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História Vermillus - Impetus


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Chegou a sexta-feira e ainda veio acompanhada de um feriado...então vambora pra mais um capítulo cheio de emoções.

Boa leitura, meus amores...<3

Capítulo 3 - Impetus


Fanfic / Fanfiction Vermillus - Impetus

Todo o ambiente estava na mais absoluta escuridão. De olhos fechados, após uma noite intranquila, Hyungwon podia ver claramente a imagem daquele homem encapuzado. Abriu os olhos e era como se a silhueta dele estivesse aos pés da cama. Sentia o cheiro do lican mais forte agora do que antes e isso fez com que se levantasse de forma repentina na cama olhando para os lados. 

A janela fechada assobiava com o vento forte do lado de fora. O vampiro se deitou outra vez e com os olhos parados no teto, começou a sentir um forte calor em seu corpo. O transpirar da pele molhava o camisolão branco que vestia e a ferida cauterizada no peito parecia ser a origem daquele mal repentino. 

Em total desassossego, saiu da cama e andou até a janela. Assim que abriu, uma ventania forte entrou pelo quarto correndo por todo o espaço e o vampiro pôde enfim sentir no rosto e corpo o frescor que vinha de fora.  Sorriu para si diante daquele profundo alívio e junto com o som do vento veio uma voz lhe dizendo: 

 Você é meu. 

Hyungwon virou para dentro do quarto como se por instinto. A pele se arrepiou em sintonia mas não havia ninguém por perto. A mente parecia lhe pregar peças e por mais que não quisesse pensar, não podia evitar a ideia de que o culpado por aqueles intensos delírios era o misterioso lican que lhe atacara no dia anterior. 

 

*

Quando Hyunwoo, o primogênito de Arando, entrou na cúpula, o pai estava de frente para uma imensa vidraça com os raios de sol atravessando os mosaicos coloridos que formavam a imagem dele próprio na janela.

As mãos para trás das costas, denunciavam que o líder do clã refletia sobre algo. Olhava para o lado de fora vendo imagens distorcidas de seus servos e dando pouca atenção aquilo, perguntou:  

— Como seu irmão está? 

— Melhor, acredito. — Hyunwoo respondeu baixo. 

— Não foi vê-lo? 

— Fui, mas ele não quis me receber. Na verdade, não queria ver ninguém. 

Arando suspirou de olhos fechados. 

— Hyungwon é temperamental feito a mãe. Mesmo podendo se regenerar ele deve valorizar isso até onde puder. — disse sorrindo para si. — Espero que o conselho seja mais feliz em escolher as suas esposas, Hyunwoo. Afinal de contas, seus filhos carregarão muito da personalidade da mãe. 

As palavras do pai lhe causavam uma reação adversa. Toda vez que pensava sobre a tradição Ettore onde jovens mulheres humanas eram selecionadas e educadas para servirem ao primogênito do líder do clã, sentia uma imensa repulsa com a ideia do casamento. 

Naturalmente tímido, Hyunwoo ainda se resguardava o direito de sonhar com um amor romântico. Por vezes, imaginava que ao menos uma de suas esposas poderia o amar com sinceridade, mas a julgar pela história que o pai tinha com a mãe, casamentos arranjados raramente terminavam bem.    

— Sabe do porquê de estar aqui. 

O rapaz se deu um tempo repetindo mentalmente a frase na tentativa de discernir se era uma afirmação ou uma pergunta.  

— Eu estou ficando cansado, Hyunwoo. — suspirou e pôs as mãos no rosto de uma forma elegante. As unhas compridas e pintadas de preto lhe davam um ar sexy e afeminado. — Assim como os nossos antepassados, eu terminarei meus dias em um mortuário para o meu merecido descanso, mas para isso, preciso ter certeza que você dará continuidade a este legado. É o meu primogênito e sua obrigação é cuidar deste clã começando pela sua família. 

— Acaso não tenho feito isso, meu pai? 

— Sim, mas agora precisará fazer um pouco mais. 

Hyunwoo franziu a testa. 

—  Hoje você vai liderar uma incursão. O ataque ao seu irmão não pode ficar impune. 

— Pai, existe um acordo de paz entre vampiros e licans.

— Que não foi cumprido. — Arando respondeu de pronto. — Isso é o que acontece quando se negocia com bestas feras. 

