História Way Back Home || Kuncas - Capítulo II - i’ll never leave your side

Já fazia um mês que Yukhei havia mudado de dormitórios e sentia-se bem. Fez dois amigos em seu curso, Yuqi, uma garota incrível que sempre estava muito animada e Mark, um canadense mais perdido do que si. Contou para ambos de sua transsexualidade e ele ficou muito feliz ao ouvir deles que sempre estariam ali por si. Era reconfortante saber que tinha um círculo de amigos que o aceitavam, os meninos sempre faziam de tudo e mais um pouco para não tocarem e, assuntos delicados ou fazer perguntas indiscretas, sempre incluindo-o nos mais diversos assuntos. Ele conheceu Sicheng, o (quase) namorado de Ten, que também era muito simpático e almoçava com eles de vez em quando.

Hoje, em especial, eles se reuniram no quarto de Kun para beber e aproveitar para fazer alguns jogos. Por estarem levemente alterados, começaram o jogo do Eu Nunca só que com regras especiais. Eles tiravam peças de roupas, e quem ficasse de cueca primeiro perdia. No princípio Lucas mal percebeu o mal nisso, mas quando já havia tirado suas meias e seu casaco, e era sua vez de tirar a roupa, os 6 pares de olhos estavam virados para si, todos em pânico percebendo o que estava acontecendo.

— Não precisa tirar Lucas! Eu tiro por você. - Disse Ten, nervoso com a situação. Todos os outros garotos de ofereceram como cavaleiro da noite, uns já até mesmo tirando suas vestes.

— Não tem problema gente, eu tiro. - Disse ele, confiante. Tirou sua camiseta, e todos os olhavam-no surpresos. Era a primeira vez que mostrava seu peitoral pra alguém desde a cirurgia, tendo muito orgulho de sua cicatriz. Confiava nos meninos, e sabia que nenhum deles iria julgá-lo. Todos ficaram estáticos por um minuto, até finalmente processarem e começaram a banhá-lo em elogios.

— Homem mas é um crime ser bonito assim! Meu deus olha o abdômen dele gente eu vou desmaiar. - Disse Dejun, fazendo drama.

— Parabéns Wong Yukhei, você ganhou o título de homem mais gostoso da faculdade. - Ten disse confiante, sorrindo para si. Ele não se importou deles olharem um pouco mais, tinha orgulho de si mesmo. Após a cicatrização, ele ia semanalmente à academia treinar, e não porque ele achava que todo homem precisa de um abs, mas porque sentia-se bem fazendo-o. Um dia já teve muita vergonha de olhar-se no espelho, então a alegria de ter pessoas elogiando esse era imensurável.

O resto da noite seguiu tranquilo, já que na rodada seguinte Xiaojun já estava de cueca. Eles beberam, conversaram, teve vômito, os meninos seguindo bêbados para seus quartos. Yukhei não tinha bebido muito, assim como Kun, que se mantia pleno enquanto enxotava os garotos para fora do quarto e arrumava a bagunça que eles deixaram.

— Kun-ge. – Chamou Lucas, antes de deitar-se. – Você não acha que o Xiaojun gosta do Yangyang? Ele está sempre olhando-o com os olhos brilhando. Tinha percebido que o garoto tinha tentado ficar sempre perto de Yang, e sempre se oferecia para ajudá-lo. No refeitório ele até mesmo dava sua sobremesa para o mais novo!

— Eu também acho isso, Lu. Mas o Yangyang é muito garotão para perceber, ele acha que tudo o que o Dejun faz é por amizade. O Dejun já pediu ajuda para se confessar, mas nunca tem coragem realmente de fazer, não quer perder a amizade com ele. Apesar de tudo, o Yang sempre tá ajudando o Dejun, e ele não quer perder isso, sabe? – Disse Kun, já se deitando na cama.

— Então você acha que ele não deveria dizer nada? – Perguntou Yukhei.

— Nunca é bom ficar com o sentimento entalado, sabe? Se a pessoa realmente gostar de você, vai arrumar um jeito de vocês se entenderem. – Kun respondeu, já fechando os olhos. – Boa noite, Yuk. – Ele disse baixinho, que rendeu uma resposta recíproca de Lucas.

Por algum motivo, porém, não conseguiu dormir naquela noite. As palavras de Kun ecoavam em sua mente, e Yukhei assistia o rosto sereno dele enquanto dormia. Nesses dois meses, Kun sempre foi muito prestativo e respeitável consigo. Sempre o ajudava em alguma matéria que tinha dificuldade, procurando entender mesmo que não fosse seu curso para poder explicar, e frequentemente deixava o café da manhã pronto na bancada com um bilhetinho de incentivo. Uma mensagem como “Bom dia Lu, desculpa não estar no quarto. Não esquece de tomar o café da manhã, você tem que ter energia para estudar! Espero que tenha um dia incrível hoje, jiayou!” e uns bolinhos que sempre faziam Yukhei abrir um sorriso e continuar o dia tranquilo, mesmo que recebesse alguns olhares atravessados da mesa onde sua ex colega de quarto se sentava.

