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História Vingança - Capítulo 4


Escrita por: amanur

Notas do Autor


Último capítulo.
Boa leitura!

Capítulo 4 - Capítulo 4


Vingança

escrito por Amanur

...

Capítulo Final

...

 

Eu aproximei meu ouvido de uma daquelas portas para tentar captar algo mais nítido, mas aquela sala, em particular, parecia vazia. Não me atrevi a girar a maçaneta, e segui adiante, vendo que no fundo daquele corredor havia acesso para mais dois. Me apressei até o final, encontrando uma parede de vidro, transparente. Era lá que estava tudo aquilo o que eu temia.

 

Caí no chão, sem acreditar no que meus olhos viam.

Havia crianças de todas as idades, enclausuradas numa pequena salinha. Elas usavam uma roupa branca, todas iguais, enquanto batiam contra o vidro, pedindo para saírem dali. E o pior de tudo, elas tinham membros de metal. Algumas chegavam a ter até mesmo o tronco trocado por aquelas peças.

 

De repente, uma mão pousa sobre o meu ombro, e solto um grito de desespero.

 

— Shiiii! — Jack me pegou pelos braços, me fazendo levantar — Campbell já sabe que você está aqui! Vamos.

— NÃO, JACK! TEMOS QUE TIRAR ESSAS CRIANÇAS DAQUI! — esbravejei.

— E fazer o quê com elas? Deixá-las na sarjeta? Ou pretende colocar todas elas no seu apartamento? Entregá-las para a polícia, que trabalha para o governo e que comanda toda esta merda, não é a solução, Rose!

— Mas não podemos simplesmente deixá-las aqui! Aquele homem está louco! Essas crianças estão em fase de crescimento, não deveriam estar com aquelas coisas no corpo, Jack!

— É tarde demais para dizer isso.

— Você sabia disso tudo?

— Eu já estive no lugar delas, Rose. Sei exatamente como isso aqui funciona! Agora, anda, antes que Campbell apareça.

 

Então, ele foi me puxando porta a fora.

Mas quando chegamos à saída, três seguranças apontavam armas para nós.

 

— Vocês não têm permissão para sair deste andar. — um deles disse.

 

Mas antes que pudesse dizer mais qualquer outra coisa, Jack avançou com tudo para cima dos três, aplicando golpes tão rápidos que não consegui acompanhar seus movimentos. Antes que eu pudesse me dar conta do que aconteceu, os três homens já estavam no chão.

 

— Vamos pelas escadas! — ele me disse, me puxando.

— Eles estão mortos?

— Apenas inconscientes.

 

Corremos até a porta que dava acesso às escadas.

 

— Jack, são vinte e oito andares para descermos a pé! — resmunguei.

— Desceremos cinco andares, é o tempo que leva até eles nos alcançarem. — ele ainda apontou para os cantos do teto, me mostrando que até ali havia câmeras e, que, certamente, eles estavam vigiando nossos passos, também.              

 

Eu não disse mais nada, para não gastar mais do meu curto fôlego. Sentia que minhas pernas estavam prestes a sair do meu corpo, descendo todos aqueles degraus que pareciam não ter fim. Jack ia à minha frente, e, de vez em quando, parava para olhar para mim. Ele não cansava, é claro, mas eu era de carne e osso e não agüentava mais. Já estava exausta pelo dia de trabalho, somado a toda aquela emoção, tinha vontade de simplesmente desabar ali, mas continuei puxando os meus limites.

 

Então, de repente, havia tiros para todos os lados. Jack me empurrou, e cai no chão, e não vi mais nada do que aconteceu. Escondi minha cabeça entre os braços, com o rosto colado ao chão dos degraus, com medo de ser atingida, enquanto o tiroteio continuava junto com os gritos dos seguranças.

 

— RENDAM-SE, OU ATIRAREMOS! — ouvi alguém berrar.

 

E, então, mais tiros estouraram.

Houve mais estrondos, e barulho de portas de vidro se estilhaçando. Alguns segundos depois, o silêncio, e Jack me pegando em seus braços.

 

— Vamos! — ele apenas me disse.

 

Eu o atrasava, sem dúvidas, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer além de deixá-lo me carregar. Os elevadores não era uma opção, já que Jack tinha apenas dois braços para atirar em quem se pusesse a nossa frente.

 

Então, ele fez a coisa mais louca e improvável que já vi na minha vida. Ele me acomodou em seus braços, de modo que eu ficasse mais confortável, e pudesse abraçar seu pescoço.