—  Se minha opinião valer de algo, não me parece prudente coordenar um ataque sem antes investigar o que aconteceu. — Se aproximou cauteloso. — Tenho razões para acreditar que isto foi um ataque isolado que nem mesmo Daeliu teve ciência. 

O pai saiu da posição relaxada que estava para encarar Hyunwoo. Citar o lobo alfa era proibido e falar seu nome uma falta ainda mais grave. 

A íris do líder do clã tomava uma coloração avermelhada e era possível observar algumas veias saltadas surgindo no pescoço e no começo da testa. Sua relação com o líder dos licans que já era por demais conturbada se tornou inexistente com a descoberta do caso que sua primeira esposa mantinha com ele. 

O acordo de paz manteve Daeliu vivo e a promessa de submissão eterna de Hani evitou que algo pior acontecesse ao povo da lua. A todos os demais, bastava que nunca tocassem no delicado assunto ou no nome do lican, algo que até aquele instante, Hyunwoo vinha fazendo bem.

— Meu pai...

— Está cruzando linhas perigosas aqui, meu rapaz. — Interrompeu o primogênito. 

— Eu sinto muito. Não queria…

— O que pretende saindo em defesa dos licans? Está tentando proteger o filho bastardo de sua mãe? 

Hyunwoo abaixou a cabeça. Estava tão habituado àquela posição sempre passiva que raras vezes olhava alguém nos olhos.

 A constante condescendência  preocupava Arando mas ele era o seu amado primogênito, filho de Hani, a sua preferida dentre todas as mulheres. Isso lhe dava plena convicção e paciência o suficiente para acreditar que em algum momento conseguiria transformar o mais tímido dos seus filhos no maior líder que o clã já conheceu.  

— Eu não estou tentando proteger ninguém. Na verdade… não há ninguém para ser protegido. Todos sabemos que o filho ilegítimo de minha mãe morreu a caminho da vila do povo da lua.  — A voz foi ficando mais baixa no fim. 

— Isso é o que dizem, mas acredito apenas naquilo que meus olhos vêem. De qualquer forma, pouco me importa o destino que aquele bastardo teve. Pois a mim, interessava apenas uma pessoa, Hani. — Dizia com os olhos umedecendo de forma involuntária. — Tudo o que fiz por sua mãe, eu faria de novo e o que suportei dela não aguentaria de nenhuma outra das minhas esposas.  

— Eu tenho plena consciência disso, meu pai. 

— Pelo conselho eu já teria a exilado e dado fim a sua vida.

— Eu lhe agradeço por ter poupado a vida de minha mãe. 

— Mostre essa gratidão agora. — Disse chegando mais perto do rapaz e lhe encarando com firmeza. — Prove para mim que estará apto para cuidar da família quando eu me recolher ao meu descanso. Faça isso pelo bem do clã e de sua mãe. 

— Tudo o que me pedir, pai. 

Os lábios de Arando fizeram um curva perfeita e os olhos vermelhos sondava a reação do filho com o que estava prestes a dizer. 

— Acompanhe os guardas na incursão da noite. — Disse observando a cabeça de Hyunwoo baixar uma vez mais. — Vingue o ataque ao seu irmão e mostre para todos que apesar da emboscada dos licans, os vampiros permanecem soberanos. 

— Assim será. — Respondeu baixo. 

O pai deu dois tapinhas de leve no rosto do filho e o anel prateado que usava no mindinho reluzia. Deu as costas caminhando até uma espécie de trono onde sentou-se cruzando as pernas de forma elegante. 

— Esteja preparado para ir até a colônia dos humanos no final deste dia. 

— O quê?! — A voz de Hyunwoo aumentou pela primeira vez desde que chegou na cúpula.  — A colônia dos Humanos?... Mas eles não tem nada a ver com toda essa guerra. 

— Exatamente. — Disse abrindo um de seus diabólicos sorrisos. 

— Eu não entendo. 

— Isto é tudo, Hyunwoo. 

— Pai… por favor.  — Se aproximou do trono. 

— Isto é tudo! — Gritou lançando a mão para frente. 

Uma espécie de energia invisível saiu do  corpo do vampiro e Hyunwoo foi jogado para trás sem que o pai lhe tocasse. 

— Faça o que estou mandando! Sabe bem das consequências caso me desobedeça.

Hyunwoo se levantava com dificuldade mantendo a mão na costela. 

— Quer mesmo que eu entregue a sua mãe ao julgamento do conselho? Acha que não é capaz de cumprir a missão? Apenas me fale e eu transmitirei essas mesmas ordens a meu segundo mais velho. 

