Os dois andavam calmamente pelo corredor, de repente o de cabelos claros sentiu mãos se posicionando em sua cintura. Quando finalmente se deu conta, Shirogane empurrou-o contra a parede, cercando-o com as mãos de uma maneira que não pudesse escapar com facilidade, mas sabia que ele não o faria nem se quisesse. Seus olhares se encontraram e Adam soltou uma risada fraca.
— Isso foi ‘pra me intimidar? — Questionou em tom sarcástico, arqueando a sobrancelha esquerda.
— Funcionou? — Shiro indagou num tom divertido.
— Nem um pouco. — O de cabelos morenos riu. — Precisa mais do que esse seu sorriso galanteador e um corredor vazio.
— A ideia era te fazer querer me beijar, mas, se isso não deu certo, então eu posso tentar outra coisa. — Brincou, dando de ombros.
— Não precisa me prender numa parede ‘pra me fazer querer beijar você. — Ele agarrou os braços de Shiro, tirando-os da parede e consequentemente abrindo uma possível rota de fuga, se ele quisesse.
Takashi levou uma das mãos ao rosto do noivo, puxando-o delicadamente. Seus lábios se tocaram levemente, mas quando Shirogane estava prestes a se separar, Adam o puxou pela gola, fazendo-o lhe beijar novamente. A mão de Shiro foi ao rosto do outro, acariciando sua bochecha e consequentemente o puxando ainda para mais perto com sua mão livre.
Adam separou o beijo por um momento. — Estamos mesmo fazendo isso no corredor?
Shirogane beijou seus lábios rapidamente. — A sensação de perigo é boa, você não acha?
Refletiu por um momento. — Você acha que têm câmeras aqui?
— Não sei. — Beijou o pescoço de Adam, fazendo-o arquear as costas levemente. — Mas vamos descobrir se o comandante nos chamar. — O de cabelos claros riu.
Seus lábios se encontraram novamente, as mãos de Adam passearam pelo peitoral do outro, tentadas a invadir o espaço pessoal por baixo da camiseta, mas tinha seus limites. Sentiu o contato de suas costas contra a parede mais uma vez, as mãos envolveram sua cintura, puxando para um abraço sem quebrar o contato entre suas bocas.
Com o ar já se esvaindo, Adam aproveitou da oportunidade para puxar o lábio inferior de Takashi com os dentes enquanto seus lábios se separavam lentamente. Um sorriso sacana estampou o rosto de Adam, sendo retribuído por um sorriso sem jeito vindo de Shiro. Olharam um nos olhos do outro e então tiveram a certeza de que não importava quanto tempo se passasse, a sensação de quando se beijavam sempre seria única e intensa, e eles nunca, nunca, iriam enjoar dela.
Ele notou que a cada minuto que passava ao lado de Takashi se apaixonava cada vez mais e sequer sabia que isso era possível, mas o contrário da palavra realmente combinava com Shiro. Era realmente impossível encontrar alguém tão único e tão perfeito, a cada dia entendia ainda mais que sua sorte era imensa.
E ele ficava tão feliz, porque sabia, sabia que Shirogane se sentia da mesma sorte. Era difícil para os dois chegarem à conclusão de quem era o mais sortudo ali, no final, sempre dava empate. Nenhuma de suas brigas desmentiam o fato de que eram simplesmente perfeitos um para o outro.
O sorriso dele. Era tão bonito, tanto quanto ele, conseguia fazê-lo sorrir também, poderia ficar admirando as feições de Shiro por um dia inteiro, e estava prestes a levar isso a sério, inclusive tombou a cabeça para o lado levemente, mas isto o fez notar algo extremamente importante.
E esse algo tinha em torno de seus um metro e meio, cabelos pretos, e olhinhos imensamente curiosos sobre a cena que estava presenciando.
— K-Keith? — As palavras saíram sem jeito, já sentia as bochechas queimando. Lentamente tirou as mãos de perto de Shiro.
Ao ouvir o nome, Takashi rapidamente arregalou os olhos, virando-se e se deparando com um Keith extremamente confuso. — K-Keith o que é que você está fazendo aqui? — Questionou, notando o rubor cobrir as bochechas, ficou ao lado de Adam, pigarreando.
