Natasha Pov
Ela acordou sozinha e enterrou a cabeça no travesseiro, sentindo o cheiro de Steve.
A noite anterior tinha sido incrível. Ele a acordou de manhã cedo e fez amor com ela com tanta ternura e gentileza que ela chorou quando gozou. Ele a abraçou depois, acariciando suas costas e sussurrando o quanto gostava de seu corpo e o quanto era linda.
Mas, depois de três anos, ela percebeu que ser linda para ele não era suficiente. Não era amor e não poderia durar para sempre, pois a beleza um dia acaba. E uma ótima satisfação sexual poderia não superar a inabilidade dela de dar o que ele esperava. Filhos. Era hora de contar a verdade. Mas, quando desceu, descobriu que ele havia viajado a Washington para uma reunião com a ONU e com o presidente dos EUA. Ela havia se esquecido totalmente da viagem e não sabia se conseguiria esperar três dias para resolver as coisas entre eles.
Ela não deixou escapar o fato de ele ter partido sem se incomodar em acordá-la para se despedir. De alguma forma, isso piorava a situação. Talvez porque fosse um forte indício da falta de verdadeira intimidade na relação deles e de qualquer confiança concreta que ele tivesse nela.
Não havia nenhuma. Eles eram casados, mas ela não era mais necessária na vida dele do que seus colegas de equipe. Se não fosse pelo sexo, a relação deles não seria mais pessoal que as demais que ele tinha. E, quando não havia sexo, também não havia relação.
Quantas missões e reuniões ele fazia mensalmente? Ele alguma vez havia pedido sua companhia? Não.
Ela era conveniente para ele e tinha de admitir isso.
Mas, droga, doía.
Precisava ser mais para ele. A única esperança para o seu futuro era ela significar algo a mais para ele. O que significava que não havia esperança.
Seu celular tocou e ela virou na cama para atender. Quando viu que era Steve, seu coração acelerou.
— Alô.
— Bom dia, boneca.
Por alguma razão, o elogio doía naquele dia, pela manhã. Seria ela mais que um rosto e um corpo para ele? Será que tinha valor além da aparência e da postura que sua mãe sempre insistiu que tivesse?
— Bom-dia, Steve. — Ela esperava ansiosamente que ele dissesse a razão da ligação.
— Estou a caminho do hotel e queria que você estivesse comigo.
— Sério?
— Si. Não gosto quando nossas missões nos separam.
— Então, por que nunca me convida para ir com você? — ela perguntou, com uma esperança crescendo em seu coração.
— Você tem suas missões. Eu tenho as minhas.
— E as missões sempre vêm em primeiro lugar?
— Elas são necessárias. São nosso trabalho.
— Elas nem sempre são prioridade para Clint e Laura, ou para Thor e Jane. — Mas seus companheiros vingadores amavam suas esposas.
Uma das coisas que mais haviam doído nos últimos meses fora ver como um vingador apaixonado agia e não reconhecer esse tipo de comportamento de Steve em relação a ela.
— Nenhum de nossos amigos é o líder dos Vingadores e trabalha pra S.H.I.E.L.D. ao mesmo tempo. Eles podem colocar as missões em segundo plano, eventualmente. E as esposas deles não têm tantos deveres quanto a minha. — Ele falava como um professor recitando a lição.
A paciência na voz dele era pior que um tapa em Natasha.
— Sinto saudades — ela falou, sem disfarçar.
— Estou fora há menos de um dia.
— Está dizendo que não sente saudades? — ela perguntou, desejando que a pergunta não soasse como uma lâmina cortando suas entranhas. Já era demais ele desejar que ela estivesse com ele.
— Vou sentir sua falta hoje à noite.
Se ele tivesse planejado não teria dito nada mais doloroso.
— Na cama — ela falou diretamente.
— Somos bons na cama.
— Em nada mais? — ela perguntou, pela primeira vez não se esforçando para esconder o quanto isso a chateava.
— Não seja ridícula. É minha esposa, e não minha concubina. Por que faz uma pergunta dessas?
— Talvez porque esse seja o único lugar em que sente minha falta.
— Eu não falei isso.
— Desculpa, mas falou.
— Não liguei para discutirmos. — O tom frio da voz dele era claro. — Mas, para seu conhecimento, não foi isso que eu quis dizer.
