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História Vestido Ideal - Você se atrasou


Escrita por: aebora

Notas do Autor


decifra-me ou devoro-te

Capítulo 1 - Você se atrasou


Fanfic / Fanfiction Vestido Ideal - Você se atrasou

 

"O que você faria se não houvesse consequências? O que faria se ninguém estivesse olhando?" 

 

Os sapatos de Baekhyun faziam um barulho oco no piso da loja de vestidos. Ele apertou os braços junto ao corpo e observou o lugar.

Absolutamente tudo ali era branco. Vendedoras nervosas corriam de um lado a outro com vestidos nas mãos. Araras e manequins se estendiam infinitamente por cada canto da loja, lotadas com os mais diversos vestidos. Correndo os olhos pela loja, Baekhyun viu muitas mulheres vestidas com belos vestidos, mostrando as roupas a suas acompanhantes e às vendedoras. O ar era frio e tinha cheiro de lavanda.

Uma loja cheia de gente e vestidos de noiva. Baekhyun só queria fugir. 

Era quase meio-dia. Ele tinha saído mais cedo do trabalho para ir até a loja. Passou o trajeto de carro em um silêncio agoniado. Pegou todos os semáforos vermelhos, como se o mundo estivesse tentando avisar que ele não deveria estar ali. 

Pouquíssimos homens estavam presentes, e o olhar no rosto desses poucos era de desespero, o mesmo que Baekhyun viu no próprio rosto ao passar por um espelho. 

Ele estava essencialmente desesperado. 

Baekhyun nunca imaginou que pisaria em um lugar como aquele, pelo menos não na situação em que se encontrava. Cada passo fazia o estômago dele revirar, sabendo que logo encontraria o inevitável. 

Ele não queria que aquilo tudo acontecesse. Por que tinha que acontecer?

— Meu amor, você chegou! — exclamou uma voz fina.

Baekhyun se virou, ao mesmo tempo que um pequeno corpo colidiu com o seu. Braços finos lhe envolveram a cintura. Ele olhou para baixo, mas tudo o que viu foi uma cascata de cabelos lisos. 

Jinhee sorriu ao se afastar de Baekhyun. Ela estava com um brilho especial nos olhos. Beijou-o nos lábios rapidamente e entrelaçou os dedos aos dele. 

— Quanta animação — comentou Baekhyun, desanimado. 

— Você se atrasou — disse ela, já puxando Baekhyun pela loja. — Vamos, eles estão esperando. 

Jinhee arrastou Baekhyun, cada passo parecendo durar uma eternidade. Ele observou as funcionárias outra vez, sentindo pena delas. Viu uma derrubar uma caixa de sapatos e receber uma bronca da cliente.

Um grande relógio na parede marcava 11:58 da manhã. Mais dois minutos e seria a hora do almoço. Baekhyun ficou com o estômago embrulhado só de pensar em comer.

Jinhee foi guiando Baekhyun até um canto da loja, onde havia um grande espelho na parede e um pequeno sofá. Sentado ali estava um casal. Eles sorriram ao ver Baekhyun se aproximando, como se ele fosse o convidado especial de uma festa surpresa.

— Baekhyun, essa é Kae Sohyun, que você já conhece, e o noivo dela, Park Chanyeol. — Jinhee apresentou. Os dois levantaram do sofá e fizeram uma pequena reverência. — Chanyeol e Sohyun, esse é Baekhyun, meu noivo. 

Baekhyun se curvou e estendeu a mão para cumprimentar Sohyun. Ela tinha cabelos compridos e olhos grandes, mas ele não a achava muito bonita. 

— Oi, Baekhyun — disse Sohyun. A voz dela era fria, apesar do sorriso simpático que exibia. Baekhyun recuou, incomodado com a presença dela, mas sorriu.. 

— Oi, Sohyun.

Então, Baekhyun se virou para encarar o rapaz ao lado de Sohyun. Ele era alto, tinha cabelos escuros formando cachos e sorria de maneira gentil, mas misteriosa. Assim que colocou os olhos em Baekhyun, começou a encará-lo fixamente.

— Sou Chanyeol — cumprimentou, estendendo a mão. Baekhyun observou-o em silêncio por um instante. Depois, apertou a mão de Chanyeol e sorriu de volta. 