 

— Segure-se firme, e feche os olhos. — me disse. Eu não fazia idéia do que ele fosse fazer, mas agarrei seu pescoço todas as forças.

 

E, então, o cretino pulou no vão das escadas — aquele, que parecia um poço sem fundo, mas que chegava ao térreo. Ele pulou vinte andares. Simplesmente vinte!

 

A queda foi tão rápida, que mal tive tempo de gritar, mesmo fechando os olhos.

O estrondo que ele fez foi alto o suficiente para fazer com que os seguranças que estavam ali, nos aguardando, se assustassem.

 

No entanto, graças ao metal super resistente, Jack quebrou o chão, mas saiu ileso. E rapidamente virou-se de costas paras os seguranças, que, imediatamente, começaram a atirar nele.

 

Eu gritei, enquanto ele recebia as balas nas costas, me protegendo.

 

— Minhas costas também são de metal, Rose. — ele sussurrou em meu ouvido.

 

O ferro da armadura dele era reforçado com o mesmo material usado em coletes a prova de balas, de modo que as munições dos seguranças batiam e voltavam, obrigando eles a recuarem. Alguns, inclusive, foram atingidos pelas próprias balas rebatidas.

 

Ao constar que eu estava segura ali, Jack avançou no restante, os levando para o saguão do prédio, para afastá-los de mim. Eu me joguei no chão, outra vez, com medo de alguma bala perdida, e o esperei.

 

Isso não levou muito tempo.

 

— Vamos!

 

A jaqueta que eu havia lhe dado de presente estava arruinada, e ele estava praticamente banhando de sangue, que eu não sabia se era tudo dele ou não. Também havia cortes no seu rosto, e o seu braço estava bastante danificado, mas Jack ainda conseguia se locomover. 

                                                                                                                             

Foi tudo muito rápido. Corremos até o estacionamento, entramos no meu carro, e Jack saiu cantando pneus, atropelando outros seguranças que se aproximavam, e derrubando o portão de ferro a nossa frente. Aí, tinha mais aquele monte de sangue na minha frente, e, aos poucos, fui perdendo a noção das coisas, até tudo se apagar.

 

Comecei a sonhar com a FOXHOUND em chamas, desabando, e todos correndo em pânico. AS crianças ficaram presas, e eu gritava pedindo por ajuda, mas ninguém me ouvia. Então, Jack apareceu na minha frente, banhando de sangue, me dizendo que elas não poderiam ser salvas.

Eu tento bater nele, mas Jack não sente nada, e meus punhos sangram de tanto socá-lo. Ele arranca a camisa do corpo, para me mostrar que havia feito a transformação completa — somente sua cabeça não era metálica, embora tivesse a mandíbula de ferro. Seus olhos pareciam arder em chamas, e ele me diz que tinha sede de sangue, que deveria matar mais pessoas.

 

Acordei num pulo, deitada sobre uma cama. Eu estranhei, e levei um bocado de tempo para reconhecer o lugar onde eu estava.

 

Jack havia me levado para a antiga casa de praia dos meus pais.

 

A viagem até aquela casa levava umas seis horas, sem trânsito. Não pude acreditar que houvesse dormido por todo aquele tempo, enquanto Jack dirigia sem parar.

 

Olhando pela janela, vi que já amanhecia.  Nas pontas dos pés, fui até a sala, onde ele dormia, jogado no velho sofá. A casa era grande, embora fosse de um piso só. Era toda feita em alvenaria, continha três quartos e uma suíte, e dois banheiros sociais. A cozinha era aberta, junto com a sala de estar, e do lado de fora, havia um espaço coberto, como uma sacada, com uma aconchegante cadeira de balanço. Os móveis rústicos, e as cortinas floridas me lembravam muito de minha infância, e fiquei um bom tempo ali, parada no corredor, revendo cenas do passado, quando tudo era muito mais simples. Havia anos que eu não pisava ali e, em conseqüência disso, a casa estava completamente empoeirada.

 

Jack deveria estar mais exausto ainda, por que havia caído sobre o sofá do mesmo jeito que estava antes — todo ferido e sujo de sangue. Então, me aproximei dele para acordá-lo, para ver se estava tudo bem com ele.

 

— Jack... — mas mal encostei nele, e, num impulso rápido e automático, ele agarrou meu pescoço, me derrubando e imobilizando no chão com o peso do próprio corpo. Quando se deu conta de que era eu, se jogou ao meu lado, me libertando, com um longo e pesado suspiro, cobrindo o rosto com  as mãos.

