História Volte para Dezembro - Nove

Quando Malia acordou no dia seguinte, ela sentiu falta de um calor ao seu lado. Abriu os olhos, procurando por aquela figura que já havia acostumado a acordar ao seu lado todo dia. Ela não sabia onde ele teria ido, mas sabia o motivo de ele ter ido.

Não queria admitir, mas sentia-se sim culpada por o que havia acontecido.

Porque, apesar de tudo, ela tinha o contado que estava tudo bem com o que iria acontecer. De fato, ela queria aquilo. E por isso que sua mente parecia girar. Ela queria aquilo. Malia tinha jurado que nunca cederia àquela tensão que havia entre os dois. E, então, ela encontrou-se querendo aquilo – querendo ele – e a culpa parecia engoli-la por inteiro.

Ela não gostava dele de qualquer maneira. No começo desta aventura confusa, ela o desprezava. Não suportava estar perto dele, nem sequer olhar para ele. Theo era como matemática. Complexo, inútil, desinteressante, e Malia não era muito boa nele.

Mas de repente... Tudo parecia diferente. Sua complexidade era interessante e extremamente útil. Tudo n'ele parecia diferente. Ele parecia se importar e – mesmo que ela não admitisse – ela também começava lentamente se importar com ele. Até demais.

— Droga. — ela sussurrou, afastando a si mesma de seus pensamentos.

Levantou-se da cama do hotel, ainda sonolenta. Tomou um banho e se trocou. Saiu de seu quarto para procurar algum rosto familiar. Andou até o quarto de sua filha e bateu na porta. Bateu uma, duas, três vezes, mas ela não respondia. Malia presumiu que ela estaria dormindo, mas – só para ter certeza – pegou a chave reserva e abriu o quarto.

— Kath?

O quão não era a surpresa de Malia quando não encontrou sua filha lá. Onde ela estava?

∞∞

Em Beacon Hills, algo muito estranho aconteceu. O Sluagh, criatura devoradora de almas, havia escapado da Eichen House. Deaton tinha alertado á alcateia sobre esse ser. Ele era um trocador de formas, e poderia facilmente enganar todos e tudo acabar muito mal.

Então, por isso, não foi muita surpresa para Lydia encontrar Malia em meio à biblioteca da escola.

Ela estava lá, em frente a sua cadeira, com um sorriso maligno em seus lábios. Lydia paralisou. Não sabia o que fazer. Continuou a ler seu livro como se nada tivesse acontecido, como se ela não estivesse ali. (Porque, de fato, ela não estava. Aquilo era uma manipulação daquela criatura tentando mexer com sua cabeça).

Malia, ou melhor, Sluagh checou Lydia por inteiro. Arqueou as sobrancelhas de um modo irônico e sentou ao lado da ruiva. Ela fez seu máximo para não tirar seus olhos do livro, para fingir que ela não estava ali.

— Olá, Lydia.

Lydia arrepiou-se por inteira.

— Saia daqui. — ela mandou, tentando e falhando miseravelmente em forçar uma voz mais forte.

— Ah — o Sluagh riu. —, mas já ir embora assim? Tão cedo? Não tem graça.

Lydia não sabia o que fazer. Com aquela criatura ao seu lado, com tanto medo percorrendo seu corpo e o sentimento de morte no ar. E ela sabia o porquê. O Sluagh se alimentava de almas inocentes para sobreviver. Ou seja, ele não estava ali de barriga vazia.

Ela tinha lido em algum lugar que o único jeito de matar um Sluagh seria enfiar uma estava de ferro em seu coração no Halloween. E isso a preocupou naquele momento. Eles estavam em janeiro. Como eles deveriam matar aquele monstro no Halloween sem que ele matasse todos antes?

— Eu quero me divertir um pouco antes de ir. Tenho certeza que você entende, Lyds.

Malia colocou uma mecha do cabelo da ruiva atrás de sua orelha, fazendo Lydia se contorcer em desgosto. O ser sorriu orgulhoso e levantou-se de sua cadeira, indo embora da biblioteca. Lydia levantou seu olhar para olhar para os lados.