— Prazer, Chanyeol. 

O tempo parou assim que as mãos se encostaram. Baekhyun sentiu um calor faiscar do ponto onde tocava Chanyeol, subindo para todo o braço. Ele encarou o rapaz tão intensamente quanto era encarado. Percebeu que estava reparando nele quando o primeiro botão da camisa social de Chanyeol pulou e caiu no chão, rolando pelo piso. Baekhyun provavelmente tinha sido o único a notar aquilo de tão concentrado que estava.

Já estava apertando a mão de Chanyeol por tempo demais. Ele desviou o olhar, envergonhado, e se afastou.

Um silêncio se instalou. Baekhyun não ousou olhar para cima, onde os olhos de Chanyeol estavam,  apenas manteve a cabeça baixa. 

— Então... — disse Jinhee, percebendo o clima estranho. Ela limpou a garganta. — Como você demorou, já escolhemos os primeiros vestidos. 

— Fiquei preso no trânsito — murmurou Baekhyun, afirmando mais para si mesmo do que para qualquer um ali. Logo, estava sendo empurrado para trás.

— Sentem aí, nós vamos nos vestir — disse Sohyun, jogando Baekhyun e Chanyeol no pequeno sofá e desaparecendo com Jinhee logo depois.

Baekhyun não ergueu o olhar nem por um minuto e se sentou o mais longe de Chanyeol possível. O sino da igreja próxima tocou, avisando que era meio-dia. O Byun suspirou, levemente entediado.

Mas era exatamente para aquilo que estava ali. Ajudar a noiva a escolher um vestido. Baekhyun sabia que nem Jinhee, nem Sohyun escolheriam o vestido naquele dia. Era a primeira de muitas sessões de indecisão na busca do vestido ideal, mas, com sorte, seria a única a qual ele teria que comparecer. 

Baekhyun não ligava para aqueles vestidos. Muito pelo contrário; era só pensar em Kim Jinhee vestida de noiva que sentia enjoo, pois lembrava da imensa farsa em que vivia. Farsa da qual Jinhee não fazia nem ideia. 

Claro, ela nunca desconfiara que Baekhyun só começou a sair com ela para agradar os pais. Na época, ele pediu Jinhee em namoro para encobrir os rumores que o rondavam. Ficou com a garota para deixar a mãe feliz e o pai tranquilo. Prometeu a si mesmo que iria namorar Jinhee até a poeira abaixar e depois terminaria tudo.

Mas antes de Baekhyun ter a chance de dar um fim, o tempo passou, e a mentira tomou proporções que ele não esperava.

Baekhyun acabou sendo obrigado a se casar com Jinhee. Foi proibido de ver o único amigo que tinha e jogado em um apartamento para dividir com a Kim. No dedo, carregava a aliança de um casamento arranjado.

E foi assim que ele terminou naquela loja, noivo de uma mulher que não amava. Foi assim que ele teve a vida roubada de si apenas para agradar a família. 

O noivado de Baekhyun com Jinhee era motivo de alegria na família Byun. Todos estavam felizes. 

Todos, menos ele. 

Na mesma época em que pediu Jinhee em casamento, Sohyun apareceu na vida deles. Ela e Jinhee se conheceram e viraram melhores amigas quase que imediatamente. Foram raras as vezes que Baekhyun chegou perto de Sohyun, então ele não a conhecia muito bem. Mas ela era a amiga mais querida de Jinhee e, por coincidência, também tinha noivado recentemente.

Dia vai, dia vem, e Jinhee deu a ideia de juntar as cerimônias de casamento. Ela era amiga de Sohyun e as datas eram próximas. Por que não fazerem um casamento em conjunto? 

Era a pior ideia que Baekhyun já ouvira, logo depois da ideia de se casar com Jinhee. Nunca gostou muito da amizade das duas por causa do jeito que Sohyun manipulava a cabeça de Jinhee.

Mesmo não querendo dividir a cerimônia, ele não tinha muitas opções.

Foi apresentado à Sohyun uma semana antes dos preparativos do casamento começarem. Desde o começo, achou ela uma pessoa um pouco estranha, no mínimo incomum. Sabia que por trás daquele sorriso doce, ela escondia uma personalidade espinhosa. Tudo o que via na garota era veneno escondido atrás de um rosto simpático. Não gostava de Sohyun, nem um pouco. 

