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História We Can't Back Down - Capítulo 8


Escrita por: NinnaLeite

Notas do Autor


Gente, prometi que continuaria com a história, e aqui está. Espero que se divirtam lendo. Um beijo e até o próximo.

Capítulo 8 - Capítulo 8


   Lá estávamos nós, tentando nos preparar para o início do segundo dia de tortura de nossa incansável batalha . Por que tentando? Porque na altura do campeonato já havia me conformado que todas as minhas tentativas de levar uma vida normal sempre falhariam. Eram exatamente seis e cinquenta da manhã e as lerdas da Cana e da Erza não estavam prontas. A Juvia estava surtando porque depois da conversa de ontem ela já não sabia mais o que dizer para o Gray e a Mira estava gritando para todas se apressarem. Foi quando Cana e Erza começaram a discutir para ver quem secaria o cabelo primeiro, porque as duas bonitas decidiram lavar o cabelo em plena terça de manhã.

   Tudo bem, não era só porque faltavam dez minutos para o início da aula de biologia com a Polyusica, na primeira semana do semestre, que eu deveria surtar. Eu não consegui manter a calma num momento daquele. Eu surtei.

- Calem a boca todas vocês! Ainda está no início do ano e já estou perdendo cabelos por causa dessa gritaria as seis da manhã e... - fui interrompida.

- Sete. - Juvia me corrigiu.

- Obrigada. São sete da manhã! Será que vocês não podem pelo menos se arrumar com a porra da boca fechada?

- Nossa, vai com calma maninha. - Cana disse enquanto abotoava os botões da blusa.

   Aquela palavra me fez viajar para um passado não tão distantes. Não sabia se Cana tinha dito aquilo para apelar para o sentimental ou apenas porque estava carente demais e tinha se apegado à uma lembrança.

   Há alguns anos, mais precisamente quando me mudei para este internato, aos 8, fui largada no internato. Sim, eu era muito nova para ser largada num lugar feito esse, mas foi preciso. Haviam pessoas muito atenciosas para cuidarem das crianças, portanto não demorou muito para que eu me sentisse segura lá. Logo nos primeiros dias conheci Erza e Cana. Nós ficávamos no mesmo quarto e as duas eram bastante populares para sua idade. Não demorou muito para que nos tornássemos grandes amigas. Compartilhávamos tudo uma com a outra, o que se resumia basicamente em nossas famílias desfuncionais. 

   Então, dois depois, chegou a outra novata, a Mira. Nós sempre a víamos sozinha e chorando pelos cantos, até que decidimos ir falar com ela.  Nos apresentamos num momento particular. Perguntamos por que ela estava sempre sozinha e triste, ela nos contou que queria voltar para casa e ver seu irmão de novo, mas seus pais haviam os separado sem nenhum motivo aparente.

   Me lembro daquele dia perfeitamente. Nós conversamos até o sol se pôr, e quando já estávamos indo embora Mira nos falou que queria ter a nossa sorte de sermos irmãs e estarmos todas juntas. Na hora tudo soou como uma piada, mas momentos depois nós decidimos que era aquilo que queríamos ser, irmãs, e que estaríamos sempre juntas.

- Tudo bem. - Disse com meus pensamentos voltando à realidade. - Foi mal, é só que eu queria chegar pelo menos um dia no horário da aula.

- Mas Lucy, esse só é nosso segundo dia de aula. - Juvia disse, parecendo não ter certeza de que estava me dando uma informação correta. 

- Eu sei... - comentei me jogando na cama. - Mas é que já estou me lamentando pelo resto do ano.

   E após uns quinze minutos fomos caminhando sem rumo. Passamos pela entrada do dormitório, obviamente vazia por conta do horário. O campus estava deserto e nós andávamos silenciosamente. Eu estava bem chateada por saber que não iria assistir ao primeiro tempo de aula, e, conhecendo bem a professora, não sabia nem se conseguiria assistir à outro tempo da matéria no dia.

- Sabe, a gente podia aproveitar esse tempo pra ter uma conversa séria sobre o relacionamento enrolado da Alberona. - Erza começou assim que achamos um banco disponível próximo ao prédio principal, onde haviam as salas de aula.

- Não começa, Erza. - disse soando mais rude do que pretendia.

