História Virginal - Namorados sem namoro

Kim Junmyeon era um amigo que sempre podíamos contar de corpo e alma e, de forma recíproca, desejava receber o mesmo carinho. Sempre que ocorria em ter novidades almejava ser recebido por nós com amplos sorrisos e tratava de mostrar sem tardar; a desta vez era seu novo namorado. Um garoto chinês que, segundo o mais velho, havia conhecido em um aplicativo de namoro – que logo me fez questionar o nível de carência que o Kim deveria estar se encontrando – e marcaram um encontro, muito bem sucedido já que aparentemente estavam juntos há um mês. Só não apresentara antes por que temia estar sendo rápido demais; ele dizia que conhecer os amigos poderia ser mais pressão do que conhecer os próprios pais. E, novamente com a imagem da minha mãe em mente, tinha de discordar.

O mesmo bar de sempre, a mesma típica mesa de acolchoados azuis. Eu com um copo de refrigerante, Sehun com um cheio de cerveja e Junmyeon em seu natural e saudável suco de laranja, ao qual o chinês de fios escuros acompanhava-o. Era admirável os sorrisos esboçados na face dos dois garotos sentados a frente, faziam-me até mesmo cogitar o namoro e seus benefícios, mas a ideia era logo acabara no segundo instante.

— Me passa a batata — Murmurei para Oh, que inventava de guardar todo o bom alimento para ele.

— Hai — Respondera em japonês. Influência daqueles desenhos eróticos que deve estar assistindo em excesso.

Seus pálidos e longos dedos estenderam uma fatia da batata já frita até meus lábios e eu agarrei sem hesitações, afinal, já estava acostumado. — Lay, não é? — Chamara-o pelo apelido já que o nome em outro idioma era muito complicado. — Como você tem paciência para aturar Junmyeon?

— Ei. — O mais velho repreendera-me.

— Ele está brincando — Sehun acenara como se pedisse desculpas por mim.

Gargalhei com certo entusiasmo e levei a mão mais próxima à coxa do garoto alaranjado, acariciando esta como um infeliz – mas delicioso – hábito, era culpa dele sentar-se ao meu lado, não minha por agarrar sua pele ainda coberta.

— De qualquer forma — continuei, com mais sinceridade desta vez — Fico feliz de estar com o hyung.  Ele está mais feliz.

O braço do chinês envolveu a cintura do mais velho enquanto ele sorria curto, talvez um tanto lisonjeado de receber o elogio. Suho, como insistia em querer ser apelidado, esboçou um constrangido sorriso pela situação, mas sei que ao fundo confortava-se com a conversa.

— Me deixa perguntar — Seu coreano era robusto de sotaques. — Vocês namoram?

— Não — Falamos, eu e Sehun, em um uníssono calmo. Os olhos alheios se arregalaram.

— Como vocês responderam isso tão naturalmente? — E eu não pude conter a risada em meio à reação inocente do namorado novo que exalava o contrário.

— A gente escuta isso toda hora, não muda nada.

— Eu já até tentei fazer eles se pegarem — Kim pronunciou com convicção enquanto formava um teimoso bico com os lábios.

— Não deu muito certo — Sehun movimentou os ombros e eu lhe dei um tapa na coxa, não havia o porquê de ficar explanando a noite constrangedora da semana anterior.

— Junmyeon falou que vocês moram juntos — Os lábios do moreno umedeceram-se. — Não tem ciúmes de quando vem um cara ou uma mina na casa de vocês, só pra um?

— Amor, você parece estar sugerindo uma orgia.

— Orgia? — Yixing franzira o cenho.

— Nada, nada.

Não pude evitar esboçar uma confusa expressão, instantaneamente cessando qualquer carícia que poderia ser prolongada com a proximidade.  Minha mente recalculava os momentos decorrentes dos três últimos anos em que dividimos a casa, mas nada se encaixava com a questão anterior; Me sentia até mesmo resolvendo uma difícil questão de prova.

— Desde que eu conheço o Baek hyung ele nunca entrou em algum relacionamento. — E ele, melhor que qualquer um naquela mesa, sabia os motivos. — Então nunca me incomodei com nenhum garoto ou garota em casa.

— Tá, e quando o Sehun aparece com alguém em casa? — O rapaz tirou-me do transe de pensamentos e eu inclinei sutilmente a face.

— Ele até hoje nunca apareceu com alguém em casa enquanto eu estava lá.

— Isso é por que ele é apaixonado por alguém — Kim pronunciara fazendo-me arregalar os olhos e fitar o laranja. Por que ele saberia de algo que eu não?

Um gemido sôfrego escapara dos lábios do garoto de cabelos castanhos que no mesmo instante reprimiu-se no sofá. Os meus olhos que se concentravam na face de Sehun fora para sua perna; ele havia dado um chute no outro, deixando a cena estranhamente obscena.

— Eu não trago em casa por que acho desconfortável, se encontrei alguém foi fora. — Oh espreguiçou-se.

— Ele não pega ninguém, só assiste pornô. — Comentei agarrando um punhado de fritas.

Mesmo com alimento na cavidade bucal deixei que um riso escapasse dos meus lábios ao visualizar a expressão facial do meu tão fiel companheiro; constrangido, devastado e prestes a me dar um soco no meio da cara, mas ele não tinha coragem de me agredir e eu agradecia por isso. Deuses que me protegem são ótimos.

Os olhos do estrangeiro subiam e desciam no meu corpo, logo após subiam e desciam no corpo daquele ao meu lado. Analisava-nos, analisava a conversa e silenciosamente, com uma aura misteriosa, procurava algo para dizer; não sei se a demora era decorrente de sua falta de fluência na língua ou se ele só era mesmo um tanto idiota. Acho que um mesclar dos dois, mas não podia fugir muito disso já que assim como Junmyeon, ele possuía um aplicativo para namoro.

— Ah, entendi. — Seu tom animado quebrada o silêncio que era encoberto no momento apenas pelo som do mastigar vindo da minha pessoa, afinal, se a comida estava na mesa alguém tinha que comer e Sehun já havia comido mais da metade da porção, o resto tinha de ser meu. — Vocês são como namorados sem namoro.

— Namorados sem namoro? — O uníssono desta vez veio dos meus lábios em união aos outros dois que se encontravam na mesa.

— É, isso. Tipo, vocês basicamente namoram, mas aparentemente só não transam e se beijam.

— Talvez até isso eles façam. — Suho complementara me fazendo engasgar na batata e Oh dirigiu a mão para minhas costas e deu fracas batidas enquanto ria meneando a cabeça em negação, aposto que o infeliz mais velho daquela mesa ficou esperando que eu engasgasse mais, ainda assim o amo.