Por outro lado, Baekhyun tinha visto Chanyeol apenas por fotos. O Park era muito ocupado, e nunca teve tempo de participar dos preparativos da cerimônia com Sohyun. Pessoalmente, ele era muito diferente das fotos, e Baekhyun ousava dizer, mais bonito. 

Era o noivo de Sohyun, então talvez fosse tão falso quanto ela, mas aquela possibilidade não o tornava menos charmoso aos olhos de Baekhyun. 

O efeito que Chanyeol teve sobre ele foi estranho e imediato. Constantemente, Baekhyun tinha que se lembrar que Chanyeol estava comprometido. Eles se casariam juntos, com duas mulheres que eram melhores amigas. Não deveria estar pensando em quão bonito era o sorriso dele, ou como os seus olhos eram chamativos, ou na voz grave que lhe causara arrepios. 

Mas Baekhyun tampouco podia ignorar aquele calor que sentiu nas mãos depois de cumprimentá-lo. Era um sentimento novo para ele, um tipo de formigamento no estômago acompanhado de um arrepio frio. 

Olhou para baixo; seu joelho quase tocava o de Chanyeol, não fosse o espaço entre eles. Se sentiu nervoso só de pensar em olhar para ele de novo. 

Chanyeol nem se mexia, sentado no sofá, o olhar longe. Baekhyun rezou para que continuassem daquele jeito, mas depois de alguns minutos de silêncio entre eles, e só o barulho de fundo da loja a todo vapor, ele ouviu Chanyeol limpar a garganta e se ajeitar no lugar.

Por favor, não puxe assunto, pensou Baekhyun. Por favor, não puxe assunto. 

— Então... — disse Chanyeol, para a infelicidade dele. — Baekhyun, certo? Finalmente tivemos a chance de nos conhecer. 

Baekhyun assentiu levemente, sem coragem de olhar para o lado. Chanyeol não reclamou da falta de contato visual, apenas pigarreou outra vez. 

— Com o que você trabalha? 

Uma pergunta inofensiva. Baekhyun se remexeu no sofá, pensando se deveria falar. Decidiu que responder não oferecia risco algum.

— Diretoria administrativa. Na empresa do meu pai.

— E você gosta de trabalhar nisso?

— Não, meu pai me obrigou — respondeu Baekhyun, ameaçando dar uma olhada para Chanyeol. Ele estava com o olhar fixo na porta da loja, mas mesmo assim Baekhyun se sentiu nervoso e desviou o olhar outra vez. 

— Então, seu pai te obriga a mandar nos funcionários dele? 

Definitivamente, era um bom resumo do cargo de Baekhyun. Ele realmente detestava a ideia de ser diretor na empresa Byun, mas com o tempo acabou aceitando que sempre seria obrigado a fazer algo que seu pai quisesse. O emprego era só mais uma das exigências. 

Baekhyun virou o rosto na direção de Chanyeol com um sorriso sarcástico, mas congelou ao ver que Chanyeol o encarava diretamente. 

Ele parecia muito interessado em Baekhyun e no que ele ia falar, os olhos grandes e atentos voltados para ele. Ele se sentiu despido diante daquele olhar, como se Chanyeol conseguisse ler cada um de seus segredos, como se pudesse vê-lo por dentro. Aqueles olhos estavam o analisando com facilidade, e o deixaram atordoado. 

— Meu pai me obriga a fazer muitas coisas, como mandar nos funcionários dele e me casar com uma mulher. 

No momento em que falou as palavras, Baekhyun sentiu o coração gelar no peito. Nem em um milhão de anos pretendia dizer aquilo a Chanyeol. Baekhyun não gostava nem de pensar na possibilidade de dizer aquilo a qualquer pessoa, independente de quem fosse. 

Ele era uma pessoa fechada, raramente falava sobre si para os outros, nem mesmo Jinhee o conhecia muito bem. Chanyeol era um desconhecido, e Baekhyun tinha acabado de entregar a ele seu maior segredo. 

Onde estava com a cabeça? 

