História UnKiss Me - Suga BTS - Daqui pra frente

Aquele lugar estava uma bagunça de becas, quepes e pessoas bem vestidas. Todas rapidamente sendo conduzidas aos seus devidos lugares pelos organizadores do evento.

- Está tudo bem? – Helena pergunta sorrindo ao meu lado.

- Aham – aceno com a cabeça, mas continuo com o olhar longe.

Eu estava muito nervosa na verdade. Segurava o discurso firme em minhas mãos enquanto raspava os saltos do sapato no piso liso do salão. Minha beca preta e amarela roçava o meu joelho conforme eu me mexia e o fiozinho do quepe insistia em fazer cócegas no meu pescoço, aquele negócio era muito longo. Meu estômago chegava a doer com toda a ansiedade. Eu achava que as provas finais seriam a parte mais difícil, até me informarem que eu seria a oradora na formatura e teria que falar na frente de todos os formandos, familiares e membros importantes do conselho estudantil. Minha cara com certeza era de ânsia de vômito. 

- Senhorita Lee – um dos organizadores me chama – Por favor, dirija-se ao seu lugar em frente ao palco.

Engulo em seco olhando para Helena que repentinamente tira uma foto da minha cara. Filha de uma p...

- Boa sorte amiga – ri fazendo joinha pra mim e logo se afastando.

Tremendo das pernas caminho desajeitada até o lugar que marcava “oradora” e me sento ereta como um robô com o discurso firme entre os dedos. Se eu pudesse pelo menos ver a carinha dele antes dessa cerimônia toda, já ajudaria um bocado. Suspiro inflando as bochechas só para tentar acalmar minha respiração, mas nada adianta.

Mais alguns minutos e a abertura da solenidade é feita com o reitor da faculdade. Ele falava, falava, falava e tudo que eu ouvia era “blábláblá, sua vez irá chegar Julia”. 

Todos se levantam para o Hino Nacional e eu canto no piloto automático.

Alguém entra para fazer um juramento e eu repito como uma macaquinha treinada. Jamais iria me lembrar do que prometi.

Um a um cada aluno formado pega seu diploma e tira uma foto. Naquele momento eu até pensei em sofrer um acidente, cair de cara no chão só para ter que me ausentar do restante do “ritual”, mas não tenho tanta sorte.

Após cada aluno se acomodar novamente em seu devido lugar o apresentador volta ao microfone e meu coração está uma bagunça de escola de samba. Era agora!

- Se formando com honras e excelente posição no ranking de medicina e no ranking geral da nossa faculdade, a oradora da turma deste ano: Doutora Lee.

Sob alguns aplausos eu respiro fundo e volto a subir no palco. Mesmo não o vendo, assim que tomo meu lugar no púlpito seu rosto é a única coisa que imagino na minha frente e quando respiro fundo dessa vez consigo manter a calma. Não tinha motivos para pânico, eu só tinha que falar a verdade. Quando minha voz soa pelo salão está calma e cristalina, sem falhas. 

- Após ouvir que uma pessoa é formada com honras e excelente posição no ranking ninguém espera que alguém como eu apareça para discursar – solto uma risadinha irônica - Sei que ninguém levaria a sério uma garota como eu, que só está aqui como oradora da turma porque fui a primeira da classe no ranking. Provavelmente pensam “O que essa podre garota rica tem pra falar? Com o sobrenome e o dinheiro que tem ela nem precisa de diploma”. Mas ninguém sabe das batalhas pessoais de alguém até se dispor a conhecer... até se abrir ao conhecimento. Seja no sentido de conhecer uma pessoa, conhecer lugares, estudando, conhecendo sua paixão ou até mesmo conhecendo a si mesmo. Muitos podem até ter razão sobre mim, não tenho muito que falar mesmo. Minha vida inteira eu passei estudando e o resto do meu tempo eu gastava com sonhos. Não eram sonhos de viagens grandes, coisas luxuosas ou dinheiro. A única coisa que eu queria era ser importante para alguém. Dentre todos os meus defeitos eu orgulhosamente posso afirmar que covardia não é um deles. Eu, essa garota rica e mimada, nunca tive medo de tentar alcançar esses meus sonhos e muitas vezes tropecei nos meus próprios pés para chegar lá. Trilhei caminhos complicados, tortuosos, estranhos e vergonhosos também. Mas, eu tentei. – comprimo meus lábios e encolho os meus ombros levemente – O medo é a única coisa capaz de nos colocar entre nossos sonhos. E eu só posso desejar que vocês tenham ao seu lado o que quer que lhes dê força para manter toda a coragem através de todo o medo que nos é inevitável sentir. Nós passamos pela faculdade, passamos por provações, mas eu ouso dizer que essa foi a parte fácil. Os tempos difíceis virão cedo ou tarde e eu espero que cada um se agarre ao que lhe da força – seus amigos, família, paixão – o que quer que toque seu coração e o faça aquecer, agarre-se a isso para ter coragem e sempre seguir em frente. Nossa vida pode mudar tanto em um ano, e para nós médicos a vida e a morte podem ser separadas apenas por um “bip”, só um segundo. Nós podemos mudar. Tomara que cada um de nós aqui tenha a sabedoria de ver a mudança como algo bom, porque somente com a mudança é que podemos evoluir, buscar novos conhecimentos e continuar avançando. Só hoje percebo que eu precisava ser importante para mim mesma antes de ser importante para alguém. Todos os meus defeitos, qualidades, escolhas e todo o meu tempo me trouxeram a esse momento agora, mas cabe a mim não deixar que minha vida se resuma a somente isso e fazer o “daqui para frente” valer a pena. A verdade é que eu não sou nenhum Aristóteles nem nenhuma Enheduana como podem ver. Sou só uma menininha sonhadora. Mas sonhos se realizam sim, então tenham coragem de segui-los, tenham esperança nos tempos difíceis e façam o seu melhor mesmo errando. Desse jeito, serão importantes para uma pessoa de cada vez e assim nós podemos fazer a diferença para muitos. Obrigada.

