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História Violet - New (The Boyz) - .capítulo único


Escrita por: TheOnlyOne

Notas do Autor


Hai meu povo^^ Como estão vocês?

Gente, eu juro que tento escrever menos, mas quando assusto: BOOM!, sete mil palavras. Não sei o que acontece kkkkkk Mas enfim né, o momento de finalizar a coletânea finalmente chegou e Violet, a sétima e última história de Rainbow Tones, vem pra fechar esse ciclo. Pra curtir esse restinho de férias, o enredo é levinho, viu? Meio fluffy, meio comédia, sei lá skjskkllsj vocês podem escolher ♡
Aliás, tô muito feliz em estar publicando pela primeira vez com o The Boyz aaaaa ♡ Ele é um dos grupos pelo qual tenho mais carinho, então por favor deem views a esses meninos talentosos e ao Chanhee, o vocalista que protagoniza Violet e é a coisinha mais preciosa do mundo todo. Espero que gostem!

É sempre um prazer escrever pra vocês! Boa leitura a todos ♡♡
Isa xx

Capítulo 1 - .capítulo único


Fanfic / Fanfiction Violet - New (The Boyz) - .capítulo único

Um barulho alto me fez pular da cadeira.

Assustado, olhei para todas as direções em busca da origem do som, mas não encontrei nada além do sofá verde gasto, da televisão de trinta e duas polegadas e dos demais itens que decoravam a sala de estar. Na verdade, os cômodos do meu apartamento em Noryangjin eram praticamente todos conjugados, então não havia exatamente uma separação entre eles. O lugar era muito pequeno, mas tinha um aluguel acessível e era perto do trabalho. Nunca fui muito espaçoso ou gozador de luxos, então aqueles trinta e seis metros quadrados eram mais do que suficientes para acomodar todas minhas quinquilharias.

— Só falta ser um rato de novo — murmurei com frustração, finalmente levantando e colocando a vasilha suja de cereal dentro da pia.

Queria ter tempo para procurar a origem do problema, mas, como sempre, estava em cima da hora de ir para o trabalho, e eu sabia que mais um atraso faria o gerente Im me chutar de vez do restaurante. Por isso, depois de ajeitar meu uniforme amassado com as mãos, fui em direção a porta, pegando apenas o celular e minhas chaves antes de sair. Após adentrar definitivamente o corredor naquela manhã, travei minha luta diária com a maçaneta e a tranca. O aluguel barato era só uma amostra de que tudo naquele prédio era velho, assim como as portas. Não era muito difícil me ver preso do lado de fora depois do trabalho por conta de uma chave emperrada.

— Bom dia, Chanhee.

Tinha acabado de trancar a porta quando escutei a voz, então me virei e encarei Kim Younghoon, um dos demais moradores do prédio. Ele era um garoto novo como eu, mas não tínhamos muita intimidade por sermos bastante diferentes. Costumávamos apenas trocar cumprimentos ou reclamar juntos sobre a Sra. Bae — também conhecida como a velha ridícula e ardilosa do 303. Velha sim, pois o termo ‘idoso’ só pode ser colocado para pessoas mais velhas que são legais, e com certeza ela não tinha essa característica. Eu, Sra. Bae e Younghoon éramos os únicos moradores do terceiro andar. Tê-la como vizinha era um porre, pois era fazer um mínimo barulho de madrugada e pronto, meu nome estava na boca do síndico no dia seguinte. Além de tudo, ela tem a droga de um passarinho que canta o dia inteiro. Às vezes, tenho vontade de arranjar um gato pra dar um fim nesse bicho insuportável.

Younghoon também a odiava, mas porque ele não podia dar suas festas regadas a álcool e música alta com certa frequência. O Kim era um filhinho de papai que estudava em Chungang, a universidade particular de Noryangjin, e morava no prédio por razões que eu desconhecia, pois conhecendo seu estilo de vida, tinha certeza de que o garoto podia alugar algo bem melhor do que um apartamento ultrapassado.

— Soube da novidade? — Younghoon sorriu de canto e ajeitou a mochila sobre o ombro, colocando as mãos nos bolsos para adquirir uma pose descolada e indiferente.

— Não — respondo, guardando as chaves no bolso antes de olhar novamente o garoto de cabelos escuros.

— Não escutou os barulhos estranhos desde ontem, não? — neguei com a cabeça, mas me lembrando do som que havia escutado a poucos minutos — É a Sra. Bae, cara. Ela está de mudança do prédio.

Fiquei boquiaberto.

— A velha rabugenta tá dando o fora — repetiu o Kim, parecendo muito satisfeito em proferir aquelas palavrinhas. E eu em escutá-las.

— Wow, hyung! É uma notícia e tanto — digo, animado. Logo pensei em todos os videogames que poderia jogar de madrugada agora que a ranzinza da Sra. Bae não estaria mais ali para reclamar do barulho. Ah, seriam dias de glória.

— Sim, mas fiquei sabendo que já está sendo anunciado para aluguel e que há pessoas interessadas — olhei com curiosidade para o 303, onde a porta aberta denunciava que havia gente desmontando móveis e empacotando coisas.

Mesmo assim, permaneci contente. Após me despedir de Younghoon, desci as escadas com rapidez, preocupado em chegar no horário e feliz por sentir o gostinho dos meus dias de liberdade bem próximos.

— Adeus, Sra. Bae. Espero não vê-la tão cedo — sussurro durante meu caminho, sorrindo como um bobo. Estava subitamente animado para trabalhar o resto do dia.

[...]

 

Não escutar o som irritante da calopsita da Sra. Bae todas as manhãs era estranho, mas eu estava muito feliz em me adaptar ao silêncio.

