História Vingança por Sonserinos - Seguindo em frente... ou talvez não tanto

                                                       Hermione

 Encarei meu rosto no espelho e percebi o quão desgastada eu estava. Era um novo dia e eu diria que era um importante para que eu definisse como eu seguiria  a minha vida agora.

 Eu precisava falar com Thiago. Como conversaria com ele sem machucá-lo ainda mais? Eu me sentia horrível. Não sabia dizer se passei a noite chorando pelo coração partido ou pela pessoa que estava sendo.

 Pansy tagarelava no quarto sobre sairmos juntas para vermos os vestidos para o baile de máscaras de fim de ano, não parecendo muito preocupada com as provas em 10 dias.

 As provas. Ainda tinha que estudar pra isso hoje, o que eu não sabia como iria conseguir fazer, pois minha cabeça está bem longe.

Apliquei um pouco de maquiagem pra disfarçar a cara de acabada e ajustei a saia preta. A regata branca era super colada em meu corpo e enfiei um tênis nos pés, com preguiça de usar algo tão feminino e chamativo como os saltos de Pansy, que andaria muito em Hogsmeade. Doida.

- Já estou subindo para o café. – Gina gritou, já com o corpo para fora do quarto e apoiada na maçaneta.

- Tô indo também! – avisei, pegando minha bolsa e enfiando a varinha dentro.

 Gina pareceu surpresa por eu estar querendo ir com ela, mas não fez nenhum comentário sobre isso, embora eu tenha percebido o olhar trocado entre ela e Charlie.

 Charlotte tentou conversar comigo quando finalmente me destranquei do banheiro ontem, porém eu só queria continuar no meu silêncio. Agora, só queria que todas elas agissem normalmente, não como se tivessem que ter cuidado perto de mim.
- Vai em Hogsmeade com a gente? – Gina se arriscou em perguntar, insegura.

- Sim. – sorri forçado – Por que eu não iria?

 Gina desviou o olhar, olhando para os próprios pés e dando de ombros.

 Nossa chegada no Salão Principal sempre chama atenção, porém dessa vez todos estavam com os olhos em mim por um motivo diferente: a confusão no banheiro ontem.

 Quando passei pela porta, alguém esbarrou em mim e se afastou assustada. Katherine. Só que me faltava essa vaca me encher o saco também.

- Além de vadia, é cega? – ergui as sobrancelhas ao falar.

- Desculpa. – ela simplesmente falou e saiu. Sem discussão, sem ódio gratuito, só virou as costas como um cachorrinho assustado.

 Gina também estranhou o que houve, mas seguimos direto para a cabeceira da mesa da Sonserina. Não me importa se Maria Alícia ou Draco estão lá, é o meu lugar também. E eu faria questão de sentar na ponta da mesa.

 Thiago também estava ali, sentado ao lado da irmã vadia, porém concentrado no livro que lia e se percebeu eu sentado no banco quase a sua frente, nem mesmo piscou.

 Draco me olhava, mas não encarei de volta, apenas comecei a comer. Estendi a mão para pegar um bolinho e um garfo foi espetado entre meu dedo do meio e indicador, me dando um susto.

 A mesa estava silenciosa quando levantei a cabeça e meus olhos encontraram os violetas de Alícia, que tinha um sorriso cínico no rosto, sentada bem na minha frente entre Thiago e Draco.

 É claro que eu teria que lidar com ela, como fui me esquecer disso?

- Opa, é que eu queria um esse bolinho perto da sua mão, flor. – ela falou com aquela doçura enjoativa.

 Percebi Draco olhando atravessado para ela e perguntei-me se de alguma forma tinha conseguido abrir pelo menos um pouco seus olhos, para que ele pudesse ver a coisa falsa com quem estava lidando.

- Sem problemas, anjo – levei minha outra mão até o garfo e desgrudei-o da mesa. – Eu pego pra você.

 Peguei o bolinho que tinha um recheio líquido escorrendo e taquei na cara da “Falsalícia”.

 Thiago ainda tinha os olhos no livro, mas quando ele soltou um suspiro pesado percebi que ele sempre esteve prestando atenção. Como ele reagiria a isso? Eu ainda precisava falar com ele.

- Você é uma ratinha afrontosa quando quer, né? – Alícia segurava um cacho de seu cabelo ainda castanho que pingava recheio, parecendo espumar da raiva – Não está satisfeita ainda? Foi necessário colocar chifre no meu irmão? Que espécie de monstro hipócrita é você?