 Por mais que ouvisse as ameaças, Hyunwoo não conseguia acreditar que o pai seria capaz de exilar a mãe, contudo, escolhia não pagar para ver. Além disso, caso não cumprisse a missão dada por ele, Minhyuk, o próximo na linha de sucessão, seria forçado a fazê-la em seu lugar. Ponderou todo aqueles fatores e derrotado disse:

— Posso fazer isso. Eu... irei onde me mandar e farei tudo o que quiser.

As últimas palavras saíram fazendo eco dentro da cabeça. Percebeu o pai sorrindo e dizendo algo que talvez tivesse alguma importância se ele fosse ao menos capaz de lhe ouvir em meio a seus pensamentos.  

 Caminhou desanimado até o lado de fora e assim que a porta se fechou, caiu sentado em frente dela. Desorientado, levava as mãos ao rosto em um claro sinal de desespero.

— Fratis! — A voz rouca do segundo mais velho parecia mais próxima. 

— Minhyuk… não. — Hyunwoo se levantou fazendo um sinal com a mão para que o outro se mantivesse distante. — Me deixe só. Eu... preciso ficar sozinho. — Saiu da presença do irmão em passos errantes. 

O outro observava ele sumir pelo corredor com um semblante confuso e embora quisesse ir atrás, optou por respeitar o pedido do mais velho. 

Uma sombra crescia pelo corredor. Minhyuk acreditou por um instante se tratar de Hyunwoo que voltava pelo mesmo caminho talvez necessitado do abraço que há pouco recusava. Como ninguém aparecia, o curioso rapaz seguiu a sombra e ao virar no corredor se deparou com a imagem de um dos mais novos distraído e parado em frente a uma porta.  

— Kihyunnie?! — Exclamou sem medir o tom da voz. 

O corpo pequeno do rapaz saltou no lugar. 

— Que susto!

Kihyun se aproximou de Minhyuk fazendo um sinal desesperado para que ficasse quieto e lhe tapando a boca, o empurrou de volta para o corredor de onde veio. 

— O que está fazendo bisbilhotando o quarto de Changkyun? — Minhyuk disse tão logo se desvencilhou das mãos pequenas de Kihyun. 

— Eu não estava bisbilhotando. Acontece que… — Travava nas tentativas de se justificar.

Minhyuk franziu o cenho buscando entender onde Kihyun pretendia chegar com as explicações sem qualquer sentido. 

 — Eu só estava a caminho do túmulo de Imani. — Disse um pouco desanimado. Após um suspiro longo, continuou. — Vou trocar as flores da sepultura dela e imaginei que ele quisesse ir. Não esperava que estivesse acompanhado. 

— Kihyun, estamos falando do nosso irmão caçula. Você sabe como Changkyun é. Nunca se sabe quando ele pode estar com uma ou mais pessoas dentro daquele prostíbulo que ele chama de quarto. 

Kihyun confirmou as palavras de Minhyuk balançando a cabeça de leve. 

— Se quiser eu posso ir com você. — Disse pondo a mão no ombro do menor. 

— Não precisa. Esse é um compromisso meu com Imani. Devo fazer sozinho. — Disse antes de sair da presença do irmão mais velho. 

Os passos de Kihyun se distanciavam quase que sem fazer barulho. Minhyuk observava aquele comportamento contrito e isso lhe preocupava ao mesmo tempo que lhe gerava uma profunda curiosidade. 

Passou pela porta do quarto de Changkyun e ela estava entreaberta. Fechou a mesma no instante em que pela fresta observou a cena na parte de dentro e balançando a cabeça, saiu dali seguindo em direção a seu lugar favorito no castelo, a biblioteca. 

 

 

Assim que ouviu o barulho da porta se fechando, Changkyun abriu os olhos como se voltando de um transe. A linda mulher nua, deitada sobre o seu peito e de quem ele se alimentava, foi esquecida no momento em que percebeu o som vindo de fora. 

— Pare. — Disse com a voz grave para seu outro acompanhante. 

O homem que chupava Changkyun, levantou a cabeça devagar limpando os cantos da boca com os dedos. Assim que se afastou na cama, o servo deu passagem para o jovem vampiro que caminhou até a porta deixando para trás a dupla que o acompanhava naquela orgia matinal. 

