História Vida na Corporação Cápsula - Te aceito.

Fechei os olhos, apertando meu filho contra mim. No fundo, tinha medo que Vegeta o matasse só pra não ser pai de um mestiço. Não queria acreditar que ele faria isso, mas nunca arriscaria a vida do meu bebê. Sentia a cauda de Trunks balançar, sentia ele esticando os braços para o pai. Droga, Trunks! Ele é nosso inimigo!

                – Não vou matá-los. – Vegeta falou, com um tom típico de desinteresse na voz.

                  Quando me virei novamente, ele não estava mais lá. Olhando pela janela, pude ver a nave na qual viajara. Há quanto tempo ela fazia falta naquele jardim... Há quanto tempo?

                Eu não sabia o que sentir. Sinceramente, queria ir lá e abraçar meu príncipe. Queria dizer o quanto senti sua falta e implorar pra que nunca mais me deixasse. Nem a mim, nem a Trunks. Queria lhe mostrar o filho, fazê-lo abraçar o bebê. Mas isso era pedir demais.

                Vegeta tinha a coragem de aparecer ali como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse me abandonado grávida, como se não tivesse sumido por meses!

                Fechei os olhos. Não queria pensar nele. Por tanto tempo o esperara... Queria, pelo menos, um pedido de desculpas. Um abraço. Um “como você está?”. Mas era querer demais, vindo daquele homem arrogante e frio com o qual me envolvi.

                Levei Trunks para o laboratório. Tinha lá um berço, que coloquei para poder trabalhar com ele ao meu lado. Era reconfortante ter o bebê ali, balançando seus bracinhos e pernas, fazendo sonzinhos guturais.  

                Na hora do almoço, passeei com Trunks pelos jardins. Ele adorava olhar os animais que meu pai cuidava, e ria sempre que chegávamos perto de um dos dinossauros de estimação de meu pai. Era um garotinho lindo e encantador.

                Já era noite quando terminei meu trabalho. Levei Trunks para seu quarto, alimentando-o. Logo depois, cantei um pouco para ele, enquanto balançava-o de um lado para outro. Olhei para o quarto ao redor. Na cômoda de Trunks, a pulseira que Vegeta me deu no meu aniversário.

                – Meu Kami... – Eu coloquei o garoto no berço, pegando a pulseira com a ponta dos dedos, cuidadosamente. – O que isso está fazendo aqui?

                Além de tudo, eu tinha aquela lembrança ali, em minhas mãos. Já era difícil o suficiente ter Vegeta presente. Já era difícil pensar que ele chegou sem nem avisar, que não se importava se ela sentira sua falta ou não. Balancei a pulseira nos dedos, indo rumo a meu quarto. Guardaria aquele presente mais do que especial em minha caixa de jóias. Usá-la trazia lembranças dolorosas, então era melhor guardar.

                Entrei no quarto, meio distraída. Fui direto a minha penteadeira, guardando a pulseira na caixa de jóias, tentando conter as lágrimas que começavam a querer sair de meus olhos. Não podia ficar chorando à toa desse jeito.

                Olhei para o espelho da penteadeira, levando um susto. Ali, me observando da minha cama, estava ele. Ele. Vegeta. Meu príncipe desencantado. Virei-me com calma, tentando ao maximo controlar minhas emoções confusas.

                – O que faz aqui? – Engoli todo o amor e ódio que sentia, falando quase indiferente.

                – Estou com sono. – A voz dele era rouca... A voz que eu sempre achei tão bonita e sedutora. – Preciso descansar depois de tanto treino.

                – Está no meu quarto, Vegeta. – Pisquei algumas vezes, tentando me manter calma. Era a primeira conversa de verdade em meses.

                – Eu sei. – Ele ergueu uma sobrancelha, me olhando como se isso fosse óbvio. – Não tenho mais quarto.

                – Esqueci disso. – Bati na própria testa. – Vou arranjar um quarto disponível pra você dormir. Espere um segundo.

                Eu já ia saindo, mas ele me segurou com aqueles braços fortes. Droga! Eu estava gostando de ter contato físico com ele depois de todo esse tempo. Tentava afastar pensamentos obscenos, mas era difícil. Ainda mais difícil quando ele se aproximou de mim, falando rente a meu ouvido:

                – Eu não preciso de um quarto. – Senti a respiração dele no meu pescoço e estremeci com isso.

                – Vegeta... – Com um esforço sobrenatural, empurrei-o para longe de mim. – Não pense que será a mesma coisa. Eu não sou um brinquedo pra você. Você foi embora, Vegeta. Foi embora quando eu precisei de você. Você... Você acha que eu planejei engravidar de você?! No começo eu odiei tanto quanto você... Mas... Você foi covarde, Vegeta. Você foi algo que... Eu nunca esperei que você fugisse de seus problemas. Isso... Não é a atitude de um saiyajin. Muito menos do príncipe deles! Não é atitude digna de homem nenhum. – Respirei fundo, vendo a expressão silenciosa dele. – Não vai mais dormir comigo. Eu vou arranjar um quarto pra você.

                As orbes negras me observavam. Todo o corpo dele estava estático. Saí rapidamente do quarto. Não choraria. Desci as escadas e logo parei um empregado e pedi que arrumasse um quarto de hospedes.

                Reunindo toda minha coragem e minha força para não chorar, voltei a subir e voltei a entrar no meu quarto. Vegeta olhava pela janela, silencioso como eu nunca havia o visto. Ele sempre tinha gritos para rebater os meus. Depois de o ofender, ele não falou nadinha...

                – O quarto 23 está pronto pra você, Vegeta. – Falei.

                O saiyajin não se mexeu. Estava ali, parado, com as mãos nas costas.  

                – Sabe, Bulma... – Estremeci ao ouvir meu nome sendo dito pela voz fria dele. – Você me atrapalhou muito. Eu não conseguia treinar. Meus pensamentos em você e naquela maldita barriga. – Ouvi um suspiro dele. – Mesmo longe, você parecia tão perto nos meus pensamentos. Nos meus sonhos. Minha vontade era voltar aqui e explodir todo esse planeta. Tudo por sua causa. Mas eu consegui. Atingi meu objetivo.

                – Vegeta... – Ele não costumava falar do que ele sentia. Estava me deixando agoniada.

                – Eu sou o Super Saiyajin. – Pude imaginar que um sorriso se formava em seus lábios, mesmo que ele estivesse de costas. – Estou mais forte que nunca.

                – Ótimo. – Respondi. Eu estava muito feliz por ele, mas não iria demonstrar isso. Eu também sabia ser orgulhosa!

                – Arg, o que mais você quer? – Ele se virou para mim, com raiva. – Eu voltei! Era o que você queria, não era?

                – Era, mas...

                – Então pronto! – Ele rosnou. – Eu sei que Kakarotto ainda não está aqui. Se eu voltei para essa porcaria de planeta foi por você. E por... Pelo moleque.

                – Vegeta... – Passei a mão pelo rosto, sem acreditar que ele estava dizendo aquilo. – É... É verdade?

                – Por que eu mentiria? – Ele retrucou, cruzando os braços.

                Nesse momento, não agüentei. Corri até ele e o abracei, com todas as forças que tinha. Podia sentir seu corpo maior e, parecia impossível, mais musculoso ainda naquele abraço. Podia sentir seu cheiro afrodisíaco, enquanto afundava meu rosto na curva de seu pescoço.

                – Eu te amo. Te amo muito. – Eu falei, sem me importar se ele responderia ou não. O que importava é que ele tinha voltado.

                E, como se fosse um sonho ou uma alucinação, eu jurava ter ouvido um “Eu também”, bem baixinho.