 Respirei fundo pra manter a calma, porque se não eu enfiaria o garfo dela, ainda na minha mão, em sua própria garganta. Assassinato não melhoraria as coisas para mim, definitivamente.

 Thiago se levantou em silêncio e Alícia chamou-o, porém foi ignorada. Joguei o garfo no lado dela da mesa e fui atrás dele. Vi o olhar que Draco lançou a mim e uma parte do meu coração doeu ao encontrar dor ali. Mas é a vida.

- Thiago, podemos conversar? – chamei-o, parando de andar quando já estávamos em um dos pátios externos desertos.

 Ele parou de andar também e virou para mim. Pelo seu rosto, eu não conseguia identificar como ele estava se sentindo.

- Você não me deve tantas explicações como está achando, Hermione. – ele só se mantinha sério.

- Não, eu devo sim. Eu não acredito que fiz isso, Merlin, eu sei como é ser traída, sei mesmo, e eu nunca que me imaginava fazendo isso. Pedir desculpas jamais seria suficiente. Mas eu não sei o que mais posso fazer.

 Ele deu alguns passos mais para perto de mim.

- Hermione, eu sempre estive ciente de que é o Draco que você ama e que eu só era uma distração para você, um conforto nisso tudo.

 Eu queria protestar que aquilo era absurdo, mas tinha um nó de culpa na minha garganta.

- Nunca oficializamos nada, também. – ele continuou – E talvez você tenha sido meu conforto depois da morte de Celeste também, porque é ele que eu amo. Você estava lá por mim quando eu a perdi e acho que confundimos as coisas. As pessoas confundiram as coisas.

- O que eu fiz foi horrível, você não merece isso, Thiago. – lágrimas acabaram escapando de meus olhos.

- Não fique se sentindo horrível, eu sempre quis que você estivesse bem e com quem ama. Vocês pareciam estar se acertando e vendo que ainda se amam... Mas agora parecem no mesmo lugar.

- Ele nunca muda. – limpei as lágrimas. – E eu sei que tem algo errado com Alícia.

 Thiago desviou o olhar do meu e encarou o céu nublado.

- E eu sei que você sabe o que ela está fazendo. – acrescentei. – E sabe que ela é a responsável pela morte da garota que você ama...

- Deu, Hermione!  - ele me interrompeu e quando nosso olhar cruzou, eu vi que aquilo feria ele muito mais do que eu poderia imaginar.

 Recuei um passo, me sentindo mal por ter mencionado isso dessa forma.

- Só, por favor, fique fora disso. Você disse que ele nunca muda e parece pronta para seguir em frente, então vá. Siga em frente. Você precisa ficar bem e isso significa ficar bem longe do Draco e de Alícia, entendeu?  - Thiago parou a centímetros de mim.

- Por que? – falei em um sussurro, tocando seus braços.

- Eu não posso falar, entende? Mas é algo importante e não há mais como reverter isso. – ele segurou minhas mãos, afastando-as.

 Ele encarou o anel no meu dedo e suspirou pesadamente.

- O que devo fazer com isto? – perguntei, erguendo o anel na frente de seus olhos.

 Ele pareceu travar por um instante, encarando a jóia e indeciso. Fechou os olhos e disse:

- Você vai seguir em frente, não vai? Pra que arranjar mais problemas se isso já não vai significar nada?

- Ela quer isso – destaquei – Não quero dar esse gostinho. E coisa boa não vai ser.

- Não vai ser coisa boa se você entrar no caminho dela. – ele segurou meu rosto, preocupado – Ela jamais falha em uma missão, Hermione. Ela não poupou nem as meia-irmãs...

- Ela pouparia você? – tentar virar a cabeça dele era uma jogada terrível, mas inevitável naquele instante.

- Sim.

- Tem certeza disso? – pressionei, plantando a dúvida. Mas a semente não cresceu.

- Hermione, você não sabe das coisas que já aconteceu com a gente... Você acha que já não me meti no caminho dela nessa loucura? Fiz quase pior do que Celeste e Scarlet, mas ela não faria nada a mim.

- Então impeça ela, se ela não fará nada a você.

- Hermione, só fique fora disso, por favor. – Thiago deixou um beijo em minha testa e sorriu para mim. – E o anel... Devolva ao Draco então. Eu estou aqui para tudo, isso não mudou.

 Assenti, sorrindo triste para ele. Enquanto andava para longe de mim e eu ficava ali, com um buraco ainda maior no peito, Thiago virou e gritou para mim:

- Ainda vamos ao baile juntos, Julieta?

 Apesar de “Julieta” lembrar-me de Draco e doer naquele instante, sorri brincalhona.