— Vocês estão prontos? — A voz de Sohyun veio alta até onde eles estavam. Baekhyun e Chanyeol viraram a cabeça ao mesmo tempo. 

Lá estavam Jinhee e Sohyun, saindo do provador onde haviam entrado. Ambas usavam vestidos brancos deslumbrantes e véus de renda sobre as cabeças. Duas vendedoras vinham atrás, segurando a barra dos vestidos conforme elas andavam. 

Jinhee usava um modelo sem mangas, apertado na cintura e com uma saia bufante. Era simples e grande demais. Já Sohyun estava com um vestido de mangas longas cheio de rendas e pérolas trançadas ao longo da saia.

— O que achou? — perguntou Jinhee, parando na frente de Baekhyun, enquanto Sohyun rodava diante de Chanyeol. 

— É lindo — disse Baekhyun, e Jinhee sorriu abertamente, passando as mãos pela saia. 

— E o que achou do meu? — Sohyun tinha aquele tom irritante na voz e insinuava as curvas do vestido para o noivo. Baekhyun fixou os olhos em Jinhee, pela primeira vez feliz com o jeito simples e ingênuo dela. Ele era infeliz, mas pelo menos Jinhee era uma pessoa tranquila. Pelo menos ele não estava sendo obrigado a se casar com alguém como Sohyun. 

— Você está linda, meu amor — respondeu Chanyeol, a voz transbordando carinho pela noiva.

Baekhyun se sentiu frio ao ouvir aquilo. Não tratava Jinhee com tanto carinho, e tinha elogiado o vestido, e não ela. Mas Chanyeol não tirava os olhos de Sohyun, então Baekhyun começou a se perguntar se não estava falhando com seu papel de noivo apaixonado. Talvez devesse seguir o exemplo de alguém que realmente amava a pessoa com quem iria se casar. 

— Voltamos daqui a pouco — anunciou Jinhee, e logo ela e Sohyun estavam de volta no provador. 

Baekhyun começou a imaginar o que deveria dizer a Jinhee quando ela aparecesse com o próximo vestido. Deveria chamá-la por algum apelido? Mas eles nunca se chamavam por nomes carinhosos. Deveria elogiá-la, dar a entender que o vestido era bonito porque era ela quem o vestia? Ele conseguiria mentir na cara dela e ainda assim parecer sincero? 

Jinhee parecia ter acreditado naquele elogio, apesar de Baekhyun não ter gostado nem um pouco da peça. A verdade era que, qualquer que fosse o vestido que Jinhee colocasse, todos pareceriam horríveis aos olhos dele. Todos os vestidos o lembrariam do quanto odiava aquele casamento e aquela mentira. Como poderia fingir uma admiração que não sentia? 

Não, não poderia. 

Chanyeol se moveu um pouco no sofá, distraído com o movimento da loja. Baekhyun se lembrou do que havia dito a ele antes das duas aparecerem.

Que coisa idiota de se dizer. Era melhor consertar logo. 

Como? Mentindo outra vez e dizendo que, na verdade, amava Jinhee? 

Não, não podia mentir. Mas também não podia ficar em silêncio. Resolveu tentar a mesma tática de Chanyeol, desejando do fundo do coração que ele não tivesse prestado atenção na informação que Baekhyun tinha deixado escapar.

— E você, Chanyeol? No que você trabalha?

Chanyeol voltou a atenção a ele, e o peso do seu olhar fez Baekhyun esquecer da pergunta que tinha feito há segundos. Nem sabia o que esperar de resposta.

— Eu sou vice-presidente da empresa Park — disse Chanyeol, sorrindo. Baekhyun quase arregalou os olhos, surpreso e arrepiado de ver aquele sorriso direcionado a si. 

— E você parece gostar — comentou Baekhyun. Chanyeol deu de ombros. 

— É um bom emprego, e eu trabalhei duro para conseguir. Mas sabe, eu vou tirar umas férias. A Sohyun quer que eu ajude com o casamento e está planejando uma lua de mel longa em um lugar com praia ou algo assim. 

— Vocês são lindos juntos — comentou Baekhyun.

Chanyeol olhou para ele com uma expressão engraçada, como se tivesse recebido um péssimo elogio, mas fosse forçado a mostrar gratidão. Não parecia muito feliz. 