— Não faça mais isso, nunca mais tente me acordar! — resmungou.

 

Eu não sei se era o estresse causado por tudo o que tinha acontecido naquele dia, ou se era o acumulo de tudo o que simplesmente transbordava em minhas emoções, mas comecei a chorar feito uma criança, me encolhendo naquele chão empoeirado.

 

Seja como fosse, fiquei grata por ele não ter dito nada, apenas me abraçado com firmeza, de modo protetor. Eu me sentia tão pequena, tão insignificante em seus braços, que ao mesmo tempo era reconfortante saber que eu cabia por completo ali, como se ele fosse o meu casulo, a minha concha protetora.

 

Quando consegui me restabelecer, me levantei do chão.

                                    

— Esse sangue todo que está em você, Jack, é seu?

— Não.

 

Suspirei aliviada.

                                                

— E agora, o que faremos? — perguntei.

— Vamos nos esconder aqui por uns dias. Eles não irão nos encontrar tão cedo, já que você não vinha aqui há muito tempo, antes mesmo de começar a trabalhar na FOXHOUND.

— Então, eles realmente sabem tudo sobre mim, não é?

— Infelizmente, Rose.

— Acho que posso dizer “ainda bem” que minha família já esteja morta.

— Suponho que sim...

 

Ficamos um tempo em silêncio, sem saber mais o que dizer, até que ele resolveu fazer perguntas.

                                                                 

— O que aconteceu com os seus pais? — perguntou.

— Você não sabe?

— Eles, com certeza, sabem, mas eu não.

— Meus pais e minha irmã mais nova sofreram um acidente de carro quando vinham para esta casa, passar as férias... Por isso não venho aqui há tanto tempo. Essa casa representa tudo o que eu não queria ter que enfrentar agora...

— Sinto muito por trazê-la aqui...

— Não se preocupe... Eu estava na casa da minha avó, de castigo por ter ficado de recuperação em uma disciplina, na escola, por isso não estava com eles naquele dia...

— Sinto muito.

— Nós vamos morrer, Jack?

— Não! Eu não vou permitir isso, Rose. Confie em mim.

 

Fiquei olhando para ele, sem saber o que pensar. Minha cabeça latejava, havia tanta coisa se passando nela, que eu me sentia zonza. Então, reparei mais uma vez na jaqueta, e me aproximei mais dele. Fiz com que tirasse aquele trapo em que a jaqueta havia se transformado, e a camisa que vestia por baixo dela, para que eu visse seu peito. E suspirei aliviada, outra vez, por ver que ele não era um experimento completo do Campbell, embora faltasse pouco.

 

— Não acredito que você fez isso... — resmunguei. O peito dele ainda era de carne e osso, e passei a mão sobre sua pele para ter certeza de que aquilo era real, embora a camada das suas costas tivesse sido trocada por uma grossa placa de metal para substituir a pele.

— Campbell fará pior, Rose. Ele está construindo um exército de ciborgues perfeitos, naquelas instalações, e você não faz idéia do que aquelas criaturas são capazes. Somente estando de igual para igual para conseguir combater de frente contra aquele filho da puta.

— Mas por que tinha que ser você?

— Alguém tinha que ser...

 

Eu não concordava com aquilo, mas o que estava feito, não tinha volta. Não havia como recuperar o corpo dele, nem lhe devolver a dignidade e o direito a uma vida normal.

 

— Você deveria tomar um banho... — eu disse, lhe dando as costas.

— Rose, eu sei que você é contra isso tudo, mas, acredite, não há outra saída.

 

Fui até o quarto dos meus pais, sem lhe dar ouvidos. Pela minha experiência de vida, eu sabia que sempre havia outras opções, mas não estava com humor para discutir nada. Peguei roupas do meu pai que havia no armário, sem saber se serviria ou não. Meu pai era um homem grande, mas eu duvidava que se comparasse ao Jack. De qualquer forma entreguei a ele uma calça e camiseta.

 

As roupas ficaram meio curtas, mas serviram como provisórias. E, então, eu tomei um demorado banho, deixando a água levar boa parte do meu estresse para longe. Mas o medo do que poderia acontecer dali em diante ainda me atormentava, e quanto mais o tempo passava, mais duvidas e receios surgiam, como por exemplo, será que algum dia poderia recuperar a minha vida de volta?

 

Quando saí do banheiro, Jack não estava na casa. Ele havia deixado um bilhete apenas dizendo que voltaria logo. Ele havia levado meu carro, e tudo o que pude fazer foi aguardar seu retorno na praia.