Ah, não.

∞∞

Katherine realmente não estava em seu quarto. Theo decidiu esfriar a cabeça quando acordou, então resolveu levar Katherine para algum lugar. Qualquer lugar que ela quisesse. Desde que fosse bem longe de Malia e de mais problemas.

Era um dia razoavelmente quente, então Katherine insistiu para irem á uma sorveteria. Theo não teve problemas em ir pra lá – apesar de estranhar um pouco a decisão da garota para um café da manhã.

 Depois de se servir de um pote de sorvete e convencer Katherine de que duas bolas de sorvete já eram o suficiente, Theo sentou-se a mesa. Tudo ocorria bem por alguns minutos, mas é claro que algo tinha que dar errado.

Ele avistou Malia entrando furiosa na sorveteria e logo revirou os olhos. Ela parou em sua frente e cruzou os braços, como se estivesse esperando uma explicação. Theo deu um sorriso irônico e disse:

— Oi, coiote.

— Você é tão irritante assim? Por que sumiu com Katherine sem falar nada antes? Eu estava surtando!

— Ei, não é como se eu tivesse sequestrado ela. Ela também é minha filha, sabe.

Katherine finalmente tinha acabado de escolher seus dois sabores de sorvete e voltou para a mesa para comer. Ajeitou-se na cadeira ao lado de Theo e começou a comer o sorvete. Até que, olhou para seu pai e percebeu que ele estava discutindo com alguém. Então ela olhou para sua mãe, que havia acabado de chegar, e interrompeu os dois com um simples:

— Ah, oi, mãe! Papai disse que você não viria.

Os dois olharam para a pequena.

— Bem, papai é um mentiroso. — Malia olhou para Theo. — Se bem que isso não é nenhuma novidade.

— É sério isso? — Theo cruzou os braços. — Se é assim, mamãe é uma manipuladora que não consegue decidir o que quer.

— Ah, eu que sou a manipuladora aqui? Olha quem fala.

Enquanto os dois continuavam a discutir, Katherine olhava-os confusa. Ela não sabia com o que se preocupar mais; com o fato de que eles estavam discutindo ás nove da manhã ou o fato de que era provavelmente a quarta vez que ela os via brigar só naquela semana. Ela realmente não queria que eles voltassem a brigar, mas ela não sabia o que fazer para ajudar nisso. Aquela era uma situação estressante demais para ela.

Então ela comeu mais uma colherada do sorvete e se pronunciou:

— É sério, vocês dois, eu só quero tomar café da manhã em paz.

Theo e Malia olharam para sua filha novamente. Entreolharam-se uma última vez antes de se acalmarem. Malia bufou e sentou-se ao lado de Theo. Não falaram nada. Não pelo resto do tempo que eles passaram naquela sorveteria.

∞∞

Depois que Katherine já tinha acabado de tomar seu sorvete, eles voltaram para o hotel. Quando chegaram, ela insistiu para que eles fossem junto dela para a piscina. Malia honestamente não queria ir – depois de tanto estresse... –, mas, depois de tanto a pequena implorar, ela acabou aceitando. Subiu para seu quarto para se trocar.

Logo após colocar o biquíni, Theo entrou no quarto. Ela rapidamente terminou de ajustar as peças de roupa ao seu corpo. Malia também percebeu que ele encarava. E aquilo de repente parecia um déjà-vu de um mês atrás. Em qual ela teria que se trocar em frente a ele e ele não parava de encarar.

— Pare de olhar. — ela disse, alimentando mais ainda a ideia de um déjà-vu.

Theo sorriu, orgulhoso.

— Esse lance todo de timidez não combina com você, coiote. — ele falou. — E, além do mais, não há nada aí que eu já não tenha visto.

Malia lançou um olhar duro para ele e começou a sair do quarto, em passos duros. Ele podia ser mais insuportável? Provavelmente não.

