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História Vermillus - Corporis - Parte 2


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Capítulo novo chegando, vambora ler sem demora 😘

Capítulo 22 - Corporis - Parte 2


Fanfic / Fanfiction Vermillus - Corporis - Parte 2

—  Catalina! 

O grito de Hyunwoo soava pelo corredor chamando a atenção dos criados que passavam. O filho mais velho de Arando, batia na porta do quarto da falsa Catalina desesperado, remoendo a culpa que sentia. 

— Catalina! Me deixe entrar. Vamos conversar, por favor. — colocou a palma da mão na porta. — Eu preciso que me escute. Não me deixe sozinho. Não, agora. 

Abaixou a cabeça com as mãos na porta e chorou em silêncio. Sem respostas, se afastou da mesma e deu as costas para o quarto. Catalina estava magoada o suficiente com ele para não lhe ouvir e se era assim que ela queria, ele não insistiria. Dava os primeiros passos para longe dali quando ouviu a porta abrir. Se virou por instinto, não havia ninguém na frente do quarto mas pôde ver uma fresta. Fez o caminho de volta limpando as lágrimas e abriu a porta devagar. 

Catalina estava na frente da janela do quarto, de costas para ele, com os braços cruzados. Assim que passou pela porta, a fechou para em seguida trancar, girando a chave. Com isso, viu o rosto de Catalina se virar de leve para o lado. 

O coração batia muito forte e ele não sabia se deveria se aproximar dela, embora quisesse muito abraçá-la agora e lhe pedir perdão. 

— Eu fui criada entre mulheres fortes. — a jovem disse ainda de costas. 

Jinah falava sobre as bruxas, ameaçando a condição de seu atual disfarce, mas ainda poderia dizer que falava da mãe ou irmã de Catalina caso o noivo perguntasse, contudo, isso não aconteceu. Hyunwoo estava tão desesperado pela reconciliação que sequer percebia as falhas no discurso da amada. 

— Nunca precisei da ajuda de qualquer homem para me defender, mas hoje… — abaixou a cabeça e pôs a mão no rosto. — Você era o único que poderia me livrar daquele jogo diabólico que seu pai me obrigou a participar. 

— Eu sinto muito. — disse baixo. — Por favor, me perdoe. Eu sei que falhei com você, mas… — hesitou, vendo a noiva se virar e o encarar. — Eu te disse que haveriam situações que precisaríamos nos sujeitar se quiséssemos chegar ao poder. — se aproximou com um olhar suplicante. 

— Eu nunca havia matado ninguém em toda a minha vida, Hyunwoo. — a voz falhou. 

O vampiro andou até ela, segurando no rosto cabisbaixo e afastando os cabelos negros que lhe tapava a visão. 

— Eu sei como se sente. Tive que fazer o mesmo quando invadi o vilarejo dos humanos como uma forma de retaliação ao ataque dos licans contra meu irmão Hyungwon. 

Jinah se atentou para aquelas palavras e se lembrou que a vila da lua foi atacada justamente por conta do que os Vermillus haviam feito aos humanos. Ela queria poder sentir ódio de Hyunwoo naquele momento, mas também se lembrava que toda aquela situação começou no instante em que seu plano com Hoseok falhou, quando não conseguiram sequestrar Hyungwon. Isso fez com que de certa forma, se sentisse responsável por toda a desgraça que veio após isso.

— Não temos escolhas, minha jóia preciosa. — falava, acarinhando a bochecha da amada e a voz sumia em meio ao pranto contido. — Eu sei que vidas foram perdidas mas logo isso acabará, assim que eu assumir a liderança do clã, tudo vai mudar. Eu te prometo. 

— Quantas vidas mais serão necessárias morrer para que tome uma atitude definitiva, Hyunwoo? — Jinah disse endurecendo a postura. 

— Catalina…

— Você pode ter todo o tempo do mundo para esperar a queda de seu pai por ser o filho preferido dele e gozar de todos os privilégios que isso lhe permite, mas e quanto às outras pessoas? 

Hyunwoo baixou os braços e observava a mulher diante dele falar com propriedade. A criatura que acabava de entrar em sua vida chegava pondo à prova todas as certezas que tinha e confrontando com firmeza suas ideias. 

— Se tiver que matar mais alguém em nome desse seu propósito, o que vai dizer para amenizar o luto das famílias? Vai pedir que esperem, pois logo você será o líder e tudo será mais justo para todos? 

