História Unpredictable - E Fernando ainda insistia.

-Fe-fernando! O que faz aqui? E desde quando você sabe pilotar um helicóptero?

- Sei lá, eu precisava de um tempo a sós contigo sem ninguém interromper ou ameaçar. Você acha que eu teria um helicóptero sem querer saber pilotar? Com certeza não.

- Mas como você entrou aqui?

- Ainda existem pessoas que são subornadas... e outras que apoiam Fermary.

- Que graça, não é mesmo?

- Sim, mas que eu preciso conversar com você eu preciso.

- É né, não tenho escolha, só se eu pular daqui.

- Poxa Mary, para com isso. Eu só queria, bom...

- Que eu voltasse pra você? Disso eu sei, que você está arrependido como sempre? Também, mas Fernando, não dá, sério, já te disse várias vezes. Eu vou ter um filho do Rafa e tudo tá andando muito bem – percebi ele parando em um heliponto, estávamos em Leeds.

Tirou as mãos do controlador e segurou as minhas mãos, dizendo:

- De que adianta as coisas andarem muito bem, se você não ama o Rafa? Tá tão na cara que sou eu o cara pra você de verdade, mas não aceitas isso. Por quê? – Olhava fixamente nos meus olhos.

- Por que não dá! Se você quer minha sinceridade, às vezes fico louca pra voltar com você, e aí me lembro daquela cena sua com a Olalla na cama enquanto namorávamos, e, pior, eu penso em como eu tive coragem de fazer isso com o Rafa. Se as coisas fossem como você fala, o seu amor verdadeiro seria Oly, isso se não for né.

- Não é. Mary.

- E quem me garante que você está atrás de mim só porque a Olalla não te quer nem pintado de ouro?

- Ela chegou a ir atrás de mim um dia desses.

- E por que você não aproveitou a deixa?

- Porque eu não parava de pensar em você – e me segurava forte.

Seus olhos iam de encontro, e saiam lágrimas dos meus, aquele dilema me matava por dentro e por segundos eu desejava que minha vidinha no Brasil fosse a minha vida atual, mesmo se eu reclamasse de tudo.

- Fer... Esquece que eu existo, por favor. Vai ser melhor pra você, melhor pra mim.

- Vai ser melhor pra ninguém. Vou me afundar no futebol novamente e você, bom, você vai voltar pro Rafa e seus rachas.

- Desculpa Fernando, mas tá na hora de você andar com suas próprias pernas. Por que acha que eu vim pra Leeds? Você acha que foi só por causa do Rafa? Não, claro que não. Eu te dei as coordenadas, eu quero que você faça o seu melhor, isso vai ser ótimo pra você, pro Chelsea e principalmente para Nora e Leo, eles já sentem orgulho do pai, imagina se ele decide trabalhar duro mesmo pra conseguir um sucesso constante? Vai por mim, por favor.

- Espera. – Na altura do campeonato já estávamos em frente ao meu prédio – Pra eu sumir da sua vida ou do que seja, me diz que não me ama, é a palavra chave e solução do seu problema.

Tudo que eu mais queria era dizer que eu não o amava, que desse jeito eu conseguiria driblá-lo da minha vida de uma vez por todas, quem sabe ele tomaria vergonha na cara e se esforçaria mais para conseguir o seu melhor dentro de campo, achar alguém que se desse bem com ele e que realmente o amasse sem pensar em outro como eu. Mas não, as palavras não saíam da minha boca, por mais que eu tentasse de todas as formas diferentes e possíveis.

Fiz uma expressão de derrotada, e Fernando dizia:

- Nosso drama começa por aí. Mas eu respeito sua decisão.  Vou esquecer que você existe.

E saiu. Mesmo que eu o chamasse ele sequer virava o rosto. Aquilo cortou meu coração, mas infelizmente não tem como os dois saírem ilesos dessa história, alguém se magoaria, por mais que eu não quisesse que ninguém ficasse mal por mim.

Cheguei em casa, joguei minha mala no closet, tomei um remédio pra dormir e o fiz, eu estava péssima, e com um sério pressentimento de que alguma tragédia iria acontecer.

                       ***

Levantei como se estivesse com a pior ressaca possível, e atrasada, então tomei um banho rápido e fiz um shake com todas as frutas que tinha direito. Coloquei minha roupa e parti para o CT do Leeds.

Assim que cheguei, recebi o comunicado na portaria que eu deveria esperar na recepção do clube, porque o auxiliar técnico queria conversar comigo, já que Rösler estava com pneumonia. Então sentei-me no sofá e, a esperar, decidi assistir ao noticiário.

Quando vejo na TV a seguinte manchete “Fernando Torres sofre acidente grave de helicóptero, mas por um milagre quebra apenas o braço esquerdo e passa bem”. Fiquei perplexa e desesperada, Fer poderia ter morrido naquele acidente.

Até que Steve colocou a mão em meu ombro e disse:

- Acabou de ficar sabendo né? Não sei nem o que dizer...

- Ele tá vivo, isso que importa.

- Se quiser tirar folga ou algo do tipo, eu sei que nós não podemos forçar muito o seu psicológico, pela sua gravidez...

- Não, que isso, temos jogo na quarta e precisamos de um bom resultado para permanecermos firmes nesse campeonato.

Então fomos para o treino. Focamos mais em coletivos titulares x reservas e depois um treino de cobranças de faltas, pois o time estava pecando nesse quesito. O treino terminou por volta das 11 e, como não havia treino à tarde, decidi pegar o primeiro voo para Londres, às 14:30.

Almocei no aeroporto mesmo e peguei o voo, chegando lá às 15:40. Entrei em um táxi e fui rumo ao hospital onde Fernando ainda estava, apesar de não ter se ferido tão gravemente.

Havia milhares de ligações de Rafael no meu celular, mas eu não tinha condições de atender aquele telefone. Apenas mandei uma sms “Estarei em Londres hoje, amor, aparecerei por aí”.

Cheguei no hospital, e pedi para visitar Fernando.

Entrei na sala, e Fer estava com uns ferimentos leves no rosto. Eu estava apavorada por dentro, mas me contive.

- Fernando, o que aconteceu?

- E o que você está fazendo aqui?

- E-e-eu estava preocupada.

- Aposto que você queria que eu tivesse realmente morrido – aquilo doeu no meu coração que não sabia nem o que responder.

- Lógico que não. Por favor, me diz, o que aconteceu?

- Você me disse pra eu esquecer você. E a única forma disso é se meu coração parar de bater, Mary Jane.

Eu comecei a chorar com aquilo. Por causa de uma besteira que falei eu poderia ter perdido uma das pessoas mais importantes da minha vida. E só me dei conta disso naquele momento. Eu era com certeza muito estúpida. Nossas bocas se aproximaram de uma forma tão repentina, mas eu não poderia conceder aquele beijo, eu não queria causar mais estragos em ninguém.

- Fernando, por favor não fique com raiva de mim. Às vezes eu procuro tanto fazer o que eu considero certo que eu esqueço completamente de fazer as coisas que eu realmente quero.

- E isso também te machuca, que eu sei.

- Sim Fer.

- Pois é.

- Só não desiste do seu sonho de jogar futebol, por favor. – E saí chorando daquela sala.

Até que dei de cara com Rafael, bravo, que segurou no meu braço e perguntou:

- O que você está fazendo aqui? Me traindo como sempre?