— Angel... — Leiftan começou a falar, mas Nevra o interrompeu.
— Deixe-a. Ela quer arriscar a vida dela, que arrisque. Ela está caminhando para a própria morte.
Após Nevra e Miiko saírem da sala, Leiftan vem até mim.
— Não se preocupe muito — ele diz e então põe uma de suas mãos em meu ombro direito. — Talvez vocês tenham sorte e não encontrem perigo no caminho.
A tentativa de Leiftan me acalmar não adiantou muito, me deixou ainda mais preocupada, aquele "talvez" não era totalmente um não.
Faço uma breve reverência para ele e saio do local.
...
Foi a última vez que olhei para minha irmã antes de ser acompanhada até a sala de portas por um Nevra de expressão fechada, ele não me dirigiu a palavra até agora. Não havia ninguém ali ainda, então decidi começar:
— Vai mesmo agir deste jeito? Não vai falar comigo?
— Desista disso e eu falo com você — a sua voz saiu calma, mas ele não me olha, está de costas.
— Então nunca mais falará comigo — digo e então cruzo os braços, apenas ouço um suspiro alto vindo de Nevra, e logo passos. Os outros chegaram.
Valkyon trazia consigo algumas armas para a missão, passando por mim e fazendo um aceno de cabeça para Nevra.
— Espero que esteja preparada — Valkyon fala para mim.
— Claro — minto, a verdade é que estou morrendo de medo.
Este é um mundo diferente e pelo medo demonstrado pelos garotos, deve haver muitas coisas perigosas lá fora. Deveria desistir, mas... Viverei com a culpa pela morte de minha irmã.
— Vocês devem partir — diz Miiko entrando no local, ela mantinha as duas mãos atrás das costas, atrás dela vinha Ezarel a passos rápidos segurando um frasco com líquido dourado e uma média bolsa de pano marrom.
— Antes de irem, levem isto — Ezarel entrega a mim as duas coisas.
— O que é isto? — Pergunto olhando para as duas coisas em minhas mãos.
— Caso um de vocês se machuquem, isso pode ajudar, porém... — Ele para e dá dois passos para trás, olhando para todos na sala.
— Porém? — Nevra pede impaciente.
— Não sei se poderá funcionar nela, ela é uma humana pura.
Olho para ele confusa. Humana pura?
— Mas se funcionou em Alma, por que nela não funcionaria? — Valkyon se pronuncia depois de um tempo.
— Vocês sabem, Alma tem a maior parte do sangue herdado de sua mãe, Angel não.
Aquilo estava deixando-me cada vez mais confusa, parecia que estavam conversando em grego entre eles.
— Minha mãe não é humana?
— Você irá descobrir — Miiko diz, enquanto aproxima-se de mim. — Vocês deverão partir agora antes que a noite caia e tudo fique mais perigoso, será uma longa jornada de quatro a mais dias. Procurem alimentos saudáveis para ela, certifiquem-se de que ela não pegará nenhuma fruta envenenada. — Dessa vez, Miiko dirigiu-se aos rapazes. — Boa sorte.
— Obrigada — digo, demonstrando respeito.
— Não é questão de sorte — Nevra diz enquanto pega uma das armas com Valkyuon e sai andando.
Olho para Leiftan que está andando pela sala, quando ele surgiu? Não sei. Ele olha para eu e lança-me um curto aceno de cabeça.
Saímos daquele lugar e a enorme bola amarela brilha intensamente no céu, não ousaria chamar de Sol, vai que aquilo tenha outro nome naquela dimensão.
— Você sabe que apartir do momento em que colocou os pés para fora de lá, não pode mais voltar, não sabe? — Nevra diz de costas e ergue os ombros.
— Sei, Nevra.
— Vamos — Valkyon faz com que eu pare de olhar as costas de Nevra e começa a empurrar-me.
Assim a nossa caminhada começa, seria mais fácil se houvesse um meio de locomoção mais rápido, mas neste mundo parece não existir. Coloco a mão no pescoço para ter certeza de que o colar esteja comigo e está, já estava preocupada que o tivesse esquecido e preocupada também com o fato de realmente não poder entrar no QG depois de sair para essa missão (entrar novamente para pegar o colar).
Entramos direto em uma floresta, ao entrar nela realmente pareceu que a noite havia caído em um estalar de dedos, porém é apenas as grandes árvores e a alta vegetação fazendo uma sombra extremamente escura, apenas poucos raios de luz passavam pelas frestas das folhas das árvores.
Há muitas flores lindas e com formas diferentes, folhas de alguns "arbustos" douradas como se fossem folhas de ouro. Vejo uma grande flor branca com as pétalas caídas para baixo e seu miolo erguido com uma pequena bolinha amarela na ponta, seu caule chega a ser maior que eu. Ergo meus pés para tocar em suas pétalas, porém Valkyon segura meu braço.
— Não toque. Tanto suas pétalas quanto seu caule e folhas são cobertos por um liquido venenoso transparente.
Encolho-me e começo a andar a frente de Valkyon, é melhor que eu não toque em nada.
— Preste a atenção no chão também, não pise nas raízes vermelhas — Valkyon continua, apontando para uma raiz vermelha com uma fina linha prateada em seu meio.
— Por que? — Pergunto observando o chão, as raízes e as folhas secas caídas.
— São raízes de uma planta carnívora — Nevra diz atraindo minha atenção, ele está andando com sua arma apoiada em seu ombro esquerdo. — Você não quer acordá-las e também são extremamente feias.
Fico imaginando o quão feia poderia ser essa tal "planta carnívora".
— Você está assustada? — Nevra pergunta ao virar-se e observar minha expressão facial nada boa.
— Não, está tudo bem.
Estaria tudo bem se essa planta não me devorar durante a noite ou sei lá, aí sim.
— A única coisa que precisa fazer é ficar longe de problemas — Valkyon avisa e coloca uma de suas mãos grandes em meu ombro direito.
Desculpe Valkyon, mas eu sou um imã que atrai problemas.
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