A porta do provador se abriu outra vez e uma onda branca saiu.

— Vestido número dois — anunciou Sohyun, girando pelo piso. 

Ela estava com um vestido longo e sem volume. Uma grande cauda se arrastava atrás dela. O de Jinhee era praticamente igual ao anterior, mas a parte da frente era brilhante e decorada, apertado ao redor da cintura.

— O que acha, Baek? — perguntou Jinhee. 

Enquanto Chanyeol tecia elogios a Sohyun, Baekhyun olhou para Jinhee, verdadeiramente. Tentou ver a beleza dela e ignorar a tristeza que sentia. Sorriu, mas o simples gesto exigiu dele muita força de vontade. Fazia tempo desde a última vez que Baekhyun tinha sentido uma vontade genuína de sorrir. 

Por um momento, ele até achou o vestido bonito. De qualquer forma, sabia mentir. 

— O brilho dele combina com os seus olhos — disse Baekhyun, com certa dificuldade, mas colocando carinho na voz. — Você ficou muito bonita. 

O sorriso de Jinhee fez o esforço valer. Ela correu e o abraçou, sendo puxada de volta por Sohyun. 

— Ainda faltam muitos, vamos logo — disse ao puxá-la. Jinhee ainda sorria quando voltou para dentro do provador.

Mas ao invés de acompanhá-la, Sohyun ficou ali, com um olhar desconfiado no rosto. 

— Vocês dois... Vocês ficam dizendo que estamos lindas, mas aposto que estão entediados de ficar olhando para vestidos. 

Chanyeol soltou uma risada. 

— Como adivinhou? 

Sohyun deu de ombros. Puxou os dois pelas mãos e começou a empurrá-los para longe. 

— Por que não vão à cafeteria aqui perto, conversar sobre esportes ou qualquer coisa assim? — sugeriu ela, praticamente os enxotando da loja. — Se conheçam melhor, fiquem amigos, sei lá. 

— Vocês não queriam que víssemos os vestidos? — perguntou Chanyeol, mas Sohyun já estava longe, arrastando a cauda do vestido de volta para dentro da loja. 

— O que fazemos agora? — perguntou Baekhyun, olhando para a rua alguns passos adiante.

Chanyeol riu.

— Vamos obedecer. 

 

 

 

>< 

 

 

 

Baekhyun mordeu a ponta do dedão, observando enquanto Chanyeol fazia o pedido no balcão. Se ajeitou no banco e apoiou os cotovelos sobre a mesa. 

O caminho até o café foi silencioso e desconfortável. Era na mesma rua que a loja de vestidos, então eles não precisaram andar muito, mas cada passo perto de Chanyeol era uma bomba estourando sob os pés de Baekhyun. 

Ele encarou o lado de fora da cafeteria pela vitrine, ainda mordendo a cutícula do dedão. Estava nervoso como nunca. 

— Espero que goste de café puro. — Baekhyun se virou. Chanyeol estava colocando uma bandeja com duas xícaras e um pote de vidro cheio de açúcar em cima da mesa. Se sentou no banco contrário ao de Baekhyun e colocou uma das xícaras na frente dele.

— Eu achei melhor pedir... — Chanyeol se interrompeu ao ver Baekhyun agarrar a xícara e levar aos lábios. Estendeu a mão, tentando impedi-lo. — Cuidado, está sem... 

Ignorando o gosto amargo, Baekhyun secou a xícara de uma só vez. Colocou-a de volta na mesa e fez uma careta. 

— ... açúcar — completou Chanyeol. Colocou pequenas colheres de açúcar na própria xícara e soltou uma risada. — Por Deus, parecia que você estava tomando uma dose de vodka. 

— Tem vodka aqui? — perguntou Baekhyun, quase esperançoso. Chanyeol ergueu as sobrancelhas.

— Você está nervoso? 

— Extremamente nervoso, obrigado — disse Baekhyun, rodando a xícara entre os dedos. 

Chanyeol tomou um gole do café. 

— Por causa do casamento? 

— Não é todo dia que você precisa olhar a pessoa com quem vai passar o resto da vida escolher a roupa para o dia da cerimônia. — Baekhyun mordeu o lábio. — Eu pareço nervoso? 