Ao ouvir as duras palavras da noiva, Hyunwoo lembrou da triste ocasião em que se viu diante de Juno e do quanto a criança se atemorizou com a presença do assassino de sua mãe. Ele, na liderança da guarda, havia tirado a vida da única família que a criança tinha e a memória triste daquele encontro infeliz se repetia continuamente. 

— Se está matando inocentes, ainda que por um propósito, está se igualando a ele. — ela prosseguiu, encarando o vampiro. —  Pense no tempo que sua mãe e as mães de seus irmãos se mantém cativas naquele santuário como prisioneiras sexuais de um homem que não se importa com elas. Você não fará o mesmo comigo, Hyunwoo. Eu jamais permitiria, pois antes de chegar a isso… — chegou mais perto do noivo. — ...antes de me humilhar dessa maneira, eu mesma te mataria. 

Hyunwoo engoliu seco. O olhar de fera da bela jovem a quem entregava o seu coração não transmitia qualquer sinal de hesitação. Ela falava o que realmente sentia. 

— O que espera que eu faça, Catalina? — respondeu com o olhar firme nela. — O que eu poderia fazer de diferente do que já tenho feito?! — dizia gesticulando com nervosismo. — Se não me sujeitar a isso para conseguir a liderança, não vejo de que outra forma isso poderia suceder. Acaso espera que eu mate meu próprio pai e tome o poder em um golpe de Estado?! 

— Sim! 

A resposta direta desestabilizou o rapaz. Hyunwoo abriu os olhos um pouco assustado, esperando que a noiva mostrasse qualquer sinal de que aquilo foi apenas uma brincadeira ou uma resposta dada no calor do momento, mas ela não voltou atrás. 

— Isso resolveria tudo. — ela prosseguiu firme. — Uma única morte que impediria muitas outras. 

A jovem andou para mais perto do noivo e agora, pela primeira vez desde que ele entrou ali, conseguiu enxergar nos olhos de fera, uma dócil felina. 

Jinah pegou a mão de Hyunwoo e levou até seu rosto, esfregando a palma macia da mão dele em suas bochechas, enquanto os olhos fechados lhe ajudavam a ter uma sensação ainda maior de seu toque. Abriu os olhos de repente e sorriu para ele.

Hyunwoo não tinha defesas contra o rosto perfeito da jovem bruxa. Ela era tão instigante e forte que conseguia falar sobre algo tão maquiavélico sorrindo e sem perder a graça do olhar. 

— Eu não sei. Catalina… eu… não sei se conseguiria conviver com a culpa. — sussurrou com lágrimas nos olhos. 

— Você já convive. Já se sente culpado pela vidas inocentes que tirou. — ela disse, tocando no peito dele com as mãos delicadas. — Ao menos agora, esse fardo será dividido. Pois se fizer isso, Hyunwoo, se destituir o seu pai do poder, aí sim eu estarei ao seu lado... — abaixou os olhos, suspirou de leve e ao encarar os olhos inseguros dele, disse  — … para sempre. 

O coração de Hyunwoo pulou e ainda que o momento não fosse o mais propício, ele teve mais certeza agora de que estava apaixonado e de que a mulher forte que o desafiava a matar o próprio pai, era a mulher que ele queria por toda a sua eternidade. 

A mão que estava no peito de Hyunwoo, subiu pelo pescoço dele e parou na nuca. A respiração dela ficava cada vez mais forte e nem mesmo a bruxa era capaz de definir o que sentia agora. O desejo de beijar o inimigo contrariava todas as convicções que tinha, mas era tarde para voltar aos sentimentos do princípio pois já estava envolvida com o vampiro de bom coração e olhos tímidos. Deixando os pensamentos de lado, aproximou o seu rosto do de Hyunwoo, lhe oferecendo os lábios, ao que ele, mesmo visivelmente envergonhado e ainda sob o susto da proposta que a noiva lhe fez, respondeu a sugestão, oferecendo os seus para ela. Se beijaram, enfim. 

Hyunwoo passou as mãos pela cintura da noiva e a apertou contra o seu corpo. Jinah sorriu ainda nos lábios dele, sentindo as mãos tímidas e inseguras subirem pelas suas costas. Mordeu de leve o lábio inferior do rapaz e percebeu a reação que isso causou. Estavam, por fim, entregues a vontade reprimida de contato. 