Faziam quase duas semanas desde que aquela velha tinha sumido de vez da minha vida e, desde então, eu gastava a maioria das noites jogando Final Fantasy, Battlefield, FIFA... Cada dia era um diferente. Como trabalhar era minha única preocupação válida, não via problema algum em virar noites jogando e me entupindo de café pela manhã antes de ir direto para meu emprego num restaurante de frutos do mar há pouco mais de dez minutos da minha casa. Trabalhava como garçom de lá desde que resolvi largar a faculdade de Jornalismo e, sinceramente, o salário não era um dos melhores, mas permitia que eu pagasse minhas contas e gozasse de poucos luxos.

Devido a minha nova rotina me permitir menos horas de sono, eu estava cansado depois de um longo dia de restaurante cheio, porém passei numa loja de conveniência para comprar alguns salgadinhos de carne. Noryangjin era um bairro conhecido e movimentado financeiramente pelo grande Mercado de Peixes, mas também contava com outras opções de alimentação. Após pagar pelo pacote, agradeci ao vendedor e tomei novamente meu caminho, não demorando mais do que cinco minutos para chegar ao meu prédio.

Revirei os olhos ao passar na frente do 301 e escutar um eletrônico tocando juntamente com vozes de pessoas. Depois que Younghoon e eu viramos os únicos moradores do terceiro andar, as festas dele ficaram muito mais frequentes. Felizmente, ele colocou isolamento acústico em seu apartamento, então mal escutava o som durante a noite. Era engraçado — e triste — pensar que o Kim e eu tínhamos idades semelhantes e que a vida dele era muito mais agitada do que a minha, mas nunca fui lá um cara de muita sorte ou socialização, então não havia do que reclamar.

Continuando a caminhada até meu apartamento, semicerrei os olhos ao notar que algo no corredor estava diferente. Depois de inspecionar rapidamente o lugar, meus olhos pararam nas caixas de papelão vazias na frente do 303, onde estavam escritas as palavras “Quarto”, “Estante” e “Cozinha”. Tombei a cabeça, ainda mais curioso. Tudo estava escrito em inglês, não em hangul.

— Será que já alugaram? — questionei-me, baixinho. Não tinha visto nenhum movimento mais cedo ou escutado algo de outros moradores, então era realmente estranho ver aquelas caixas ali.

De qualquer modo, estava muito tarde para elaborar teorias, então somente dei de ombros e abri minha porta. Depois de tomar um banho e comer, separei uma lata de energético e a levei para sala. Fui sorrindo até o videogame e o liguei, feliz por amanhã ser minha folga e mais do que preparado para jogar por algumas horas da madrugada.

[...]

 

Não sei em que ponto do jogo dormi, mas sei que acordei com o som de batidas na porta.

Ergui minha cabeça com certa lerdeza, ainda dopado pelo sono. Por conta da posição em que dormi, sentia os headphones apertarem minhas orelhas, então os tirei devagar, gemendo baixinho com a dor que me acometeu ao realizar a ação. Olhei para a televisão e vi que o jogo havia pausado por conta própria, então suspirei e levei as mãos até o rosto, esfregando-o devagar para me despertar. Arregalei os olhos ao perceber que o relógio de parede indicava que já se aproximava das duas da tarde; mal podia acreditar que havia dormido tanto.

Três batidas seguidas na porta me fizeram lembrar a razão de ter acordado, e, ainda sonolento, me levantei para ver quem estava me incomodando àquela hora da tarde. No percurso até a porta, passei a mão em meu cabelo provavelmente desarrumado e ajeitei a camisa de dormir em meu corpo.

— Se Younghoon quer ajuda para tirar alguém do coma alcoólico de novo, eu fecho a porta na cara dele — resmunguei sozinho, lembrando o acontecimento da semana passada. Fiquei com a imagem do garoto vomitando na escada por uns três dias.

Abri a porta pronto para reclamar com o Kim, mas me abstive.

Do outro lado, uma garota olhava para mim com certa curiosidade. Ela tinha cabelos loiros que terminavam na cintura, olhos arredondados e azuis, lábios grossos e pele rosada. Usava um moletom bastante amarelo, calça branca da adidas e tênis coloridos de cano médio, além de argolas douradas e grandes nas orelhas. A estranha segurava um cupcake com decoração de morango, e pude ver suas unhas longas minuciosamente pintadas de preto apertarem o papel de corações ao redor dele.

— Oi — a garota disse após certo tempo, abrindo um sorriso um tanto amigável. Percebi que ela tinha um pouco de sotaque.

Amuado, pressionei meus lábios e apertei a maçaneta da porta. Havia algo nela de confiante e autêntico que me deixava sem jeito.

— Ah... O-Oi — gaguejo como um bobo e ela sorri, parecendo achar graça. Pigarro baixinho e aponto para o 301 — A-Acho que você errou a porta. Younghoon mora ali.

A estranha franze a testa quando lhe mostro o apartamento do Kim, e acho sua reação um tanto esquisita. Se ela não era uma das amigas bonitas da faculdade de Younghoon, o que diabos ela fazia em minha porta?

— Não vim ver o morador do 301. Pra falar verdade, até cheguei a bater na casa dele antes da sua, mas fui recebida por uma garota de sutiã, e como não queria atrapalhar nada, disse que voltaria depois. Não sei se ela está sóbria o suficiente para dá-lo o recado — ela faz uma careta e um sorriso pequeno sai de meus lábios.

— As festas dele costumam durar até de manhã. Pelo menos ninguém morreu até agora — comento, rindo baixo embora ainda estivesse um pouco confuso. A menina parece notar, pois logo fica ereta e me oferece um sorriso pequeno.

— Só queria passar para me apresentar. Sou a nova moradora do 303 — ela aponta para a porta onde o número antes dito reluzia, meio enferrujado, e logo se curva em um cumprimento um pouco desajeitado — Meu nome é Violet. Violet Wright.