- Gente, eu simplesmente não quero falar sobre isso, e ninguém vai me obrigar. - Cana respondeu, brincando com uma folha de árvore que havia caído em suas pernas.

- Você só sabe fugir, não é? Quando o assunto aperta você resolve fugir. - Erza se levantou do banco, inquieta.

- Nem comecem vocês duas. - Mira interviu demonstrando um certo cansaço para aquele tipo de situação.

- Pode deixar, Mira. - Cana se levantou, jogando a folha no chão e deixando seu rosto bem próximo do de Erza. - É isso mesmo o que ela quer, um momento pra me falar tudo o que sempre quis. Vai lá, pode falar, eu aguento. Não vou fugir. - terminou com um tom irônico.

- Você acha que é isso mesmo? Precisaria de um dia inteiro pra falar tudo o que penso sobre você. - Erza adquiriu uma coloração avermelhada no rosto, algo que eu, ela e Cana tínhamos em comum. Em qualquer situação de estresse nossos rostos ficavam vermelhos.

- Então ta, eu só preciso de um minuto. Sabe o que eu acho? - Cana disse com o dedo na cara de Erza. - Eu acho que você tem uma puta inveja de mim.

- Só pode estar brincando... - Erza levou as mãos até a cintura.

- É isso mesmo. Você não aguenta o fato de que eu fico com vários caras enquanto você espera por um imbecil que prometeu que voltaria por você e simplesmente sumiu do mapa. - Cana obviamente escolheu dizer algo que magoaria a Erza sem um pingo de dúvida, e ob.

   Erza não disse nada, apenas respirou fundo e voltou a se sentar. Cana ficou parada com uma cara de incredibilidade após ter dito aquilo, ela sentiu os olhares que eu e Mira lançamos à ela, e provavelmente estava sentindo vergonha de si mesma, afinal, tentávamos ao máximo não magoarmos umas as outras, e se tinha um assunto que poderia magoar Erza profundamente, era aquele.

- Eu... esqueci uma coisa no quarto. - Cana falou pondo a bolsa nos ombros e seguindo na direção que havíamos passado.

- Não precisam falar nada. - Erza disse de prontidão quando Mira tocou em seu ombro.

- Acho que devo ir pegar o Sr. Linguado, ele ajuda sempre que há confusão. - Juvia afirmou com o olhar estático.

   Meia hora depois decidimos seguir em direção à sala de aula, na esperança de que Porlyusica teria um bom coração em sua primeira aula e nos deixaria entrar. Escolhemos no zerinho ou um quem teria que pedir permissão para a professora mais aterrorizante do mundo.  

   Juvia perdeu, e nem o olhar mais fofo do mundo conseguiria fazer com que alguém assumisse seu lugar. Ela se dirigiu à porta e engoliu saliva antes de fechar os olhos e dar três batidas apressadas na porta.

- O que foi, Lockser? - Ouvir novamente aquela voz completamente rígida me fez lembrar que eu estava finalmente em casa.

- Nós queríamos saber... - Começou nos puxando pelo braço, como se precisasse de um contato para ter forças e continuar falando. - se podemos entrar para assistir o resto das aulas. - Completou a frase numa velocidade absurda, causando uma expressão divertida no rosto da Porlyusica.

- Será que pode repetir? Não consegui entender o que quer. - Era óbvio que ela tiraria proveito disso.

- Nós queríamos saber se podemos entrar para assistir o resto das aulas. - Juvia repetiu, com os punhos cerrados, à procura de estabilidade, e os olhos fechados.

- Entrem. - Disse por fim. - Espero que isso não se repita. Só estou aliviando porque é meu primeiro dia de aula.

- Não vai se repetir. - Mira decidiu falar. - Muito obrigada.

   Pudemos ouvir um resmungo logo em seguida. O que eu realmente admirava na Porlyusica era o fato de ela se importar mais com nossa educação do que nós mesmos. É óbvio que ela era dura, e que todos tinham um medo de levar um de seus foras humilhantes, mas ela sabia com precisão a hora de ser boa e a hora de ser má.

   Fomos caminhando silenciosamente até nossas carteiras, nem as vacas da sala ousariam lançar uma piada na presença da Porlyusica, nem a mais silenciosa possível. Todos estavam presentes, exceto Cana, e eu duvidava que ela teria coragem para aparecer naquela aula.

