ѼѼѼ
— Kouga-kun, Ayame-chan... Espero que fiquem à vontade — afirmou Kagome, gentilmente, entrando dentro da oficina de Inuyasha sendo seguida pelo casal de youkais lobos.
O sol estava se pondo; como Ayame havia comentado que Shippou lhe dissera que os pequenos youkais macacos estavam aprontando peraltices pelas redondezas e Inuyasha, seguramente, odiaria ver algum dos seus novos pertences danificado ou roubado, Kagome achou por bem convidar o casal para pernoitar no local onde seria sua nova casa, enquanto ela aproveitaria sua última noite na casinha de Kaede com o kitsune.
— Até que Inukoro não é tão incompetente assim. Olhe esse negócio, que interessante! — comentou Kouga, olhando um nicho de madeira que tinha um tigrezinho minúsculo anexado em cima.
Devido à correria, o hanyou havia construído apenas dois cômodos simples nos fundos do galpão. Continuaria construindo depois do casamento. A sacerdotisa era muito paciente e entendia o porquê de não ter uma casa completa como a da amiga exterminadora. O quarto e a cozinha tinham dimensões aproximadas de 9m²; havia um banheiro pequeno do lado de fora da oficina.
O príncipe dos youkais lobos olhava com atenção para as obras inacabadas de seu antigo rival proprietário da oficina, com interesse. Ayame, por sua vez, acompanhou a jovem, que a chamou em particular.
— Oi, Kagome-chan, o que você quer me dizer? — indagou a lobinha, num murmúrio, dentro do quarto dela que, no momento, abria uma das mochilas e de lá tirava um tubo de lubrificante íntimo. Fez um gesto de mão, pedindo à lobinha que se aproximasse de si.
— É o seguinte, Ayame-chan — cochichou Kagome — Caso você e ele queiram... Sabe? Se você aplicar esse gel antes, vai doer bem menos, ainda que ele não seja muito carinhoso.
Ayame sorriu, grata, e deu um abraço na sacerdotisa, logo se afastando dela ao ouvir os passos do marido se aproximando. Kagome, ligeira, escondeu o tubo atrás do aparelho de som; entretanto, o interesse do youkai estava situado do outro lado do quarto, no chão.
Uma pilha de livros.
— Kagome, isto são livros como aqueles que você carregava enquanto estava procurando os fragmentos da Joia? — perguntou ele, se aproximando.
— São, sim... — afirmou ela, curiosa com aquela reação dele. — Você sabe ler, Kouga-kun?
— É claro que sei! E muito bem, diga-se de passagem. Posso ver este aqui? — indagou o youkai, apontando para o primeiro livro da pilha¹, que tinha a figura de uma jovem morta caída no chão diante de um sobrado.
— Pode.
Kouga abriu o livro em uma página qualquer e começou a ler:
— “O assassino, sorrateiro, segue as duas e se esconde atrás daquela árvore no meio do gramado. Nick Buck... Buck...” Kagome, que nome é esse aqui? Parece estrangeiro, eu não consigo ler — fez ele, apontando para um ponto da página. Kagome se aproximou para olhar, enquanto Ayame prosseguia olhando para a bagunça de coisas da era moderna amontoados pelo quarto.
— Buckley. É o sobrenome da mulher, Nick Buckley.
— Certo... Buc-kley, Nick Buckley. Que nome feio... Enfim... “Nick Buckley sai e passa a poucos metros dele. Ele atira três vezes em rápida sucessão...”. Atirar? Como assim, atirar?
Kagome revirou os olhos.
— Kouga-kun, você está na página 113, por que não começa do início?
— Você vai deixar eu ler tudo?
— Mas é lógico! E, por via das dúvidas... — a sacerdotisa se abaixou e pegou outro volume da pilha. — Isso é um dicionário. Quando você encontrar uma palavra e não souber o significado, é só procurá-la aqui.
— Muito obrigado... Aqui uma palavra estranha... “Pistola” — ele abriu o dicionário, folheando-o freneticamente. — “Pistola: Arma de fogo leve, de cano curto, que se dispara com uma só mão”. Arma de fogo? É possível manipular fogo para fazer uma arma na sua era?
— Kagome-chan, que katanas lindas! São suas? — exclamou a lobinha do outro lado do cômodo, olhando para a bolsa de couro de jacaré. Kouga, ainda entretido com os livros, não prestou atenção nela, ainda lendo o livro e estranhando algumas das expressões. Ignorando a conversa das duas, ele afirmou:
— Bem, vocês fiquem aí. Eu vou tomar um banho no lago. Kagome, vou colocar seus livros aqui, perto dessa coisa que parece uma peneira — e apontou para uma raquete mata-mosquito, colocando os livros ao lado. — Ayame, volto logo.
Assim que ele se afastou, Kagome foi até suas katanas e as tirou de dentro da bolsa. A lobinha parecia encantada. Não era para menos — Toutousai fizera uma bela obra de arte em cada uma delas. Cada uma tinha um cabo de cor diferente e com a face de um animal entalhado. A impressão que Kagome teve ao vislumbrá-las pela primeira vez foi a de que o ferreiro youkai quisera lhe presentear com espadas artesanais.
— Há uma longa história por trás dessas espadas, Ayame-chan. Prometo contar para você depois, certo? Agora... — sorriu. — Creio que é hora de eu deixar você e Kouga-kun a sós. E também preciso conversar algumas coisas com Kaede-sama sobre amanhã, então... Até mais.