Um cheiro cítrico familiar dominou seu olfato. Os olhos se fecharam inebriados por aquele odor e parecia esquecer da realidade até a voz sedutora da mulher dizer:

— Volte para a cama, jovem mestre. Ainda não acabamos com você. 

O pedido parecia irrecusável. Voltou para perto com o manto aberto expondo o corpo bonito, inegavelmente feito para o sexo. Ainda de pé, passou a mão pelos cabelos da mulher para em seguida segurar o queixo dela enquanto lhe admirava de cima com aquele jeito devasso e superior. Se curvou em direção dela e a beijou de forma sensual. 

O homem junto dos dois se aproximou oferecendo a boca carnuda que logo foi preenchida pelos lábios de Chang. Se revezava entre a boca de um e de outro, sentindo em seu membro a ereção que se anunciava. Desejava foder aqueles corpos com a mesma intensidade com que fez durante toda a manhã e por alguma razão, o cheiro vindo do corredor lhe aguçou mais os sentidos. 

Changkyun parecia pronto para mais uma vez se divertir com o casal quando ouviu aquele som. O coração disparou sem qualquer razão e olhando para o lado de fora percebeu a melodia doce e angelical que atravessava as janelas do quarto. 

— Mestre… — O rapaz chamava ao ver Chang caminhar lento em direção a janela. 

 A palma da mão tocou o vidro com delicadeza e o rosto bonito do jovem vampiro se apoiou naquela superfície. Com os olhos fechados, ele escutava ao longe o som delicado da harpa que soava ora lá fora, ora dentro da sua cabeça. A respiração foi ficando cada vez mais forte e no corpo era possível sentir uma excitação inexplicável.

Os dois acompanhantes de Changkyun observavam aquele comportamento inusitado se entreolhando sem entender a razão da mudança repentina, mas ainda permaneciam sobre a cama, seminus como se aguardando o jovem mestre que ao contrário do que se esperava, não voltou para a cama. Chang saiu do quarto sem motivo, vestindo apenas um roupão negro e fino, seguindo o som da harpa que tanto lhe atraía. 

Ainda que tivesse aquela energia sexual evidente, nunca antes havia deixado seu quarto em roupas tão reveladoras. Caminhava pelos corredores com o roupão aberto surpreendendo os guardas e as servas que passavam por ele e deixavam bandejas caírem devido ao susto com a imagem. Ele mesmo se importava bem pouco com toda aquela movimentação, pois parecia hipnotizado e obstinado com a ideia de encontrar a origem do som. 

 Chegou ao jardim do Domum mais rápido do que imaginava e era de lá que vinha a música, de dentro do cemitério de sua família. Os portões abertos indicavam que alguém esteve lá antes dele e com os pés nus, sentindo o chão frio, Changkyun entrou no lugar.

— Eu sabia. Era você. — Disse em um sussurro. — Sempre é você. 

As suspeitas que tinha quando escolheu sair do quarto se confirmaram.  Aquele instinto irracional que lhe tomava conta do corpo toda vez que escutava Kihyun tocar a harpa, sempre o atraía para ele, embora não soubesse como explicar isso. 

— Não pare, por favor. — Continuou dizendo assim que Kihyun travou com a pequena harpa na mão. 

Kihyun encarava o mais novo com aquele olhar assustado e a impressão de que o coração pulsava na garganta. Não sabia se pela forma repentina como surgiu no cemitério ou se pela energia despudorada que lhe saía por cada poro. 

— Como ousa aparecer diante do túmulo de sua mãe nestes trajes? — Falou tentando esconder o nervosismo. 

Chang se mediu por um tempo e quando finalmente se deu conta que estava nu por baixo daquele manto aberto, fechou o mesmo com rapidez.

— Tem razão. — Disse vendo Kihyun balançar a cabeça em desaprovação. — Mas… o que está fazendo aqui?

— Renovando as flores da sepultura de sua mãe. 

— Era eu quem deveria fazer isso. — Disse se aproximando. 

— Concordo. — Respondeu de pronto. — Mas essa foi a primeira promessa que fiz a Imani em seu leito de morte e devo cumprir. 

Com um sorriso afetuoso, Changkyun olhou para o mais velho que se focava em organizar as flores nos vasos de mármore em cima da sepultura. Observava atento os seus cabelos acinzentados caindo sobre o rosto bem feito e tapando parcialmente os olhos. Aquilo conferia a Kihyun o ar sedutor despretensioso de sempre e que despertava sensações conflitantes no mais novo. 

