Se passaram dias desde que recebeu a notícia de que um dos seus melhores amigos havia morrido e, pela primeira vez em sua vida, Levi não sabia o que fazer. Tudo havia acontecido tão rápido que sua mente não conseguiu acompanhar. Em um momento Mike estava bem, no outro se encontrava morto. Aquilo havia aberto uma ferida incurável, e junto a ela, o fim da amizade de uma vida.
Observando de longe Hanji e Erwin deixarem flores no túmulo, sentiu seu coração apertar. Depois daquela ligação com a amiga, muita coisa mudou. Não pela vontade deles, claro. Mas sim, a sua. Aquela dor em seu peito foi tão grande que a única forma que conseguiu para lidar com ela foi o afastamento. Seus amigos não tinham mais notícias suas, seus pais não sabiam do seu paradeiro e, para Levi, deveria continuar assim.
Quando eles foram embora, ele saiu de seu esconderijo e fez o caminho até onde Mike estava. Era a primeira vez que ele vinha ali, e talvez fosse a única. Segurando as flores com força, olhou para o túmulo com lágrimas não derramadas.
"Eu sinto muito, Mike." falou, sua voz soando abafada pela vontade de chorar. Engolindo o nó em sua garganta, deixou o buquê com cuidado ao lado da lápide. "Eu deveria ter ficado um pouco mais com você."
Não conseguindo evitar de chorar, caiu de joelhos. Eram poucas as pessoas que Levi realmente se importava, então ele nunca viveu de perto o luto real. E, para falar a verdade, nesse momento, ele implorou para que não sentisse mais nada.
Não querendo falar por saber que não mudaria em nada, Levi se manteve em silêncio enquanto sua mente funcionava em um turbilhão de pensamentos. Memórias de sua infância, juventude e adolescência junto de Mike o afundou na tristeza. E a culpa veio de brinde. Por mais que soubesse que era apenas o sentimento de desespero falando, não conseguiu evitar de pensar que poderia ter tido a oportunidade de mudar aquilo e que não precisava ter terminado assim. Mas ele não podia se iludir com aquilo. Eren havia lhe dito o que aconteceria, ele pagou para ver.
Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Levi, que fechou seus olhos ao dar um longo suspiro. Seus ombros caíram em derrota, o peso da perda era demais.
Escutando passos se aproximando, sequer fez questão de olhar para saber quem era. Atrás de si, estava Eren, com ambas as mãos dentro dos bolsos de seu casaco. O mesmo tinha uma feição neutra, embora prestasse bem atenção nas lágrimas do menor.
"Está na hora, Levi." murmurou, sendo gentil. "Você já se despediu. Não há mais nada para fazer aqui. Não há alma para sentir seu pesar. Apenas um corpo apodrecido."
Escutando aquelas palavras em silêncio, ele assentiu em concordância. Antes de se levantar, olhou para o moreno e com um olhar suplicante, falou: "Tem alguma maneira de eu não sentir isso?"
Franzindo o cenho suavemente por não saber lidar com aquilo, deu o seu melhor para ser um bom apoio. "Não." disse, desviando o olhar ao pôr uma mão sobre o ombro dele. "Viva a dor do luto. É a única coisa que posso lhe dizer."
Voltando seu olhar para o túmulo, abaixou sua cabeça. Com ambas as mãos no joelho, pegou impulso para se levantar devagar. "Adeus, Mike." Dito isso, ele deu as costas e saiu, sendo seguido pelo Eren.
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Sentado no sofá, Levi observou a chuva do lado de fora em silêncio, não tendo vontade alguma de manter qualquer tipo de contato com ninguém. Seu celular há muito tempo descarregado era vítima de várias ligações de seus pais e amigos em busca de alguma notícia suas ou até mesmo do seu paradeiro, mas ele não dava a mínima. Fechando os olhos, apoiou a cabeça no vidro da janela.
No outro cômodo, Eren lia os livros em busca de algo que pudesse lhe ajudar em relação a situação da Mary, tendo ajuda do Armin e da Mikasa. Os três trabalhavam nos livros há semanas quase sem parar, mas nada era encontrado. George os ajudava bastante, mas, no momento, o mesmo se encontrava fora da cidade em busca de ingredientes que Eren havia pedido. Logo, apenas os quatro se encontravam naquela casa, mesmo que Levi parecesse mais um fantasma do que uma pessoa real.