Jinah o provocava com carícias mais ousadas e sabia que se não fizesse aquilo, a timidez do rapaz não permitiria que ele se soltasse. Entre os beijos, abriu a camisa do noivo devagar, expondo o corpo másculo e definido que o uniforme militar escondia. E foi somente após ela fazer isso que ele criou coragem para pôr os dedos nos botões de seu vestido e surpreendê-la com a facilidade que teve para abrir cada um deles. O vestido caiu pelos ombros, escorregando pelo seu corpo da forma mais poética possível.

— Hyunwoo… eu não sou… — ela disse em meio ao beijo apaixonado. — Você sabe… virgem. 

Bruxas tinham uma vida sexual livre e ainda que Hyunwoo não soubesse que ela era uma, logo ele perceberia que estava com uma mulher e não uma menina casta.  

— Está tudo bem. — ele respondeu, interrompendo o beijo e olhando para ela. — Em nenhum momento eu considerei isso como uma condição para ficar com você. — passou os dedos pela nuca da moça e a beijou outra vez. 

Qualquer barreira emocional que Jinah ainda considerasse colocar entre ela e Hyunwoo, caía por terra naquele instante. Ela estava apaixonada e por mais improvável e desastroso que aquele sentimento pudesse ser, não pretendia se negar a vivê-lo. 

A bruxa mordeu os lábios, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás enquanto o vampiro descia até seu peito jovem e pequeno. Perdia ali a consciência que ainda tentava manter, mas deixaria a reflexão de seu ato inconsequente para mais tarde, pois quanto a sua vida, agora estava totalmente entregue a seu vampiro e caberia a deusa lhe exortar no tempo apropriado. Por sinal, foi para a deusa o seu último pensamento, antes de ver Hyunwoo tomá-la em seus braços e deitar seu corpo completamente nu sobre a cama. 

Eomani…

Hyunwoo lhe sorriu. 

...se ainda puder me ouvir…

Inclinou-se sobre ela.   

...existe algum indulto para os apaixonados? 

Desceu lhe beijando o ventre.

De qualquer maneiraeu te peço perdão. 

*

O fim da tarde fez o céu adquirir um tom alaranjado característico e era tão belo que Hoseok, deitado no colo de Hyungwon admirava a bela vista que o campo lhes proporcionava. 

No rosto, Hyungwon trazia um sorriso fraco e satisfeito pelos momentos recém vividos com o lican. A memória ainda fresca do fato recente, permeava a mente de ambos e se não fosse a sensação das pernas quase dormentes pelo peso das costas de Hoseok, custaria a acreditar que estava ali com ele. 

— Hoseok...

Agora que sabia como ele se chamava, falava o seu nome sempre que tinha oportunidade. 

Para o dono do nome, ouvir cada sílaba saindo daqueles lábios perfeitos e fartos era como um sonho. Respondeu o vampiro com um murmúrio rápido, aguardando as palavras que viriam a seguir. 

— Como se sentiu quando experimentou o sangue? 

A pergunta antecipou um silêncio breve e reflexivo, mas com a atenção voltada para a despedida da tarde e chegada da noite, Hoseok moveu os lábios muito devagar como se pensasse sobre o que falar a respeito ainda no último minuto. 

— Poderoso. — falou, deitado no colo do outro. — E isso aumenta a responsabilidade sobre mim. Não quero perder o controle, pois sendo metade vampiro e metade lican poderia facilmente me tornar uma besta assassina.

— Não seja tão fatalista. — amenizava. — As coisas não se dão dessa forma. Além disso, sempre existem os mercadores de sangue que costumam ter um estoque bem diverso. — acariciava o cabelo loiro do outro. — Mas se as minhas palavras valerem de alguma coisa, te garanto que beber da fonte como fez agora é sempre mais prazeroso. 

— Eu não sei se conseguiria.

 — Pelo visto você é como Minhyuk. Ele consome apenas sangue animal, mas também não é a mesma coisa. O nosso médico diz que em algum momento isso pode prejudicá-lo. Para falar a verdade, ele também não se sente bem se alimentando de sangue animal, mas é isso ou morrer à míngua. 

— Vocês são tão diferentes entre si. 

— Não imagina o quanto. — disse, vendo o lican se levantar do colo e sentar ao lado dele. — Sabe… caso queira, também posso lhe conseguir um servo de confiança de quem pode se alimentar. 