— Obrigada pelo apoio, Kagome-chan. Espero ter algo de bom para contar para você amanhã... Acho que vou tomar um banho também, no lago — comentou ela, corando e mordendo o lábio inferior.
— Caso não queira andar tanto até lá, tome banho no nosso banheiro mesmo. É uma tina pequena, mas novinha. Inu a montou e a pintou com muito esmero — afirmou a outra, parando subitamente de falar e olhando para baixo, franzindo a testa. Logo, seu rosto se abriu num sorriso malicioso.
— O que foi, Kagome-chan?
— Eu acho que podemos bolar um plano interessante para sua noite com Kouga, Ayame.
ѼѼѼ
Noite. Todos os funcionários da fazenda haviam se recolhido para seus aposentos.
Inuyasha e Sesshoumaru, apesar do vento fresco que passava pela fazenda, suavam em bicas. Estavam limpando o que sobrara do pomar e retirando os troncos de árvore mortos caídos e espalhados no local. Não era uma tarefa difícil nem cansativa, porém enjoativa. O pomar era extenso, bem como a destruição presente. Os dois acabaram por tirar a parte superior de seus trajes, ficando apenas de calças. Mesmo assim, o suor fez com que os fartos cabelos de ambos grudassem em suas costas.
— Keh! Que droga. Por que você não matou o tal feiticeiro com um golpe só, seu idiota? — resmungou o hanyou, enfadado. Sesshoumaru revirou os olhos; havia dado uma versão peculiar de sua luta contra Kuuya, onde ele simplesmente vencera o Hachibushu e pronto.
— Eu quis usar Bakusaiga porque me deu vontade — desconversou o youkai branco. Afinal, admitir que havia sofrido uma derrota era demais para ele. — E você bem sabe que o poder destrutivo dela é absurdo, assim como o meu próprio poder. Essas meras árvores não sobreviveriam de forma alguma.
— Mas, Sesshoumaru, isso não faz sentido. E... — o hanyou esticou os braços para cima, se alongando. — Como explica o cheiro do SEU sangue no chão? — Sesshoumaru teve um pequeno sobressalto, muito bem camuflado. — É, seu babaca, você não engana o meu nariz.
— Não lhe devo satisfações.
— Keh! — foi a resposta do mais novo.
Prosseguiram calados na tarefa. A Inuyasha pareceu que seu irmão estava se atirando àqueles serviços pesados para se distrair do tédio ou disfarçar alguma ansiedade. Súbito, ouviu o chamado do outro que, sem nada explicar, jogou a enxada longe e alçou voo. O hanyou saiu atrás dele, intuindo que sabia para onde ambos estavam indo.
Para as cerejeiras.
Não demorou muito para que Inuyasha avistasse Sesshoumaru boiando dentro do rio, usando somente um fundoshi² branco, com expressão pensativa, braços e pernas abertos e relaxados. Reclamou:
— Seu inútil preguiçoso! Isso não é hora para brincar, idiota! Faltam ainda muitos troncos para a gente tirar do pomar e você resolve... — o hanyou parou de falar ao ver que seu irmão havia levantado discretamente uma das mãos com a palma virada para si. — Ei, o que você está faz-
O youki de Sesshoumaru aumentou enquanto ele manipulou a correnteza para fora do rio usando telecinésia. Um braço de água foi atirado contra Inuyasha, que caiu a muitos metros dali, ensopado.
O youkai branco permaneceu olhando para o céu de poucas estrelas, com seus olhos âmbares brilhantes e distraídos.
— MALDITO! — berrou Inuyasha, se levantando e correndo a toda até o irmão que, sem mudar de lugar, repetiu o mesmo ato; coube a ele ser bem ágil e se esquivar da água. Com extrema dificuldade, conseguiu entrar no rio e pulou em cima de Sesshoumaru, intentando atacá-lo. Este, porém, fez a água se transformar em um escudo protetor; Inuyasha caiu com estrépito sobre a terra. Tossindo por ter aspirado um bocado de água, o hanyou se ergueu e levou a mão à Tessaiga, que... Não estava na bainha. Olhando para o outro lado, viu que seu irmão conseguira tomar a espada de si e colocá-la junto às raízes das cerejeiras, junto às calças brancas. Piscou várias vezes, aturdido.
— Mas que merda é essa, seu desgraçado?! — gritou o caçula, sentindo dores por todo o corpo. — Devolva a Tessaiga!
— Venha pegar — foi a resposta lacônica de Sesshoumaru. Inuyasha ficou inconformado e rosnou para o irmão, que ergueu a mão placidamente e gerou outro torvelinho d’água, atirando-o contra o hanyou. Esquivando-se como podia, Inuyasha saltou contra aquilo, exclamando:
— Sankou Tessou!
O torvelinho, em partes, foi desfeito. Mas, mal Inuyasha pousou os pés no chão, seu irmão o atacou de novo. Era uma situação difícil; Inuyasha já estava ofegante, mas jamais baixaria a guarda — principalmente diante do youkai branco, que agora estava flutuando um palmo acima da água, com as longas pernas cruzadas em posição de lótus e rosto demonstrando tédio. Devido à potência de sua energia demoníaca, os cabelos prateados se moviam como se estivessem sob ação de uma ventania. Inuyasha, entretanto, não se intimidou quando mais um braço de água se ergueu contra ele. Desfez parte do torvelinho com suas garras; contudo, ainda sentiu parte do impacto da água sobre sua cabeça e tórax, e ficou desorientado por um momento.