Fechando o livro frustrado por não encontrar nada, Eren olhou em volta apenas para perceber que Levi ainda não havia mexido na comida que tinha deixado para ele. Respirando fundo, suspirou.
"Podem ir embora." disse, pegando Armin e Mikasa de surpresa por não ser o horário comum. "Deu por hoje. Vão descansar."
Prestes a questionar o motivo, Mikasa foi parada a tempo pelo Armin, que segurou em seu ombro antes de apontar disfarçadamente para o Levi. E por mais que odiasse o primo, ela sentia pena. Suspirando, a mesma assentiu.
"Apenas cuide dele." disse, não acreditando no que falava. "Meus tios estão loucos à procura dele. Está cada vez mais difícil fingir não saber de nada."
"Eu sei." murmurou Eren, "Mas ele precisa do tempo dele."
"Quão mais?" insistiu em perguntar, não notando a preocupação que soou em seu timbre. "Ele está definhando."
Franzindo o cenho, Eren cruzou os braços sobre o peitoral e virou o rosto, se recusando a falar por não ter uma resposta certa.
"Mikasa, já chega." falou Armin, "Vamos embora, ok? O Lord irá cuidar disso."
A contra gosto, ela saiu na frente, pegando a bolsa e indo embora, enquanto Armin teve que correr para acompanhar a garota agoniada. Ouvindo a porta fechar em uma batida forte, Eren suspirou e voltou a olhar para o Levi. Ele precisava fazer algo. Se aproximando, parou na metade do caminho quando o menor olhou para ele com um brilho no olhar.
Ótimo, a fase de negação havia acabado. Mas o que viria a seguir? Pensou consigo mesmo.
"Levi."
"Tem que haver algo." insistiu, o que fez o moreno bufar.
"Não tem." disse, colocando ambas as mãos na cintura. "Já conversamos sobre isso."
"Ele não deveria ter morrido! Que droga, há tantas pessoas no mundo, por que ele?!" gritou enfurecido, se levantando do sofá em busca de algo.
"Ele estava doente. A própria aura dele era de morte. Não tinha como mudar isso, apenas aceite."
"Não!" dito isso, ele percebeu sua situação. Ele estava totalmente alterado, e isso o fez chorar. Escondendo o rosto, voltou a se sentar. "Não é justo."
Aproximando-se, sentou do seu lado. "Sei que isso não é do seu interesse, mas durante a minha vida, tive muitas perdas. A pior de todas, por mais irônico que seja, foi a morte da minha mãe. Ela me traiu, claro. Mas… Ela é minha mãe."
"Como você suportou?"
"Eu segui em frente." disse, olhando diretamente para as mãos. "Me desfiz de qualquer tipo de vínculo que me colocaria novamente numa situação parecida. E eu continuei."
Engolindo o nó na garganta, apoiou a cabeça no ombro dele. Fungando baixinho, tentou secar as lágrimas, mas era em vão. E antes que pudesse fazer algo, se surpreendeu quando Eren passou um braço por cima de seu ombro, em um tipo de abraço ladino.
"Eu estou aqui, Levi."
Ao ouvir isso, sentiu seu mundo desabar novamente. Escondendo o rosto no peitoral do moreno, o agarrou com força em meio ao choro.
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Andando de um lado para o outro, Levi lia o livro de encantamento sozinho em plena madrugada, já que Eren havia capotado no sofá. Ele buscava por qualquer coisa sobre morte e ressurreição, mas não havia nada fora do comum - como explicações de como funcionaria caso desse certo. Fechando o livro com força, o jogou em cima da cama totalmente frustrado.
Aquela porcaria era tão inútil quanto o próprio dono, pensou furioso, só então percebendo o que havia pensado. O lord era imortal, certo? Lembrava-se muito bem dele contando sobre como Mary lhe deu a imortalidade. Então, na lógica, apenas ela poderia dar algo nesse nível.
Com aquela conclusão repentina, ele correu para agilizar as coisas. Deixando um espelho no centro do quarto, rodeado de velas pretas, cortou a mão e deixou com que seu sangue caísse sobre o vidro.
"Eu invoco você, Bloody Mary." disse, em tom de ordem. "Bloody Mary. Bloody Mary. Bloody Mary."
Nada.
"Bloody Mary! Bloody Mary! Bloody Mary!" insistiu, mas nada aconteceu. Pegando a faca, aprofundou o corte, segurando para não deixar um grito de dor escapar. Deixando que mais do seu sangue sujasse o espelho, esperou em agonia.