O silêncio e o par de olhos do lican, voltados diretamente para o vampiro foram o suficiente para que ele percebesse o ato falho. O julgamento que vinha na forma como o amado o encarava e no modo como o corpo se movia, levou Hyungwon a suspirar forte e sorrir rendido.  

— Me desculpe, não é tão fácil perder velhos hábitos. Me dê algum tempo, tudo bem? 

Correspondendo ao riso do belo vampiro, Hoseok o beijou demorado no rosto e voltou a admirar a vista diante de si. 

— Eu acho que tentarei evitar o sangue. — respondeu. — De qualquer modo, eu ainda posso me alimentar do seu se ficar com muita fome, não posso? 

A cabeça de Hyungwon pendeu para o lado. Pensou sobre a pergunta durante um tempo antes de virar para os olhos suplicantes de seu vampiro recém despertado. 

— Não é muito comum que vampiros se alimentem de outros vampiros, mas como usei o meu sangue para despertar o seu lado vampiro, isso me torna responsável por você. Então pode se alimentar de mim até que consiga se alimentar por si mesmo. 

Hoseok deu um sorriso satisfeito e apesar de não saber como isso se daria, decidiu não se preocupar por hora com o desejo de sangue. 

O tempo revoltoso amenizou. Ainda que para eles, no momento em que se entregaram a seus prazeres o céu tivesse mudado de cor. O vento soprava calmo no rosto dos apaixonados e Hoseok que mantinha a mão apoiada na grama, percebeu quando uma segunda, mais fria, foi posta em cima da dele. 

— O que vai fazer agora? — trazia incerteza na voz. — Para onde pretende ir? Pois certamente não vai querer voltar para o Domum

— Você gostaria que eu voltasse? 

Hyungwon suspirou sem responder. 

— Confessa que gostaria. — bateu com o ombro no braço dele, zombando.

— Não seja tão pretensioso. — beliscou o outro. 

— Ai! Isso doeu. — reclamou, sorrindo alisando a parte do braço beliscada. — Não precisa dizer, eu sei que gostaria. 

Hoseok se aproximou mais do vampiro e passando o nariz pelo seu rosto, o acarinhava enquanto sentia o cheiro sedutor que vinha de seu corpo. 

— Eu adoraria poder passar mais tempo com você, meu amor. Seria mágico. — virou o rosto de Hyungwon para si. — Mas consegue entender que isso é impossível agora, certo? O efeito do elixir está passando e meu cheiro fica cada vez mais perceptível.

— Eu entendo. — baixou a cabeça em um muxoxo. 

— Não fique assim. — tocou o rosto delicado e triste de Hyungwon. — Eu vou voltar para a floresta, mas podemos nos encontrar aqui sempre que quiser. 

— Tudo bem. — suspirou. — Você está certo. É o melhor a fazer. — deitou a cabeça no ombro do lican. 

— Além disso, eu preciso procurar o meu pai. 

— Acha que ele está vivo? 

— Eu sinto. 

— Então, leve a Nebula com você. — se referia ao cavalo. — Vai precisar de meios para se locomover.

— Hyungwon… — Hoseok dizia com uma expressão surpreendida e admirada. — Me oferecendo o cavalo estará me ajudando a encontrar o maior inimigo de seu pai, tem consciência disso? 

— Bom… eu acabei de fazer sexo com você. Se soube lidar com o meu inimigo, acho que meu pai também pode. — sorriu com cinismo. 

— Eu não acho que meu pai concordaria em dormir com o seu. — Hoseok disse, dando uma risada. 

— Agora que disse isso, começo a achar que meu pai nutre uma paixão oculta por Daeliu, por isso o persegue tanto. — dizia, ouvindo Hoseok rir alto, jogando a cabeça pra trás. — Talvez, todo aquele ressentimento seja por ciúme de Daeliu e não de Hani.  

— Isso seria no mínimo interessante. — se divertia.

— Por falar em Hani, você a viu durante o tempo em que esteve no Domum? Por que imagino que quisesse muito isso. 

— Sim, eu queria. Nunca tinha visto o rosto da minha mãe antes. — se pôs pensativo. — Houve uma ocasião em que fui até o santuário e falei com ela. Foi como um sonho. Ela é muito mais forte do que eu imaginei. 

