Era uma manhã de sexta-feira. Talvez fosse dia 12 ou 13. Não importava. Os primeiros trabalhadores se deslocavam para seus respectivos trabalhos, enquanto os últimos retornavam para as suas casas. Os maridos se despediam das esposas, que com sorrisos e acenos, assistiam a partida na esperança de voltarem para casa. As crianças corriam para o jardim, brincando de todas as brincadeiras que se dispunham a criar e participar. O fim das férias escolares estavam longe de acabar. Na verdade, a alegria daquela manhã de sexta-feira estaria longe de acabar se um corpo não estivesse esticado no chão, com o coração exposto em mãos.
Levou minutos para os vizinhos reconhecerem-na e os minutos levou horas até a chegada da polícia e da perícia forense. Os curiosos se reuniam aos montes, limitados pelas fitas amarelas. Os policiais colhiam informações sobre a vítima ou qualquer movimentação suspeita. Quando a hora se aproximava das dez, a Mercedes prata estacionou próximo ao local e o motorista desceu às pressas, afoito, aterrorizado.
Um policial se aproximou do investigador, que fumava próximo à cena do crime e o alertou da chegada, assistindo sua veloz movimentação. “Merda”, pensou ele, largando a bituca no chão e venceu a distância enquanto o outro policial intercedia por seu parceiro. Suspirando pesadamente, o homem se aproximou assistindo-o se agarrar ao outro que lhe impedia, e parou diante dele.
Hoseok balbuciava e se remexia contra os braços do policial, vagando o olhar aterrorizado pelos presentes, antes de parar os olhos diante de Yoongi. Era possível ver as linhas de expressão de dor e medo estampadas na face molhada e avermelhada. Os olhos marejados, que derramavam lágrimas, ao mesmo tempo que seu corpo tentava relutar contra a prisão. Contudo, antes que ele dissesse alguma coisa, Hoseok soltou um grito de terror.
— Não!
O som rasgava a tranquilidade daquele ambiente mórbido, trazendo à tona toda a tensão e preocupação entre os espectadores. Yoongi, que o assistia em silêncio, respirou fundo, passando a mão pela cabeça, angustiado com as emoções de seu parceiro e observou as reações a sua volta. Imediatamente, dois outros agentes se apressaram e puxaram o investigador para longe da cena do crime.
Yoongi afastou o casaco, enfiando as mãos nos bolsos e seguiu pela rua, enquanto o parceiro era arrastado para uma tenda montada pela perícia. Seu olhar recaiu sobre as pessoas ali, e logo a polícia tentou dispersar a multidão, coordenando para que deixassem o local, e o investigador entrou na tenda, assistindo os outros deixarem-no sozinhos.
Hoseok soluçava choroso, mas tão logo que os outros se foram, ele perdeu o controle. Gritava, jogava objetos em diversas direções, batia contra as mesas montadas e chutava as banquetas, ao mesmo tempo que chorava copiosamente. Enquanto isso, Yoongi tentou impedir que o outro se machucasse, mas ele sequer conseguia tocar em seu corpo, já que ele facilmente escapava entre seus dedos.
Somente quando ele finalmente parou, seu corpo tremulava, apoiando-se numa cadeira, deixando seu corpo desabar sobre o assento e resfolegou, recomeçando a chorar baixinho.
— Yoongi... – a voz trêmula acompanhava o olhar enlouquecido. O cabelo castanho, uma vez arrumado no gel, estava desalinhado por completo. O suor se misturava as lágrimas caídas, molhando a blusa de botões preta sob o casaco grosso bege. – Por quê?
Yoongi não respondeu. Na verdade, ele nem sabia que aquela morte o atingiria daquela maneira. Conhecia o parceiro o suficiente para facilmente decifrar suas emoções, mesmo quando ele disfarçasse muito bem. No entanto, aquela reação parecia completamente distinta do que ele imaginava. Não demorou muito para outro investigador entrar naquele espaço, se aproximando devagar de seu parceiro e o observar com atenção.
— Não começa, Namjoon. – pediu Yoongi. Como se não bastasse seu parceiro nitidamente sensível, ainda tem um filho da puta para foder o que restou da sua razão. Namjoon ficou em silêncio por um tempo, esperando que o outro se acalmasse e assim que Hoseok levantou os olhos para o outro, sua expressão assumia nuances de fúria, sem perder a dor que ainda sentia. – Deixa ele em paz.
— O que você quer? – murmurou Hoseok.
— Eu soube do que aconteceu. – começou. Namjoon encarou os próprios pés, analisando o brilho dos sapatos, mais para não olhar para o outro e respirou fundo. – Eu...
— Eu vou matá-lo. – declarou.
— Nós vamos. – Yoongi reiterou.
Namjoon desviou os olhos para Hoseok, respirando fundo, e moveu as sobrancelhas, conformado com toda a situação.
— Você está fora do caso. – explicou.
— Foda-se! – protestou, pondo-se de pé. Yoongi segurou Hoseok pelo tronco, enquanto Namjoon lhe segurava pelos braços.
— Hoseok! Hoseok! – chamou seu parceiro, tentando mantê-lo no lugar, já que Hoseok parecia reunir forças do âmago para avançar. – Para! Para! Você precisa se acalmar!
Tudo levou mais que alguns minutos; com Hoseok pronto para atacar Namjoon e este, juntamente com Yoongi, detê-lo para que não voltasse a agir violento. Somente quando conseguiu se acalmar, ele deixou que o ar escapasse rápido de seus pulmões, ao mesmo tempo que escondia contra o peito largo do outro investigador.
Por mais que Yoongi não concordasse com a decisão de Namjoon, de fato, ele tinha razão. O crime havia abalado seu parceiro de tal forma que ele era incapaz de prosseguir com chefe da investigação. E claro: ele também não podia intervir. O trio ficou em silêncio por algum tempo até que Hoseok assentiu, recuando um pouco, enquanto os dois lhe soltavam. O abalado deixou os braços cederem ao lado do corpo, derrotado, enquanto o investigador a sua frente se afastava o suficiente para o outro se posicionar a sua frente e o abraçar, afagando suas costas.
Discretamente, Yoongi beijou-lhe o ombro, na tentativa de tranquilizá-lo e se afastou, observando o rosto emocionalmente destruído de seu parceiro. Pior de vê-lo naquele estado era se sentir impossibilitado de ajudá-lo a superar aquela dor. Hoseok piscava devagar, levantando os olhos para Namjoon que o observava com atenção.
E o silêncio mórbido permaneceu dentro da tenda. Alguns peritos, ao entrarem, analisavam o local destruído com atenção, e principalmente, as pessoas envolvidas ali. Devagar, um dos peritos se aproximou de Namjoon, explicando que o corpo foi recolhido e enviado para o legista.
— Obrigado, Park. – agradeceu ele, esperando ficar a sós com o outro. – O corpo foi levado.
— Obrigado. – agradeceu Yoongi.
— Vão fazer a autopsia. – justificou. – E... E você precisa...
— Eu sei. – sussurrou Hoseok.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.