Será que Sesshoumaru está me testando de alguma forma?
Por sua vez, o mais velho continuou a atacar, observando a dificuldade que Inuyasha estava enfrentando. Sesshoumaru estava tentando recriar o Trovão de Água Dappa, praticando aquela habilidade mental que não usava com frequência. Ele não sabia se seu irmão conseguiria escapar vivo dos torvelinhos, que, apesar de não serem nocivos como os de Kuuya, eram obviamente perigosos. Nem ele mesmo sabia explicar o porquê de recriar a situação que vivera, fazendo Inuyasha de cobaia.
Seria vontade de testar as próprias capacidades? Seria um jeito de treinar o caçula para que não fosse alvo de um possível ataque? Mas desde quando ele se preocupava com o hanyou? Eram estas as questões que permeavam a mente do youkai.
Concentrando-se, Sesshoumaru ergueu as duas mãos. Dois torvelinhos de água brotaram do rio, maiores e mais fortes, e se lançaram na direção de Inuyasha que, no momento, demonstrou preocupação e buscou se esquivar, saltando para a esquerda. Mas a água o perseguiu; pisando em falso sobre a terra enlameada, o hanyou escorregou e caiu de lado. A água o atingiria em cheio, se o próprio Sesshoumaru não tivesse mudado de ideia e puxado o caçula para dentro do rio com seu youki. Os braços de água caíram na terra, com violência, fazendo um estrago no solo.
Inuyasha voltou à superfície, ansioso por respirar livremente, exausto. Agora estava sendo erguido no ar pelo irmão, que continuava a encará-lo, pensativo.
— Inuyasha — disse ele, imperioso. — Você é tão inútil que até o momento não pôde fazer nada a não ser se defender. E Tessaiga continua ali.
— Keh! Seu desgraçado maluco! Como quer que eu pegue Tessaiga me atacando com essa água violenta?!
— Foi desta maneira — respondeu Sesshoumaru com gravidade — que o tal feiticeiro atacou a mim. Devo lhe confessar, a contragosto, que tive muita dificuldade para abater aquele indivíduo estranho. Ele... Ele sabe ficar invisível e sua mera presença em minhas terras fez com que todos os meus empregados caíssem desmaiados. E havia um segundo feiticeiro que... Capturou Rin, iludiu-a e voou com ela em um animal que parecia ser feito de metal e se movia com houriki — suspirou. — Até agora, ela acredita que os intrusos são deuses que pensam que sou um guardião divino e mais um monte de absurdos nem nexo.
Sesshoumaru deixou o irmão cair de qualquer jeito sobre o rio de novo, enquanto dava mais um mergulho. Não fora fácil contar um pouco mais sobre o estranho ataque ocorrido na fazenda, mas, pela primeira vez, o youkai sentiu necessidade de expor seus temores a alguém. E Inuyasha não fazia o tipo fofoqueiro.
— Agora, me diga, hanyou: se o tal feiticeiro aparecesse em sua frente, sequestrasse sua humana e lhe atacasse do mesmo modo que este Sesshoumaru o atacou...
— Keh! Está louco?! Eu o mataria, nem que fosse necessário abrir um Meidō e ir até o inferno atrás dele! — respondeu o outro, ainda respirando com dificuldade, indo para a outra borda do rio.
O youkai branco, contudo, ergueu a mão e fez surgir uma cortina de água diante de Inuyasha, impedindo-o de sair. O hanyou usou suas garras para cortar aquela barreira, mas não conseguiu transpô-la. Olhou para Sesshoumaru com ódio. Este, porém, permaneceu sereno, de pé.
— Vá buscar a Tessaiga, híbrido imprestável. Qual é o seu problema?
— Desgraçado...! Vai ver só, eu vou pegá-la e... Hmmmmgggg...! — Inuyasha tentou erguer o braço, mas estava paralisado. Também não conseguia mover os lábios para falar. Encarou o irmão e ficou surpreso.
Com os cabelos sendo impulsionados para cima com o vento oriundo de sua energia sinistra, Sesshoumaru caminhava devagar em sua direção, seminu e com um brilho homicida nos olhos agora totalmente vermelhos. Suas garras e seus dentes estavam maiores; o hanyou percebeu que estava sendo forçado a tomar alguma atitude, já que Sesshoumaru nunca havia dito a ele que havia se tornado seu amigo. Contudo, sem Tessaiga, Inuyasha era uma presa fácil, muito fácil.
A não ser que permitisse o sangue youkai vir à tona.
Sentindo sua mente embotar e seu raciocínio ficar um pouco mais lento, Inuyasha se atirou não contra a cortina de água, mas contra seu irmão, desferindo socos, chutes e golpes com as garras. O youkai branco se defendia com facilidade, mas começou a notar uma diferença no hanyou de olhos tintos de sangue — este agora conseguia deslocar uma mínima quantidade de ar ao seu redor com seu youki instável. Uma segunda cortina de água se levantou diante de Sesshoumaru, mas, inesperadamente, seu irmão erguera a própria mão crispada e, por alguns segundos, deslocou parte da cortina de água com uma forte e misteriosa corrente de ar. O rosto do youkai foi arranhado; ele se deixou desconcentrar e logo as mãos do hanyou estavam em seu alvo pescoço.