Imediatamente me afasto do púlpito e reverencio a todos querendo sair dali logo sem esperar nada, mas para minha surpresa aplaudem. Aplaudem bastante. Rio um pouco nervosa novamente, recebendo um aceno de cabeça do reitor e tropeçando levemente num fio de microfone saio do palco. Lógico que eu ia passar vergonha logo depois.

A formatura segue com todas as suas formalidades de sempre. Entrega das placas dos homenageados, discurso do paraninfo e encerramento do reitor. Depois do meu discurso até que consegui acompanhar melhor a cerimônia, mas mesmo assim tinha certeza de que não me lembraria de nada daquilo pelo resto da vida. É então que reparo no papel dobrado em minhas mãos que não foi aberto nem uma vez sequer. Eu tinha subido lá e falado aquele monte de coisas do nada. Meu Deus!

Rapidamente um burburinho começa entre os formandos. A maioria querendo se cumprimentar e tirar fotos, felizes pelo melhor momento de suas vidas. Eu sorria discretamente, recebendo cumprimentos e parabéns de algumas pessoas que convivi durante algum tempo. Estava feliz, claro, mas era uma sensação de alívio. Tinha mais esperança dentro de mim do que felicidade por ter cumprido essa parte do meu sonho. Esperança pelo o que estava por vir, pelo o que eu sentia ser capaz de fazer e por tudo que eu sabia que me aguardava cedo ou tarde.

- Você me fez chorar garota – Helena chega me abraçando após limpar a maquiagem levemente borrada e me faz rir um pouco alto.

- Você chora por tudo amor – Jimin revira os olhos logo atrás da esposa, exibindo um sorriso brilhante.

- Eu realmente não posso negar essa afirmação – ela faz uma careta pra mim ao se afastar.

- Parabéns Julinha – agora sou abraçada por Jimin – É tão engraçado quando te chamam de doutora.

- Ah você é um daqueles que não consegue me ver como médica.

- Claro que consigo, mas é que “doutora” é coisa de gente grande. Você é a Julinha.

- Mal posso esperar para tratar de você Jimin – estreito os olhos, um pouco ameaçadora.

- Credo Julia – me olha cabisbaixo, sendo amparado imediatamente pela esposa – Agora vou ter que passar a te chamar de doutora então?

- Só quando eu quiser – sorrio abertamente.

- E ai, o que falta fazer agora? – Helena muda de assunto.

- Acho que nada. Meu trabalho aqui acabou realmente – dou de ombros, abrindo a beca e exibindo meu vestido preto rodado.

- Já falou com todo mundo que tinha pra falar?

- Eu só tenho vocês pra falar – rio novamente, mas nenhum dos dois me acompanha.

O que eu poderia fazer? A verdade é que Julia nunca seria uma pessoa de muitos amigos mesmo. Era preciso sacrificar muitas coisas para manter o primeiro lugar do ranking.

- Julia – ouço uma voz grave me chamar e me viro imediatamente.

- Namjoon! – respondo surpresa – O que faz aqui?

- Ainda sou bem requisitado pela reitoria dessa faculdade. Tenho acompanhado de longe seus méritos por aqui, quis te desejar parabéns e boa sorte – sorri levemente exibindo suas covinhas sempre lindas.