Pisco umas três vezes, espantado com a notícia. Retribui o cumprimento quase no mesmo instante, mas minha mente estava muito ocupada em pensar em como eu havia saído de uma vizinha velha e rude para ter uma vizinha tão educada e bonita. Na verdade, linda.

— Ah, seja bem-vinda — respondi com um pouco de retardo, mas vi que ela sorriu ainda mais ao ver que tinha sido bem recebida — Choi Chanhee.

— É um prazer, Chanhee.

Tombo um pouco a cabeça, ainda incerto sobre perguntar, porém muito curioso.

— Você não é coreana, é?

Violet abre a boca, parecendo chocada.

— É tão explícito assim? — empalideço quando penso que a ofendi de alguma maneira, mas logo escuto sua risada e me acalmo um pouco ao ver que ela estava brincando — Venho de Birmingham, Inglaterra. Fui chamada para trabalhar com edição de fotografia numa empresa daqui, então me mudei. Aliás... — a garota me ofereceu o cupcake e logo o aceitei, tentando parecer mais educado do que realmente era — Meus pais costumam recepcionar vizinhos com tortas e chá, mas não creio que vocês tenham esse costume e sou péssima na cozinha, então isso foi o melhor que consegui arrumar aqui por perto.

Assinto e agradeço, finalmente entendendo melhor a razão das palavras estarem escritas em inglês nas caixas de mudança e também o sotaque que ela carregava em minha língua materna. Ficamos em silêncio por alguns instantes por eu não fazer ideia do que falar, mas sentia os olhos inquisidores de Violet sobre mim, como se estivesse me estudando. Não sabia se tinham esse hábito na Grã-Bretanha, mas seu olhar sobre mim fez com que minhas bochechas esquentassem bastante. Maldita timidez.

Ao ver minha reação, um sorriso ladino surgiu nos lábios da britânica. Eu, para amenizar a situação, pensei em algo para dizer com certo desespero, porém Violet foi mais rápida.

— Chanhee, não quero abusar da sua hospitalidade, mas não conheço nada das redondezas e preciso fazer compras urgentemente. O que tenho em casa só vai durar cerca de um dia. Tem como você me mostrar um pouco da vizinhança e me explicar como as coisas são por aqui? Prometo ser uma boa companhia.

Fico abismado. Ela estava pedindo minha ajuda? Não conseguia acreditar. Violet parecia ser uma pessoa muito decidida, sociável, desejada... E estava na porta da minha casa, querendo meu auxílio enquanto Younghoon estava a poucos metros de distância.

— Ah, tudo bem — respondo, um pouco desconcertado.

Violet sorri com animação.

— Ótimo! Pode ser amanhã à noite? Tenho que terminar de arrumar minhas coisas e conhecer a agência, então acho que por volta das oito seria perfeito — Violet fala com os olhos azuis brilhando como dois diamantes.

— Bem, oito da noite acaba o meu expediente, então...

— Posso te encontrar lá se não tiver problema — ela interrompe. — Saio da empresa e peço que um táxi me deixe lá, pode ser?

— Tem certeza de que quer minha companhia? — questiono com insegurança e ela revira os olhos.

— É claro, Chanhee! Você é educado, não ri do meu coreano medíocre e ainda é um fofo. Não poderia querer outra pessoa.

Olho para ela com os olhos arregalados por tantos elogios. Já podia sentir a garganta secar.

Concordei devagar e lhe passei meu telefone para enviar a localização do restaurante. Quando devolvi o aparelho à Violet, ela estava tão feliz que se inclinou e beijou minha bochecha — coisa que me deixou tão em choque que quase deixei o cupcake cair no chão. Quando percebeu sua ação, a Wright se desculpou pela impulsividade e se despediu, um pouco constrangida mesmo eu tendo dito que não havia problema.

Ela abriu a própria porta e acenou em despedida com seu sorriso aberto. Engoli a seco e acenei de volta, entrando para casa e me encostando com força na porta recém-fechada para respirar direito.

O que tinha acabado de acontecer ali?

[...]

 

— Você está péssimo, hyung.

Olhei feio para Changmin, que apenas tombou a cabeça diante de meu olhar de repreensão. Digamos que não sou muito bom nessa coisa de parecer ameaçador, muito menos quando estou com tanto sono que qualquer um poderia me confundir com um zumbi. Cansado, apenas dou um suspiro longo.

— Cala a boca, Changmin. Só preciso dormir um pouco — respondo e bocejo, com preguiça demais para discutir.

Como éramos os dois garçons escalados do dia, tínhamos o dever de organizar as cadeiras e fechar o restaurante. Ji Changmin era uma das poucas pessoas que eu considerava um amigo, talvez devido ao longo tempo que passávamos juntos desde que começamos a trabalhar no mesmo local. Ele era alegre, animado, comunicativo e observador — tudo ao extremo. Por isso, assim que cheguei quase desmaiando pela manhã, não consegui desviar de suas perguntas. Não que eu tenha tido paciência para responder alguma.

— Sabe, hyung? Acho que esse papo de que ficou jogando até tarde é conversa para enganar quem acredita nessa sua cara de santo — o Ji disse enquanto tirava o avental, carregando um sorriso presunçoso no rosto. Ele apontou em minha direção — Você dormiu com alguém!

Com tédio, fitei bem a cara lavada de Changmin. Ele, depois de alguns segundos, deu de ombros.

— Pode confessar, Chanhee.

— Antes fosse — resmunguei para o garoto.

Bem, eu tinha passado a noite em claro por causa de alguém sim, mas não do modo que ele estava insinuando.

Na verdade, não entendia direito o que havia acontecido comigo, mas só sabia que as palavras e ações da minha mais nova vizinha tinham me deixado estranho e ansioso. Violet era uma garota cheia de surpresas e um tanto incomum, e eu não tinha a mínima sorte com nenhum desses atributos. Mesmo assim, estava prestes a apresentá-la o bairro e teria que conversar bastante para explicar como as coisas funcionavam. Teria que fazê-la entender nossos hábitos, como preparar alguns alimentos, qual tipo de chá comprar... Não tinha a mínima ideia de como fazer isso. Só de pensar me dava arrepios.