Entretanto, o mais velho não se incomodou. Um olhar mais incisivo e Inuyasha era jogado de volta à água com brusquidão. O hanyou caiu inerte e afundou; Sesshoumaru revirou os olhos.
— Você é fraco demais. Eu estava aqui pensando se deveria elogiá-lo pela forma como conseguiu me atingir, mas mudei de ideia. Não vou elogiar um hanyou que desmaia ao mostrar sua verdadeira força.
Então, o youkai saiu do rio e pegou suas calças, vestindo-se, e tirando Inuyasha da água ainda por telecinésia. Agarrou o irmão inconsciente pela cintura e voou de volta à casa grande.
— Porém não posso dizer que foi um mau começo para um possível treinamento entre nós dois. Aquele bruxo... Não sei se morreu. Ele, ou o seu comparsa, pode aparecer mais uma vez. Eu, Sesshoumaru, devo estar preparado. E, se até hoje não consegui matar você, hanyou, creio que será você o indivíduo indicado para praticar esses poderes comigo.
ѼѼѼ
Kouga chegou à porta da oficina, chamando por Kagome. Sua esposa respondeu lá de dentro, mandando-o entrar. O youkai lobo veio rápido, como sempre, e ficou surpreso com a visão que teve.
Ayame, em vez de suas roupas de pele, usava um conjunto de fio dental e sutiã pretos. Kagome havia visto as peças íntimas em uma loja e, como já andava estudando um jeito de ajudar a amiga loba na intimidade com seu marido rude, trouxe a novidade para ela. Seus cabelos ruivos não estavam mais presos com chiquinhas e, agora soltos, fizeram com que ela adquirisse um toque de sensualidade em sua fisionomia. A lobinha estava sentada sobre um colchonete velho porém conservado, olhando insinuante para Kouga, que estava de queixo caído.
Ela estava linda, muito linda. Mas algo diferente havia em seu olhar, e Kouga o percebeu.
— Você... Está diferente — murmurou ele.
— Num bom ou num mau sentido, Kouga? — inquiriu ela, e o lobo pareceu confuso ao ouvir aquele tom de voz. Não tão amistoso.
— B-bom. Isso... Afinal... Que roupas são essas? — perguntou o youkai, intrigado.
— Foi um presente de Kagome-chan para nós dois.
— Nós dois? Mas... Não entendi.
— Por que não se senta, querido? — convidou Ayame, lhe mostrando o colchonete. Rapidamente, ele se sentou ao seu lado e ela levou as mãos até seu abdome, tocando-o devagar. O príncipe dos youkais lobos entendeu, enfim, o que significava o presente da sacerdotisa e sorriu, lascivo, para a esposa.
— Ah, que coisa boa. Então essas roupas pequenas são para me dar vontade de te comer, não é? Não precisava disso, eu não ligo para o que você veste, mas devo dizer que gostei.
A rudeza de Kouga irritou a lobinha, que, contudo, continuou sorrindo:
— Posso te pedir para tirar a roupa?
— Mas para que tirar a roupa? Você está estranha hoje — foi a resposta dele. Ayame se conteve para não demonstrar sua raiva e continuou sorrindo.
— É que eu quero te ver... Nu. Você nunca... Sabe... Só eu que tiro a roupa e...
— Certo, certo — interrompeu-a Kouga, meio ressabiado, se despindo. — Só hoje, e só por causa de que você planejou uma coisa diferente para mim — concluiu, enquanto jogava para o lado as peles que vestia. A lobinha o olhou intensamente; era a primeira vez que ele se despia diante dela.
Kouga era um youkai de pele bronzeada, com abdome definido e músculos razoavelmente fortes, além de ter ombros largos. Porém, o que chamou a atenção de Ayame foram as coxas — grossas, torneadas e atraentes — que, apesar de estarem sempre escondidas sob seu traje, tinham tonalidade semelhante à do resto do corpo, o que não aconteceria se ele fosse um humano.
Ansiosa, ela aproximou-se dele e pediu um beijo sussurrando em seu ouvido. O fato é que Kouga era impaciente na hora do ato íntimo e, geralmente, quase nunca a beijava.
— Beijo, Ayame? Justo agora?
— Só um pouquinho... — murmurou ela, já tocando os lábios dele com os seus e inclinando o tronco sobre ele. Meio desajeitado, Kouga retribuiu o beijo, sentindo seu corpo despido agora arrepiado enquanto percebia os mamilos dela pressionados contra seu tórax. Suspirou de desejo. Entretanto, logo ele interrompeu o carinho, ao ver que havia se deitado enquanto ela estendia as mãos e acariciava a extensão de seus braços.
— Ayame... Não demora. E não fique em cima de mim, você sabe que não gosto...
— Shhhh. Calma. Não vou demorar... — replicou Ayame, gentil, segurando com delicadeza os pulsos de Kouga, colocando ali os pergaminhos e logo se erguendo. Então, antes que Kouga se desse conta do ocorrido, ela foi rápida em direção a seus pés e os prendeu com mais dois pergaminhos. O youkai lobo arregalou os olhos azuis ao ver que seus braços também haviam sido presos no chão. Ele tentou erguer o tronco, gritando:
— Que p**** é essa, Ayame?! Posso saber o que voc-
— Cala a boca.