- Obrigada – retribuo o sorriso – Eu nunca mais o vi por aqui, não achei que ainda era tão requisitado.

- Me fiz de invisível, você deixou bem claro que queria distância de mim. Achei que poderia relevar o dia de hoje – ele estende um buquê de flores singelo na minha direção, algo que eu não havia notado que ele carregava.

- Que isso Namjoon, não precisava – aceito as flores um pouco constrangida – Não precisava ter feito nada disso. Eu não te odeio.

- De qualquer maneira, eu sempre soube que você conseguiria se sair bem. Aqui era o seu lugar. Parabéns.

- Eu nem teria conseguido entrar aqui se não fosse por você, então, muito obrigada. Por tudo – enfatizo a ultima palavra, esperando dar um peso geral ao seu significado.

Eu era muito grata pela presença relâmpago do meu professor particular na minha vida. Namjoon tinha sido alguém importante.

- Mérito seu Julia. Nunca tire seus méritos – ele acena com a cabeça.

- E está sozinho? Por onde anda Hye-Kyo?

Pergunto sem um pingo de ironia, mas com uma grande pitada de curiosidade em saber no que toda aquela história tinha dado. Afinal, vôlei infelizmente virou um hobby depois de adentrar a faculdade. Eu nunca mais a tinha visto depois daquele dia.

- Nós terminamos tudo a mais de um ano atrás, mas passamos bons momentos juntos por algum tempo.

- Uau, foi sério então!

Ele apenas afirma com a cabeça.

- É, agora estou conhecendo outra pessoa. Ela disse que te conhece também – olho-o confusa esperando que continuasse – Yoon-he.

Praticamente engasgo na minha própria saliva. Helena não estava diferente atrás de mim, ouvindo a conversa inteira. Era só o que me faltava. Kim Namjoon e Yoon-he.

Até que fazia sentido... na verdade, pensando bem, fazia todo o sentido do mundo.

- Sim, eu conheço bem a Yoon-he – respondo rindo – como é que vocês se conheceram?

- Trabalho. Ela precisava contratar alguém que participava do Mensa e chegou até o meu nome através de Min Yoongi. Uma coisa levou a outra.

Agora eu engasgo de verdade, juntamente com Helena, mas Jimin não parecia esboçar nenhuma reação além do riso. As vantagens de ser o melhor amigo do Yoongi.

- Eu não acredito – é a única coisa que eu consigo responder.

- Pois é, também fiquei surpreso na época – mais uma vez exibindo suas covinhas charmosas.

Min Yoongi e suas surpresas.

- Bom, mande minhas lembranças a ela. Agora sim você encontrou alguém a sua altura Kim Namjoon.

- Você sempre esteve...

- Eu sei – interrompo cordialmente com um sorriso – não estou me desmerecendo, juro. Sei que nossas imperfeições não se encaixaram, só isso.

- É – ele concorda e estende a mão pra mim – Boa sorte Julia e parabéns.

- Obrigada – aperto sua mão por um longo momento – eu adorei as flores.

Com um aceno ele se despede. Namjoon sempre seria uma boa lembrança enfim. Quando me viro para os meus amigos novamente dou de cara com outra pessoa atrás dos dois. Lee Byung-hun estava parado um tanto quanto próximo de nós três. Nos fitamos por longos minutos, ele aparentemente esperava algum tipo de permissão para se aproximar. Tinha em mãos um buque de flores também. Não é como se em todo esse tempo ele não tivesse tentado retomar as coisas, mas eu nunca tinha visto qualquer tipo de mudança significativa de sua parte. Eu sabia que meu pai queria mesmo é que tudo voltasse a ser como antes, o que nunca iria acontecer. Só que eu nunca poderia mudar o fato de que ele era meu pai. Como Yoongi dizia: família é família. Acho que poderíamos ser cordiais um com o outro. O grande empresário Lee Byung-hun tinha tirado um tempo de sua agenda para comparecer a formatura da filha única, aquilo era um gesto e tanto vindo dele, eu tinha que reconhecer.

- Nós esperamos você lá fora Julia – Jimin anuncia puxando Helena pela mão.

Meu pai se aproxima finalmente. Em silêncio me entrega o buque de flores, o qual equilibro no braço junto com as flores que recebi momentos antes. As coisas estavam estranhas. Eu não tinha nada para falar e ele não tinha o menor jeito para falar qualquer coisa que não tivesse a ver com números e reuniões da empresa. O famoso senhor Lee jamais pediria desculpas, jamais diria que sentiu saudades, jamais diria que está orgulhoso, muito menos declararia seu amor nem à própria filha nem a ninguém. Então ficávamos assim.