 

A casa ficava localizada numa das praias mais frequentadas da região, mas foi construída numa área mais isolada, onde pouquíssimos banhistas andavam. Ela ficava meio escondida atrás de um pequeno morro, de difícil acesso, e era rodeada por árvores. E aquela época do ano era perfeita, por que não havia ninguém por ali.

 

O céu parecia em conformidade com o meu humor; cinza, nublado, triste, de ventos uivantes. Caminhei por um tempo, deixando os dedos dos pés afundarem na areia fria, e o pé tocar a água gelada. O mar estava agitado, e a brisa fria fazia meu cabelo esvoaçar, me lembrando de que deveria cortá-lo... Ao chegar no limite da praia, me sentei na areia, encarando a água, enquanto eu pensava no tempo em que não tirava um dia para cuidar de mim mesma. Era tudo futilidade, e eu sabia disso, mas eu precisava pensar em outra coisa que não fosse aquela maldita companhia. E, por isso, fiquei durante mais um bom tempo de frente para o mar, tentando não pensar em mais nada. Nunca fui uma pessoa meditativa, mas talvez não fosse má idéia começar por ali.

 

De repente, Jack coloca uma manta de tricô, que era da minha mãe, sobre os meus ombros, e senta ao meu lado.

 

— Você está toda arrepiada.

 

Ele vestia outra camiseta de mangas curtas e me dei conta de que, com aqueles braços, ele não sentia tanto frio — o que era irônico, por que aquele monte de metal era mais gelado do que sua pele poderia ser. Na verdade, com aquelas mãos, ele não era mais capaz de sentir o toque ou o calor de alguém.

 

Ele não era capaz de sentir meu toque...

 

De repente, quis poder voltar no tempo, e tê-lo tocado mais quando tive a chance, como daquela vez em que o ensinei a usar os hachis. Lembrei-me de ter tocado em sua pele, em sua mão quente, e isso, por alguma razão, me deixou ainda mais apreensiva e triste a respeito de tudo isso.

 

Eu deveria estar fazendo alguma careta feia, pois ele notou que eu estava pensativa, e pôs o seu indicador sobre minha testa.

 

— No que está pensando? — indagou.

 

Joguei minhas costas para trás, após um suspiro, me deitando na areia para encarar o céu azul.

 

— Aonde você foi? — perguntei.

— Comprar suprimentos e roupas. Já é meio dia, trouxe comida também.

— Hum.

— Agora me diga no que você realmente estava pensando!? — insistiu.

 

Ele continuava sentado, agora de costas para mim, e virou o rosto para me encarar. O vento soprava seus cabelos lisos e prateados sobre o rosto, mas ele não parecia mais estar tão cansado.

 

— Estava pensando no quão cansada estou, só isso. E no quanto eu queria que uma surpresa boa me acontecesse de vez em quando, sabe? Às vezes, tenho a impressão de que só catástrofes me acompanham. — fechei meus olhos, enquanto inspirava uma quantidade maior daquele ar puro matutino. E, de repente, sinto os lábios dele tocar os meus, me obrigando a abrir os olhos novamente, surpresa.

 

Os lábios dele eram macios, sedosos, suaves e quentes, e lentamente se separaram dos meus.

 

— Surpresa... — ele, sussurrou, deitando seu corpo pesado sobre o meu. — Quero dizer, não sei se isso foi uma surpresa boa ou não, mas espero que tenha sido... — ele tirou uma mecha de cabelo que caia sobre o seu rosto, me olhando nos olhos — Nada mudou, Rose. O que pensava sobre você, o que sentia por você, o que eu queria de você... Nada mudou.

 

Sorri, sem muito humor, e passei a mão em seus cabelos, desejando poder me deixar levar pelo momento. Mas estar ali, com ele, só me trazia lembranças da companhia, me impedindo de relaxar como eu queria.

 

 — O que aconteceu com os seus pais? — tive que perguntar.

 

Ele suspirou, se jogando para o lado. E ficou como eu, encarando o céu, que escurecia cada vez mais, se preparando para uma tempestade.

 

— Há muitos anos a FOXHOUND trabalha de forma corrupta e inescrupulosa. Para conseguirem o que queriam, para eles, nem o céu era o limite. Sempre trabalharam com ideais absurdos, idéias grandes, para propósitos ainda mais estúpidos. E não mediam esforços para isso.

— O que quer dizer com isso?