- Com certeza!

 E ele se foi. Uma parte de mim dizia que jamais seria a mesma coisa, mas ainda teríamos chances de conversar.

- Hermione? – Pansy colocou só a cabeça pra fora da proteção do corredor externo enquanto segurava o pilar e parecia curiosa. – Estamos indo!

 Corremos para alcançar as outras e seguimos para Hogsmeade. Eu apenas escutava-as conversando, meio insegura em me intrometer, mas fazia algum comentário e ria com elas de vez em quando.

- Então, Mione – Luana apareceu do meu lado, os longos cabelos brilhantes e azulados já não eram mais longos agora. – Pronta para voltar ao trono, pelo visto?

 Charlie, Pansy e Gina pareciam ter prendido suas respirações ao ouvirem a amiga tocando no assunto, mas eu ri com a pergunta dela. Estava na hora de as coisas voltaram ao normal o máximo possível.

- Sim! E desculpem-me por isso, sabe? Ter me afastado tanto... Esse “tempo” que eu tirei para mim nem me fez bem. Eu estava com tantas saudades!

 As três que antes pareciam estar a beira de um infarto relaxaram e sorriram. E eu realmente estava sentindo tanta falta delas.

- Vestidos, vestidos, vestidos! – Pansy deslizava pela calçada em frente a nova loja, já com bastante gente dentro.

 Entramos, deixando uma Pansy furiosa com o salto fino de seu sapato preso entre os bloquinhos de calçamento para trás, e começamos a explorar a loja. E eu realmente estava empolgada.

 Deslizei entre as centenas de araras, maravilhada com cores e texturas.

- Posso ajudá-la, senhorita?

 Levei um susto com a aproximação da vendedora, mas sorri grata.

- Vestido para o baile de máscaras.

- E alguma idéia?

 Neguei e fiquei um pouco envergonhada. Ela não tinha como me ajudar muito bem se nem eu mesma tinha pensado em algo.

- Tudo bem, vamos ver... Qual cor lhe agrada mais? – ela saiu caminhando pela loja comprida, tirando vestidos e mostrando-os para mim.

- Rosa demais! Fluorescente demais, não quero ser um sinalizador! – e eu fui negando vários.

- Azul? – ela mostrou um azul-cobalto maravilhoso e assenti, aprovando – Verde? É Sonserina? – assenti novamente, maravilhada. – Preto, talvez?

 Bati palmas, achando-a uma gênia por achar vestidos tão perfeitos para mim.

- O provador é por aqui – ela me guiou – Vou buscar as máscaras que combinam com eles, só um instante.

 Segui sozinha, pendurando os vestidos com cuidado. Percebi que precisaria de ajuda para colocá-lo, então aguardei, avaliando a mim mesma no espelho. Então eu vi.

 Pelo reflexo do espelho, as pedras pelo corpete e saia rodada e cheia do vestido cintilavam. Não era possível, não poderia ser. Então me virei e caminhei olhando em volta, vendo se alguém mais prestava atenção no vestido meio escondido no manequim.

 Era o vestido que eu aparecia usando em meu pesadelo procurando Draco. Toquei o corpete negro e deixei que meus dedos deslizassem pelo tecido, onde ele se tornava um degradê e começava a galáxia toda a se mover pela saia. Literalmente, obra da magia de alguém muito experiente.

- Ah, esse ainda está em andamento. Mas estará pronto até o baile, se quiser reservar, é exclusivo! E maravilhoso,né?

 Apenas travei, tentando pensar na forma mais rápida de eliminar esse vestido antes que ele fizesse algum sentido na minha vida. Eu não deveria correr o risco e usá-lo, mas também não poderia deixar que mais ninguém usasse.

- Lindo, não é mesmo? – Katherine me encarava pelo espelho de seu provador agora aberto. – Por que não experimenta?

 Afastei-me do vestido no mesmo instante, assustada. Essa garota está muito estranha, credo. Por que ela parece estar se esforçando para ser legal?

- Não, obrigada. – respondi, mas na tão seca, apenas suspeita.

- Iria ficar divino em você, Hermione, e você parece realmente ter se encantado.

 Merlin, por mais que seja bonito tudo que eu quero é tacá-lo no fogo. Apenas sorri forçado para ela e pedi que a atendente me ajudasse a provar os outros. Ela insistiu que eu provasse o do manequim e eu acabei provando, porém recusei-o com todas as minhas forças e fiquei com o verde.

 Semanas depois eu descobriria que nem deveria ter chegado perto daquele vestido.