"Bloody Mary! Bloody Mary! BLOODY MARY!" Gritou, mas nada aconteceu novamente.
"Como ousa?! Eu estou lhe invocando, sua puta!" gritou, entrando em desespero. "Apareça! Apareça, agora!"
Com toda aquela gritaria, Eren acabou acordando e ao chegar no quarto, deu de cara com o Levi todo ensanguentado em cima do espelho quebrado. O mesmo desferia soco atrás de soco, deixando a raiva tomar conta. Correndo até ele, o arrastou para longe dos vidros.
"Não, monstro! Ela pode me ajudar! Essa vadia é uma deusa, certo?! Ela vai me ouvir! Ela tem que me escutar! MARY!"
Abraçando-o com força, fechou os olhos enquanto o ouvia gritar em meio ao choro. Fazendo um carinho em sua cabeça, Eren cuidou dele.
"Eu sinto muito, Levi. Mas ela não poderá." disse, tratando de se explicar o mais rápido possível. "Mike não tinha nenhum contato com qualquer tipo de magia. E mesmo assim, ele já está morto. Mary só conseguiria fazer algo desse tipo se estivesse vivo."
"Ela é uma deusa, certo? Então por que ela não pode me ajudar? Por que ela não pode trazer o Mike de volta?!"
"Levi…"
"Então ela é uma inútil!" gritou, chorando em desespero. Lutando para sair do abraço do maior, desistiu não muito tempo depois por não conseguir ter força naquele momento.
"Ele não deveria ter morrido… Ele não deveria, Eren…" choramingou, escondendo o rosto no peitoral do maior. "Ele não deveria…"
"Eu sinto muito."
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Dando algumas batidas na porta, esperou pacientemente até que fosse atendido. Ao abrir a porta, Kuchel gelou por um segundo e então o abraçou, chorando de alívio por vê-lo bem. Depois disso, ligou para o pai dele e pediu para que retirassem o pedido de busca, pois o mesmo havia voltado são e salvo. Claro, ele teve que se explicar, mas mesmo assim ficou de castigo - sem ver o "namorado" por um tempo.
Deitado em sua cama, observou o teto com desgosto. Havia voltado depois de quase um mês e meio fora, sem dar notícias nenhuma, mas ainda sim, não sentia nada. O vazio continuava ali.
No outro dia, sentado distante de todo mundo, observava disfarçadamente seu professor de química tomando o café que havia batizado. Dando seu primeiro sorriso depois de tanto tempo quando o viu cair e se debater no chão quando o efeito do veneno começou, levando-o à morte não muito tempo depois. Só então ele percebeu… O calor da emoção estava de volta.
Sorrindo ao ponto de mostrar seus dentes, sequer notou quando a íris de seus olhos mudaram para o vermelho sangue por alguns segundos - algo bem parecido com o que acontece com o Lord quando faz um sacrifício.
Levantando-se, saiu caminhando pelos corredores de forma tranquila, enquanto ouvia a gritaria à sua volta. Depois disso, as aulas foram suspensas por um tempo indeterminado, o que lhe deu mais tempo em "casa". Afinal, depois que trancava a porta do quarto, sempre fugia pela janela e ia até onde o Lord estava. E ao vê-lo se recuperando tão bem, se encheu de satisfação.
Com a investigação em andamento, agora Levi tinha tempo o suficiente para distribuir toda a sua raiva. Arquitetando um plano, ele sabia seus próximos passos.
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As ondas de assassinatos em massa estavam se espalhando por toda região. Com Levi beirando a insanidade, não havia ninguém capaz de pôr um freio no Lord. E assim, juntos, ambos espalharam o terror.
Se balançando no ritmo da música, Levi deu um longo trago no seu cigarro de maconha, soprando o ar logo em seguida. Sentado no sofá, observando ele dançar, se encontrava o Lord. O moreno tinha um sorriso divertido no rosto, as últimas semanas foram as melhores. Inclinando-se contra a mesa, cheirou a fileira de pó antes de jogar a cabeça para trás, rindo pela agitação que sentiu. E era assim que ambos aproveitavam os momentos em que não tinham nada para fazer, se drogando e enchendo a cara.