— O QUE DISSE?!
— Eu disse para você calar a boca! — replicou ela, também ríspida, surpreendendo o marido quando colocou mais um pergaminho sobre seus lábios. E mais pergaminhos sobre os cotovelos e sobre os joelhos de Kouga, que agora estava bem imobilizado, só conseguindo mover seu quadril e sua cabeça, além de rosnar.
Shippou, a seu pedido, lhe dera mais pergaminhos na tarde daquele dia e lhe avisara que não havia garantias de que aquilo funcionasse com youkais mais fortes. Entretanto, ela quis arriscar — e arriscou. Seu marido estava imobilizado diante de si e ela agora brincaria com ele. Vendo o esforço hercúleo e mal sucedido dele em se libertar, Ayame tomou coragem e levou as mãos até a cabeça de Kouga, soltando seus cabelos negros e tirando a bandana marrom que lhe adornava a testa. Empolgada, ela afastou a grande franja dele de sobre seus olhos.
— Você sabe o que eu descobri, Kouga?
— MMMMMFFF...
— Descobri que ser tocada aqui — e mostrou os seios, que eram pequenos e delicados, enquanto despia o sutiã — é bom. Olhe...
Ayame se colocou de joelhos sobre um agoniado Kouga, tocando as mamas devagar, suspirando lânguida, sentindo que a excitação vinha a toda para seu corpo. Por sua vez, o príncipe dos youkais lobos se debatia, desesperado para se ver livre daqueles pergaminhos e já endurecido de desejo. E com uma dose considerável de raiva, também, por estar em uma situação daquelas.
— Isso me faz pensar em todas as vezes que você simplesmente se jogou sobre mim e não me permitiu descobrir isso antes, inclusive me fazendo acreditar que eu era fria. Lembra, Kouga?
E ela se ergueu, lhe dando as costas e baixando a calcinha, sem pressa, ouvindo os arrufos dele.
— Você me disse que eu era fria. Mas, veja que interessante, descobri não sou não. Será que o problema não está com você?
Do que essa maluca está falando?!
Os olhos verdes da lobinha percorriam todo o corpo de Kouga. Por mais que quisesse, ela não conseguiria machucá-lo. Ela o amava. Então, o jeito seria deixá-lo padecer de desejo e não satisfazê-lo. Ayame, resoluta, se posicionou sobre ele mais uma vez, permitindo que sua vulva umedecida tocasse a ereção pronunciada do marido, que, reunindo toda a força que possuía, arremeteu o quadril para cima. Sem sucesso. Ele a olhou com ódio.
— Não, espere aí. Eu tenho mais coisas a dizer — afirmou ela, tocando a pele do próprio abdome. — Então, Kouga... Você também me diz sempre que há muitas fêmeas por aí interessadas em dar para você — riu ela, irônica. — Agora eu te pergunto, quem iria querer um youkai tão desajeitado e tacanho?
— Grrrrrrrrrrrr...
— Porque, veja bem... Nesses cinco meses de casados, você nunca me deu prazer.
— MMMMMGGG...
A lobinha alcançou o tubo de lubrificante íntimo com uma mão e em seguida aplicou o produto em sua genitália. Não era necessário, dada a quantidade de muco que ali havia, mas ela queria experimentar. Um cheiro frutal se espalhou pelo quarto. Kouga já não sabia mais onde terminava seu ódio e começava seu desejo. Se ele conseguisse se soltar, iria se servir dela loucamente até perder as forças. Seu sexo já doía.
Contudo, nada o havia preparado psicologicamente para o que vinha a seguir. Com um pequeno sorriso, a lobinha se levantou de sobre ele e se sentou ao seu lado, cuidando de manter as coxas bem separadas e a genitália bem às vistas do marido, que arregalou os olhos ao ver os toques indecentes que ela fazia em si mesma, sobre o clitóris (que Kouga não fazia ideia do que se tratava).
— Ohh... Isso, Kouga... Isso se chama prazer. E é... O prazer que você NÃO sabe dar para fêmea alguma...
— HMMMGGG! — gemia ele, indignado e aviltado. E enlouquecido.
Nunca havia visto uma fêmea se masturbando, como também não fazia ideia de que elas também tinham tal impulso libidinoso. E também não imaginava que ver tal coisa o fizesse subir pelas paredes por causa da volúpia. Mais uma vez, ele se debateu. A lobinha agora introduzia um dedo dentro do corpo e fechava os olhos, gemendo abandonada e imersa em seu deleite.
— K-Kouga... Eu prefiro brincar com meu dedo... A perder meu tempo com essa coisa inútil que você tem entre as pernas... Esse negócio só serve para me machucar. V-você... Aahh... Não sabe satisfazer ninguém... Ohh... Eu vou...
E, lançando a cabeça para trás, Ayame mordeu o lábio enquanto gemia ao atingir seu orgasmo, que viera forte, intenso, por causa da sensação de estar sendo atenciosamente observada. Ainda respirando fortemente, a lobinha olhou satisfeita para o marido vermelho e suado.
Resolveu tirar o pergaminho de cima dos lábios dele. Quem sabe, depois daquela demonstração inequívoca de que ela era uma fêmea sexualmente sadia e normal, ele não mudaria de ideia e lhe daria a honra de ser amada como merecia?
Porém...