— Bom, eu ‘tava na detenção, então eu saí da detenção, aí eu vi você e o Adam, então eu fiquei esperando ‘pra ver se a gente podia conversar! — Disse inocentemente, gesticulando com as mãos.
— Há quanto tempo você está aqui? — Adam indagou.
— Uh, acho que faz um minuto. — Deu de ombros.
Shirogane virou-se para o noivo, suspirando. — Eu preciso mesmo conversar com o Keith, eu te vejo mais tarde?
— Claro. — Sorriu. — Eu vou uh... — O olhar de Keith sobre os dois era um pouco desconfortável, Adam engoliu em seco. — Vou tomar um café, eu acho. — Riu fraco. — Até mais tarde. — Ele acenou para o noivo, afagando os cabelos de Keith antes de sair.
— Então... detenção, é? — Keith suspirou.
— É.
[...]
Shirogane depositou um copo com suco sobre a mesa de centro, Keith murmurou um “Obrigado” e rapidamente se pôs a tomar a bebida. Takashi sentou-se à frente do garoto, respirando fundo. Assim que este terminou seu suco, colocou o copo novamente sobre a mesa. Antes que sequer pudesse iniciar uma frase, Keith começou a falar:
— Shiro, você acha que eu sou um piloto ruim? — A melancolia em sua voz era praticamente palpável.
Takashi arregalou os olhos. — O quê? — Disse incrédulo. — Mas é claro que não, Keith. Você é um dos melhores pilotos mirins da Garrison, você sabe disso. — Levantou-se de seu lugar, sentando ao lado do garoto e colocando a mão sobre seu ombro. — Você domina aquele simulador melhor do que qualquer um! — O garotou esboçou um sorriso fraco.
— M-mas... — A voz já estava um pouco alterada. — Ele me disse que eu só estou aqui por sua causa. — Encarou Shirogane, se referindo ao garoto que o havia provocado mais cedo. — Aí, ele falou da mamãe e do papai e... — A vontade de chorar era nítida nas palavras do garoto. Shiro podia notar os olhos se enchendo de lágrimas, sentiu seu coração se partir no meio.
Sabia o quão delicado o assunto “família” era para Keith, mas infelizmente, nem todo mundo ali fazia ideia do quanto simples palavras poderiam machucá-lo e fazê-lo expressar seus sentimentos por meio da raiva, quando na verdade só queria chorar o máximo que pudesse.
Sem nem pensar, puxou Keith para um abraço, o garoto agarrou as roupas de Shiro, apertando-as entre os dedos enquanto as molhava com suas lágrimas. Takashi acariciou os cabelos de Keith, tentando lhe passar conforto, o que parecia surtir efeito.
— Por que ela foi embora, Shiro? — Indagou entre soluços. Shirogane sentiu o coração se apertar ainda mais. — O que eu tenho de errado? — Era horrível ver Keith se culpando daquela maneira.
— Você não tem nada de errado. — Apertou o abraço. — Você não tem culpa de nada, Keith.
— Então por que ela me deixou? — Encarou Takashi, com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu não sei. — Disse simples. — Mas, onde quer que ela esteja, eu tenho certeza de que sente a sua falta, e está arrependida. — Keith sorriu, o apertando ainda mais. Shirogane beijou a cabeça do garoto, suspirando.
Keith se separou lentamente, enxugando as lágrimas com as costas da mão. — Eu tenho que me desculpar com o Adam. — Shiro franziu o cenho, confuso.
— Se desculpar? — Keith assentiu. — Por quê?
— Ele devia estar mais triste do que eu, já que eu vi vocês se abraçando, você estava ajudando ele a ficar melhor, assim como fez comigo. — Shiro sentiu as bochechas queimarem mais uma vez. — E aí eu tirei você de lá. — Disse cabisbaixo.
— Não se preocupe, Keith. — Riu fraco, afagando os cabelos escuros. — Adam não estava triste, pelo contrário. — Sentiu o coração acelerar ao mencionar o nome.
— Então por que vocês estavam se abraçando? — Keith estava nitidamente confuso.
Takashi suspirou. — Escute, Keith... — O garoto ficou atento as palavras. — Você sabe que todos os garotos gostam de garotas, não é?