   Um papo bem chato sobre a segunda parte da biologia começou logo em seguida. Eu não acreditava que os professores daquele lugar tinham energia para começar o ano com matéria. Era inacreditável a quantidade de gente atenta na aula. A hora parecia estar congelada, e, na verdade, era bem capaz de o relógio, que ficava no canto lateral esquerdo, estar quebrado. Nem sonhando era permitido que um aluno cogitasse tocar em um celular no meio da aula.

   Foi as exatas 10:16, momento em que a professora anunciou que não faria mais chamada a partir daquele ano, que eu me arrependi em ter comparecido. Não havia absorvido uma palavra sequer que ela tinha dito, resumindo, fui para a aula atoa.

   Os alunos foram se levantando silenciosamente, pois a Porlyusica continuava na sala, porque se caso não estivesse, aquilo já teria virado um zoológico.

   Eu e as meninas andamos até um canto mais afastado da praça que cercava o prédio principal, era como se nós fossemos atraídas por uma energia que dizia exatamente para onde cada uma queria ir.

   Fomos seguidas por aqueles que se acham espertos demais, para variar, e que não paravam de falar um só segundo sobre o plano mirabolante de colocar escutas na sala do diretor apenas para saber sobre assuntos pessoais que pudessem ser usados como chantagem no final do semestre.

- Será que vocês não vêem que essa ideia é ridícula? - Mira disse o que todos estávamos pensando.

- Como ridícula? É o melhor plano do mundo! - gritou Natsu.

- Com essas informações nós vamos controlar esse internato. - o imbecil do Gray completou.

- A única coisa que vão conseguir é uma passagem só de ida para Azkaban. - Jellal, o único sensato do grupo, completou.

   A conversa se tornou até divertida. Era ótimo ouvir as idiotices que o Natsu e o Gray insistiam em nos apresentar. Mas, como dizem, tudo que é bom dura pouco.

- Nossa, gente, mal começam as aulas e vocês já estão pensando em diretoria? - Loke passou seu braço por cima do ombro de Gray, que lutou para não empurrá-lo para longe.

   Apesar de tudo que acontece, eles são como nós, amigos inseparáveis. Não importa quantas vezes cada uma de nós, especialmente Cana e Mira, façam merda, nós sempre vamos estar lá por elas. E assim é com o Loke, não importa o quanto ele vacile, os amigos sempre vão apoiá-lo.

- Melhor do que falar sobre quantas garotas te rejeitaram nessa semana. - Laxus apareceu sorrateiramente, se aproximando de Mira e agarrando-a por trás.

- Onde você estava? - ela perguntou, virando lentamente para beijá-lo.

- Tava resolvendo umas coisas com o pessoal do terceiro ano. Eles querem ajuda pra uma arrecadação de dinheiro pra formatura deles.

- Pegando o embalo da Mira de "onde você estava", cadê a Cana? - Loke largou Gray, e olhou para os lados preocupado.

- Você que deveria saber, já que... - Erza começou, mas sua mão foi segurada com cautela pela Mira, que, num movimento rápido, deixou Laxus e voltou para perto de nós.

- Ela está hibernando. - eu disse. - Ela e a Erza brigaram, mas isso só foi um motivo para ela dormir mais.

-  Ah sim, talvez depois eu passe lá. - ele disse, colocando a mão nos cabelos naquela típica tentativa de sedução. Ele já estava tão acostumado com aqueles truques, que provavelmente nem sabia mais quando estava fazendo.

- Mas e a Juvia? Eu lembro de tê-la visto na última aula. - Laxus disse.

- Que? - exclamei um tanto alto demais. - Ela tava bem aqui! - disse enquanto apontava para o exato lugar que ela estava.

- As vezes eu acho que as pessoas que convivem comigo são bem malucas... -  disse Natsu enquanto sentava-se no lugar em que apontei que Juvia estava.

   Pude perceber que Gray fechou a cara ao notar que Juvia não estava lá. Não sei se ele se sentiu culpado por não ter percebido que a garota com quem estava ficando não estava lá.

- Agora vamos logo pra aula, antes que algum de vocês tenha uma ideia brilhante que possa nos matar! Ou pior, nos expulsar!. - nossa potetrhead Erza nos arrastou com liderança até a entrada do prédio.