— VOCÊ VAI ME PAGAR, SUA LOUCA! P****! QUE BRINCADEIRA ESTÚPIDA!
— O quê?! — fez ela, estupefata.
— NÃO ACHEI GRAÇA NISSO! AGORA ME SOLTE E VENHA ME SERVIR, ANTES QUE EU FIQUE AINDA MAIS IRRITADO! — berrou o youkai lobo, furioso. — VOCÊ É APENAS UMA FÊMEA! COLOQUE ISSO NA CABEÇA: APENAS UMA FÊMEA! NÃO SOU OBRIGADO A CANSAR MEUS OUVIDOS COM SUAS IDEIAS SEM SENTIDO! QUEM MANDA AQUI SOU EU!
Sentindo seu coração em frangalhos, Ayame sentiu que uma lágrima indesejada lhe rolou pelo rosto. Então tudo fora em vão?
O sangue subiu à cabeça da jovem youkai. Ela bem que não queria ferir seu amado, mas aquilo lhe tirou do sério. E, vendo a intimidade de Kouga exposta, uma ideia fugaz e terrível lhe passou pela cabeça. Cega de raiva, Ayame levou as mãos ao períneo do marido, separando-lhe as nádegas e avistando sua entrada. O príncipe dos youkais lobos recrudesceu seus brados:
— FICOU LOUCA DE VEZ, MALDITA?! TIRE AS MÃOS DAÍ! E ME DESPRENDA! VAI VER... VOU TE DAR UMA LIÇÃO POR TER ME FEITO DE...
— CALA A BOCA, KOUGA! NÃO SUPORTO MAIS ESSA SUA GROSSERIA... VAMOS VER SE VOCÊ ACHA ISSO BOM... – gritou ela de volta, perscrutando devagar a entrada intocada de Kouga, que, lívido, não parou de gritar e de ameaçá-la.
— NÃO VOU ME REPETIR! TIRE AS MÃOS DO MEU CORPO, LOBA DO NORTE, VOCÊ NÃO SABE COM QUEM ESTÁ...
— CALA ESSA BOCA, INFELIZ! — explodiu a lobinha. — EU VOU... DEIXAR UM OCO NO SEU RABO!
E, cheia de revolta, Ayame introduziu metade do dedo indicador dentro do ânus do marido, que gritou em franco desespero. E de novo. E mais uma vez.
Na mente de Ayame, aquilo deveria doer nele da mesma forma que doía nela, quando ele a penetrava de qualquer jeito, sem dar importância ao seu prazer, egoisticamente. A lobinha sentiu os músculos anais de Kouga se contraírem violentamente em torno de seu dedo. Não se compadeceu de seus gritos, nem das lágrimas que rolavam pelo rosto moreno.
— AAAAAAAARGH! AYAME, NÃO! NÃO! N... – e o youkai foi silenciado mais uma vez por um pergaminho de Shippou.
— Chega de escândalos. Você me machucou bem mais na nossa primeira noite e eu não fiz tanto barulho.
— MMMMMMGGGFFFFF!
Kouga estava para morrer. Sua entrada doía com a invasão sofrida, mas o dedo de sua esposa era pequeno e estava lubrificado. Era a mais assustadora experiência que ele experimentava... Principalmente quando ele se deu conta de que não era somente dor que ele sentia. Aquela era a tortura mais deliciosa que ele jamais imaginou vivenciar.
Ayame, atenta apenas ao seu desejo de vingança, prosseguiu na tarefa de estocar seu marido. Resolveu adicionar o dedo médio junto, crendo que Kouga se debatia por causa da dor.
— Ah, está doendo, não é? – fez ela, um tanto trêmula. – Isso é por todas as vezes que você me feriu, me machucou, dizendo que era eu a responsável...! Por todas as vezes que você disse que meu corpo não tinha as curvas do de Kagome e que ela era mais atraente... Por tudo isso!
— HHMMMMFFF...
Enquanto os dedos de Ayame adentravam inclementes o interior do corpo do youkai lobo, este sentia todo o seu ser em combustão de prazeres. Kouga gemia com os lábios tapados, enquanto cedia a cada instante àquele deleite insólito; seu membro latejava e ele se lamentava por não poder se livrar daqueles grilhões de papel.
Todavia, o inesperado aconteceu – os pergaminhos, um a um, se soltaram. Estupefata, a lobinha viu seu marido se soltar, mas continuar deitado, encarando-a vermelho e com os olhos enormes.
Será que ele vai me matar?
Após uma intensa troca de olhares, Ayame ficou ainda mais chocada quando Kouga, de cenho franzido e parecendo bastante irritado, disse em voz baixa:
— Como ousa me deixar nesse estado, maldita loba do norte?
— N-nesse est-
— Exijo... Que não pare. Eu já estava quase lá...
E Kouga empurrou o quadril contra a pequena mão da esposa, que não viu jeito senão prosseguir na execução de sua vingança, que há muito já não estava mais sob seu controle (e que prometia um desfecho absolutamente diferente do que esperava). Ele fechou os olhos e arfou, entregue, até que os dedos de Ayame alcançaram sua próstata e ele estremeceu, gemendo ensandecido e sendo engolfado por um prazer inédito. E foi sob o olhar incrédulo de sua esposa que o príncipe dos youkais lobos sentiu sua pele sendo alvejada pelos jatos do próprio sêmen.