Até que...

- Você está parecida com a sua mãe – ele diz sério.

Simples assim ele me diz a melhor coisa que poderia me dizer num dos dias mais importantes da minha vida. E seu olhar era de admiração. O que me faz pensar: meu pai nunca mais se casou depois que tudo aconteceu. Ele deveria amar mesmo minha mãe. Desajeitadamente deixo que o senhor Lee me abrace e murmuro um breve “obrigada”. Logo em seguida, evitando prolongar o momento constrangedor meu pai fala que tem que resolver negócios e vai embora.

Sigo o fluxo de pessoas até o lado de fora do salão tentando olhar onde pisava naquele jardim lateral enorme. Algumas pessoas continuavam suas sessões de fotos ali fora, vários grupinhos pequenos conversavam, mas a maioria já se dispersava querendo ir logo para a provável comemoração. Já eu tentava encontrar Jimin e Helena. Caminho até a frente do lugar, vendo vários carros estacionados na rua tentando reconhecer o dos meus amigos. Paro sobre a grama verde, tento caçar meu celular entre os compartimentos da beca, mas meus movimentos paralisam no meio do caminho. Franzo o cenho para a cena que me chama atenção.

Com dificuldade a pessoa tenta sair de um carro preto grande, que parecia ser bem luxuoso. Tentava a todo custo tirar alguma coisa do banco de trás consigo. Depois de tanto puxar e se arrastar para fora ele sai e bate a porta. Arruma o cabelo preto levemente, aperta um pouco mais o nó da gravata e segura o ursão marrom junto ao corpo numa verdadeira pose cinema. Yoongi sorri pra mim abertamente, com sua melhor pinta de galã cheio de swag. Eu não consigo evitar uma risada sonora. 

Em passos lentos ele caminha em minha direção até parar à minha frente.

- Achei que estava na hora de te devolver esse ursão – balança o bicho de pelúcia, chamando ainda mais atenção de algumas pessoas.

- É mesmo? Estava na hora? – sorrio abertamente, dando mais um passo a frente.

Ele responde com um aceno de cabeça e me olha de lado. Um olhar que me faz derreter como se eu tivesse chegado muito perto do sol.

- Sabe, por mais que eu ame nossos encontros esporádicos – sorri malicioso – eu quero mais.

- Quer é? – pergunto completamente boba, tentando conter o sorriso mordendo meu lábio – Você falou que não conseguiria vir hoje.

- Quis fazer uma surpresa. Começar de um jeito certo dessa vez – da de ombros como se aquilo não fosse nada de mais.

- Sei. Então você chegou no final da cerimônia? 

- Claro que não, acha que eu ia perder seu discurso? Aliás, acho que eu deveria levar algum mérito por isso – arranca mais uma risada de mim – eu só vim aqui fora pra pegar esse ursão pra você.

Àquela altura eu já estava quase me desfazendo dos buques no meu braço. Com a mão livre acaricio o pelo fofinho do urso gigante.

- Eu senti falta dele mesmo. Senti falta dos dois. O urso e o tigrão.

É a vez dele rir e dar mais um passo a frente, quase colando o urso a mim.

- Você acha que já fez tudo que deveria fazer? – pergunto.

- Acho que cumpri a parte mais difícil. Começar e estabilizar tudo. Abri um selo, tenho uma gravadora sólida, músicas sendo tocadas em rádios, artistas que querem trabalhar comigo, artistas que querem crescer comigo. Isso foi além do que eu sonhei e agora vou trabalhar mais pra manter o nível de qualidade e alcançar pessoas que se identifiquem com o que eu quero passar – ele falava sério, sereno, tranqüilo, quase como se estivesse aliviado em me dizer tudo aquilo – Foram anos longos, mas tenho uma relação boa com meu pai de novo. Minha mãe disse que eu me tornei uma pessoa da qual ela se orgulha. Meu irmão disse que honrei o nome da nossa família.

- Eu sabia que você conseguiria tigrão. Você merece isso tudo e muito mais. 

- Eu quero muito mais. E esse “muito mais” é só você que pode completar menininha – suspiro pesadamente, sentindo meu coração querendo transbordar – É ótimo ver que meus esforços resultaram em algo sólido, mas eu sinto falta das suas incertezas na minha vida. Quero poder compartilhar todo meu crescimento com você. A única pessoa que acreditou em mim desde o início. Nada vai ter o peso e o valor que eu esperava sem a minha esposa do meu lado.

- Eu sempre estive do seu lado, acompanhando todo seu sucesso tigrão.