—  Você está tão lindo sob essa luz. — Disse de repente. — E quando fica nervoso é ainda mais bonito. — Prosseguiu, levando uma das mãos para perto do rosto de Kihyun, tirando a mecha de cabelo que escondia os seus olhos.

Kihyun travou com as flores na mão ao sentir os dedos do outro caminharem pela bochecha e pararem perto do pescoço. Changkyun conseguia ler todas as emoções naquele rosto suplicante que ao menos para ele, se mostrava sempre tão honesto. Eram incapazes de esconder o que fosse um do outro ainda que tentassem. 

— Não… — Hesitou. — Não me toque dessa forma tão obscena.

— Kihyun...

— Não me toque com as mesmas mãos que acabaram de tocar aqueles corpos libertinos. — Repetia a ordem segurando o braço do mais novo. 

Ele por sua vez, encarava Kihyun dando pouco crédito aquele pedido. 

— Seus olhos sempre contradizem o que os seus lábios falam. — Disse puxando o mais velho para um abraço. 

 Os corpos se chocaram de forma abrupta e Changkyun percebeu o coração de Kihyun disparar junto do seu. Adorava a sensação do proibido, de senti-lo tão de perto e embora quem visse de longe considerasse aquilo um abraço fraternal, ambos sabiam que a aura que pairava entre eles era bem mais complexa e bem menos inocente. Afundou o rosto no pescoço de Kihyun absorvendo o cheiro cítrico que ele exalava e rapidamente se lembrou de momentos atrás, em seu quarto, quando aquele simples aroma fez seu membro enrijecer por baixo do roupão.  

— Você esteve no meu quarto?  

O rubor no rosto de Kihyun denunciava o desconforto com a pergunta e ele se sentia grato por estarem abraçados agora pois evitava que Changkyun percebesse isso. 

— Senti o seu cheiro. — Continuou com a voz baixa. —  Você me viu enquanto eu…

— Pare com isso. Eu não quero ouvir. 

— Foi por isso que tocou a harpa, não foi? — Insistia com a voz sussurrada no ouvido. 

Kihyun não queria ter aqueles sentimentos egoístas com o irmão, mas sentia um profundo ciúme dele. Queria tirá-lo daquele quarto que cheirava a fumo, sangue e sexo. Queria afastá-lo dos toques desconhecidos, dos beijos levianos de estranhos que sempre ocupavam a cama dele. 

— Changkyun… — Kihyun disse se afastando do abraço e retomando o controle de si.

Se encaravam em silêncio tendo como cenário o cemitério da família. O ambiente sem cores, repleto de árvores com galhos secos ao fundo parecia dar o tom mórbido dos sentimentos confusos e obscuros daqueles dois. 

— Me ajude com isso. — Apontou as flores na direção do mais novo. 

O rapaz olhou para baixo em direção das flores que lhe tocavam o peito nu antes de levantar a cabeça e encarar o mais velho.

 — Você sempre foge, Kihyun. 

— Coloque essas aqui naquele vaso ali.  — Ordenava, ignorando o outro. 

— Foi você quem me atraiu para cá. Então por quê?  

— Pegue as flores que Hani trouxe e coloque junto dessas.

Insistir no tema seria uma grande perda de tempo. Changkyun conhecia o jeito teimoso e irritadiço de Kihyun. Percebia na fala e nos trejeitos que o assunto estava encerrado para ele. Ainda que soubesse no íntimo as razões pelas quais ele havia tocado a harpa, resolveu entrar em seu jogo, ignorando o momento anterior e se limitando a ajudá-lo com as flores da sepultura. 

Kihyun se mantinha distraído com as suas obrigações diante de Imani e por um momento, se perdia em pensamentos, refletindo sobre o mais jovem e nem de longe aquele belo rapaz ao seu lado lembrava a indefesa e chorona criança que corria para seu quarto em noites de trovoada. Ele não era mais o pequeno órfão abatido da época em que a mãe faleceu. Changkyun se tornou mais forte e para seu desespero, mais bonito. Muito em breve, não seria necessário prosseguir com a segunda promessa que fez a Imani e quando pensou sobre isso, chorou sem que ele percebesse. 

Cuide dele por mim... Kihyun. 

 

 *

 

Por favor! Não me mate! 

 

— Ei, rapaz! Acorde! 

 

Não me mate na frente dos meus filhos. 

