História Vete de mi - Capítulo único

As mãos tremulas. A boca seca. Os lindos olhos esverdeados de Hélia se arregalavam a cada palavra que Leal falava, melhor dizendo, relatava como havia sido. Inquieta, sentada no sofá, Hélia levanta andando de um lado para o outro da sala e em segundos parando na frente de Leal, que a poucos instantes estava sentado ao seu lado. Olhou para ele, secou as lágrimas que insistiam em cair e o questionou:

— Você beijou a Iolanda?

— Sim.

— Você beijou a Iolanda? — pergunta com a voz embargada.

— Sim, Hélia — responde cabisbaixo sem olha-la.

— Você... beijou a Iolanda, Leal? — a voz de Hélia falha.

— Hélia... por favor!

— Eu... eu não sei o que te dizer — Hélia sorri nervosa tentando controlar a vontade que sentia de chorar. — Sabe, Leal? Eu imaginei que teríamos essa conversa um dia, mas não dessa forma. Porque... porque eu pensei que você me amava...

— Eu te amo, Hélia! — Leal a interrompe. Hélia fecha os olhos ao ouvi-lo, talvez por descrença, talvez por não ter querido ouvir aquela frase, não nesse momento. — Foi impensado, um impulso...

— Um impulso? — Hélia grita. — Um impulso, Leal? — ela fala mais baixo desta vez. — Impulso você tem quando quer, sei lá... comprar um carro e coloca-lo na sala de casa como você já fez. — ela aponta para o carro azul atrás do balcão. — Mas trair?

— Hélia, me perdoa! — a voz de Leal saí embargada, ele levanta a cabeça para olhar para ela e com uma das mãos ele a toca na cintura, nesse momento, Hélia olha para ele e percebe que o mesmo está chorando.

— Você me traiu, Leal — Hélia fala sem conseguir conter o choro. — Eu esperava que você me dissesse: “A Iolanda me beijou, Hélia.”, isso não mudaria em nada o que eu estou sentindo agora, e nem me faria perdoar você, mas seria algo que eu já estava esperando. Porque... Meu Deus, você não é nenhum tonto ou alguma criança. Você sabia que estava apaixonada, Leal, sabia e mesmo assim a mantinha por perto — ela leva a mão ao rosto secando as lágrimas. Leal levanta ficando frente a Hélia, centímetros de distância, quase grudados um ao outro. — Eu esperava que ELA beijasse você. Que viesse dela, mas veio de você... de você! — Hélia começa a bater no peito de Leal, tentando de alguma forma, aliviar sua dor. Leal segura suas mãos em seu peito e a puxa para um abraço. Hélia por vários segundos se debate, lutando contra ele, não queria ficar ali, estava magoada. Quebrada por dentro.

— Você é o homem da minha vida — ela deixa de debater em peito e Leal também se entrega ao choro ao ouvir suas palavras. — Você é o homem da minha vida, como pôde fazer isso comigo? — Hélia se solta de Leal e olha com mágoa, seus olhos verdes que antes daquela conversa brilhavam, agora estavam tristes. — Talvez se eu não te amasse tanto...

Ela pegou sua bolsa e saiu do apartamento como um furacão. Hélia estava quebrada. Andava pelas ruas de São Paulo sem um rumo certo. Não queria ir para casa, pois tudo lá lembrava ele. Uma chuva forte começou a cair sobre a cidade, era como se o céu sentisse a sua dor e chorasse junto a ela. As ruas estavam vagas, não havia ninguém... Então, Hélia resolveu chorar nos braços do único que a entendia: Fidélio, seu melhor amigo.

Ao abrir sua porta, Fidélio se depara com uma Hélia totalmente destroçada, molhada da chuva e com o coração em pedaços.

— Ele me traiu, Fidélio — são as últimas palavras que ela diz antes de se jogar em seus braços e chorar.