— Quem não te conhece que te compre, Chanhee! — ele zomba novamente, dessa vez quando estávamos fechando a porta do lado de fora. Reviro os olhos, vendo pelo tom dele que estava adorando rir da minha vida amorosa fajuta — Aposto que está indo encontrar com...

— Chanhee?

Virei-me bruscamente ao escutar a voz feminina. Violet estava a poucos metros de mim, parada na calçada enquanto dava um sorriso pequeno. Era quase noite, mas a britânica usava óculos escuros com lentes finas que lhe tocavam quase o meio do nariz, assim como um vestido solto de mangas longas totalmente preto e coturnos cáqui. As palavras sumiram de minha boca por alguns instantes, então me limitei a cumprimentá-la erguendo a mão.

— Vejo que estão fechando. Já podemos começar nossa aventura por Noryangjin? — Violet parecia um tanto animada, o que me fez engolir a seco. Só não queria ser um desastre.

— Sim, estou indo — afirmei e ajustei minha mochila nas costas. — Changmin, você pode terminar aqui?

O garoto ao meu lado parecia muito chocado para responder. Vi como os olhos dele estavam arregalados em direção à garota que me chamava e ri baixo, vendo no Ji um espelho do que eu havia feito na noite anterior. Ele assentiu devagar e lhe passei as chaves, indo em direção a Violet para guiá-la pela calçada. Ela me disse um ‘oi’ rápido e se virou para Changmin, acenando com um sorriso ladino.

— Até mais, amigo do Chanhee!

Quase escutei o coração dele batendo de onde eu estava, mas minha audição foi ocupada pela risada divertida da garota ao meu lado. Olhei-a e vi como parecia ter gostado da reação do mais novo, tanto que até mesmo se virou para conferir se ele estava parado no mesmo local.

— Acho que o tal do Changmin gostou de mim — Violet riu baixo e voltou-se em minha direção, mas desviei o olhar para não precisar dizer nada. Estava meio encabulado com a forma que ela soou tão íntima de mim. — Ei, Chanhee. Desculpe-me por isso. Às vezes esqueço que não estou mais na Inglaterra e que vocês são bem mais reservados e faço essas coisas.

Pisquei duas vezes.

— Não tem problema, Violet.

— É sério — ela responde — Vou trabalhar nisso de verdade, Choi. Você é um cara legal por estar me ajudando e não deveria estar te dando nenhum constrangimento.

Olhei para o rosto de Violet, vendo como sua expressão decidida parecia reforçar suas palavras anteriores. Sorri um pouco, achando sua determinação um tanto engraçada e tocante, e aquiesci silenciosamente, apenas erguendo a mão para apontar a direção do supermercado mais próximo.

Quando chegamos lá, engoli minha timidez e fui explicando o que era cada coisa à medida que passávamos pelos corredores. Violet não tirava os olhos de mim por um segundo sequer. A garota fazia silêncio na maior parte do tempo, só parando de vez em quando para perguntar alguma coisa ou para colocar itens no carrinho. Percebi os olhares que ela recebia dos outros, porém a Wright parecia muito alheia a isso ou não se importava nem um pouco. Talvez as duas opções.

Depois que deixamos as coisas com o porteiro do nosso prédio, resolvi levá-la a um shopping das redondezas. Enquanto caminhávamos, Violet me contou sobre sua viagem, sobre o trabalho e coisas que achava engraçadas na nossa cultura — como os honoríficos e modos formais que usamos para nos dirigirmos a pessoas mais velhas ou de posição mais elevada que a nossa. Ela era divertida; se antes eu tinha medo de ficar sem jeito perto da Wright, agora me via totalmente confortável diante de sua sinceridade e piadismo constantes. Não me lembrava de rir tanto em tão poucas horas.

Já era quase onze da noite quando saímos do shopping. Não estava tão cansado como antes, mas sabia que seria só questão de olhar para a cama e deitar nela, caindo em coma profundo em questão de segundos.

— O que é aquilo? — perguntou a garota assim que cruzamos a rua e olhei para a mesma direção que ela. Averiguei a placa luminosa e a estrutura pequena, sorrindo ao reconhecer a fachada.

— Ah, é um fliperama. O mais famoso do bairro, na verdade. Tem vários jogos antigos e novos e sempre fica cheio de gente. Gosto de ir lá com Changmin de vez em quando.

Os olhos claros de Violet adquiriram um brilho novo e, milésimos de segundos depois, a mão direita dela estava em meu ombro.

— Chanhee, a gente precisa ir lá.

— Mas só abre amanhã à tarde — respondo, um pouco envergonhado pelo toque. Violet dá um sorriso animado e se afasta.

— Ótimo! Já temos um programa para nossa tarde de sábado — declara com uma piscadela — Pode ser?

Arregalo os olhos.

— V-Você quer que eu te acompanhe de novo? — estava tão descrente que mal me importei em gaguejar. Violet riu e assentiu.

— É claro, bobo. Já ouviu jeito mais sério de honrar uma amizade do que passando horas jogando videogame e comendo porcarias? Porque eu não.

Amizade. A palavra ecoou em minha mente algumas vezes.

Fiquei ali, olhando para Violet Wright como se ela fosse uma alienígena vinda de Marte ou de outra galáxia distante. Não que garotas não possam ser como eu — pois na verdade boa parte delas era —, mas nenhuma delas esteve tão perto. Nem considerava a ideia de ser minha amiga.