Observar o sorriso de canto que Hoseok dava com a lembrança da mãe fez Hyungwon sentir inveja dele. A memória elogiosa de Hani e a forma orgulhosa como o lican via a progenitora era diferente da forma como Hyungwon via a sua, sempre tão egoísta e soberba. 

— Ela sabe que não está mais no Domum? — Hyungwon perguntou tão logo voltou de seus pensamentos. 

— Não. Eu não tive tempo de falar com ela, mas enquanto estava no Vilarejo dos humanos eu consegui tinta e papel. — tirou do bolso um envelope pequeno e entregou a Hyungwon. — Poderia entregar a ela? 

O vampiro olhou o papel na mão forte de Hoseok e pegou o mesmo, guardando dentro do próprio bolso. Acariciou o belo lican e sorriu para ele como se aceitando a missão que lhe pediu. 

— Considere entregue. 

— Obrigado, meu amor. — deu um beijo carinhoso nos lábios desenhados do vampiro. — Por sinal, eu preciso que este papel seja entregue a Jooheon, o servo de seu irmão Minhyuk. 

— Está mesmo me pedindo para entregar recados a um criado da casa? — perguntou com um semblante indignado. 

— Hyungwon…

A voz soava desaprovadora, assim como a expressão que Hoseok trazia no rosto. 

— Tudo bem! Eu farei. 

Rendido, Hyungwon revirou os olhos. Nunca se imaginou em uma situação como aquela, mas o amor que sentia por Hoseok era intenso e ao mesmo tempo tão desafiador. Era como se os limites fossem constantemente testados por mais insignificantes que esses limites fossem. 

— Estou orgulhoso de você. — Hoseok se aproximou dando um beijo na testa do vampiro. 

O mais jovem apenas resmungou um pouco contrariado. De qualquer forma, acataria o pedido do amado ainda que desgostoso, pois Hoseok era alguém que valia a pena. 

— Eu preciso ir. Já está ficando tarde e logo minha mãe enviará guardas à minha procura. 

— Não quero que vá. — disse manhoso, o retendo em seus braços fortes. 

— Eu também não queria ir, meu amor. Estas horas que passamos juntos foram as mais perfeitas que já tive em toda a minha existência. 

— Você é perfeito, Hyungwon. — sussurrou. — Ainda custo a acreditar que é meu. 

— Seu e para sempre. — disse, tocando na marca que o homem lobo havia feito nele. 

Os dois sorriram cúmplices e Hoseok se aproximou da cicatriz, a lambendo de uma forma sedutora. 

— Não faça isso. — o vampiro gemeu baixo. — Não tenho energia para mais nada agora. 

Segurando a cabeça do lican, Hyungwon o encarou sorrindo. Trocavam olhares apaixonados e era possível perceber que havia naquele olhar uma espécie de cumplicidade. Se amavam e isso ficava evidente a cada renúncia que um fazia pelo outro em nome daquele amor improvável. 

— Vou deixá-lo ir. 

Hyungwon se levantou, ouvindo a frase triste de Hoseok e após abraçá-lo forte, disse em seu ouvido:

— Amanhã, a essa mesma hora, esteja aqui no campo. Trarei meu material de treinamento com arco e flecha. 

Os olhos de Hoseok aumentaram de tamanho e o coração acelerou de leve. 

— Hyungwon... você vai…

— Sim, eu vou participar do campeonato. 

Tão logo ouviu aquela feliz sentença. Hoseok levantou Hyungwon em seus braços e o rodou no alto cheio de felicidade. Voltou para ele porque sentia que precisava e um dos motivos era convencer o vampiro a enfrentar o medo. A missão estava cumprida e ele não poderia se sentir mais orgulhoso não apenas de si, mas também de seu amado vampiro. 

— Quero que me treine. Afinal, não se vence um campeonato com técnica apenas. 

— Será um prazer.

Os dois andaram de mãos dadas até o cavalo em que Hoseok veio e ao perceber que Hyungwon chegou até ali a pé, o lican montou em Nebula, dando a mão para que o vampiro tomasse impulso e se sentasse atrás dele. Assim foi feito e andando calmamente pelo campo, a fim de curtir o máximo de tempo que podiam, Hoseok levou Hyungwon até mais perto do Domum. A uma distância segura, o vampiro que se agarrava as costas dele com força, o beijou uma última vez e desceu do cavalo. 

— Até amanhã, meu amor. — Hoseok disse com um sorriso. 