   Caminhamos com urgência. Na verdade, sempre evitei ao máximo atrasos. Na verdade, evitava ao máximo qualquer ato que pudesse ter como consequência uma ida à diretoria. Eu não queria um motivo para ter meu pai reclamando por perder seu tempo indo tratar de assuntos bobos.

   Meus pensamentos pareceram congelar assim que Natsu abriu a porta da nossa sala. Olhei para o relógio. Faltavam vinte minutos para a aula começar ainda, e isso explicava o quase vazio presente na sala, bem, quase. A visão de Juvia beijando Lyon pareceu surpreender todos nós.

   Lyon era um garoto que estudava conosco. Não sabia muito sobre ele, mas era bem bonito, tinha olhos cinzas penetrantes e cabelos brancos, praticamente o contrário do Gray. Há boatos de que os dois já foram grandes amigos, mas isso nunca foi confirmado.

   Os dois estavam sentados na mesa do professor e se desvencilharam após ouvirem um pigarreio, que não pude reconhecer de quem veio. Se alguém tivesse contado aquela história para mim não teria acreditado. Juvia nunca foi de ficar com muitos caras, portanto, só conseguia imaginá-la com o Gray, o "homem de sua vida", segundo a própria.

- Gente, eu... - Juvia tentou começar, descendo da cadeira rapidamente e deixando um Lyon sozinho olhando para baixo.

- Bom dia, né... - Natsu brincou após ter escancarado a porta.

- Olá! - Lyon respondeu. Ele provavelmente estava preocupado com as nossas expressões faciais, que não estavam para lá de boas.

- Gray, não é o que você está pensando... - ela veio em nossa direção. -, o Lyon só chegou mais cedo e...

- Juvia, não viaja. - ele esquivou do abraço que ela tentou dar. - Você não tem que me dar satisfações. Nós não somos nada.

   Ele disse de maneira fria, na intenção de machucar, ele sabia que iria machucar. O modo com que Gray a tratou poderia ser o pior castigo para uma garota apaixonada. Eu não sabia se o Gray estava realmente magoado ou se ele sentiu que foi feito de bobo, ou até se teria algo a ver com a pessoa que Juvia resolveu beijar. O olhar de Lyon se cruzou com o de Gray, apenas por alguns segundos, mas podia ter significado muita coisa.

- Ué... - ela disse olhando para os pés. - Mas eu achei que... - ela levantou seu olhar, criando coragem para continuar a falar, antes de ser interrompida.

- Você achou o que, Juvia? Achou que eu iria querer algo com você? Só rolou aquela noite, e tenho que admitir, foi péssimo. Você é só uma menininha. Vê se cresce, e depois vem falar comigo. - Ele foi em direção à sua carteira, sem olhar para os lados.

   Os alunos começavam a chegar, entendendo que a energia da sala de aula estava pesada. Erza estava aparentando não saber o que fazer. Eu não sabia o que fazer, muito menos o que dizer. Foi triste demais ver a Juvia, que, apesar de estar sempre no mundo da lua, sempre foi tão forte e decidida, daquela maneira. Ela estava envergonhada, mas tão envergonhada a ponto de não querer nos olhar.

- Gray, qual é o seu problema? Vai lá agora pedir desculpas e... - Mira começou indo em direção a ele, mas parou brutamente após ele lhe lançar um olhar que apenas ela soube qual foi.

- Você sabe muito bem qual é o meu problema. - pude ouvi-lo responder.

   Juvia saiu da sala, acompanhada de Lyon. Pude ver de relance Erza dizendo algo em seu ouvido. Eu estava no meio de tudo. Erza compreendia a Juvia e Mira compreendia o Gray, eu só observava tudo. Teria ficado muito mais satisfeita com um saco de pipoca na mão. Lisanna e sua turma cochichavam algo, que parecia maldoso, mas algo me assustava, elas não estavam destilando seu veneno em alto tom.

   Max entrou alegre, algo completamente normal para o único professor que demonstrava gostar de nós. Ele pareceu não perceber o clima no ar. Sentou-se na mesa e pareceu estranhar o fato de que ela estava um pouco fora do lugar, algo que aconteceu quando Lyon desceu bruscamente dela.

