História War Of Hearts - Sterek (Parte 1) - Me Diga a Verdade

O som oco da porta batendo faz Stiles acordar de um sono inquieto.

Sensações estranhas continuam lhe dominando e em alguns momentos se torna sufocante suportar. Ele não sabe o que há de errado com ele, mas ele definitivamente odeia isso.

Com um suspiro pesado Stiles chuta os lençóis que o envolvem e em seguida ele força seu corpo a se erguer, a sensação desconfortável novamente lhe tomando.

Ele boceja e aperta os olhos enquanto empurra o sono para longe, não tendo muito sucesso nisso. Inconscientemente ele encolhe as pernas para o desconforto que persiste e é quando ele vê...

— Mas que…

Existe um volume não característico entre suas pernas que definitivamente não deveria estar alí. Ele observa abismado seu próprio corpo não lhe obedecendo enquanto ele tenta fazer com que seu… amigo, volte a seu devido lugar mas nada parece funcionar.

Isso vem acontecendo há algum tempo mas não torna menos constrangedor sempre que ele acorda dessa forma.

Era só o que faltava, a maldita puberdade.

— O sol já nasceu, Stiles!

Lydia surge de repente, atravessando a porta do pequeno quarto com um sorriso enorme e o que parece ser uma caixa embrulhada em suas mãos.

Num sobressalto Stiles cobre suas partes confusas com seus lençóis, assustado com a aparição repentina de Lydia e constrangido com toda essa… situação.

É quase automático e nada suspeito, Lydia claramente percebe a afobação do garoto e franze a testa, antes de um sorriso malicioso e conhecedor surgir em seus lábios.

— Oh… momento errado?

O tom de rubro cobre as bochechas de Stiles, que tem vontade de se enterrar nos cobertores e se fundir no colchão para jamais ser visto de novo.

— Não seja engraçadinha — Ele bufa, ainda não tão irritado quanto constrangido, ele estremece e dobra as pernas para próximo ao peito — Achei que tinha definido a regra de bater antes de entrar há algum tempo.

— Está certo, mas acreditei que hoje seria uma exceção — Ela encolhe os ombros e levanta a caixa para mostrar a ele com um sorriso sincero — Feliz aniversário!

Stiles não pode deixar de sorrir amorosamente para a sua amiga, a mesma que nunca deixa de lembrar e mesmo de forma simples comemorar a data.

Derek quase nunca está por aqui, suas visitas costumam ser rotineiras mas muito rápidas, eles não tem tempo de conversar antes que o lobo suma mais uma vez.

Stiles não entende o que acontece com Derek e porque ele é tão misterioso, ele se apegou ao fato de que isso é coisa de lobo alfa ou seja lá o que isso significa, mas não o faz se sentir menos abandonado sempre que ele sai.

— Sabe que não precisa…

— Eu queria.

Stiles, felizmente já mais composto, se arrasta pelo colchão até o presente de Lydia, sorrindo agradecido antes mesmo de ver o que é, mas já tendo uma noção certeira.

— Você sabe do que eu gosto — Ele brinca, retirando do embrulho um livro lindamente ilustrado intitulado Pax, de Sara Pennypacker — É lindo, Lydia. Obrigado.

— Achei que gostaria. Fala sobre amor, amizade e confiança, vai mantê-lo entretido por um tempo, sei que ama ler — Ela pisca, recebendo um abraço apertado do garoto.

— Você é incrível.

— Eu sei.

×××

— Ei, criança, como você está?

Stiles olha para a presença de Claudia quando ela entra no quarto. Ele encolhe os ombros e coloca um marcador na página que estava lendo do livro que Lydia lhe deu.

— Um pouco sozinho, eu acho — Responde ele cabisbaixo.

Faz três dias que Derek não aparece e a solidão está começando a cobrar seu preço. Por outro lado ele se recusa a admitir isso para o lobo, ele já tem quase 15 anos e não precisa se humilhar para ter companhia.

Infelizmente mamãe Claudia sempre consegue arrancar dele suas emoções mais ocultas.