Hyungwon mal pôde reagir aquilo. Sorriu bobo, acenando para ele enquanto via Nebula relinchar, ficando nas patas traseiras e após isso, seu precioso lican tomou o caminho oposto, correndo livre e selvagem em direção da floresta, onde definitivamente era o seu lugar. 

*

De frente para a penteadeira, Minhyuk encarava a própria imagem no espelho para vez ou outra olhar além de si e observar ao fundo, Jooheon e Juno em cima da cama, fazendo brincadeiras com as mãos, cantando algumas cantigas infantis em meio a risadas. Não se lembrava de ter se sentido assim em algum momento da vida, tão feliz e realizado. Conseguia facilmente se ver ao lado de Jooheon por toda a vida e juntos, cuidariam de Juno como uma família. 

Os dois servos prosseguiam com a brincadeira como se estivessem em um mundo particular e Minhyuk observou pela primeira vez que os cabelos crescidos de Juno davam a ele uma aparência andrógina e quase feminina, mas pensou que todas as crianças eram assim no fim das contas. Afastou o pensamento aleatório e bobo e pegou a escova em cima da penteadeira. 

O tom branco nos fios lisos foram herdados da mãe e ele sempre procurava manter o cabelo bem cuidado pois era uma das coisas que mais gostava em si. Levou a escova aos cabelos e se penteava, sentado de frente para o espelho, sorrindo com a imagem divertida de seus dois amores ao fundo. Pensava que ao fim daquela simples ação de cuidado consigo, iria até eles para se juntar àquele momento tão único, mas quando pôs a escova de volta à penteadeira, se deu conta que nas cerdas havia mais fios de cabelo perdidos do que o normal.

— Senhor Minhyuk, venha brincar conosco. — Juno convidava. 

— Oh… eu já vou, minha criança… eu… já vou. 

A voz sumiu ao final da sentença. 

Com a atenção voltada para a escova, tomou o objeto na mão e o levou até a altura dos olhos. O coração acelerou com a constatação do que havia visto anteriormente e de imediato, o vampiro subiu a mão direita até a cabeça e alisando toda a extensão de suas madeixas brancas, sentiu quando um chumaço espantoso de cabelo se soltou do couro cabeludo para se prender aos dedos. 

— Meu Deus… — sussurrou assustado, vendo o cabelo caído na mão. 

Minhyuk se levantou repentinamente e o barulho da banqueta arrastando no chão se fez ouvir alto pelo quarto, chamando a atenção de Jooheon e Juno. 

— Minhyuk… — Jooheon dizia. — Está tudo bem? 

O vampiro não respondeu. Passou a outra mão em um outro ponto da cabeça e teve o mesmo resultado. Mais uma mecha de cabelo era perdida de forma espantosa. 

— Minhyuk…

— Eu estou bem. — falou com a voz trêmula. — Eu... só esqueci uma coisa na biblioteca. — disse, andando nervoso até a porta.

— Eu posso buscar para você. — o híbrido disse, insinuando sair da cama.

— Não! — a voz se alterou. 

Jooheon parou onde estava ainda confuso com a atitude do amado. Juno por sua vez, olhava um e outro, tentando entender o que de fato acontecia entre eles. 

— Não precisa, Jooheon. Eu mesmo vou.

— Pensei que fosse se juntar a nós. — Juno disse, fazendo biquinho. 

— Eu não devo demorar... prometo. 

Finalizou a sentença, abrindo a porta do quarto muito rápido. Minhyuk saiu por ela sem dar chances de despedida e os passos apressados no corredor silencioso eram ouvidos ao longe. 

Com a vista embaçada, Minhyuk correu em direção ao quarto de Hyungwon e ao encontrar a porta do irmão bateu nela muito forte. Ninguém respondeu. O vampiro começou a chorar sozinho diante do quarto e escorregou pela porta, remoendo a lembrança recente de ver seus cabelos caindo pelas mãos. Se levantou pronto para fazer o caminho de volta quando se deparou com a imagem de Hyunwoo saindo de um dos quartos e quando o mais velho dos irmãos bateu a porta e virou para o corredor, se dando conta da presença dele, os olhos aumentaram de tamanho e o rosto ruborizou. 

— Minhyuk? — olhou para a porta do quarto de onde acabava de sair e voltou a encarar o irmão. — Eu estava… ajudando Catalina com…

Ainda que Hyunwoo estivesse preocupado com a imagem de Catalina e tentasse em vão, justificar a sua presença no quarto dela, Minhyuk ao reconhecer uma presença tão familiar, apenas correu para ele com as lágrimas insistentes nos olhos e o abraçou, chorando muito forte. 

