga o que sente. Mônica sempre foi muito sensível e compreensiva, ela vai te entender. Não a deixe pensar que não é amada.

- Eu vou fazer isso, não posso deixar a pobrezinha desse jeito.

- Estou orgulhoso de você, querida! Nossa filha é mais importante do que regras bobas.

Ele deu um beijo na esposa, vestiu o terno e foi para o trabalho. Luiza ficou ali pensando consigo mesma. Luiz estava certo. A docilidade da sua filha quase teve um preço alto para todos. Ela não estava disposta a pagar preço nenhum por isso.

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- Magali? O que foi? – Cebola perguntou surpreso quando viu a ex-valentona chegando na lanchonete.

- Eu tô tentando ligar pra Mônica a um tempão, só que ela não atende. A empregada falou que ela tá doente, mas não explica nada direito.

Ele olhou para os lados e falou.

- Ela não tá doente não. Foi muito mais sério que isso!

Ele explicou brevemente o que aconteceu, deixando Magali a beira do choro.

- Eu não acredito que ela tentou fazer isso! Não pensava que ela estivesse tão mal assim!

- Mas tava e eu nem percebi. 

- Como eu faço pra poder ir ver ela?

- Tem que ser num horário em que os pais dela não estão. Eles são meio chatos, mas a Durvalina é gente boa e vai te deixar falar com ela. Você pode ir depois do almoço. Eu vou ver se arrumo um tempinho pra passar lá depois.

- Vou fazer isso. Aqui, você conversou com o Cascão sobre... você sabe...

- Falei com ele sim e ele disse que quer falar com você e fazer as pazes. – ele tirou o celular do bolso, que mesmo sem créditos tinha uma agenda com números. – Vou te dar o número e você liga pra ele. E fica tranqüila que ele é muito gente boa, vocês vão se entender.

- Valeu mesmo, cara.

Ela foi embora e ele voltou ao trabalho sentindo-se feliz em ajudar aqueles dois a fazerem as pazes. Podia ser uma forma de reunir a turma. Ele e Mônica já eram ligados e ela tinha se tornado melhor amiga da Magali. Sua amizade com o Cascão estava se fortalecendo novamente e tudo ia muito bem. Com o tempo, a turma ia se reunir de novo.



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