— Eles faziam tráfico de pessoas para os experimentos descabidos. Há gente lá fora que ainda faz isso, Rose. Eles vendem pessoas a preço de banana. Pessoas pobres, pessoas com a qual o governo não se importa. São pessoas com família, amigos, com uma vida toda pela frente, a arruinada nas mãos deles. Eles não se importam com nada, a não ser consigo mesmos. E meus pais vieram de famílias pobres, na Libéria. Na época, o povo estava revoltado com o descaso do governo, que fechava os olhos para esses criminosos que agiam na nossa frente. Então, um dia, o povo resolveu ir às ruas para bater de frente com eles. Foi um massacre total. O povo perdeu, depois de uma semana de conflitos nas ruas, por que não tínhamos armas. No ultimo dia, alguns homens invadiram a nossa casa. Meus pais foram pegos, mas como resistiram, foram torturados na minha frente, enquanto eu estava amordaçado, preso numa cadeira, vendo tudo o que faziam. Eu não sei por quanto tempo aqueles miseráveis os torturaram, até que outro homem, completamente diferente, por que era branco e se vestia muito bem, entrou na casa pedindo para que não os matasse, por que havia os comprado. Eles começaram a brigar entre si, por que meus pais estavam gravemente feridos, e o  homem dizia que ele não iria querer levá-los daquele jeito, e que queria outros corpos para substituí-los, mas os homens não aceitavam aqueles termos. Foi então que jogaram uma bomba caseira para dentro da casa, matando meus pais e aqueles homens. Eu perdi um braço, mas não sei ao certo como escapei de lá. Só me lembro de estar num avião, todo enfaixado, e o Snake ao meu lado, me levando para os Estados Unidos.

— Ele o levou direto para a FOXHOUND?

— Sim. Mas só por que eu disse que queria ir para lá. Ele me contou tudo o que aconteceria comigo, me explicou em detalhes tudo o que sabia, e me deu a opção de fugir para qualquer lugar, mas estar completamente sozinho, por mim mesmo, ou me infiltrar naquela merda e explodir com tudo quando a oportunidade surgisse. E ela vai surgir, Rose.

 

A chuva começou a desabar de uma só vez. Pingos grossos e pesados caíram sobre nós, como se quisessem nos expulsar da praia. Nos levantamos, e fomos caminhando pela areia, abraçados, de volta até a casa.

 

Jack me ajudou a acender a lareira, e comemos ali, sentados no chão, olhando para as chamas que ardiam sobre a madeira velha enquanto a chuva desabava lá fora.

 

— Você sabe que só poderemos ficar por mais uns dois dias aqui, não é? Não levará muito tempo para eles desconfiarem de que possamos estar aqui...

— Eu sei...

— Eu já tenho uma passagem de ida para a Nova Zelândia. Você vai embarcar em três dias, e ficará lá, escondida com documentos falsos. Seus documentos verdadeiros ficarão com outra pessoa, que os usará para despistar seu paradeiro, viajando para a Austrália.

— Uma passagem? E você? O que pretende fazer, Jack?

— Eu tenho que ficar, Rose. Isso tudo — ele se referenciava ao próprio corpo — aconteceu para esse propósito. Não posso simplesmente fugir agora.

 

Eu queria dizer a ele para esquecer tudo aquilo e que viesse comigo, mas eu também não queria bancar a mulher coitadinha, desamparada e insensível. Afinal, eu podia apenas imagina por todo o sofrimento pelo qual ele passou, durante a troca de cada um dos seus membros, só para que pudesse vingar seus pais, e vingar a si mesmo. E por mais que eu não quisesse admitir, eu sabia que só ele poderia tentar uma loucura daquelas. Eu queria lhe dizer que confiava nele, e em suas capacidades, mas eu também não consegui. Então, eu não disse nada. Ali, só havia espaço para o silencio e a conformidade da situação em que eu me encontrava.

 

Na manhã seguinte, acordei com o som da chuva que continuava a cair, incessantemente.

Eram onze da manhã. Jack não estava na sala, mas fiquei surpresa por encontrar o café da manhã preparado. Havia uma jarra de leite quente e pratos cheios de pães e doces, que esperavam por mim em cima de uma bandeja sobre a mesa redonda da cozinha. Notei que a sala estava limpa, sem todo aquele pó acumulado dos anos. Mas como não encontrei nenhum bilhete do Jack e, olhando pela janela, vi meu carro estacionado na frente da casa, fui nas pontas dos pés procurando-o.

 

O encontrei dormindo no quarto que era da minha irmã, sentado no chão com a cabeça jogada para trás apoiada na cama. Ele estava sem camisa, e com o peito e testa pingando suor. Imaginei que tivesse desabado ali, por exaustão, limpando a casa.