Levantando-se do sofá, Eren pegou uma faca afiada e foi até onde Levi estava, se aproximando dele até que seus corpos estivessem se movendo no mesmo ritmo. Levando uma mão até o rosto do moreno, Levi sorriu ao olhar em seus olhos, moendo seu quadril contra ele. Rindo com aquilo, Eren o forçou a se virar, assim então poderiam se enfrentar. Cortando seu próprio pulso, deixou com que Levi se lambuzasse com seu sangue enquanto o sugava como se fosse a bebida que tiraria toda a sua sede. Afastando seu braço contra a vontade de Levi, ele o beijou com fervor, sendo retribuído de imediato enquanto seu rosto sujava com seu próprio sangue.
Escondido na cozinha, George observava aquilo tudo com repulsa. A situação havia saído do controle. Ele precisava pará-los. E com esse pensamento em mente, ele levou o celular até seu ouvido. Iria denunciá-los à polícia e parar com tanto derramamento de sangue em vão. Levi e o Lord deixaram de matar por sacrifícios, eles estavam fazendo por diversão, em um tipo de brincadeira doentia que apostavam quem matava mais. Como se a pressão da cozinha se tornasse negativa, todo o clima mudou. Ele estava sendo observado.
Engolindo em seco, se virou devagar, temendo o que lhe esperaria. Parado na porta da cozinha, estava os dois. Enquanto Eren estava apoiado na parede, drogado, Levi o encarava com as pupilas dilatadas. Em um segundo, George percebeu que não era droga em seu sangue. Levi estava olhando dentro de sua alma, como se já soubesse o que estava acontecendo. Aquele olhar psicótico dele chegava a ser mais assustador do que o próprio Lord, e isso o fez recuar.
"L-Levi? Eu já estava indo levar as bebidas." disse, tentando soar o mais calmo possível, mas era em vão. Em nenhum momento Levi desviou o olhar dele, encarando-o com os olhos bem abertos. "S-senhor?"
"Você vai ser o primeiro." murmurou, e em questão de segundos, o barulho da pancada de um chute extremamente forte ecoou pela cozinha.
Rindo, Eren foi até a mesa e tirou uma cadeira para que pudesse assistir sentado. Pegando um cigarro de maconha, o levou até a boca. Nunca deixava de ser divertido ver isso, pensava consigo mesmo. Enquanto ele matava usando facas ou qualquer coisa afiada para que pudesse ver como a carne ficava, Levi era mais brutal.
Ele não usava arma alguma.
Com George ainda deitado no chão com uma mão sobre a barriga, Levi se aproximou por trás. Pegando em seu braço, o entortou até que o som do osso saindo do lugar ecoasse juntamente com o grito de dor.
Inclinando-se, soprou a fumaça no rosto do homem mais velho, sorrindo com orgulho quando Levi quebrou o outro braço dele.
"M-mestre! Me ajuda!" gritava de dor, em busca de ajuda. "Por favor, Mestre!"
Rindo alto da cara dele, ele negou com a cabeça. "De onde tirou que sou piedoso, seu merda?"
Percebendo que morreria ali, sendo humilhado e torturado, George desistiu de implorar. Encolhendo-se no chão, chorou enquanto tinha seus ossos quebrados. Quando finalmente estava satisfeito, Levi mudou seu método para chutes, amando ouvir seus suspiros e sangue escorrer. George estava fraco demais para gritar, e pelo ritmo em que estavam, sequer viveria por mais tempo. Rindo, ele começou a pisar em sua cabeça até que o crânio se esmagasse sob seus pés.
Levantando a cabeça pelo cabelo, segurou no queixo dele e o forçou a abrir a boca, como se fosse uma marionete. "Mestre, me ajude!" imitou, gargalhando junto do Lord.
Jogando o defunto de volta para o chão, caminho lentamente na direção do Eren, lambendo seus lábios ensanguentados de forma seduzente. Sentado-se em seu colo, passou ambos os braços em torno de seu pescoço. Com um sorriso fofo, inclinou a cabeça para o lado. "Curtiu o show, monstro?" murmurou, lambendo lentamente sua orelha.
Gemendo baixinho, Eren sorriu. Pegando em seu queixo, o forçou a encará-lo. Olhando dentro de seus olhos, apenas sentiu orgulho de seu trabalho bem feito. Ele deu vida a esse animal… Ele criou esse monstro!
Antes que pudessem se beijar, foram atrapalhados pela presença de Eren. Parado na porta, congelado com tanto sangue espalhado pela cozinha, seu olhar demorou a chegar nos outros dois. "O que aconteceu enquanto estive fora?"
Notas da autora: Vejam esse capítulo como a abertura da segunda temporada da fic. Sim, amores, agora estamos na reta final da história.
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