 

— Já chegamos na cidade. 

 

Não me mate! 

 

Jooheon levantou no susto. Acordou de um sonho perturbador tendo ainda o grito do homem no pensamento. O capuz negro que cobria a cabeça caiu pelas costas e ele olhava confuso por toda a parte.  

— Não posso ir com você além daqui. — O carroceiro disse. 

— Tudo bem. — Voltou o capuz para a cabeça e desceu da carroça. — Eu lhe agradeço de toda forma. — A voz saiu baixa. 

Observou o homem solitário seguir seu caminho e se voltou para a entrada da cidade respirando fundo. Havia uma dor insistente no fronte, um leve incômodo nas mãos e algumas feridas por cicatrizar que não fazia ideia de como adquiriu.  

Entrou pelos portões da cidade e ainda que escondesse o próprio rosto com o capuz, era possível ver a movimentação na colônia com crianças correndo e animais transitando pelo meio das pessoas que negociavam no comércio local. 

A colônia inspirava vida. Era o som das carroças pedindo passagem, dos cães ladrando para os gatos e das pessoas falando todas ao mesmo tempo que dava a ele a certeza da dádiva que era estar vivo. Queria ser parte daquela comunidade, nutria um desejo particular em ser abraçado por aquele povo como se fosse um deles, mas embora a aparência lhe conferisse a ideia de que era um humano qualquer, Jooheon estava longe disso. 

Filho de uma bruxa e de um lican, ele era tudo o que aquela sociedade considerava de mais detestável, Jooheon era um híbrido. Seres mestiços iguais a ele nunca foram dignos de confiança e costumavam ser associados a maldições e perda da sorte. Por essa razão, se ocultava naquele manto negro comprido para que chamasse o mínimo de atenção possível mas principalmente, para esconder dos outros os olhos heterocromáticos, característica herdada do pai lican. 

Jooheon não se lembrava de que parte de Akai estava vindo mas pela fome que sentia era de longe. Se aproximou de uma barraca de fruta, desejando a maçã vermelha do cesto e mexendo nos bolsos constatava o óbvio, não tinha nada que pudesse pagar o valor do alimento. Com isso, ficou parado encarando a maçã, considerando rapidamente os prós e contras de apenas meter a mão nela e sair correndo. 

— Ei! O que você quer? — O homem do outro lado da barraca perguntou ríspido. 

Interrompido em seus pensamentos, Jooheon olhou em direção a voz que falava com ele e no instante em que o vendedor se deparou com aqueles olhos onde um era vermelho e o outro cinza, a expressão que trazia no rosto se tornou aterradora. 

— Que tipo de aberração é você? Saia daqui! Anda! Antes que espante a minha clientela. — Falou mais alto atraindo a atenção. 

Jooheon puxou o capuz mais para frente e saiu dali, se misturando entre as pessoas enquanto ouvia o homem da barraca o maldizer. Se distanciou o mais rápido que pôde evitando assim um possível linchamento já que muitos dos que eram como ele morriam desta forma. 

O beco afastado do mercado parecia um bom lugar para se ocultar até que a movimentação cessasse. Talvez, com a chegada da noite, poderia sair dali e conseguir algo para comer entre as sobras que os demais tivessem deixado pelo chão. 

O calor sufocante fez com que tirasse o capuz pela primeira vez. Sentou no beco com a cabeça apoiada na parede e acostumado a solidão se deixou ficar ali, isolado no silêncio perturbador de sua cabeça até o momento em que pegou no sono. 

As mesmas imagens desconexas surgiam no sonho. O homem que implorava pela vida enquanto era esganado, pedia não por medo de morrer, mas pelo fato dos filhos estarem assistindo aquilo. 

O sono sempre intranquilo foi interrompido pelos murmúrios próximos do lugar onde Jooheon dormia. Abriu os olhos e já era noite. Não fazia ideia de quanto tempo havia dormido mas era bom se levantar agora antes que alguém lhe importunasse por estar pela rua. 

— Esse é um dos maiores que já vi na vida. 

A voz provocativa de uma mulher dizia próximo. 

Jooheon esticou o pescoço e olhou para o lado direito. Após alguns barris, uma mulher tinha o vestido levantado por um homem de aspecto sujo e de traços grosseiros. 

— Por que não me dá um pouco disto? — Ela prosseguiu. 