— Nem eu — disse por fim e Violet abriu um sorriso enorme, erguendo a mão para que trocássemos um high-five. No caminho, fui escutando ela cantar alguma música estrangeira com seu sotaque britânico bem forte e voz um pouco desafinada. A garota pareceu muito animada na volta para casa, e eu, mesmo que não admitisse, também estava.

[...]

 

O primeiro mês na presença de Violet Wright não poderia ter sido diferente.

A garota era uma mistura de características com as quais eu não fazia ideia de como lidar, porém fui aprendendo aos poucos como conviver com elas. Além do mais, por alguma razão, Violet gostava de minha companhia, então ela não via problema nenhum em me auxiliar a compreender sua personalidade forte. Fomos nos aproximando com naturalidade e rapidez, tanto que, naquela sexta-feira, estávamos no meu apartamento disputando uma partida de Street Fighter, um dos jogos favoritos da Wright. A britânica havia criado uma espécie de ritual onde virávamos as sextas jogando videogame, cada semana no apartamento de um.

— Eu vou acabar com sua raça, New! — ela rosnou após Ken, meu personagem, dar um chute em Chun Li, a avatar que ela sempre escolhia. Gargalhei ao escutar o apelido sem sentido que ela me deu há poucos dias.

— Vai fundo, Wright — respondi com deboche, o qual sumiu quando comecei a levar chutes seguidos da garota. Logo fui derrotado e tive que ficar fitando a tela da televisão com descrença enquanto Violet fazia uma dancinha da vitória ao meu lado.

Quando considerou ter comemorado o suficiente, a garota parou na minha frente e me lançou um sorriso pretencioso enquanto prendia o cabelo recém pintado de cinza com uma gominha. Revirei os olhos.

— Tudo bem, Violet. Você venceu — ergui a bandeira branca e ela gargalhou, pegando uma almofada e a abraçando.

— Porque eu sou... — ela incita e suspiro, cansado.

— Incrível — respondo com má vontade e ela solta um gritinho, se jogando sobre o estofado do sofá como se ali fosse o apartamento dela.

Violet também tinha o hábito de se sentir confortável em qualquer lugar, por isso eu não estranhava mais a comodidade que ela exibia quando passava a noite em meu apartamento. Isso era mais do que notável considerando sua calça de moletom para dormir e a blusa larga que deixava as clavículas salientes a mostra.

Não que eu fique olhando.

— Chanhee — sua voz me chamou e olhei para ela, que no momento terminava de dar uma golada no copo de refrigerante antes largado na mesinha de centro — Acho que está na hora de um novo plano.

Franzi as sobrancelhas. Havia momentos em que eu mal conseguia entender o que Violet dizia — e não tinha nada a ver com o sotaque em sua fala.

— Como assim?

A garota se colocou de joelhos do sofá, olhando para mim com seu sorrisinho de canto e olhos brilhantes.

— Eu já conheço quase todos os bairros de Seoul e todos os lugares interessantes que queria visitar desde que morava em Birmingham. Sabe o que falta eu conhecer agora? — nego assim que ela para de falar — Pessoas, Chanhee. Tenho que interagir com gente nova.

Violet Wright era uma pessoa bastante comunicativa e envolvente, então nada mais natural do que ela querer conversar com outras pessoas e deixar de passar suas noites jogando comigo. Admito que a premissa me deixou um pouco chateado, mas fingi não me abater assentindo e pensando em alguma opção para ajudá-la.

— Uma boate? — sugeri, mas ela não pareceu muito convencida. Ainda bem. — Posso pensar em algo se você me der algum tempo.

Violet abriu a boca para dizer algo, mas seus olhos se arregalaram e um sorriso arteiro brotou em seus lábios. Num ímpeto, a garota se levantou e calçou os chinelos, arrumando o cabelo preso num rabo de cavalo com as mãos.

— Quantas horas, New? — perguntou e peguei o celular para checar.

— Quase duas da manhã, por quê?

Violet não me responde; apenas sai um rompante em direção a porta e a abre, sumindo do meu campo de visão e me deixando totalmente confuso. O baque da porta se fechando fez tremer a mesa em que nossas bebidas estavam. Provavelmente escutaria reclamações dos vizinhos do segundo andar por conta do barulho mais tarde.

Resolvi ficar esperando por respostas ali mesmo, em meu sofá. Peguei o joystick e coloquei o jogo no menu, de forma que a trilha sonora fosse o único ruído a preencher o silêncio após a saída de Violet. Pouco mais de um minuto depois, a porta se abriu novamente, revelando a garota britânica e um Younghoon um tanto descabelado e com shorts de dormir. Fiquei surpreso com a cena. Nunca havia visto o Kim com um fio de cabelo sequer fora do lugar.

— Violet, você por acaso sabe que horas são? — a voz de Younghoon, ao contrário de estar raivosa como eu pensei que estaria, mostrava certa manha diante de nossa vizinha.

— Sim, Kim, perguntei Chanhee antes de bater na sua porta — respondeu ela com um revirar de olhos.

Esmurrar minha porta, não?

— Detalhes, detalhes — a Wright balança as mãos e dá de ombros, fazendo-me rir baixo. Ela não tinha um pingo de juízo — A questão é que preciso da sua ajuda.

Younghoon parece despertar um pouco e dá um sorriso pequeno. Eu sabia bem de que ele achava Violet uma gracinha — afinal, ele é humano — e que morria de inveja do fato de ela ser tão próxima de mim, por isso já podia imaginar todos os planos que o Kim armava em sua cabeça para tirar proveito da situação. Mordo minha boca, um pouco incomodado.

— E no que seria? — questiona o Kim ao cruzar os braços.

Violet se joga no sofá novamente, dessa vez com um sorriso suave enquanto olhava de Younghoon para mim.

— Vou fazer uma festa hoje à noite — ela declara por fim, me deixando de olhos bem abertos — Preciso da ajuda de vocês para comprar as bebidas, algumas decorações e escolher as músicas. Chamem todos que conhecem, garotos. Quero meu apartamento cheio.