Talvez ele não tivesse desejado dizer isso, mas disse. Os fatos falavam por si mesmos.
— Por que você ligou? Nós dois sabemos que não foi apenas para dizer oi. Não espero esse tipo de ligação de sua parte.
— Qual é o seu problema? Talvez tenha sido exatamente por isso que liguei.
Ela não estava nem um pouco convencida.
— Provavelmente, não.
— Estava pensando em você e queria ouvir sua voz, está bem assim? — ele perguntou, parecendo muito irritado com ela.
Oh, droga. Será mesmo?
Claro que sim. Steve nunca mentia conscientemente, mas, ainda assim, ela tinha de perguntar.
— Isso é verdade?
— Não tenho o hábito de mentir para você.
— Sei que não. E é uma das coisas que mais aprecio em você.
— Você pode dizer o mesmo?
Ela ficou surpresa por ele ter feito tal pergunta.
— Claro que posso. Você sabe que não minto para você.
— Mas talvez não sinta que esconder informações de mim seja o mesmo que mentir.
Será que ele sabia da doença dela? Impossível... fora cuidadosa demais para manter tudo em sigilo.
— Não sei o que quer dizer. — Pelo menos isso não era mentira, mas também não era a verdade completa. Talvez ela tivesse mais características paternas do que poderia admitir.
— Tem certeza?
— Ninguém conta tudo, mas isso não quer dizer que eu minta para você — ela falou, defendendo uma posição cuja razão ele não entendia. Mas não havia como ela contar a notícia da infertilidade por telefone.
— Espero que seja verdade, Natasha — ele suspirou. — Tenho outra chamada entrando. Preciso ir.
— Está bem. Tchau, Steve.
— Tchau, boneca.
Ela desligou, mas, depois que se arrumou e saiu do apartamento, não conseguia parar de pensar no que ele dissera, no que ela respondera e no que não fora capaz de revelar. Ela devia a verdade a ele, tanto sobre sua doença quanto sobre seus planos a respeito disso.
Ele ficaria aliviado. Teria que ficar.
Mas uma pequena parte do seu coração esperava que, contra toda a lógica, ele não reagisse assim. Que ele se recusasse a deixá-la fazer a coisa certa... A única coisa lógica a fazer nessas circunstâncias.
— Agente Romanoff.
Natasha despertou de seus pensamentos para encontrar sua colega de trabalho à sua frente.
A lealdade de Maria Hill era inquestionável, sua discrição sem igual, assim como sua elegância. Além do médico de Miami, ela era a única que conhecia o resultado da laparoscopia.
— Hill... preciso ir a Washington.
— Acho que posso cancelar seus compromissos. Se você conseguir preencher alguns papeis e falar com Fury, pedirei que arranjem um meio de transporte para levá-la até Washington. Você e o Rogers precisam conversar. Apenas se lembre... um casamento não significa apenas ter filhos.
— O meu, sim.
— Não pense assim.
Ela gostaria de pensar como Hill, mas não podia.
Ela chegou a Washington naquela noite, com os nervos à flor da pele. Passou toda a viagem remoendo o que falaria a Steve, mas não conseguia passar da primeira empreitada, pois sempre que pensava que ele concordaria com o final do casamento, sua garganta ficava apertada.
Ela pediu aos agentes para não alertarem seu marido sobre a sua intenção de unir-se a ele. Por alguma razão pensou que o elemento surpresa poderia ser um aliado. Ela fora informada de que ele estava no hotel, preparando-se para uma reunião à noite, quando o avião aterrissou. Parecia fortuito, e ela esperava que a reunião fosse um bom presságio.
Ela estava muito ocupada tentando controlar suas emoções.
Steve estava colocando a gravata quando ela entrou.
— Olá, Ste.
Ele fez um brusco movimento com o corpo, impressionado com a presença dela. Então ele levantou a cabeça e seus olhos azuis a analisaram com intensidade.
— Natasha, o que está fazendo aqui?
— Você disse que gostaria que eu estivesse aqui.
— Não está aqui por causa da minha ligação hoje cedo. — A expressão dele não permitiu que ela ousasse contradizê-lo... para mentir.
— Não, não estou. Precisamos conversar.
— Precisamos?
— Sim — ela falou, tentando ignorar o fato de ele não lhe ter dirigido um cumprimento de boas-vindas.