— Isso não é verdade! — Exclamou. — Eu não gosto de nenhuma garota, Shiro! — Ele cruzou os braços e Shirogane riu fraco.
— Ok, a maioria dos garotos gostam de garotas. — O mais novo assentiu. — Bem, mas existem alguns que não se sentem atraídos por elas. — Gesticulou. — E sim pelos garotos.
— Acho que entendi.
— E eu faço parte dessa minoria. — Desviou o olhar. — Eu sou gay, Keith.
O garoto fez uma careta confusa. — Ah... eu achei que você fosse Japonês. — Shiro segurou o riso.
— Isso também. — Respirou fundo. — O que eu quero dizer, é que eu me sinto atraído por garotos, e o Adam, é um garoto. — Keith ficou pensativo por um segundo.
— Então... você gosta do Adam? — Takashi assentiu, e Keith murmurou um “Oh.” — Agora eu entendi! Vocês estavam se abraçando porque você gosta dele, e ele gosta de você!
— Exatamente. — Sorriu.
— Oh... então eu também sou. — Keith sorriu de volta e Shirogane franziu o cenho.
— Você é o quê? — Indagou.
— Gay. — Takashi se engasgou, tossindo um pouco. — Eu também gosto de garotos! — Exclamou com um sorriso. — Eu gosto de você, do Adam, de todos os meus companheiros de equipe do simulador... — Shiro riu.
— Você literalmente socou um dos seus companheiros de equipe, Keith.
— Desse aí eu não gosto, mas os outros sim! — Cruzou os braços. — Até daquele que eu não me lembro o nome, mas eu sei que ele veio de Cuba!
Antes que Takashi pudesse formular uma resposta concreta, ouviu murmúrios vindos da porta de sua sala. Ao encarar o ponto, notou dois garotos da idade de Keith, tendo uma discussão.
— Acho melhor a gente ir embora. — O mais alto falou. — E se ele bater na gente também?!
O outro, mais baixo e gordinho, revirou os olhos. — Para com isso, vamos lá! — Ele agarrou a mão do outro, puxando-o para dentro da sala.
— Posso ajudar vocês? — Shirogane indagou, levantando-se.
— Na verdade, senhor Takashi, nós só viemos ver se o Keith está bem. — O mais baixo se pronunciou. Keith rapidamente levantou-se também, encarando os dois com uma feição confusa.
— Uh, é, eu ‘tô bem. — O garoto coçou a nuca, desviando o olhar.
— A propósito, eu sou Hunk, e esse é o Lance. — Ele apontou para o garoto ao lado, que acenou e murmurou um “E aí?”. — Nós estamos na mesma equipe de simulação, mas você provavelmente não sabia nossos nomes. — Deu de ombros. — Nós só queríamos dizer que o que você fez foi incrível!
Keith ficou ainda mais confuso. — O quê?
Lance suspirou. — Olha, é verdade. Foi maneiro. — Desviou o olhar. — Só aqui entre a gente, nós não gostamos muito do James, ele é muito metido. — Aproximou-se de Keith, batendo em seu braço com o cotovelo. — Digamos que, você colocou ele no lugar dele. — Sorriu, Keith imediatamente retribuiu o gesto.
— Não ‘tá esquecendo de nada, Lance? — Hunk arqueou a sobrancelha.
— Ah, é. — Coçou a nuca. — Nós estamos indo no terraço, e, meio que, estamos te convidando, se você quiser, é claro. — Deu de ombros, apenas tentando não demonstrar o quanto ele queria que Keith fosse.
Lance admirava as habilidades de Keith no simulador, torcia para que um dia fosse tão bom quanto ele.
— Claro! — Deu um soquinho de leve no ombro de Lance. E então virou-se para Shiro, com um sorriso largo em seu rosto. — Obrigado, Shiro! — Takashi retribuiu o sorriso, assentindo com a cabeça.
E então os três garotos saíram, praticamente voando, da sala. Shirogane se pegou rindo sobre o que Keith havia dito, talvez ele não tivesse entendido o real significado de “gay”.
Mas, futuramente, após uma das missões dos paladinos de Voltron, vendo o quão próximos Keith e Lance haviam se tornado, Shiro notou que Keith havia sim entendido, e sabia o que estava dizendo.
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