Voltando a cabeça para trás, Jooheon se manteve em silêncio enquanto a prostituta baixava as calças do cliente bêbado. Decidiu esperar os dois saírem do beco para ir logo em seguida. Fazer isso agora chamaria muita atenção e tudo o que ele menos queria em sua miserável vida era chamar a atenção. 

— Mas isso é tudo? — A mulher disse surpresa emendando uma gargalhada. — De que adianta ter uma boa flecha se ela dispara antes do tempo. 

O homem resmungou alguns xingamentos e empurrou a mulher contra a parede antes de sair da presença dela irritado. Passou por Jooheon sem perceber a presença dele e sumiu na esquina. 

Jooheon achou graça da cena e permaneceu calado onde estava. Enquanto ria, a mulher passou por ele contando o dinheiro que tinha na mão com um semblante satisfeito. A ideia era que assim que ela desaparecesse na esquina como sua companhia anterior, ele também saísse. Contrariando as suas expectativas, viu surgir no beco uma menina pequena, de cabelos compridos e negros. As roupas rotas e sujas faziam contraste com o sorriso inocente e o jeito animado com que vinha saltitando. 

— Mãe! 

— O que está fazendo aqui? Pedi que me esperasse em casa. — A mulher disse. 

— Eu sei, mas olhe o que eu consegui. — Dizia apresentando dois grandes pedaços de pão e um pouco de mel. 

— Você roubou?

— Não! — Balançou a cabeça de forma exagerada. — Alguns comissários dos vampiros estão distribuindo comida na cidade. Então, eu peguei. 

— Eu já lhe disse que não quero você aceitando favores dos vampiros. Eles não são de confiança. Além do mais, eu tenho dinheiro o suficiente para comermos muito bem hoje. — Disse mostrando algumas moedas para a filha. 

Os olhinhos extremamente puxados da criança aumentaram de tamanho. 

— Se livre disso e vamos para casa. 

A empolgação com que chegou se desfez rapidamente. O rostinho puro e inocente abaixou desanimado e encarou o chão. Nas mãos, os pedaços do pão e o mel estavam sobrando. Se fizesse o que a mãe pedia, jogaria tudo fora e iria com ela para casa carregando um profundo remorso, visto que, naqueles dias muitas pessoas na cidade não tinham o que comer. Foi quando viu Jooheon. 

Ainda sentado no chão do beco e com a cabeça afundada entre as pernas, o rapaz sentiu quando alguém parou diante dele. Levantou o rosto devagar pressentindo o pior e então, viu pela primeira vez aquele rostinho lindo e tão adorável de Juno.

— Tome! — Ela disse esticando o braço e lhe oferecendo o pão com o mel. 

Os olhos do híbrido encararam a menina e diferente do que esperava, ela não se assustou com seus olhos de cores distintas e nem lhe lançou maldições. Ela apenas sorriu, balançando o pão e o mel na frente de Jooheon o incentivando a pegar da mão dela. 

— Muito… obrigado. — Disse aceitando a gentileza. 

A menina fez uma pequena reverência e saiu correndo. Jooheon atacou o pedaço de pão sem qualquer cerimônia. Estava faminto sabe lá por quantos dias. A perda de memória deixava as suas lembranças confusas mas pouco se importava com isso. Comia com pressa como se aquela fosse a última refeição que faria em vida. O mel que tinha na mão foi virado na boca e quando sentiu o estômago desacostumado reclamar da refeição apressada, ouviu ao mesmo tempo a voz infantil gritar na entrada do beco: 

— Mãe!!

Assustado, se virou para a direção da voz, largando o que ainda tinha de alimento na mão para correr até o começo do beco. 

A mulher que antes vendia o corpo para um cliente qualquer, estava agora caída no chão com uma flecha atravessada na altura do estômago. Jooheon tocou a sua testa gentilmente, olhando para seus olhos cheios d'água. Na colônia, o som dos gritos e uma correria geral se iniciava. 

— Salve a minha mãe, por favor… salve a minha mãe! — A garotinha gritava com as mãos sujas de sangue. 

Não me mate! Não na frente dos meus filhos

As palavras da criança contrastavam com a frase que sempre invadia os sonhos de Jooheon. Ele não podia assumir uma responsabilidade tão grande quanto aquela.  Não saberia como salvar a mulher da morte mas poderia ao menos tentar ajudar, visto que há poucos minutos, aquela gentil criança havia oferecido o alimento que tinha nas mãos para um homem faminto como ele. 