[...]

 

Nunca pensei que organizar uma festa com menos de vinte horas disponíveis fosse tão difícil.

Minha adolescência pacata nunca havia me dado essa experiência, muito menos os poucos meses na faculdade. Por isso, quando vi a lista de Younghoon onde constava tudo que Violet precisaria comprar, não consegui conter a surpresa. Ela, por outro lado, sorriu e disse que daria tudo certo e, bem, deu mesmo. Depois de muitas compras, discussões acerca das músicas e de apanhar para prender algumas decorações no teto, o apartamento de Violet estava prontinho para receber os convidados.

Eu já estava em meu apartamento, tentando decidir qual das blusas de botões ficaria melhor em meu corpo magro. Colocava a verde musgo e a vermelha na frente do meu corpo simultaneamente, mas nada me deixava muito satisfeito.

— Talvez pro aniversário do seu avô fique bom — dei um salto do lugar quando escutei a voz masculina tão de perto e logo vi os cabelos escuros de Hyunjoon, assim como seu sorriso quadrado. O garoto era filho do dono do restaurante onde eu trabalhava, mas conversávamos com certa frequência, então não vi problema em chamá-lo.

Além do mais, chamar duas pessoas era menos humilhante do que apenas uma.

— Como conseguiu entrar aqui? — questionei e ele deu de ombros, erguendo as sobrancelhas cruelmente definidas.

— Deixou a porta aberta, hyung — respondeu Changmin ao brotar em meu quarto e se sentar na minha cama — Poderia muito bem ser um ladrão, sabia?

— Fala como se não tivesse acabado de assaltar minha geladeira — resmungo apontando para a boca suja de maionese do Ji, que somente gargalha em resposta e limpa a sujeira com o dorso da mão.

— Não tá pronto, não? A casa da sua vizinha gata já está cheia de gente — comenta ele.

Suspirei alto, visivelmente frustrado.

— É que não consigo escolher...

— Espera aí. Você, o cara que sempre veste a primeira coisa que vê, está tendo uma crise de identidade? — Hyunjoon gargalhou da minha situação como sempre fazia — Eu não consigo acreditar nisso, hyung. Não há razão alguma pra você mudar de repente a não ser que... — o Heo para de falar no meio e seu rosto se ilumina, fazendo surgir um sorriso malicioso nos lábios do mais novo dali — ...que você esteja querendo impressionar alguém. Ou melhor, impressionar a Violet.

— Hyunjoon! — disse alto, olhando diretamente para o garoto.

— Não adianta mentir, hyung! — repreendeu o Heo, rindo baixo.

Mordo minha bochecha por dentro, pensando as palavras de Hyunjoon e considerando as mesmas. Elas eram a verdade da qual eu estava tentando fugir há algum tempo — mais precisamente, desde o dia em que vi, no fliperama, que ela era a garota mais fantástica que eu já havia conhecido em toda minha vida. Violet Wright era linda, simpática, amiga, extrovertida, sincera, um pouco sem noção e várias outras características que faziam o mundo girar de acordo com a vontade dela, mesmo que a menina não demostrasse tanta exigência assim.

E eu era um idiota por estar gostando tanto daquela maluquice toda.

— Eu não vou responder isso — retruco, irritado, para os dois idiotas que riam sentados sobre minha cama bagunçada. Jogo as duas camisas pro lado e olho para Hyunjoon — Então já que é o mestre da moda, pode muito bem parar de encher minha paciência e escolher uma blusa para mim.

— Será que acho algo que presta no meio desse guarda-roupa de velho, Chanhee? — dou um tapa na cabeça do mais novo, ouvindo seus resmungos. Moleque atrevido.

Hyunjoon, depois de caçar muito, encontrou uma blusa branca lisa e me deu para que eu a vestisse. Depois, retirou uma jaqueta que ganhei dele mesmo a algum tempo e nunca tive ocasião para vesti-la. Quando terminei de me arrumar, tive que admitir que havia ficado melhor do que as roupas que eu usava diariamente, o que fez Changmin rir alto e Hyunjoon comemorar como uma criancinha de fundamental.

Já na porta do apartamento de 303, escutei o som de vozes e de uma música do Seventeen. Younghoon havia apresentado a Violet alguns dos grupos de sucesso do país e a menina pareceu bem impressionada com o talento deles, por isso resolveu selecionar algumas canções para tocar durante sua pequena social.

— Chanhee — escuto a voz de Changmin e me viro para o garoto — Se você gosta da Violet, porque não fala pra ela?

Respirei fundo.

— Não é tão fácil assim, Changmin.

— Mas não é impossível. Eu sei que você nunca passou por isso de gostar de alguém, mas ela é bonita e legal. Se ficar perdendo tempo com sua timidez, outro cara vai chegar antes e tomar o lugar pra ele — o Ji tocou meu ombro e me ofereceu um sorriso encorajador que fez com que eu me sentisse como um idiota apaixonado do colegial — É só curtir, hyung.

Aquiesci em silêncio, pois mesmo que Changmin fosse mais novo do que eu, ele tinha bem mais experiência com garotas do que eu jamais teria. Hyunjoon bateu na porta e poucos segundos depois fomos recepcionados por Younghoon e sua blusa xadrez que o deixava como um protagonista de filmes clichês para adolescentes.

— Ei, Chanhee! Pensei que tinha desistido de vir — disse ele com seu sorriso ao me abraçar como se eu fosse seu amigo — algo que eu não era. Relevei ao sentir o odor de cerveja que emanava do hálito dele — Podem entrar, gente. As bebidas estão na geladeira.