No dia seguinte, porém, não tinham bolinhos e nem bilhetinho. Kun mandou-lhe uma mensagem se desculpando, pois teve de sair muito cedo e acabou por não conseguindo deixar nada. É claro, de pronto Yukhei nem se incomodou, até porque não queria atrapalhar de maneira alguma a vida do mais velho, que estava sempre ajudando-o. Mas na hora do almoço, que teve de sentar-se sozinho pois seus amigos estavam ocupados com tarefas atrasadas, e os meninos estavam em outro prédio, a falta dos bilhetinhos se fez presente. As meninas não foram nada discretas ao rirem de si e apontarem o dedo, uma delas até mesmo aproximou-se e disse:

*** 

— Você é patético, deveria ter vergonha de ser assim. Vê se toma jeito, se não ninguém vai te querer. – E para isso, Lucas não teve resposta. Realmente, não se importava com olhares feios, mas nunca foi bom de lidar com palavras tão agressivas, pois estas faziam com que todos os elogios que recebera de seus amigos parecessem em vão, só uma mentira para deixá-lo feliz.

***

O resto do dia para si foi então como um dia perdido. Perdeu total noção do tempo, e qualquer vontade que tinha para conversar, só aquilo martelava na sua cabeça. Você é patético, ninguém vai te querer. Isso o fez tão mal que negou os convites de seus amigos de ir até a lanchonete, e foi direto para o quarto para tentar aliviar sua cabeça, o que não foi de muita ajuda. Só conseguiu chorar, e todos os pensamentos positivos não faziam mais sentido. Como ele poderia ser confiante ouvindo algo assim? Estava tão imerso em seus pensamentos que mal ouviu Kun chegar no quarto, só foi perceber quando ele agachou-se do lado se sua cama e afagou seus cabelos, com um olhar preocupado.

— O que aconteceu, Lu? – Disse tentando secar suas lágrimas.

— Kun, fala a verdade. Você me acha patético?

— O que? Claro que não, Yuk. Quem te disse isso? – Perguntou Kun, indignado. – Não sei o que aconteceu, você não parece querer contar, mas não Lu, eu não te acho patético, você pra mim é uma pessoa muito forte. Eu acho que nunca conseguiria lidar com a sua situação do jeito que você lidou, sua confiança, sua coragem, elas me inspiram. Você é incrível, Yukhei, por favor não acredite em pessoas que digam o contrário. – Kun disse, olhando-o no fundo dos olhos, e consolando Yukhei enquanto esse abraçava-o e chorava baixinho, soluçando. Assim, o cansaço venceu-o, e acabou dormindo nos braços de Kun, enquanto esse fazia carinho em seus cabelos, sussurrando palavras confortantes.

-

 Já era de tarde, e Yukhei estava no quarto junto de Kun. Depois da noite de ontem, o mais velho ficou preocupado, assim almoçaram junto dos meninos e ele permaneceu no quarto consigo, assistindo a um filme qualquer na cama de casal de Kun. Apesar de estar melhor, ainda estava um pouco inseguro, o que fez o menino soltar, casualmente, o questionamento:

— Kun-ge. – Ele chamou baixinho. – Você me beijaria?

— Sim, mas por que a pergunta? – Kun retrucou, num tom casual.

— Mesmo sabendo que eu sou trans? – Lucas perguntou, com um pouco de vergonha, mas com a mágoa de ontem ainda latente.

— Sim Lucas, eu não tenho problema nenhum com você ser trans. – Respondeu Kun, com uma leve seriedade.

— Mas você tem certeza? Eu entendo você me respeitar, mas as vezes... – Lucas mal conseguiu terminar sua fala quando sentiu lábios chocando com os seus. Mesmo não esperando por isso, não demorou muito a corresponder, e não demorou a sentir uma língua passeando por sua boca, e Lucas até mesmo arriscou passar a mão por debaixo da camisa de Kun. Quando o ar faltou, os dois separaram-se, Kun com um sorriso no rosto, enquanto o rosto de Lucas tornava-se uma coloração de vermelho.

— Agora acredita em mim? – Kun perguntou, sorrindo de lado.

— Sinceramente? Acho que preciso de mais um pouco para provar mesmo. – Disse Lucas, num súbito de confiança, já sentindo a mão do mais velho em sua cintura puxando-o para mais um beijo.

E o resto da noite? Só eles sabem.