A lobinha ainda estava com a mente a mil por hora, tentando entender o que havia acontecido, quando um Kouga bem ofegante se sentou, encarando-a. Apesar do orgasmo avassalador, a tensão não havia abandonado o olhar do youkai. Todo ele parecia irritado, estranho e confuso. E bastante diferente, com a franja caindo sobre os olhos.
— Ayame, o que foi que você fez comigo?! — indagou ele, em voz baixa.
— E-eu estava me vingando de você — foi a resposta dela, que agora estava insegura.
— Se vingando?!
— Sim, me vingando. Você tem me maltratado demais toda vez que vai se servir de mim — replicou Ayame, olhando feio para o marido, que meneou a cabeça. A bem da verdade, Kouga se sentiu um tanto encurralado no momento.
— Você não entende... Isso é o que todo macho faz.
— Mas Inuyasha não machuca Kagome... Nem Miroku machuca Sango.
— Um é um hanyou inexperiente e outro é um humano tarado.
— Nem Sesshoumaru machuca Rin-chan — arrematou Ayame. Na verdade, ela estava blefando, mas sabia que Kouga não iria tentar averiguar com nenhum dos amigos citados. Ele sacudiu a cabeça.
— Quer saber? Esqueça aqueles idiotas — afirmou ele, com uma expressão desapontada. — Como eu iria saber que estava te machucando?
— Perguntar o porquê de eu chorar todas as vezes seria um bom começo...
O tom de voz rascante e bruto da lobinha deixou-o impressionado.
— Mas isso dói tanto assim, Ayame?
— Você ainda pergunta?! Por acaso, você não sentiu dor quando eu... Ah... Toquei você... Daquela maneira? — replicou a lobinha, ainda confusa.
— Doeu no início — admitiu o youkai, rubro. — Mas foi a melhor gozada que eu tive em toda a minha vida! E é por isso que me sinto tão mal! — Baixou a cabeça, fechando os olhos com força.
— Você se sente mal por ter...
— Ayame... Acho que você acabou com a minha vida. Ou melhor... Tenho certeza — murmurou Kouga.
— Do que está falando?
— Não é óbvio? Graças a essa sua ideia maluca de vingança, eu já nem sei... — suspirou. — Se posso ser considerado como um macho.
ѼѼѼ
Eram, aproximadamente, duas e meia da manhã quando Inuyasha acordou. Estava deitado sobre um futon macio; ouviu o som de batidas cardíacas serenas e um respirar quase inaudível dentro do cômodo. Ao erguer a cabeça, avistou seu irmão sentado sobre outro futon, lendo um exemplar bem gasto de Prometeu Acorrentado.
Era engraçado ver o altivo Sesshoumaru com roupas de dormir e fisionomia sonolenta. Contudo, algo não o deixava relaxar; parecia tenso.
— Ainda bem que você finalmente acordou. Estava quase me decidindo por levá-lo ao Cáucaso... – comentou o youkai, irônico. O hanyou entendeu o teor do comentário e riu. – Se bem que, como você é um híbrido de baixa categoria, a águia de Zeus teria indigestão se comesse o seu fígado.
— Retardado. A águia de Zeus teria indigestão se comesse o SEU fígado, e não o meu. Você é um youkai feio que vira um cachorro com baba venenosa e fedorenta, deve ter um gosto horrível. Já eu...
— Você o quê?
— Eu sou uma verdadeira delícia. Sou um macho atraente, gostoso, bem dotado e desejado... – afirmou Inuyasha, cheio de orgulho próprio. Sesshoumaru não resistiu e riu com desdém. O hanyou não pôde evitar um calafrio, pois ver seu irmão rir era algo tão raro quanto assustador.
— Recuso-me a crer que ouvi um disparate desses. Andaram mentindo bastante para você, estúpido.
— Keh! Pois é isso que eu ouço da mulher que amo, então só pode ser verdade. E, aliás, se eu não gostar de mim mesmo, quem vai gostar, seu maldito? – replicou o caçula, bocejando.
— Não sei e não me interesso em saber. Sobre esta sua infantilidade de me chamar de feio... Você deve ser cego. Eu sou o daiyoukai dono da mais pura beleza; meus olhos reluzem como o ouro e meus fios de cabelo cintilam como a prata...
— Os meus também. Blá, blá, blá – resmungou Inuyasha.
— Meu corpo é inteiramente simétrico, minha pele não tem manchas, tenho o rosto nobre e belo, meu andar é majestoso...
— Simétrico? Você tem pernas gigantes e é branco como um filhote de ave celestina recém-nascido. Sua cara parece de mulher e seu andar é de um mimado preguiçoso que não tem nada para fazer.
— Além de ser o inuyoukai mais sensual de que se tem notícia, a minha habilidade em dar prazer é incontestavelmente magnífica, fato este que me torna o indivíduo mais cobiçado destas terras — afirmou o mais velho, ignorando as ofensas do outro.
— Nunca vi você com ninguém a não ser Rin, que, por gostar de você como gosta, sempre vai dizer que você é perfeito. Ela disse ao Miroku uma vez que você é a pessoa mais gentil do mundo! Tem lógica? – aparteou Inuyasha, cético.
— E quanto a você, hanyou iludido? — retrucou Sesshoumaru, com os olhos no livro. – Você tem orelhas de cachorro sem raça, sobrancelhas que lembram taturanas, uma boca enorme... Gosta de se agachar com as mãos no chão, como um reles cão sem eira nem beira. Coça a cabeça com os pés, envergonhando o nome de meu pai. E duvido que tenha a virilidade que eu naturalmente possuo.
