Uma gilete.
Um corte.
Sonhos se esvaindo.
Mais um corte.
Vida jorrando.
Mais um último corte.
Corações se despedaçando.
O peso daqueles três cortes
Era o peso do mundo.
O preço daqueles três cortes
Era incalculável.
Uma vida não tem preço.
O egoísmo naquele coração
Naquele ser
Naquele canto do banheiro
Jorrava junto com o sangue.
As frustrações
As desesperanças
As tristezas
O ódio
Jorravam junto com aquele sangue.
O que um dia fora vida agora pintava
Pintava de vermelho um chão antes verde
Pintava com desespero
A cor da esperança.
O coração daquela pessoa
Não podia estar mais cheio
Do que em seus últimos momentos.
Estava ficando frio.
Cada vez mais frio.
Mas aquele coração
Por tanto tempo vazio
Estava agora transbordando.
Os olhos agora tão pesados.
O frio tão insuportável.
O simples ato de respirar agora tão difícil.
E o coração cheio de......
Lembranças.
Seus pais sorrindo pra ele
Seus irmãos brincando com ele
Seus amigos rindo de vários nadas
Todos para ele
Todos com ele.
Não se deixava enganar.
Sofrera muito em sua vida.
Sofrera tanto que estava onde estava agora
Sofrera tanto que a morte parecia a melhor opção.
Virou vítima de sua fraqueza.
Virou vítima de sua covardia.
Sofrera.
Oh Deus! Como sofrera.
Mas ao seu lado sempre havia alguém
Pais
Irmãos
Amigos.
E por mais que não notasse.
Sempre tinha alguém lá.
Agora não tinha mais tempo para voltar atrás.
Seu tempo jorrava.
Jorrava de seus pulsos.
Agora não conseguia mais nem pensar direito.
Por Deus que besteira acabara fazendo.
Pôde ouvir seus amigos falando
"Cara cê é muito louco na moral
😂😂😂😂😂😂
Mas qual de nós, não é??
Somos irmãos loucos.
Somos loucos.
Somos nós.
Vamos estar sempre juntos.
Até o fim."
Ainda escorriam lágrimas daqueles olhos moribundos.
Ouviu então as vozes de seus irmãos mais novos
"Irmãozão a gente te ama"
E naquele frio pôde sentir o calor do abraço daqueles pequenos.
E seus pais
"Filho, estamos aqui pra te apoiar
Em tudo que fizer
Contanto que seja feliz
Estaremos felizes também
Te amamos filho"
Ó Deus, porque tão cruel?
Porque mostrar o sentido da vida no leito de morte para uma pessoa que a muito esquecera do significado disso?
O sentido era estar ao lado de quem amava.
E como amava.
E como havia sido covarde.
Como havia sido egoísta.
Juntara o resto de forças que tinha e rabiscou algo com seu próprio sangue.
Agora já não conseguia mais pensar.
Não conseguia mais sentir.
Não conseguia mais nada.
Morreu com um sorriso no rosto.
Fora purificado pelo próprio sangue.
Fora julgado por si próprio.
Fora seu próprio carrasco.
E fora seu próprio fim.
Mas no seu fim conseguiu ficar com aquele sorriso no rosto.
Sorria porque estava feliz.
Porque tinha encontrado a resposta para a pergunta que ele tinha feito para si próprio antes de aplicar a pena capital em si mesmo.
Qual era o sentido de continuar ali?
Não morrera sorrindo por finalmente ter sanado todas as dúvidas e incertezas em sua cabeça.
Morrera sorrindo por ter a sua principal dúvida, antes dos seus últimos minutos, ser respondida.
Morreu sorrindo, também, pela ironia de ter respondido a si próprio, no momento da sua morte, a pergunta que o matou.
E morreu sorrindo para que encontrassem aquele corpo, agora vazio, como todos os que o amavam gostavam.
Sorrindo.
Mais tarde quando acharam o corpo no chão do banheiro, sorrindo e empapado de sangue, notaram um detalhe do seu lado.
Uma mensagem.
DESCULPEM ESSE COVARDE.
ME PERDOEM.
AMO CADA UM DE VOCÊS .
DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO.
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