Fratis… me ajuda, por favor. — suplicava. — Me ajuda! 

— Min? O que aconteceu? 

— Meu cabelo… eu… eu tô perdendo meu cabelo. 

Hyunwoo abriu a boca um pouco assustado e o abraçou forte. 

— Fique calmo. Venha comigo até meu quarto. Vamos resolver isso. 

Amparando Minhyuk em seus braços, Hyunwoo conduziu o irmão desolado até o andar de cima e já em seu quarto, o pôs sentado na cama, enquanto puxava uma poltrona até que ficasse de frente para o mais novo. 

Os olhos de Minhyuk estavam vermelhos de tanto chorar e sem dizer nada, apenas passando a mão no cabelo e abrindo a palma diante do mais velho, fez o mesmo entender a razão de seu desespero. 

— Eu vou chamar o médico. — Hyunwoo disse. 

— Não… por favor. — Minhyuk se mostrava atônito. — Eu não quero que chame o médico. Ele vai me dar sangue humano. 

— Sim, pois é justamente a ausência dele que está te deixando doente. 

— Deve haver algum outro jeito, por favor, Hyunwoo...me ajude. — chorava. 

— Minhyuk, não existe outro jeito. Na verdade, você já estava usando um método alternativo e veja no que deu. — disse, vendo o mais novo confirmar em silêncio. — Em algum momento terá que aceitar a sua natureza ou morrerá em negação. 

— O que eu faço? Eu não vou conseguir beber sangue humano, Hyunwoo. Não conseguiria causar dor a alguém. 

— Podemos resolver isso pra você. Beberia sangue sem sequer tocar no pescoço de alguém. 

— Não… — resmungava em um choro agoniado. — Eu não quero. 

— Min… você precisa ajudar. Não é mais uma criança, pelo contrário, é o segundo mais velho e faz ideia da responsabilidade disso? Todos os outros dependem de nós e se um dia eu faltar, você precisa cuidar deles. Então, por favor, cuide de si mesmo em primeiro lugar. 

As palavras do mais velho causavam o efeito esperado. Ainda que com lágrima, Minhyuk afirmava em silêncio e de olhos fechados ciente de que tudo o que ele dizia era verdade. 

Hyunwoo envolveu Minhyuk em um abraço e por alguns segundos deu a ele o conforto que necessitava. Embora dentro de si, o inconsolável vampiro soubesse que não beberia sangue humano, nem que para isso precisasse enganar o irmão. 

*

Assim que entrou no Domum, Hyungwon foi direto para a ala dos criados. Não costumava ir até aquele lugar e a última vez em que esteve foi para procurar Hoseok. Dessa vez o lican também era o motivo, afinal, foi por conta do pedido dele que agora o vampiro passava pelo corredor mal iluminado, chegando até o local pretendido e impondo a sua presença majestosa. Como esperado, chamou a atenção de todos que estavam ali. O falatório característico deu lugar a um silêncio sepulcral e todos sem exceção se voltaram para a imagem esguia e bela no portal. 

— Eu estou procurando um servo chamado Jooheon. — disse, olhando os muitos rostos ali. — Por acaso ele está aqui?

Os servos se olharam entre eles para em seguida encarar o Ettore que estava presente. A maioria negou com a cabeça e um servo mais ousado se aproximou, gaguejando para dizer que Jooheon não costumava aparecer ali sempre e que por ser o servo de alcova de Minhyuk, passava a maior parte do tempo no quarto deste. 

Hyungwon se deu um tempo assimilando aquela informação, afinal, não era do feitio do irmão usar do poder que tinha para se aproveitar dos serviços sexuais de um servo. Até onde se lembrava, ele havia comprado Jooheon apenas para não separá-lo da irmã. Ao constatar que estava enganado, agradeceu um pouco sem jeito pela informação e saiu deixando os servos confusos com o ato educado, tão raro vindo dele. 

Nos andares superiores da casa caminhou apressado. Ensaiava mentalmente como faria para entregar o recado de Hoseok a um dos servos. O rosto esquentava por considerar aquele ato extremamente humilhante mas se lembrava de tudo a que submeteu o lican nesse pouco tempo e entregar um papel era o mínimo que poderia fazer por ele. 