Mas, antes que pudesse sair, ela sentiu uma mão pegando em seu pulso. Ela levantou o olhar e encontrou com os olhos claros de Theo. Ele se aproximou dela e desceu sua mão para a palma da garota, apertando gentilmente sua mão.

— Lia, eu só não entendo. — ele disse quase num murmuro. — Diga o que há de tão errado em fazermos o que fizemos. Já aconteceu, não tem motivo para tentar evitar.

— Alguma hora nós vamos voltar. — Malia suspirou. — Vamos voltar para Beacon Hills, e o que eu deveria fazer? O que eu deveria dizer para eles? Eu traí a confiança deles. Não importa o quanto você esteja mudado, você ainda fez todas aquelas coisas horríveis. 

— E eu sinto muito. Isso não significa nada?

Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer mais qualquer coisa, Malia deu um sorriso triste, livrou a mão de Theo da sua e se afastou. Saiu do quarto para ir para a piscina com Katherine, fechando a porta em seu caminho.

Theo bufou.

∞∞

Malia desceu para encontrar Katherine na piscina do hotel. Chegou ao local, ajeitou-se em uma daquelas cadeiras de praia e procurou a pequena pelo local. Avistou-a brincando com mais duas crianças e acenou para ela ter noção de onde ela estava. Katherine sorriu, falou alguma coisa para as outras crianças, e então as três foram para perto de Malia.

Katherine chegou sorridente e do seu lado havia um garoto que aparentava ser um pouco mais velho. Perto dos dez, onze anos. Pele clara, cabelos morenos, olhos escuros e um pouquinho gordinho. Malia não fazia ideia de quem era esse garoto.

E do outro lado, estava Claudia. Mas não era dela que Katherine queria falar.

— Mãe, esse é o Dimitri. Ele vai ficar com a gente lá em casa quando essa viagem acabar. Ele é meu primo.

— Ah, seu primo?

— Sim, ele é filho da Tia Allison e do Tio Isaac.

Malia soltou um pequeno “oh” que mais soou como um “okay”. Iria falar que fora um prazer conhecer o menino, mas ele interrompeu antes, falando para Katherine:

— Isaac não é meu pai.

Katherine revirou os olhos.

— Tá. Tanto faz.

Ao contrário de Katherine, que não parecia muito interessada, esse pequeno fato despertou a curiosidade de Malia. Se não era filho de Isaac, de quem seria? Scott? Mas Scott estava com Kira, iriam até se casar! Se o filho fosse dele, possivelmente isso seria um grande problema no casamento... certo?

Então ela, sem perceber quão desajeitada a pergunta soava, perguntou:

— Então quem é seu pai?

Dimitri desviou o olhar por um momento, parecendo desconfortável.

— Eu na verdade não sei. Isaac nunca me contou e mamãe não gostava de comentar no assunto. — ele engoliu em seco. — Eu acho que quando eu estiver mais velho, Isaac me contará. Mas, por agora, eu não sei.

Malia não sabia o que responder. Se dizia somente um “sinto muito” ou iria para Isaac para perguntar sobre o assunto. Soltou um pequeno “oh” enquanto pensava sobre o assunto. Por que nem Isaac nem Allison contaram para o menino? Será que fora mesmo Scott? Ou algum outro amigo? Ou quem sabe até um desconhecido?

Isso era muito estranho. Mas Malia apenas forçou um sorriso para a criança, que então fora puxada por Katherine de volta para a piscina.

∞∞

— Vocês ouviram o que Deaton disse? Só podemos matar o Sluagh no Halloween. Como deveríamos fazer isso?

— Scott e Lydia darão um jeito. Eles sempre dão.

— Ah, mas eu não sei. Isso parece perigoso demais, Hayden.

— Sim! E eles ainda têm que resgatar Stiles, Malia e Theo. Isso vai ser impossível.

— Para onde foi o otimismo de vocês dois? Eles vão conseguir fazer tudo a tempo. Confio neles.

— Vocês já podem reservar seus cem dólares, porque já tenho certeza que vou ganhar aquela aposta.

— Pare de ser tão pessimista, Mason.