— Parece que está prestes a ter um ataque cardíaco, mas tudo bem. — Chanyeol tomou outro gole do café. — Então... diretor administrativo? 

— Infelizmente, sim. — Baekhyun suspirou. — Meu pai não gosta muito da ideia de eu trabalhar em um lugar onde ele não possa me vigiar. 

— Porque você foi uma criança hiperativa ou foi um adolescente rebelde? 

— Um pouco de cada. Como você consegue gostar desse tipo de trabalho? 

— De verdade? — Chanyeol se inclinou sobre a mesa como se fosse contar um segredo. — Eu sou um preguiçoso, e naquele lugar a única coisa que preciso fazer é dormir nas reuniões e mandar minha secretária passar os recados para o meu pai. Eu não faço absolutamente nada. 

— Parece promissor — zombou Baekhyun.

Chanyeol deu de ombros. 

— É melhor que meu sonho de infância. 

— Qual era seu sonho de infância? 

— Ser guarda de trânsito. 

Baekhyun segurou a risada diante da expressão séria de Chanyeol, mas não por muito tempo. Começou a rir alto, sem perceber, imaginando Chanyeol com uma roupa de guarda, organizando carros na rua. Cobriu a boca com as mãos para conter o riso.

— Não brinca. Sério? — Chanyeol sorria.

— Eu achava tão legal aqueles caras com placas enormes dizendo pra onde cada um tinha que ir — disse ele, fazendo Baekhyun rir ainda mais. — Ei! Não pode rir do sonho de uma criança. 

— Qual é, você queria ser um guarda de trânsito. Se tivesse seguido a carreira, hoje seria substituído pelos semáforos. 

— Essa é uma profissão muito digna. — Chanyeol defendeu, mas Baekhyun só sabia rir. — Vai dizer que nunca teve um sonho ridículo na infância? 

— É claro que tive, mas isso não torna o seu sonho menos engraçado — provocou ele, rindo baixinho e encarando o fundo da xícara.

— E então? — disse Chanyeol. — Me conta. 

Baekhyun ergueu os olhos. O Park estava com aquela expressão toda atenciosa de novo. 

— O quê? — Baekhyun riu, nervoso.

Chanyeol sorriu.

— Me conta seu sonho de infância. 

— Não vale a pena. 

— Vai, prometo que vou rir só um terço do que você riu do meu.

Baekhyun pensou por um instante. 

— Quer mesmo saber? 

— Manda bala — ele incentivou.

— Ser escritor. 

Chanyeol estreitou os olhos. 

— Esse sonho não é engraçado. 

— Achei que não iria rir — concordou Baekhyun. 

— Estou falando sério, não era um sonho ridículo. 

— Ainda é meu sonho — Baekhyun confessou. Ambos estavam sérios naquele momento. 

Mais uma vez, no mesmo dia, Baekhyun tinha se aberto como uma concha. Não sabia o que estava acontecendo naquela manhã, mas estava tendo uma reação incomum, e quando percebia, estava contando os próprios segredos. Talvez fosse o estresse do casamento ou o calor. Talvez fosse o jeito de Chanyeol ao olhar para Baekhyun, como se já soubesse o que ele ia dizer, que o fazia acreditar que não era grande coisa falar a verdade. Mas já fazia anos desde a última vez que Baekhyun falou sobre aquele sonho com alguém. Ele se sentia travado demais para dar voz ao que pensava.

De repente, naquele dia, revelar segredos se tornou uma tarefa fácil para Baekhyun. Seria um efeito colateral da tristeza que sentia ou um efeito colateral causado pelo homem sentado diante dele? 

— E por que você não segue a carreira? — questionou Chanyeol, como se fosse óbvio.

— Como eu disse antes, meu pai gosta de me vigiar. Ele me colocou na diretoria da empresa dele sob ameaça de morte. 

— Mas você podia ter dito a ele para ir pastar e seguir a carreira dos seus sonhos. — Chanyeol parecia indignado, mas Baekhyun já estava rindo. — Isso é sério. Seu pai não pode mandar em você. 

— Na verdade, ele pode — respondeu Baekhyun. — Você não entende. Você gosta do seu emprego. Não foi obrigado a estar lá. 