 

Entrei com cuidado no quarto, pisando nas pontas dos pés, por que o chão de madeira era antigo, e algumas tábuas já rangiam. Me aproximei dele, vendo que Jack ainda tinha em mãos um espanador. Fiquei durante um tempo ali, agachada diante dele, o observando dormir pacificamente. Ele transmitia, de alguma forma, a calma do seu sono, embora eu duvidasse que ele fosse capaz de ter bons sonhos depois de tudo o que eu apenas conseguia imaginar pelo que passou. Mas não importa o que acontecesse, eu não conseguia sentir medo dele. Não importa o quanto ele mudasse, ele continuaria a ser aquele rapaz gentil que tentou cuidar de mim... Pelo menos, era como eu queria continuar a vê-lo.

 

Aproximei-me mais um pouco, para tirar o espanador das mãos dele sem acordá-lo, mas, de repente, ele agarra a minha mão, me fazendo revirar os olhos.

 

— Desde quando está acordado? — perguntei.

— Acordei quando você entrou no quarto. — responde passando a mão na nuca, estalando os ossos do pescoço.

— Você não precisava limpar nada, Jack. — resmunguei.

— Não gosto de ficar parado...

— Na verdade, eu estava pensando em queimar a casa, quando partirmos... — comentei, me sentando ao lado dele.

 

Ele me olhou surpreso, passando o braço sobre a testa suada.

 

— Você tem certeza?

— Não vou mais voltar aqui, e não quero ninguém profanando as minhas memórias... Eu não me importo com o que vão fazer desse terreno, desde que não usem esta casa, esses móveis...

— Acho que entendo o que você quer dizer. — ele diz, se levantando.

 

Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar. Depois, fomos tomar café, apesar de já ser quase meio dia.

 

À noite, a chuva havia finalmente dado trégua, e fomos caminhar na beira do mar, carregando uma lanterna que encontramos no meio das gavetas dos meus pais para iluminar o caminho. A lanterna era potente, daquelas que iluminava vários metros de distância. O som do mar agitado nos embalava, enquanto algumas estrelas começavam a pintar no céu.

 

Estávamos descalços, e eu chutava a água que batia nos meus pés, sem saber o que dizer.

 

— Esta é a primeira vez que piso no mar. — ele murmura. Olhei para ele, surpresa, jogando a luz da lanterna bem nos olhos dele, sem querer. Ele fechou os olhos, virando o rosto para o outro lado, e abaixei a lanterna.

— Por que não me disse antes?

— Por que não houve oportunidade, eu acho.

— E pensar que eu praticamente cresci aqui, a ponto de não suportar mais olhar para o mar... — resmunguei — O que acha?

— Não muito diferente do que havia imaginado.

— Me refiro a dar um mergulho! O que acha de dar um mergulho agora? Amanhã, partiremos, de qualquer forma, não é mesmo? Acho que você não deveria perder esta oportunidade.

— Mergulhar nessa água gelada? — indagou incrédulo.

— Mas você mal sente frio com todo esse metal no corpo!

— Engano seu! Há micro sensores espalhados por todo esse corpo, sim, que levam sinais ao meu cérebro. Eu ainda posso sentir o toque das coisas...

— Oh... Então Campbell já estava avançado a esse ponto, hum?! Não entendo para quê ele precisava de mim, então...

— Ele quer ciborgues que não dependessem mais de suas funções fisiológicas para sobreviver. Ele quer que dependamos apenas do cérebro e da medula.

— Então, seus órgãos internos estão intactos?

— Sim, Rose.

— Que bom...

 

De repente, ele arrancou a lanterna da minha mão, e a colocou na areia, iluminando o mar. Em seguida, me puxou pela mão em direção à água. Eu gritei ao entrar em contato com a água gelada, mas ele insistiu me levando um pouco mais para o fundo, até a primeira onda nos bater.

 

— Merda, merda, merda! Estou congelando, Jack! — me abracei, tentando conter a tremedeira de frio.

— Hahaha! Desculpa, eu só queria compartilhar essa experiência com você.

 

Joguei água no rosto dele. Ele estava com os cabelos molhados, e a camisa colada ao corpo, como eu estava. Eu não me importei por estar usando uma blusa branca, nem o fato de não estar usando sutiã. Eu só pensei nele ali, ainda capaz de sentir o meu toque. A quem eu queria enganar? Desde o primeiro momento em que o vi, na sala do Snake, tive vontade de agarrá-lo, de toma-lo em meus braços e tê-lo para mim.