— Suponho que tenha algo a confessar que esteja pesando na sua consciência o suficiente — ele falou, com a voz fria.
Ela não sabia o que havia gerado sua hostilidade, exceto o fato de ela ter aparecido de surpresa. Steve não gostava de surpresas, e ela trazia uma bem pior.
— Pode-se dizer que sim — ela nem podia garantir que a notícia não seria ruim, pois era.
Em um casamento como o deles, era uma sentença de morte e nada mais.
Steve voltou a fazer o que estava fazendo com uma fria precisão.
— Terá que esperar. Tenho uma reunião com o presidente.
— Não pode cancelar?
— Quer dizer, assim como você cancelou todos os seu dia de trabalho na S.H.I.E.L.D para vir até aqui a fim de termos uma conversa que poderia ter esperado os três dias que eu ficaria fora?
— Sim — ela não se importava com a forma como ele falava. Era exatamente o que ela queria.
— Isso não vai acontecer.
— Seria assim tão ruim?
— Obviamente, você não pensa assim, mas eu não gosto do fato de minha mulher se esquivar de seu trabalho.
— E nosso trabalho como agente é a única coisa que conta em nossa vida juntos?
— O trabalho vem em primeiro lugar. Achei que já tivesse entendido isso.
— Foi por isso que se casou comigo?
— Você já sabe que essa foi uma das principais razões para eu achar que você se adequaria como minha esposa. Seus pais a criaram como se você fosse uma verdadeira agente.
— Minha apreciação pelo trabalho como agente foi o que mais contou para você... e claro, minha compatibilidade física — ela falou, com dor e amargura na voz.
— Você esperaria que eu me casasse com uma mulher que não entendesse ou não se adequasse ao papel de esposa do capitão américa?
— Nossos amigos vingadores não estavam tão preocupados com essa conveniência quando escolheram suas mulheres — ela lembrou.
— Como eu falei ontem, não sou como o resto da equipe.
— Não, você é o líder da equipe, o que quer dizer que o papel de capitão América vêm sempre em primeiro lugar.
— Sabia disso quando nos casamos. Não espero que isso seja uma razão para brigas entre nós.
— Você não espera que nada seja razão de briga.
— Como você é perspicaz — ele pegou um paletó preto. — Preciso ir ou vou chegar atrasado.
— Assim? Eu vim de Washington e você foge de uma conversa importante porque a droga do seu compromisso o espera? — Como poderia contar àquele estranho de expressão fria qualquer coisa, especialmente os detalhes íntimos de sua última ida ao médico?
— Não fale nesse tom comigo! — ele exclamou, contendo-se para não demonstrar surpresa.
Ela falou um palavrão de verdade:
— Você quer dizer esse tom?
— Não sei qual é o seu problema, mas sugiro que o resolva. Vou voltar tarde. Se você ainda tiver necessidade de falar sobre o que quer que seja, então poderemos conversar.
— E se eu não quiser esperar?
— Não tem alternativa.
— Quando tive alternativa?
— Você optou por casar comigo. Ninguém a forçou a fazer os votos. Se eles estão desgastados agora, por favor, lembre-se de que não deve responsabilizar ninguém além de você mesma pelas circunstâncias, e não tolerarei que ignore suas promessas ou seu dever como minha mulher tão facilmente quanto se esquivou de seu trabalho hoje de manhã.
— Eles são a mesma coisa, não é? — ela perguntou, com uma voz carregada de raiva.
— Não — ele a encarou. — Você tem obrigações pessoais comigo que não têm nada a ver com suas responsabilidades com os vingadores.
— Talvez eu esteja insegura quanto às minhas obrigações agora.
O olhar de Steve encheu-se de fúria, mas sua: voz era controlada.
— Sugiro que esteja certa deles quando eu voltar da reunião.
— E se eu não estiver?
— Então, nós dois teremos uma noite muito desagradável. Mas eu garanto a você... minhas armas são sempre superiores às suas.
— Você é um maldito arrogante, Steve — ela suspirou, dando vazão à raiva. — De qualquer forma, não subestime minhas armas, pois tenho uma péssima sensação de que elas podem ser melhores que as suas.
Sua doença e a infertilidade decorrente dela eram como uma bomba nuclear, quando se tratava de poder para destruir um casamento.
Ele empalideceu:
— Não tenho tempo para isso — e saiu.
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