História Unlikely • solangelo - Capítulo 4

NICO

O terceiro dia de Nico na enfermaria não foi muito movimentado. Will havia trocado seus curativos e afirmou que eles estavam cicatrizando bem; Solace o chamou de sortudo, já que se tivesse esperado mais um pouco a infecção poderia ter sido fatal. 

 Mas Nico não se considerava sortudo. Era difícil pensar assim quando era assombrado por lembranças do passado toda vez que fechava os olhos. Seus pesadelos pareciam piorar a cada dia que se passava, ficando cada vez mais reais. 

 Estava acostumado a ficar acordado pelo máximo de tempo possível mas seus poderes haviam o esgotado muito nos últimos dias então se sentia mais cansado que o normal. 

 Por mais que Nico tentasse negar ou ignorar, Will o ajudava. Era estranho como o filho de Hades conseguia conversar normalmente com ele, como se fossem amigos a anos. Uma sensação boa sempre tomava conta dele quando Solace estava por perto, o que era um pouco preocupante já que Nico não gostava de se apegar a pessoas. Quanto mais gente você tem, mais você pode perder, era praticamente seu lema. 

 No fim do dia, depois dos últimos exames e de conferir pela milésima vez que Nico estava “saudável” — estava um pouco desnutrido e seu corpo ainda estava se recuperando —, Will finalmente o deixou sair da enfermaria. Mas não antes de fazê-lo prometer não sumir de vista e sempre visita-lo. 

 — Acho que você está um pouco carente, Solace — Nico brincou, fazendo o outro dar risada. 

 — Apenas me prometa que você não vai sumir! Somos amigos agora e é sua função como amigo me visitar sempre que puder — Will disse e apesar do tom leve, dava para ver que estava falando sério. 

 Estranhamente, Nico também queria vê-lo com frequência. Não queria sumir de vista. Essa era sua segunda chance no acampamento e ter ficado amigo de Will com certeza já era um avanço.

 — Não vou sumir — Nico garantiu. — Afinal, você me prometeu uma maratona. 

 O sorriso que Will deu foi tão grande que Nico ficou preocupado que suas bochechas poderiam rasgar. 

 Foi estranho voltar ao seu chalé, o lugar parecia mais escuro agora. Nico tentou não pensar muito nisso. Já estava de noite então ele apenas tomou um banho rápido e se preparou para dormir. 

 No dia seguinte, acordou cedo por causa de mais um pesadelo. Se arrumou e colocou uma roupa normal antes de sair do chalé. O acampamento estava vazio, já que a trombeta do café nem havia tocado ainda. Resolveu treinar um pouco então caminhou até a Arena. 

 Haviam alguns bonecos de treino e Nico começou a usar sua espada para golpeá-los. Sempre foi bom de esgrima, era algo que vinha naturalmente para ele. Ficou acertando bonecos por meia hora até escutar alguém pigarrear as suas costas. 

 — Ei, posso me juntar a você? 

 Era Percy. Estava com sua caneta na mão e olhava ansiosamente para o mais novo. Os dois não conversavam desde que Nico confessou seus antigos sentimentos para o moreno. O filho de Hades deu de ombros, mas estava um pouco nervoso por dentro.

 Percy tirou a tampa da caneta, a transformando na sua espada Contracorrente. Os dois meninos empunharam suas armas e Nico deu um leve aceno de cabeça, sinalizando que poderiam começar. Percy deu o primeiro golpe e Nico bloqueou. 

 A luta se seguiu por um bom tempo, alguns cortes foram feitos, até que Percy finalmente conseguiu desarmar Nico. 

 O filho de Hades sentou-se no chão, com falta de fôlego. O pequeno corte que Percy fizera em sua bochecha ardia um pouco. Se Will estivesse ali, estaria ralhando com ele por estar lutando enquanto ainda não está totalmente recuperado. O pensamento fez Nico sorrir por dentro. 

 O filho de Poseidon sentou ao seu lado. Os dois ficaram em silêncio, recuperando seus fôlegos. 

 — Desculpa — Percy disse repentinamente. 

 — Pelo corte? Não foi nada... 

 — Não — ele o interrompeu, virando-se para encara-lo. — Por não ter percebido antes... ou se passei a impressão errada...

 — Não foi sua culpa — foi a vez de Nico o interromper, um pouco desconfortável com o rumo da conversa. — Fui eu que confundi as coisas e meus próprios sentimentos.

 — Mas eu deveria ter percebido. Sabe, as vezes posso ser um pouco lerdo com essas coisas... 

 — Só um pouco? — Nico brincou. 

 — Ei! — Percy fingiu estar ofendido e o deu uma cotovelada leve. 

 Os dois riram, e o clima ficou mais leve. 

 — Então está tudo bem entre a gente? 

 — Claro que sim. Bem, ainda estou um pouco ofendido que não sou seu tipo — Percy disse em tom de brincadeira, fazendo Nico revirar os olhos. — Aliás, por pura curiosidade, qual seria o seu tipo? 

 Nico ficou sério e encarou o menino. 

 — Nem pense nisso! Você não vai arranjar alguém para mim. 

 — Qual é! 

 — É sério, Percy. Ainda não quero que todos saibam. 

 — Tudo bem, tudo bem — Percy levantou as mãos em rendição. — Mas você merece um cara legal. 

 Nico deu de ombros. 

 — Estou falando sério, Nico — ele colocou a mão no ombro do filho de Hades. — Você merece ser feliz. Desculpa por não ter conseguido te ajudar antes. Sabe, desde a morte de Bianca — o nome saiu em um tom dolorido —, eu sinto que apenas falhei uma vez após outra em tentar te proteger.

 — Eu não preciso de proteção — seu lado orgulhoso falou mais alto. 

 — Eu sei, mas mesmo assim eu sentia essa necessidade de te proteger. Eu devia isso para Bianca e devia para você. Sempre te considerei como um irmão mais novo — ele contou. — Desculpa ter falhado com você. 

 Pouco tempo atrás isso teria o deixado triste ou até mesmo irritado. Mas, surpreendentemente, a ideia de Percy considerá-lo como um irmão mais novo o deixava contente e agradecido. Ficou aliviado ao perceber isso. 

 — Você não falhou comigo, Percy — Nico o assegurou. — Eu fiz algumas decisões idiotas no passado e foi por sua causa que consegui me recuperar... Você me ajudou. Não teria conseguido sem você. 

 — Espera um pouco! Isso quer dizer que você também me considera como um irmão? — Percy disse, um sorriso enorme no rosto. — Estou sonhando ou realmente acabei de escutar Nico di Angelo falando todas essas coisas fofas para mim? 

 Nico revirou os olhos e ia retrucar com um comentário irônico mas, antes que pudesse, Percy o abraçou. Um daqueles abraços de urso. 

 — Eu retiro tudo que eu disse — Nico disse, se sentindo um pouco sufocado com tanto contato físico. 

 — Tarde demais!