— Pergunte a Kagome, já que duvida tanto...
— Para que, seu tolo? Aquela sua miko consegue querê-lo de qualquer maneira, mesmo que você tivesse os olhos de Toutousai e o hálito de Jaken. Ela, com certeza, deve ter algum problema sério para gostar de você tanto assim.
O caçula revirou os olhos.
— Sesshoumaru, desgraçado, abra o jogo. Você está nervoso por causa do casamento.
— Isso é ridículo. Por que estaria nervoso?
— Você está lendo Prometeu Acorrentado de cabeça para baixo!
— Ora... — fez ele, ligeiramente assustado. — Isto... É bom para o cérebro.
— Isso é sinal de que, além de burro, você ficou louco, sem mais. Quer saber? – fez Inuyasha, se levantando. – Se não se importa, vou ver os cavalos. Eles mordem?
— Claro que não. São todos dóceis por causa de minha Rin.
Orelhas se agitaram no topo da cabeça de Inuyasha; Sesshoumaru entendeu o pedido não-verbal.
— Sim, pode montar em qualquer um deles, menos o potro, que é exclusivo de Rin.
A porta de correr foi aberta e Inuyasha, empolgado, saiu da casa, correndo e saltando ao chegar no gramado. Subia a colina em direção à estrebaria e não se surpreendeu quando sentiu o cheiro do youkai branco se aproximando.
Sesshoumaru deveria estar bem ansioso mesmo. Antes que Inuyasha chegasse junto aos animais, o proprietário da fazenda já estava abrindo a baia de Silver e o puxando pelas rédeas. O cavalo veio tranquilo, olhando com curiosidade para o hanyou que acabava de se subir a colina. Um vento refrescante passou pelo local.
— E aí, garoto? — disse Inuyasha ao cavalo, tocando de leve em seu pescoço. — Quer dar uma volta comigo? Ouvir Chop Suey, fazer um headbang, que tal?
Sesshoumaru voltou para dentro da estrebaria para tirar Luna, mas ficou atento ao que o irmão fazia com Silver — conversava com o animal, alegremente, como se fossem velhos amigos. Ao vir trazendo a égua favorita de Rin, o youkai branco notou o brilho quase infantil nos olhos do mais novo e a espontaneidade de seu sorriso. Aquilo não deixou de intrigá-lo; afinal, Sesshoumaru notava a mesma expressão em Rin e nunca conseguiu entender o que fazia os humanos terem tal tendência a ficarem felizes por motivos tão insignificantes.
— Se você não gostar de Chop Suey, podemos ouvir Thriller — afirmou o hanyou, afagando a crina de Silver e tirando o celular de Kagome do bolso e reproduzindo uma playlist qualquer. O som a tocar foi It’s Raining Men.
— Eu não acredito que você estava conversando com um cavalo — alfinetou o youkai branco, já montado em Luna. Ele estava se sentindo estranho, mas, como não estava sendo visto, julgou que um passeio a cavalo não lhe prejudicaria a reputação.
— E qual é o problema, maldito? Ele é tão legal! — replicou Inuyasha, enfim subindo sobre o animal. — Se Rin pode conversar com ele, por que eu não posso?
— Vocês, híbridos, e humanos conseguem ser bizarros, às vezes. Não existe lógica alguma em conversar com um cav-
— IT’S RAINING MEN! HALLELUJAH, IT’S RAINING MEN! EV’RY SPE-CI-MEN! — cantava Gloria Gaynor, o som de sua voz reverberando no ar assim que Inuyasha aumentou o volume do aplicativo. Colocando Silver para andar, o hanyou exclamou:
— Deixe para julgar se somos bizarros em outra hora, Sesshoumaru, seu demente. Vamos, Silver! Lerigou, garoto!
E os dois saíram em disparada pelo campo verde. O youkai branco acabou por se permitir mais um pequeno sorriso, enquanto começava a correr a toda com a égua Luna. Logo alcançava seu irmão, que berrava a música a plenos pulmões. Pouco a pouco, os inúmeros e inquietantes pensamentos de Sesshoumaru acerca do ataque sofrido pelos Hachibushu e do seu tão próximo casamento com a jovem Rin foram se dispersando. Ele agora se continha para não gargalhar das diversas palhaçadas do caçula sobre o cavalo.
Realmente, conviver com ele não é tão ruim quanto eu pensava que fosse. Esse hanyou tem o dom de me fazer querer ser livre de mim mesmo.
ѼѼѼ
E, na oficina de Inuyasha, Ayame ofegava sob Kouga, que agora parecia bastante interessado nos misteriosos pontos do corpo esguio que a faziam ficar quente. Apesar de ainda se portar com um quê de brutalidade e ser meio desajeitado, ele conseguira, com sucesso, excitar e conduzir a lobinha ao deleite que ela sempre quis.
Entretanto, o príncipe dos youkais lobos estava com um novo e seriíssimo problema.
Uma dúvida gigantesca sobre sua masculinidade.
ѼѼѼ
¹ — “A Casa do Penhasco”, de Agatha Christie.
² — Fundoshi é uma roupa íntima masculina, de origem japonesa, que lembra uma tanga.
ѼѼѼ
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.