Ele acena mais uma vez com a cabeça, querendo dizer “eu sei”.

- Acima de tudo, eu quero estar do seu lado agora. Quero que você compartilhe comigo sua vida e tudo que está por vir. Achei que a sua formatura seria o final pra um começo perfeito. Então... queria saber... – seus olhos me encaram com expectativa agora – você acha que está na hora Julia? 

Meus olhos só conseguem viajar por cada detalhe de todo seu rosto de traços limpos. Seus lábios bem desenhados e a forma como ele umedecia à todo momento. Seu nariz fino. Seus olhos pequenos bem abertos esperando minha resposta.

- Eu fiz você esperar demais? Você não sente mais o que sentia? Eu to na friendzone? Sei que as coisas demoraram muito mais do que o esperado, mas tudo só serviu pra sentir ainda mais sua falta. Só falta você Julia... só...

- Shiu! – o interrompo, afastando o ursão um tanto quanto bruscamente – cala a boca tigrão – murmuro segurando a lapela do seu terno puxando-o para perto e colando nossos lábios.

Assim que iniciamos um beijo largamos tudo que estava em nossas mãos para segurar um ao outro. O urso de pelúcia e as flores caem ao chão e eu envolvo meus braços ao redor do seu pescoço, abraçando-o apertado. Sua respiração estava um pouco acelerada e seu aperto era firme na minha cintura sob a beca. Desaceleramos os movimentos das nossas bocas aos poucos até finalizarmos com um selar demorado, colando nossas testas.

- Uau! Minha menininha cresceu mesmo – ri levemente, mostrando seu sorriso gengival que fazia meu afeto crescer cada vez mais - Eu que estou orgulhoso de você Julia.

Seguro seu rosto entre as mãos, acariciando suas bochechas do jeito que eu adorava. Suas bochechas branquinhas que faziam seu rosto redondinho e perfeito. O rosto do meu primeiro amor. Do único amor.

- Obrigada tigrão.

Volto a abraçá-lo, dessa vez escondendo o rosto na curva do seu pescoço mesmo com o quepe atrapalhando um pouco. Aproveito cada detalhe. Eu sabia que aquele era o momento que um dos meus sonhos estava se realizando. Quantas pessoas têm a oportunidade de sacar esse momento na hora?

- Cof cof – alguém finge que estava pigarreando e eu não preciso erguer o rosto pra saber que era Jimin interrompendo meu momento – Então, acho que nossa comemoração furou né Lena? Provavelmente os dois vão querer comemorar sozinhos.

- Poxa, eu queria mesmo sair pra comemorar – ela reclama me fazendo rir.

Ao erguer novamente meu rosto não me dou ao trabalho de afastar os olhos do rosto de Min Yoongi, mesmo respondendo:

- Por mim podemos comemorar os quatro.

Ele ergue as sobrancelhas, não concordando tanto assim comigo. Sua mão grande acariciava levemente minha lombar sentindo o tecido leve do meu vestido.

- Nós vamos ter bastante tempo pra comemorar sozinhos daqui pra frente tigrão. Já esperamos tanto.

Animada Helena guia Jimin ao carro dos dois, já dando as coordenadas para o local onde iríamos jantar. Um pouco mais atrás Yoongi segura minha mão, entrelaçando nossos dedos. E parecendo dois deslumbrados continuamos trocando olhares bobos – os dele bem mais discretos – enquanto andávamos em direção ao carro novo dele arrastando o urso e as flores conosco.

- Sem arrependimentos menininha?

- Não – faço uma careta estranha, sem tirar o sorriso do rosto – Com arrependimentos. Muitos deles. Vergonhosos. Cheio de erros bobos. 

- Foram tantos assim?

- Sim, de nós dois Min Yoongi – a vez dele de me dirigir uma careta – mas pelo menos a gente pode dizer que aprendeu com eles. Eu sou agradecida por todos os nossos arrependimentos.

Discretamente ele ergue nossas mãos entrelaçadas e beija a minha antes de abrir a porta do carro para mim.

- E quanto a minha promessa menininha filosofa? Valeu a pena?

Fingindo pensar muito, parada e apoiada na porta aberta, respondo:

- Ainda temos o “daqui pra frente” tigrão. Quando estivermos com 80 e no fim de toda nossa vida juntos, eu te respondo.

- Vou esperar ansioso.

Tira o quepe da minha cabeça com a mão livre e joga em qualquer lugar dentro do carro. Em seguida desliza as pontas dos dedos pela minha bochecha, segura meu rosto  e sela nossos lábios mais uma vez num selar caloroso antes de se afastar. Começaríamos com um pequeno passo juntos.

FIM