— Oh, então acho que não vai se importar com a minha companhia, eu espero — Ela sugere esperançosa e Stiles sorri.

— Claro que não.

Claudia senta no canto do colchão, antes de esticar o braço e remover do rosto do garoto uma mecha rebelde de cabelos escuros.

— Sabe que estarei sempre aqui quando precisar de mim, certo? Odeio vê-lo parecendo tão triste assim — Diz ela baixinho, Stiles não deixa de concordar. Ele se sente um pouco para baixo ultimamente, e isso não é como ele — Posso tentar vir diariamente para lhe fazer companhia, sei que Derek não está sempre aqui e não gosto da idéia de que esteja sozinho.

— Sabe que não sou mais criança, certo? Posso me cuidar, não preciso do Derek — Stiles cruza os braços teimosamente, seu gesto infantil quebrando todo o seu argumento maduro — As vezes ele nem parece que quer estar aqui, acho que sou um fardo para ele.

— Ei, isso não é verdade.

Stiles encolhe os ombros.

— Que seja, eu não me importo.

Claudia suspira, sua mão acariciando o braço do garoto teimoso.

— Ele é apenas muito ocupado — Ela tenta argumentar, mas Stiles já está farto disso. Ele não é mais uma criança e acha que já está pronto para algumas respostas reais aqui — Sei que está irritado…

— Sim, eu estou porque gostaria que ele fosse um pouco mais cincero comigo — Stiles tenta conter sua voz mas não consegue — Porque não posso sair além das redondezas da cabana? Porque tenho que estar trancado quando o mundo é livre?!

— Querido… isso é complicado.

— Eu posso entender! Basta apenas me explicar! Ele diz que o mundo é perigoso para mim mas ele está sempre fora, ele está sempre me deixando sozinho como… como se eu não passasse de um objeto descartável — Stiles funga, seu rosto franzido, suas mãos apertadas em punhos.

Ele rapidamente enxuga as lágrimas com a manga de seu casaco e respira trêmulo.

Claudia finge não perceber como o céu se torna nublado de repente e o clima se torna frio e escuro dentro da cabana. Não significa nada.

— Eu só… queria que ele se importasse.

Claudia sente seu coração se quebrar com a devastação do garoto e sem mais nenhuma palavra ela o puxa para seus braços, o segurando apertando e mostrando que ela está lá por ele.

— Tenha um pouco de paciência, as coisas ficarão mais claras logo — Ela diz, e espera que isso seja suficiente.

×××

— Existiam dois grupos vigiando a fronteira, alfa, quase todos sumiram — Um dos guardas de seu bando explica e no mesmo instante Derek range os dentes irritado.

— Onde estão os outros?

— Feridos, mas vivos, disseram que não viram o que os atacou.

— Eu sei — Derek levanta da mesa, contornando-a e ficando em frente a janela com vista geral para seu bando — Foram as bruxas, elas estão ficando audaciosas.

Ele sussurra a última parte para si mesmo.

— Devo reforçar a guarda, alfa? — Questiona o rapaz, ansioso por ordens. Derek atravessa os dedos pelos cabelos e suspira.

— Sim. Qualquer um que aparecer na fronteira, mate — Ele comanda.

Horas depois Derek se encontra parado próximo a fronteira de onde seus homens sumiram, examinando silenciosamente a área e desejando que alguma delas apareça para que ele possa rasgá-la em pedaços.

— Sabe, você tem estado fora do ar para o alfa centrado e destemido que é — Derek fecha os olhos e segura um rosnado a voz de Peter Hale, que surge inesperadamente próxima a ele — Ouvi dizer que anda escapando mais do que deveria nos últimos tempos.

— Tenho deveres fora do bando, sabe disso tão bem quanto eu, tio — Ele se força a dizer, irritado.

Ele sabia que em algum momento Peter surgiria com algum comentário inapropriado sobre ele e sua função como alfa, o lobo mais velho sempre foi ótimo nisso.

