História UnKiss Me - Suga BTS - O dia que Min Yoongi ficou sem fala

Lá estava eu mais uma vez pensando em maneiras de afastá-la de mim depois de um momento de fraqueza. Julia tinha sido carinhosa e compreensiva como sempre, mas alguma coisa diferente tinha rolado naquele carro. Eu não saberia dizer o que exatamente, mas pude senti-la e reparar em cada um dos seus detalhes de uma maneira diferente. Sei lá, uma conexão estranha e gostosa. Eu nunca tinha transado daquele jeito antes, e eu nem estou me referindo a posição ou o fato de ter sido no meu carro. Era na forma como a gente se olhava, e na forma como cada toque era excitante, cada gemido era uma provocação. O corpo dela parecia ter sido moldado fielmente para receber o meu. Sua cintura tinha o encaixe perfeito para os meus braços se enroscarem. Suas pernas se enrolavam confortavelmente ao meu redor. Seus seios cabiam perfeitamente em minhas mãos. A curva dos seus lábios era uma pecinha do quebra cabeça pra minha boca. Aquilo era frustrante, mas eu nunca seria merecedor dos seus carinhos ou do seu corpo. Muito menos do seu amor.

Pelo menos não enquanto tivesse esse monte de problemas de merda na minha cabeça infernizando cada segundo do meu presente. Se eu me deixasse sucumbir por cada pensamento carregado de medo ou cada palavra ruim que minha família já jogou na minha cara, meu futuro estaria condenado e eu realmente fracassaria. E por mais que Julia quisesse me ajudar ela não pode mudar tudo sozinha, só eu consigo e pra ser bem sincero... não sei se seria realmente capaz de melhorar.

Eram mais ou menos oito e meia da manhã, eu tinha decido pra tomar meu café e enquanto comia não conseguia parar de pensar na noite que tivemos a poucos dias atrás. Eu tinha conseguido afastá-la, mas estava começando a desejar que ela desse o próximo passo pra nos aproximar de novo. Só que o próximo passo dela não era bem com o objetivo de nos aproximar. Julia entra na cozinha vestida com uma camiseta e calça jeans, sorri singelamente e para de pé ao lado da mesa.

- A culpa é minha! - ela fala e me estende um envelope.

Ao retirar o conteúdo de dentro do envelope eu passo os olhos rapidamente pelas páginas que ela me entrega.

- Está falando sério? - pergunto incrédulo segurando firmemente os papéis. Tento manter ao máximo minha expressão inalterada de sempre.

- Eu causei tudo isso, eu o forcei a tudo. Agora estou assumindo total responsabilidade pelos meus atos.

Leio mais uma vez os termos formais e confusos usados naquele texto infindável, mas o título era bem auto explicativo: Pedido de Divórcio em Cartório.

- O que está acontecendo? Seu pai sabe disso? - eu estava perdido com tudo aquilo. Jamais imaginei que ela pudesse fazer tal coisa.

- Não se preocupe, eu já conversei com ele e a sua dívida está quitada. Eu prometo que não vamos mais te incomodar ou tocar no assunto, está em uma das clausulas do divórcio. Fiz questão que fosse incluído.

Ela não estava sendo fria comigo, pelo contrário. Estava sendo muito amável, mexia as mãos com calma me explicando tudo. Falava baixo, sem pressa, atenciosa. Quando eu olhava em seu rosto ela meneava a cabeça em afirmativa, como se estivesse me incentivando a fazer algo.

- Mas... eu não entendo... foi ideia dele? O que foi Julia?

- Não, meu pai não tem nada a ver com isso Yoongi – o que aconteceu com tigrão? - Eu não quero que nós percamos anos da nossa vida por causa de uma besteira tão grande que eu causei - besteira? - Não quero mais que atrapalhemos um ao outro - atrapalhar? Um ao outro? Eu a atrapalhava?

Tudo que ela dizia com calma e carinho só servia pra me dar uma sensação horrível na garganta, fazendo meu estômago revirar mil vezes pior do que no dia que nos casamos. Quanto mais ela falava, mais eu sentia meu cenho franzir.