 

Então, enquanto ele passava a mão no rosto, depois que joguei água nele, o puxei pela gola de sua camisa, abracei seu pescoço, e o beijei.

 

Jack me beijou de volta, sem titubear. Abraçou minhas costas, me erguendo do chão, e foi nos levando de volta a beira do mar, sem descolar seus lábios de mim. Em seguida, caímos na areia, meu corpo por cima do seu. Deixei meus instintos me domarem, sem me importar com mais nada, sabendo que aquela poderia ser a nossa ultima chance. Suguei seus lábios e sua língua quente, enquanto ele sua mão sobre o meu corpo. Quanto mais o beijava, mais aquela paixão, aquele desejo ardente que me movia, crescia. E antes que pudesse perceber, estava ofegante, esfregando meu corpo contra o dele, ciente de que aquele homem estava embaixo de mim.

 

Me ergui sobre ele, e tirei a blusa. Jack sentou embaixo de mim, beijou meu queixo, e se demorou um bom tempo em meu pescoço, me fazendo arfar em prazer. Suas mãos aranhavam suavemente a pele das minhas costas, enquanto eu puxava seus cabelos. Sua língua, então, deslizou mais para baixo, até alcançar meus seios e sugar os meus mamilos rígidos. Comecei a gemer e rebolar em cima dele, sentindo seu membro duro entre as minhas pernas. 

 

Puxei sua cabeça para me olhar, e lambi aqueles lábios sedutores que tinha. Fui até seu pescoço, o empurrando de volta para a areia. Sua pele estava salgada pelo mar, mas em minha língua, ele ainda parecia delicioso. Ergui a camisa que ele vestia para beijar seu peito, e fui descendo até seu rígido abdômen. Desabotoei a calça, e peguei em seu membro. Ele estava pronto, ereto, quente e pulsante. Jack gemia, enquanto acariciava meus cabelos.  Comecei beijando a ponta, alternando entre sugadas firmes. Às vezes, ia até a ponta, colocando-o por inteiro na boca, enquanto Jack parecia hipnotizado pela cena. Ele arfava, com aqueles lábios suculentos abertos. Às vezes, ele também mordia o lábio inferior, e sorria de leve para mim.

 

Então, de repente, num golpe só, ele me virou contra o chão, arrancou o short jeans que eu usava, rasgou minha calcinha, abriu minhas pernas, e abocanhou minha vagina. Ergui minhas costas do chão, gemendo alto, fechando as mãos com um punhado de areia.

 

— Oh, Jack! — gemi.

 

Enfiava a língua lá dentro, e chupava todo o meu liquido. Lambia as partes mais sensíveis, e as chupava com força. Deu uma mordiscada de leve em minha virilha, mordiscou minha coxa, e voltou a enfiar a língua em mim.

 

Sem fechar os olhos, ele me observava me contorcer e beliscar meus próprios mamilos, louca por ele. Então, ele veio me lambendo toda. A barriga, o umbigo, chupou meus seios, e ainda deu um tapa de leve neles, chupou meu pescoço e o agarrou com as mãos, sugando meus lábios. Foi então que senti seu membro me penetrar, duro e quente. Gemi ainda mais alto em sua boca.

 

Ele começou com movimentos leves, suaves, mas extremamente dolorosos para aquela ansiedade que eu tinha por algo mais violento. Mas Jack era daqueles homens que apreciava cada momento com desfrute, sem pressa. E meu corpo começou a estremecer, tanto por frio quanto prazer. Aquele jeito lento, mas firme, me fazia querer subir por alguma parede, enquanto ele continuava naquele vai-e-vem. Aí, aos poucos, ele foi acelerando. Ele socava com força, colocava o dedo em minha boca para me observar chupá-lo, e voltava a segurar meus braços sobre minha cabeça, me dominando por completo. Seus olhos azuis, cor de gelo, pareciam arder em chamas com aquele olhar que me encarava. Ele observava meus lábios, meus cabelos, meus seios. Me olhava daquele jeito, cheio de luxuria, como eu nunca tinha visto antes. Eu estava completamente entregue a ele, e ainda desejava mais, como nunca imaginei que seria capaz.

 

Ele se inclinou sobre mim, chupou minha orelha, beijou meu rosto, e voltou para sussurrar ao pé do meu ouvido:

 

— Rose, Rose, Rose... Você é só minha! Somente minha...

— Jack... Me faça gozar!