Jooheon pegou a mulher nos braços ainda agonizando e correu com ela para dentro do beco novamente. Fora daquele lugar, era possível de ver o tumulto generalizado que de repente tomou conta da cidade. Ele não entendia a origem de toda a confusão, mas a colônia dos humanos sofria algum tipo de ataque.

— Por favor… — A voz rouca da mulher ferida chamou a atenção de Jooheon. — Leve… leve a minha filha embora daqui. 

— Mãe… — A criança chorava. 

— Não se esforce muito. — Jooheon dizia. 

A capa negra e surrada que vestia foi tirada do corpo e o tecido grosso foi colocado em cima da mulher. 

— Pressione esse pano em volta da ferida. — Ele instruiu a criança. —  Eu não sei o que está acontecendo na colônia, mas assim que der a levarei para um médico. 

— Médicos… — Disse olhando para longe. — Eles… — Fez uma careta de dor. — Eles não vão me ajudar.

— Por que não ajudariam? 

A mulher olhou para o híbrido como se esperando que ele se desse conta. Ela era uma prostituta e considerando a sua fama na cidade e em seus arredores, nenhum médico arriscaria a sua reputação para ajudá-la. 

 Os gemidos de dor se misturavam aos gritos desesperados dos cidadãos. Jooheon observava o clarão que começava a surgir e sabia que tudo naquele lugar estava em chamas. A origem do ataque era desconhecida, mas se manter escondido ali parecia a atitude mais sábia. 

— Tome isto. — A mãe da criança se esforçou para tirar as moedas que guardava no vestido. — Leve a Juno daqui. 

Então era esse o nome da criança. Juno. 

— Logo alguém vai chegar nesse beco. Salve a minha menina. — Disse entregando o dinheiro que acabava de receber do cliente grotesco. — Fujam dessa cidade antes que seja tarde. 

— Mãe... não! Eu não vou te deixar aqui. 

— Juno… — Tossiu, vertendo sangue pela boca. — Você sabe para onde deve ir. 

As palavras da mulher diziam mais do que Jooheon podia entender. Havia um segredo entre aquelas duas que ele ainda não conseguia captar, embora estivesse implícito que logo tomaria ciência. 

O trotar dos cavalos parecia se aproximar e o calor das chamas dava sinais de que muito em breve aquela cidade seria apenas um monte de escombros e cinzas. 

— Ande! Leve minha criança daqui! 

Juno olhou para Jooheon negando devagar com a cabeça. Aquele olhar suplicante falava sem dizer. Ela não queria fugir sem a mãe e para ela pouco importava viver se a mãe estivesse destinada a morrer. 

Quanta crueldade aquela criança já havia presenciado em poucos anos de vida? Jooheon meditava no curto espaço de tempo que teve entre acatar o pedido da mulher e se render aos olhos chorosos da criança.

 Tomou a mãe da menina nos braços e a levantou de uma única vez, apesar dos protestos que ela fazia em meio a dor. 

— Você sabe para onde ir? 

Secando as lágrimas, Juno apenas confirmou com a cabeça.

— Então me guie para fora daqui. É a única forma de salvarmos ela. — O mais velho falou. 

Seguindo para o fim do beco, a pequena guiava o desconhecido forasteiro de quem nada sabia sobre mas a quem agora confiava a vida de sua mãe.

 


Notas Finais


Acabou...😔 mas semana que vem tem mais! Espero que tenham curtido o capítulo.
Eu postei apenas dois deles na semana passada e já estou recebendo tanto carinho de vcs. Isso importa muito e me motiva a cada vez mais escrever essa história.


Vou aproveitar pra deixar um recadinho para os meus amores que leram "Anjos Caídos". Montei a playlist da fic no Spotify, vou deixar o link delas aqui embaixo. Isso mesmo..."delas" kkk pq fiz uma com a trilha oficial e outra com as músicas citadas durante os capítulos.

Trilha 1: https://open.spotify.com/playlist/0Nn3lhzP7NLEeoMsOk27k7?si=2RveyuyXTpyMKd1rR996gw
Trilha 2: https://open.spotify.com/playlist/5knJGqCMkVMSCgYdTD6ijS?si=1vHrd3RdR9eILVPU7HYS3g

Vermillus também possui uma trilha e pra quem ainda não ouviu deixei o link no Prólogo...😊

Semana que vem eu volto com mais um capítulo, meus amores! Até sexta...❤️😘


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