- Eu também quero que a casa fique com você... - wtf? eu ia interrompe-la mas de uma hora pra outra ela pareceu bem autoritária - É meu pedido de desculpas oficial. Eu não iria aguentar ver você sem um lugar pra ficar de novo, que nem quando saiu da casa dos seus pais.

- Não vou aceitar isso. Ainda tenho meu orgulho.

- E eu criei o meu orgulho também. Não posso deixar que você fique na rua por minha causa. Eu já arrumei um lugar pra mim, bem menor já que vou estar ocupada com coisas da faculdade vai ser o ideal pra mim. E a casa fica como desculpas...

Essa droga de desculpas de novo!

- Você fala como se tivesse me torturado.

- De certa forma foi o que aconteceu... eu praticamente forcei meu amor por você goela a baixo - ri parecendo envergonhada - Me desculpa, eu era mesmo uma menina sonhadora. Ainda sou uma menina, mas acho que estou mais com os pés no chão agora. Estou aprendendo a acreditar em sonhos possíveis. Você me ajudou muito - a não fala isso cara - Cresci muito por sua causa Min Yoongi.

Ótimo! Mais uma pessoa que consegui amargurar. Não acredito que consegui deixar uma pessoa tão otimista quanto Julia tão amarga quanto eu.

- Acreditar em sonhos possíveis? O que isso quer dizer? Que você me superou?

Julia parece considerar as questões por um momento. Analisa bem minhas feições, sinto seu olhar em cada um dos meus traços, mas a conexão que tivemos no carro não estava ali. Ela me olhava diferente agora, diferente de todas as vezes que sempre me olhou por anos. Era um olhar de compaixão, não de amante.

- Gosto muito de você - entorta a boca pro lado - mas não tenho mais certeza do que eu sinto.

Eu desvio meu olhar, volto a encarar os papéis sem ler ou formar nenhuma palavra a minha frente. Espero aquela sensação esquisita passar pra poder tentar esboçar alguma reação. Como ela podia deixar de me amar depois daquela transa? Tá certo, eu a afastei, menti que não lembrava de nada. Mas aconteceu, não é possível que só eu tenha sentido tudo que eu senti ali. Aquilo só foi tão bom por que foi mutuo, eu tinha certeza.

- Se você quiser pode conversar com os advogados, tirar todas as suas dúvidas com calma, ele vai estar a sua disposição. Se tiver alguma coisa que você não concorde ele dará um jeito em tudo rapidamente pra que o processo não demore nadinha. Assim que você assinar já estará tudo acabado, eu prometo.

Quando ouço sua promessa em tom tão cordial e simplório a encaro na hora. Julia estava sorrindo e aquilo quase me deixa boquiaberto.

- Por que está sorrindo?

Da de ombros entrelaçando os dedos das próprias mãos, como uma menininha...

- Estou feliz por você conseguir o que queria - porra! aquela realmente acabou comigo. Eu entorto a boca e passo as mãos pelo meu rosto frustrado - Sempre vou torcer por você Min Yoongi. Sei que vai conseguir tudo o que merece. 

Ouvir ela fala daquele jeito doeu mais do que se ela tivesse dito que me odeia. Ódio pode ser revertido, esquecido, mudado, mas indiferença? "Te desejo toda a felicidade do mundo", por que longe de mim você não é importante o bastante nem pra que eu perca meu tempo te odiando. Era o que aquilo significava pra mim. Ou ela tinha ficado tão auto suficiente que mesmo depois de tudo que eu fiz ainda queria realmente me ver feliz? Era da Julia que eu tava falando... é claro que ela realmente iria querer me ver feliz, aquela menininha parece até a indomável sonhadora querendo fazer do mundo um lugar melhor. Jamais desejaria mal pra ninguém.

Sem obter nenhuma resposta minha, ela lentamente começa a se afastar.

- Bom... eu vou subir e terminar de empacotar minhas coisas – avisa indo em direção a porta da cozinha.

- Você já vai se mudar? – pergunto ainda mais surpreso.

Talvez eu tivesse entrado em estado de choque com todas aquelas informações repentinas. Não sei, mas não estava no meu estado normal com certeza. Julia só afirma que sim com a cabeça e corre pras escadas.

(...)