Varri o lugar com os olhos. O apartamento de Violet era bem maior que o meu, mas parecia pequeno com todos os convidados de Younghoon. Via gente dançando, bebendo, conversando e beijando em diversos lugares, e tudo em que conseguia pensar era no síndico tendo uma parada cardíaca diante de tantas regras quebradas ao mesmo tempo. Logo me repreendi por tal pensamento. Não era hora de bancar o careta.

Mirei o grupinho ao redor da mesa de jantar e dei um longo suspiro. Violet estava sentada sobre o vidro, vestida com shorts jeans claros, cropped vermelho e azul e converses surrados na cor bege. Ela também usava suas costumeiras argolas douradas e mantinha o canudinho próximo da boca enquanto conversava. Quando me viu, a menina transformou sua expressão neutra em um sorriso alegre e veio até mim em passos rápidos, envolvendo meu corpo num abraço. Rindo baixo, envolvi meus braços ao redor dela e aspirei seu perfume de flores.

— Estava quase indo te buscar pela mão, New — ela me repreende ao me empurrar pelo ombro com um sorrisinho de lado, logo voltando a beber do seu copo. Violet deu um passo para trás e me encarou da cabeça aos pés, erguendo uma sobrancelha — Posso saber o coração de quem você tá querendo conquistar bonito desse jeito?

Se o seu tiver disponível...

— Para de bobagem, Violet — respondo e escuto um pigarro, só então me lembrando da existência dos dois garotos atrás de mim. Me viro para eles e os puxo em direção a Violet — Esse é Hyunjoon, um amigo meu. O Changmin você já conhece.

A garota se curvou um pouco para eles, que devolveram o cumprimento na mesma hora.

— Fiquem a vontade, meninos. Se são amigos do New, são meus amigos também — disse Violet ao enlaçar meu pescoço com o braço livre e me olhar com seus olhos claros — Vem aqui, preciso que conheça umas pessoas.

Fui me afastando ao ser puxado por Violet em direção ao grupo de pessoas com as quais ela conversava antes, e quando me virei para pedir desculpas a Changmin e Hyunjoon por ter que me afastar, vi que o acastanhado sorria e balbuciava um “Aproveita, hyung!”.

— Aí gente, esse aqui é o Chanhee, o cara mais foda da Coreia! — disse Violet aos desconhecidos que me cumprimentaram com exclamações animadas. Ela os apresentou um por um e descobri que todos eram seus colegas de trabalho.

Dei-lhes um sorriso forçado e neguei com a cabeça quando uma garota com tatuagens no pescoço me ofereceu uma garrafa fechada de soju. Violet me olhou, incrédula.

— Você não vai beber, New? Não é possível que veio até minha festa e não vai virar nenhuma garrafa sequer de soju — disse ela com suas sobrancelhas erguidas, desafiando-me. Quando a menina viu que eu estava prestes a ceder, sua feição feroz deu lugar a uma tentativa de aegyo adorável — Vamos lá, Choi. Faça por mim...

Deixei os ombros caírem, tocado pelo tom de voz suave que a Wright usou. Seu sotaque havia sumido um pouco desde que ela chegou a Seoul, mas ainda dava seus sinais de vida e deixava cada palavra dita pela britânica mais atraente. Por fim, olhei para o vidro verde que me era oferecido e para os olhos pidões da menina a minha frente. Eu odiava beber. Sabia exatamente que cada uma das células do meu corpo tinha uma rixa fatal com qualquer substância alcoólica.

Mas eu tinha pretensão de conquistá-la, e não conseguiria fazer isso sem estar ao menos um pouquinho bêbado. Por isso, peguei a garrafa e a abri, dando um gole e sentindo o líquido descer pela minha garganta com lentidão, quase em sofrimento.

— Isso! — comemorou Violet acompanhada dos demais assim que terminei o processo. Ela sorriu belamente e tomou a garrafa da minha mão para beber diretamente do bico olhando em meus olhos, por fim devolvendo o vidro com uma piscadela. O olhar me deu arrepios, mas consegui sorrir um pouco de volta. Talvez Changmin estivesse certo e eu devesse relaxar um pouco.

[...]

 

Esqueça o que eu disse. Ji Changmin é um filho da mãe hipócrita, estúpido e mentiroso.

Escorado no vaso sanitário do banheiro da suíte, eu pensava em como o destino era um desgraçado comigo. Primeiro, eu tinha uma vizinha velha e chata que me impedia de viver; depois, ela vai embora e Violet Wright, uma garota linda e perfeita, se muda para o 303 e se aproxima de mim como ninguém mais fez; por fim, quando estou decidido a confessar minha queda pela garota, começo a passar mal com apenas duas horas de festa, vomitando bile e as duas garrafas de soju que consumi. Tem como ser mais azarado do que isso?

Há, há. Não mesmo.

Quando sinto que não vou vomitar mais, fecho a tampa do vaso e dou descarga, querendo ser a própria água que descia pela tubulação e sumia de vez. Minha visão ainda estava meio embaçada por conta da bebida, assim como meu senso de direção. Era uma pena estar consciente das minhas ações. Queria ao menos estar ruim o suficiente para não lembrar desse episódio fatídico amanhã de manhã.

Duas batidas suaves na porta me alertam.

— Chanhee, é você que está aí?

Escutar Violet chamar meu nome trouxe uma vontade ainda maior de sumir dali, mas no meu estado atual era impossível pular a janela e não morrer. Tinha sido uma péssima ideia correr até o banheiro da suíte dela.

— Ah... — tento responder, mas não consigo. A maçaneta gira quase no mesmo instante, surgindo em meu campo de visão com seu sorriso característico e cabelos sobre o rosto. Talvez fosse a bebida, talvez fosse minha admiração, mas ela parecia uma deusa quando observado do chão do banheiro.

— New, eu te procurei por todos os cantos! — ela falou ao entrar, mas logo seu sorriso sumiu ao me ver sentado no se chão, tão miserável quanto um peixe se debatendo ao estar preso num anzol — Caramba, Chanhee, o que aconteceu? Você tá bem?