— Isso é verdade, mas não quer dizer que eu não entenda — disse Chanyeol. — Eu sei como é não ter opções, mas você tem. Por isso digo que não deveria fazer algo porque é obrigado. 

— É mais complicado do que parece — murmurou Baekhyun, sem forças para argumentar. Chanyeol levantou uma sobrancelha. 

— Baekhyun, você não é o único que faz coisas por obrigação.

E lá estava. Aquele calor misturado com um calafrio. Só de ouvir o próprio nome sair da boca de Chanyeol, Baekhyun sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem. Começou a gaguejar sem perceber. 

— Mas você disse que não foi obrigado a ser vice-presidente. 

Chanyeol balançou a cabeça. 

— Não estava falando de trabalho. Estava falando do casamento. 

Baekhyun soltou a xícara na mesa e olhou para cima. Chanyeol o olhava nos olhos, totalmente sério. Estava fazendo uma confissão ali, naquele instante. Mas por quê? 

Por que Baekhyun se sentia tão estranho? Era como se pudesse ver um espelho ao olhar para Chanyeol; não conseguia mentir para ele nem se tentasse. Chanyeol estava arrancando as verdades e segredos do Byun como quem arranca um curativo.

Aquilo não estava certo. Baekhyun nunca foi do tipo que conversa sobre coisas pessoais, como sonhos de infância e as mentiras que contava ao mundo. Ele nem falava sobre si mesmo, não com um qualquer.

Baekhyun se recusava a acreditar que Chanyeol era um qualquer. Alguém que lhe inspirava honestidade tão naturalmente não podia ser sem importância. Baekhyun queria, mais do que tudo, acreditar que aquela súbita onda de sinceridade era mais que uma coincidência. Devia ser algum sinal ou obra do destino.

Era algo

Baekhyun franziu as sobrancelhas.

— Você está se casando com a Sohyun... por que está sendo obrigado? 

— Você está se casando com a Jinhee pelo mesmo motivo. — Chanyeol sorriu. — Por que parece tão chocado? 

— Porque você parece gostar dela. 

— Você parece gostar da Jinhee. — Chanyeol balançou a cabeça. — Nós dois sabemos fingir muito bem. Já temos três coisas em comum. 

Baekhyun arregalou os olhos. 

— O quê? — perguntou ele, contando. — O casamento por obrigação, a facilidade em mentir... qual é a terceira coisa? 

O sorriso de Chanyeol foi, no mínimo, sarcástico. Ele olhou para o relógio de pulso que usava. 

— Acho melhor voltarmos — disse, se levantando do banco. Baekhyun o acompanhou.

Depois de pagar a conta, saíram do café e caminharam, em total silêncio, de volta para a loja de vestidos. Baekhyun continuou encabulado com a terceira coisa, mas não teve coragem suficiente para perguntar. O silêncio sempre era mais seguro do que as palavras.

Logo antes de entrarem na loja, Chanyeol recebeu uma ligação. Não falou mais que três minutos com a pessoa do outro lado da linha antes de desligar. 

— Preciso voltar para o trabalho, há uma emergência — explicou ele. — Pode avisar à Sohyun que tive que sair? 

— Achei que não fizesse nada no trabalho — brincou Baekhyun. 

Chanyeol sorriu, aberta e sinceramente, o rosto inteiro iluminado pelo sorriso. 

— É, nem sempre tenho essa sorte. — Chanyeol bateu no ombro de Baekhyun, amigavelmente. — Foi um prazer, Baekhyun. 

E saiu correndo até o carro atendendo outra chamada. 

O mesmo calor estranho se espalhou pelo braço de Baekhyun, saindo do ponto onde Chanyeol tinha tocado. Ele sentiu o rosto esquentar enquanto o observava entrar no carro e sumir de vista. 

— O prazer foi meu, Chanyeol — respondeu por fim, para si mesmo. Sentiu que sorria, de forma sincera e feliz, como há muito tempo não fazia. 

Baekhyun se sentia leve, quase livre. E, por mais que tentasse fingir que não, sabia que a sensação tinha muito a ver com a presença de Chanyeol e o jeito que ele o fazia se sentir transparente. 

E, pela primeira vez em anos, a possibilidade de estar sendo lido não o assustou nem um pouco.



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