Ela tinha passado o dia inteiro dentro do quarto que deveria ter sido nosso. Eu estava no andar de baixo, ouvindo coisas sendo arrastadas, ouvindo as musicas que ela tocava no celular, ouvindo ela se empolgar e cantar junto. Não sei se ela estava limpando, se divertindo ou só fazendo as malas mesmo. Só sabia que uma inquietação fora do normal me atingiu em cheio e eu não conseguia ficar parado. O que eu ia fazer dali pra frente? Como iria ficar naquela casa sem ela? Era tão estranho pensar assim. Tudo ali tinha a cara dela direta ou indiretamente. Eu não conseguia imaginar como seria sem os olhares constrangidos e jantares em frente a tv. E pra onde ela iria? Ela era só uma menininha... ia morar sozinha? E quando tivesse tempestades? Eu não estaria por perto, como ela ia ficar a noite? Ela não dirige, daqui a pouco tem que começar a faculdade. Se o lugar que ela morasse fosse longe dos estudos, ela não pode voltar sozinha... Eu não posso deixar que a Julia fique desamparada assim. 

Enquanto andava de um lado pro outro, mal percebi ela descendo as escadas com algumas malas em mãos. Só interrompi meus passos quando Julia parou no ultimo degrau. Eu olho pro relógio da sala, eram nove e quarenta da noite. Perdi meu dia todo assim?

- Eu chamei um carro pra me levar pro meu novo apartamento – agora parecia um pouco constrangida – Deixei o quarto arrumado pra você. Achei que ia querer ficar com a suíte.

Que saco cara! Tudo que ela tentava fazer pra melhorar a situação só piorava tudo. 

Enquanto eu ainda pensava em alguma coisa pra dizer, a campainha toca. Rapidamente Julia corre pra atender e era o tal motorista que ia levar ela embora. Os dois trocam algumas palavras e o cara altão sobe pro quarto, em dois minutos desce de novo com três caixas de papelão empilhadas. Tão rápido quanto entrou, ele sai pela porta em direção ao carro estacionado em frente a casa.

- Eu não tenho muito o que levar embora, a maioria vai ficar aqui – ri baixinho, mas eu não a acompanho. E de novo o constrangimento cai sobre nós – Eu já vou então...

Quando se vira pra sair pela porta com duas malas em mãos eu paro ao seu lado, segurando levemente sua mão livre.

- Você não precisa ir embora assim... com tanta pressa.

- Quanto mais rápido eu for, mais rápido você fica confortável aqui – sorri acariciando minha mão.

Piorando tudo “parte 2”.

- Pra onde você vai?

- Um lugar pequeno. Um pouco mais longe do centro e mais perto da faculdade.

Parece que ela tinha planejado aquele dia inteirinho pra me deixar sem fala. Eu simplesmente não conseguia formular uma frase que a respondesse. Nem meu sarcasmo natural eu tava conseguindo vomitar pela boca. Ela tinha me desarmado completamente.

- Se cuida ta? Cuidado pra não ficar gripado – se desvencilha aos poucos da minha mão – E... Yoongi... me desc...

- Shh... – a interrompo sentindo uma pontada na boca do estômago – Não pede desculpa Julia... – abaixo a cabeça, sem coragem de encará-la – Se não fosse por você eu estaria preso a um ano.

Ficamos em silêncio por um minuto inteiro. Os olhos focados nos nossos pés.

- Ei... – ela chama baixinho – Essa semana fizemos um ano de casados – da um risinho bobo, irônico, sem humor. Depois eu vejo em câmera lenta enquanto ela tira a aliança do dedo – Feliz aniversario tigrão.

Piorando tudo “parte 3” – o final.

Julia aperta o anel entre os dedos e nossos olhares se conectam no instante seguinte.

- Você está diferente menininha...

Ela comprimi os lábios e encolhe os ombros ao mesmo tempo.

- Espero que isso seja uma coisa boa agora.

Afirmo que sim com a cabeça, mais uma vez sem força nenhuma psicológica pra juntar qualquer palavra ou me explicar de qualquer forma.

- A gente se vê – acena e se apressa porta a fora, mesmo com duas malas em mãos.

Ela acenou... um simples aceno... nem um beijo de despedida... “a gente se vê”... simples assim. Julia entrou no carro e foi embora.

Quando foi que ela ficou tão forte? E quando foi que eu me senti tão imbecil quanto naquele momento?