Eu até tinha a intenção de responder, mas um reboliço tomou conta do meu estômago e só deu tempo de abrir a tampa do vaso e botar o resto de álcool pra fora. Violet largou o copo dela sobre a pia e me segurou pelos ombros, impedindo com uma mão que meu cabelo tomasse o rumo da minha boca e se sujasse. Fiquei dividido em me sentir feliz por Violet estar me ajudando ou com vontade de chorar por ela me ver naquele estado.

Felizmente — ou nem tanto assim —, não demorei muito. Violet me deu a mão e levantei, sendo auxiliado pela garota para lavar o rosto e a boca na pia. Mesmo que o gosto ácido não sumisse por completo, foi um alívio tê-lo amenizado com um pouco de água. A garota pegou a toalha de rosto e começou a secar minhas bochechas com cuidado, olhando parte por parte do meu rosto para ver se estava tudo bem comigo. Fiquei admirando-a de perto. Violet era tão bonita...

— Eu estraguei tudo — choraminguei de repente, fazendo com que a Wright balançasse a cabeça.

— Não estragou nada, New. Tá tudo bem, você tá bem melhor agora.

— Estraguei sim, Violet! — falei como uma criança birrenta, mas não podia me culpar. Ainda havia álcool em meus poros, por isso queria dizer tudo que tinha entalado — Eu queria que essa noite fosse boa, e que no fim dela eu pudesse te dizer o quanto você é incrível e maravilhosa. Fui escutar aquela peste do Changmin e resolvi beber pra ter coragem de falar isso, só que acabei vomitando no seu banheiro e sendo amparado por você enquanto aquele patife deve estar de conversinha com alguma garota! Ou garoto!

Violet estava de olhos arregalados, provavelmente surpresa pela rapidez das minhas palavras. Tombo a cabeça para o lado, desesperançoso.

— E agora você me odeia...

— Endoidou, Chanhee? Eu, te odiar? — retruca ela com certa incredulidade, fazendo-me abrir os olhos para lhe fitar quando ela ri com vontade, terminando por tocar meu rosto e sorrir — Choi Chanhee, você é o garoto mais legal, fofo e bondoso que eu conheço. Acha mesmo que conseguiria ficar brava contigo só porque passou mal?

Dou de ombros. Violet ri novamente.

— Não conseguiria, Chanhee, porque gosto de você demais pra isso. Muito mesmo, sabe? Tipo, pra caramba — responde ela e pisco algumas vezes, sem saber se escutei direito.

— Da mesma forma que gosto de você? — perguntei, hesitante.

— Bem, se você gostar de mim como alguém que sente vontade de beijar o tempo todo, então sim.

Largo meu corpo contra a parede, tão chocado em escutar as palavras diretas da Wright que poderia ficar parado ali para sempre. Ela era tão sincera que doía. Nem era dor, na verdade. Acho que só se resumia em uma sensação de leveza por ser correspondido — ou então a bebida fazendo efeito, sei lá. As coisas ainda estava um pouco confusas.

Mas eu havia a escutado direitinho, por isso não perdi tempo em me aproximar de Violet para beijá-la. Fui impedido por ela quase no mesmo instante, que riu de meu desespero.

— Ok, talvez não o tempo todo. Vamos nos lembrar que você acabou de vomitar e nem escovou os dentes. Sabor de bile não é lá um dos meus favoritos — disse Violet com uma careta e compreendi, concordando que era um pouco demais assim que me toquei do que estava fazendo. Minhas bochechas ficaram instantaneamente avermelhadas, o que fez a menina rir com vontade e se aproximar para beijar cada uma delas.

— Não posso ir lá escovar rapidinho e voltar não? — minha pergunta soa como se eu tivesse dez anos. Violet gargalha novamente.

— Prometo que teremos muito tempo pra isso, New. Por enquanto, vamos focar em andar sem cair, tudo bem?

Assenti devagar, ainda corado e nas nuvens pelos beijos que recebi. Quando saímos do banheiro de mãos dadas e voltamos para onde a festa acontecia, Violet me fez tomar dois copos de água para cortar o efeito da bebida, o que logo me deixou um pouco melhor. De longe, vi que Younghoon encarava nós dois com certa indignação. Hyunjoon, por sua vez, ergueu seu copo com uma feição animada que dizia “Até que enfim!” e Changmin ria, erguendo os polegares disfarçadamente. Olhei para Violet e ela sorriu de modo lascivo antes de me abraçar pela cintura, deitando a cabeça em meu ombro.

— Só não ache que agora vou deixar você ganhar no videogame, Chanhee — ela murmura contra minha pele e eu dou risada, lembrando de que pouco menos de um mês atrás eu tinha uma vizinha insuportável, e, agora, uma provável futura namorada. É, as coisas haviam evoluído bastante.

Rindo baixo, aperto a menina em meus braços e a olho de soslaio.

— Não gostaria que fosse tão fácil.

 

 


Notas Finais


Rainbow Tones: https://www.spiritfanfiction.com/listas/coletanea-rainbow-tones-4089870

Obrigada a todos que leram, comentaram, favoritaram e deram apoio a “rainbow tones”! Foram pouco mais de dois meses de postagem de todas as sete histórias e fui muito feliz nelas, rindo e me divertindo a cada palavra escrita e reação que recebi de vocês, leitores. Espero poder continuar postando mais dos meus plots por aqui. Já estou preparando mais conteúdo, quem quiser ler tamos aí kkkkk ♡♡
Como sempre, foi um prazer acompanhá-los até aqui. Quem quiser deixar um comentário sobre essa história ou sobre a coletânea como um todo pode ficar à vontade, viu? Fico muito feliz em ler e respondo com muito carinho ♡ Um beijo e nos vemos em breve!

Isa xx


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