— Haha! — ele se inclinou para me olhar, e mordeu o lábio inferior, me olhando, enquanto continuava a me socar — Sua menina malvada! — ele sugou meu lábio, e saiu de cima de mim para me colocar de quatro, em frente a ele.

 

Deu um tapa em minha bunda, e me penetrou por trás com força. Puxou meu cabelo, e me ergueu, me fazendo apenas ficar de joelhos. Abracei seu pescoço por trás, enquanto ele apalpava meus seios e socava com mais força em mim. Comecei a gemer ainda mais alto, quase aos berros, e ele arfava em meu pescoço, beijando minha orelha e sussurrava palavras quentes e doces.

 

— Rose, Rose, Rose... Você é só minha! Somente minha... E vou gozar em você!

 

Não demorou para o clímax vir, naquela explosão de desejos e sentimentos. Senti seu liquido me penetrar num jato forte e quente, enquanto ele arquejava seu corpo para trás, num gemido quente.

 

Em seguida, caímos exaustos na areia, abraçados. Eu ainda sentia meu corpo estremecer, completamente sensível ao seu toque, e o coração bater, e a respiração ofegar. Mas Jack não parava de me encher de beijos e carícias, me surpreendendo. Acho que nunca iria prever que ele pudesse ter aquele lado mais doce, gentil, apesar do sexo “agressivo” que tivemos.

 

Mas eu gostava daquilo. Gostava de tê-lo ali, comigo, daquele jeito.

Por fim, ele passou a mão no meu rosto, e contornou meus lábios com seu polegar.

 

— Eu te amo, Rose. Te amei desde o momento em que te vi dormindo na sala do Snake. E te beijei ali, e te amei ainda mais.

— Você me beijou enquanto eu dormia? — indaguei, incrédula.

— Uhum. De leve, nos lábios. E fiquei me perguntando qual seria o tom da sua voz, a cor dos seus olhos, como seria o sorriso nestes seus lábios...

 

Sorri.

E o beijei. Eu desejava que aquela noite nunca se acabasse.

Mas o fim veio antes do que eu poderia esperar.  O frio nos espantou, e voltamos para a casa. Naquela noite, Jack dormiu comigo, na cama dos meus pais. Mas apesar de estar bem aconchegada em seus braços, não consegui dormir, pensando que, quando amanhecesse, eu estaria entrando num avião.

 

E bem como o combinado, o celular dele tocou algumas horas depois.

Fizemos as malas, as jogamos no carro, e voltamos para dentro da casa.

Eu não quis me prolongar ali, para não tornar as coisas ainda mais difíceis. Então, peguei um frasco de álcool que encontramos num dos armários, o espalhamos pelos cômodos, e atiçamos fogo nela.

 

Corremos para fora da casa, e a observamos arder em chamas por alguns minutos.

Jack me abraçou mais forte, enquanto eu tentava conter as lágrimas. Eu queria chorar por tudo; pela morte da minha família, pelo desastre em que minha vida havia se tornado e, principalmente, por ter de me separar dele. Mas não havia mais nada que eu pudesse fazer. Eu sabia que não havia como voltar no tempo...

 

Entramos no carro, e Jack foi dirigindo a toda velocidade até o aeroporto, enquanto o sol começava a mostrar os seus primeiros raios de luz. Durante todo aquele percurso, ele dirigia com apenas uma mão, enquanto a outra segurava firme a minha.

 

Chegando ao aeroporto, fomos correndo ao portão de desembarque, depois de fazer o check in. Muita gente se despedia de seus familiares, outros atravessavam o portão sozinhos, alguns iam acompanhados.

 

Suspiramos.

 

— Espero que saiba que isso não é um adeus, Rose. Eu vou te buscar, onde quer que esteja!

— Eu sei.

— Nós vamos ficar bem!

— Eu sei.

— Eu tenho que fazer isso, ou jamais poderei descansar a cabeça. Mas eu prometo que vou conseguir derrubar a FOXHOUND.

— Eu sei que sim, Jack.

— Espere por mim, Rose.

— Eu vou esperar. Nem que seja a ultima coisa que eu faça.

 

Ele me beijou, doce e suavemente. Sem pressa, e cheio de paixão. E, então, separamos nossos lábios e, sem olhar para trás, entrei no salão de desembarque. Jack ficou para trás, mas eu sabia que ainda nos veríamos... De um modo ou de outro, eu carregaria uma parte dele comigo, onde quer que eu fosse.

 

Assim foi a minha viagem, abraçada ao meu ventre.

 

Fim.


Notas Finais


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