Diferente de outros lobos alfa de seus bandos, Derek também é um caçador, alguém que trás segurança para os lobos que cuida, alguém que previne que seu bando seja morto pela raça mais cruel que existe.

As bruxas.

E esse tem sido seu trabalho, o mesmo impecavelmente executado, até que Stiles surgiu em sua vida, e Derek se tornou desengonçado com uma de suas principais funções. Se tornou menos alerta.

As bruxas perceberam a guarda baixa do lobo

caçador e estão se tornando intrépidas, surgindo no bando e matando seus homens sempre que tem uma chance.

— Aparentemente não está sendo necessário sair para caçar bruxas quando as mesmas estão aparecendo aos montes por aqui — Peter comenta com um torcer de lábios — Se passasse mais tempo dentro do bando veria isso.

— Qual é o seu problema?

Peter bufa uma risada.

— Talvez você seja jovem demais para ser o alfa deste bando — O alfa mais velho diz secamente, não incomodado com o rosnado feroz de Derek — Não fique bravo, querido sobrinho.

— É o que quer, não é? Tomar o meu lugar?!

— O que eu quero é parar de perder pessoas do nosso bando! Aqueles homens tinham famílias! Esposas, filhos. O que será deles agora? — Peter cospe no rosto do alfa mais jovem, vendo-o empalidecer e ficar completamente em silêncio — Como disse, jovem demais.

Peter sai, deixando um Derek incrédulo para trás. Não é a primeira vez que seu tio mostra um certo descontentamento com o modo como ele cuida do bando, mas é a primeira vez que ele diz algo assim.

Jovem demais para ser um alfa.

Inexperiente.

As feições de Derek escurecem e ele bufa, antes de voltar para a sua vigília.

×××

Quando ele entra na cabana de Stiles ele se sente estranhamente mais leve, com menos peso em seus ombros. Ele costuma se sentir assim sempre que está por alí e é de uma forma esquisita… revigorante.

Ele não costuma demonstrar isso para Stiles, ele não quer que o garoto se apegue a ele, ele sabe que isso apenas tornaria as coisas mais difíceis no futuro.

É sua forma de manter as coisas no eixo.

Ele procura para presença do garoto mas não o encontra em lugar nenhum, o que quer dizer que ele está trancado em seu quarto como tem feito sempre.

Coisa de adolescente, Derek imagina.

Stiles deixou de ser o garoto curioso e pegajoso que era para se tornar um adolescente hormonal e um tanto difícil de lidar, o que seriamente irrita Derek.

Ele caminha até a porta do quarto de Stiles e bate duas vezes na mesma, não recebendo resposta para seu chamado. Com um suspiro pesado ele resolve usar a voz:

— Garoto?

Derek sabe o quanto Stiles odeia ser chamado assim por ele e se aproveita disso.

— Você tem três segundos para me responder ou eu…

A porta do quarto se abre antes que ele termine de falar, o rosto irritado e um tanto corado de Stiles surge na pequena fresta.

— O que é? — Resmunga o garoto — Estava ocupado.

— Ocupado? — Derek ergue uma sobrancelha em questionamento.

— Sim, ocupado, sabe… fazendo coisas que não são da sua conta — Stiles fala com a voz azeda, se possível o rubor de antes se aprofundando mais em suas bochechas — Você pode sair? Seria realmente ótimo.

— Ei, cuidado com a forma como fala… — Stiles fecha a porta com um baque estrondoso, fazendo Derek rosnar contido para si mesmo — Malditos adolescentes.

Ele caminha até as janelas e observa as redondezas como sempre faz quando está por alí, mesmo que ninguém nunca tenha aparecido, ele não acha que seja ruim manter a cautela.

Derek decide se sentar por alguns minutos na cadeira velha de carvalho que tem na frente da cabana, apreciando a vista e o frio suave que em breve vai se intensificar com a chegada do inverno.

Ele aprendeu a adorar isso, apenas sentar e relaxar, algo que ele não pode quando está no bando, com tantos problemas para que ele resolva.