A porta do quarto de Minhyuk estava ali, talvez fosse melhor bater antes de entrar mas quando se preparava para isso, viu que a mesma estava entreaberta. Com a mão livre empurrou devagar a porta branca até que ele revelasse todo o interior do quarto e quando ela se abriu por completo, ouviu de dentro uma voz preocupada que lhe perguntou: 

— Minhyuk?!

Era a voz de Jooheon que saindo da cama e andando até mais perto, esperava pelo amado senhor que ainda não havia regressado desde que saiu desesperado e confuso do quarto. 

— Não, sou Hyungwon. 

Juno que estava sentada na mesma cama se afastou para trás, segurando as pernas perto do peito com medo. Ali estava um dos filhos mais cruéis de Arando e ela o temia. Ainda tinha na memória a cena no mercado de escravos e via o rosto sádico daquele vampiro a observar Hoseok ser agredido pelos guardas por conta de um roubo que ele não cometeu. 

Hyungwon parecia ler no olhar da criança todas essas lembranças e a vergonha de estar ali aumentou ainda mais. Virou o rosto para o lado, remoendo lembranças semelhantes e queria ao menos sentir que aquela criança não o temia mas sabia que por ora isso seria impossível. Ele estava pagando o preço por todas as maldades do passado recente e só o tempo provaria a ele e a todos a sua volta que ele desejava ser diferente a partir de agora. 

— O Senhor Minhyuk não está. — Jooheon disse um pouco temeroso. 

— Eu vejo. — Hyungwon respondeu baixo, voltando os olhos para o servo. — De qualquer forma, não é com ele que vim falar. 

Jooheon se manteve estático a uma certa distância do vampiro e por mais que tivesse medo daquele ser impiedoso a sua frente, tentou não demonstrar isso para ele. 

Sem muitas cerimônias, Hyungwon estendeu um papel dobrado para Jooheon que ficou um tempo encarando a folha sem saber o que fazer. 

— Hoseok pediu que lhe entregasse isso. 

As palavras se repetiam na mente confusa. O servo de Minhyuk pegou o papel nas mãos sem abrí-lo e não entendia a razão do vampiro entregar um recado vindo do lican. Além de não ser comum que um senhor passasse mensagens de um dos criados, não entendia a razão do lican não ter falado com ele pessoalmente. 

— Eu libertei Hoseok hoje cedo. 

O casal de falsos irmãos se mostrou surpreso com a informação. 

— Você fez o quê? — Juno perguntou se levantando da cama. 

— Juno! — Jooheon repreendeu o ato de ousadia. 

— Está tudo bem. — Hyungwon amenizou. — Hoseok não está mais no Domum e me pediu que te entregasse esse papel. Eu não sei do que se trata, não abri, então fique tranquilo quanto a isso. 

Em meio às expressões de surpresa dos dois presentes no quarto, Hyungwon deu as costas para ambos e saiu do cômodo sem dizer nada. 

— Eu estou… — Juno começou a dizer.

— Eu também. — Jooheon concluiu. 

— Mas… o que ele deixou para você? Anda! Veja logo, talvez seja uma explicação para tudo isso. 

Jooheon concordou com a pequena e abriu a folha cuidadosamente dobrada em várias partes. Quando o papel se esticou por completo não havia nada escrito por Hoseok apenas uma imagem. 

— E então? — Juno questionava curiosa da cama. — O que diz aí? 

Em silêncio, o híbrido escutava apenas o próprio coração e ele batia forte. A respiração começava a se alterar e um suor repentino surgiu por todo o corpo. Abriu a boca para tentar emitir qualquer som que fosse quando viu Minhyuk entrar pela porta aberta um pouco mais calmo mas ainda estranho. A presença do amado fez com que ele jogasse os braços para trás, cruzando os mesmos nas costas a fim de esconder o papel e foi apenas por isso que Juno, sentada na cama logo atrás do irmão fajuto, conseguiu ver a imagem que fez seus olhos abrirem com mais uma surpresa. 

Em uma folha amarelada e gasta, a imagem de Jooheon surgia com um valor de recompensa abaixo e acima se lia em letras chamativas "PROCURADO" e "ASSASSINO". 

 


Notas Finais


É isso por hoje, amores !

Estamos começando a caminhar para o fim da história, muitas emoções, revelações e conclusões de ciclos estão para vir nos próximos capítulos.

Se preparem...😘


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