Claro, existem alfas experientes que tomam conta do bando quando ele está longe caçando bruxas, mas grande parte dos problemas legais caem por cima dele e é realmente cansativo.

As vezes ele se pergunta se seria tão ruim dar o que Peter tanto quer, seu lugar como alfa para que Derek seja livre.

Irritado com esse pensamento Derek sacode a cabeça e esfrega os olhos cansadamente, até que escuta o som de passos suaves próximo a ele, ele não precisa abrir os olhos para saber quem é.

— Fiz biscoitos. Se você quiser alguns…

Stiles murmura, Derek consegue esconder um pequeno sorriso.

×××

Derek está terminando seu último biscoito quando Stiles resolve falar algo que quase o faz engasgar:

— Quando vai deixar claro o porque de eu não poder sair? Até quando vai me manter preso aqui?

Derek engole seu biscoito e respira fundo, antes de levantar da mesa e se manter firme.

— Não vamos começar de novo, vamos? Porque eu estou ficando cansado disso, garoto.

— Eu não mais um maldito garoto estúpido que você pode manipular, Derek. Tudo o que eu quero são algumas respostas — Stiles diz com a voz aguda, mas ainda contida o suficiente para não parecer uma ameaça — Você nem parece se importar comigo, então porque se dar ao trabalho?

Derek sente vontade de sair agora, fugir disso e deixar o garoto com as suas dúvidas. Ele sabia que este dia chegaria, o dia em que Stiles finalmente iria querer respostas concretas e convincentes.

Ele só não esperou que fosse chegar tão cedo.

— Se eu não me importasse, não estaria aqui — Responde o alfa de forma sucinta.

— Oh, isso é esclarecedor — Stiles cospe e Derek odeia Lydia por passar para o garoto toda a sua maldita inteligência e petulância — Agora posso dormir bem a noite.

Agora Derek está definitivamente irritado.

— Estou saindo.

— Uau, que novidade, apenas não deixe a porta bater na sua bunda quando sair — Stiles alfineta, caminhando para voltar para o seu quarto, mas é parado pela grande mão de Derek em seu pulso — Me solta, seu idiota!

— Você não costumava ser tão irritante antes.

— Bem, talvez eu tenha crescido — Diz Stiles com os olhos estreitos enquanto tenta se soltar — Eu finalmente posso ver o bastardo arrogante que você é. Acha que tem alguma posse sobre mim só porque me mantém vivo, mas eu tenho uma péssima notícia.

Derek rosna um som rouco e ferino pela garganta, sua pose imponente, querendo respeito, exigindo isto.

— Talvez eu devesse largar você na floresta para que seja rasgado vivo pelos lobos. Não parece uma idéia tão ruim — Derek cospe isso diretamente no rosto fechado do garoto, notando o ligeiro estremecimento nele — Talvez assim você perceba que não pode brincar comigo.

Stiles engole em seco, seu pomo-de-adão tremendo com o movimento. Ele tenta sem sucesso se soltar, Derek é dez vezes mais forte que ele, sua batalha está perdida.

— Então porque não faz agora? — Stiles sussurra em ameaça, Derek torce os lábios.

— Não me teste.

O tempo lá fora muda, escurece e se torna gélido. Derek olha para a janela e quando olha de volta para os olhos do garoto existe um brilho escuro avermelhado dominando sua íris.

Seu coração tropeça com a visão até que ele ouve:

— Eu odeio você.

As palavras de Stiles causam uma sensação repentina de dor em seu peito, algo que ele decide ignorar no momento. No lugar disso ele rosna mais uma vez.

— Você não passa de um garoto estúpido.

Ele larga o pulso do garoto e dá as costas para ele antes de começar a caminhar até a porta, o clima ainda escuro e sombrio, o céu sem o seu tom azulado de antes.

— Eu te odeio, Derek!

Derek não poupa um segundo olhar para o garoto quando sai da cabana e muda para a sua forma lupina, os pingos de chuva molhando seus pelos enquanto corre de volta ao bando.