   Ele fez uma pequena introdução sobre as última matéria que vimos sobre física, e após tirar algumas dúvidas, decidiu passar deveres no quadro que deveriam ser feitos em duplas. Não precisei de outra chamada para colar rapidamente minha carteira na da Mira, o que deixou a Erza com uma cara de raiva, mas sabia que ela não se importava, até porque ela pegou seu caderno e foi ao encontro de Jellal.

- Ei, Mira. - ela pareceu se assustar com a maneira que a chamei.

- Lucy, você sabe que eu sou péssima em física. - ela disse em voz baixa, bem irritada, após eu tê-la cutucado pela décima vez com a ponta do meu lápis.

- Você sabe que eu sou curiosa... - comecei, olhando de relance para Max, que parecei estar bem interessado num livro. - o que você sabe do Gray que eu não sei?

- Como assim? - ela perguntou enquanto alternava seu olhar entre mim e o quadro branco completamente rabiscado de equações.

- Para né, me conta. - lançei um olhar de seriedade à ela, que concordou com um suspiro.

- Eu e o Gray conversamos bastante, sabe. - ela começou. - Ele precisa disso, os meninos não entendem ele muito bem. É que ele costumava conversar com a Cana antigamente, mas agora acho que nem a gente consegue conversar com ela. - ela diminuiu o tom de voz, com medo de que alguém escutasse. - Aliás, depois eu quero conversar sobre isso com você.

- Descobriu alguma coisa? - foi mais um reflexo perguntar.

- Depois. - ela pontuou. - Voltando ao Gray... Nós começamos a nos dar muito bem, e resolvemos nos abrir um com o outro...

- Vocês não transaram não, né? - perguntei franzindo a testa.

- Claro que não, Lucy! Não viaja. - ela completou, voltando um pouco de sua atenção para os exercícios novamente.

   Eu já não duvidava de mais nada. Minhas amigas escondiam coisas de mim, eu escondia delas, e isso perturbava minha cabeça as vezes. Mas a Mira era linda, assim como Gray, e com essa proximidade, poderia imaginar qualquer coisa.

- Enfim... - ela continuou -, ele me disse que estava sentindo algo pela Juvia, que ele havia ignorado a garota por muito tempo, e que queria dar uma chance à ela. E sabe, o Gray sempre teve que manter essa pose de sonho de consumo de garotas, é difícil para ele se apegar a uma só. Ele tava gostando da Juvia, e a Juvia dele. Mas acho que o que aconteceu entre a Juvia e o Lyon hoje significou muito mais para ele do que para ela. - Mira abandonou o lápis e focou completamente em mim. - Ele se sentiu seguro pela primeira vez, entende? Acho que foi assim que ele se sentiu.

- Entendi, mas... - tive coragem para transformar meus pensamentos em palavras pela primeira vez. - Você não acha que talvez o Gray goste mesmo de outra pessoa?

- Você também acha? - ela voltou a disfarçar, balançando o lápis entre os dedos. Pude perceber que Erza começava a nos olhar, tentando entender o que estávamos falando.

- Cana? - perguntei, já sabendo a resposta.

- Ele já falou comigo sobre isso. - ela suspirou. - Eles eram melhores amigos, né. Os dois são pessoas apaixonantes. O Gray sempre se preocupou com ela, mesmo quando ela não precisava de tanta preocupação. Mas ele me disse que ta cansando, sabe? A Cana ta ficando irreconhecível, e eu já não aguento mais isso. Eu não conversei mais com ele sobre isso, não sei o que ele ainda sente por ela, só sei que ele viu uma chance na Juvia, e agora se decepcionou. O que também não dá o direito de tratá-la mal...

- Mas será que eles não vão...

- Diga, Lisanna. - pude ouvir a voz do professor mais gato do mundo acabar com meu raciocínio.

- É que gostaria muito de poder me concentrar no exercício, mas as vozes da Lucy e da Mira não permitem.

- O que... - ia começar, me pondo de pé rapidamente, sustentando meu peso na mesa.

- Meninas, será que podem tentar pelo menos fazer silêncio? - não tinha como negar nada para aquele sorriso.

   Assenti com a cabeça, fazendo sinal para a Mira que nossa conversa terminaria depois. Pude observar no meio da aula o olhar de Gray indo até as janelas fechadas que tinham do lado esquerdo, mas permaneciam fechadas na maior parte do dia, por conta do ar condicionado. Achava que a Cana voltaria a tempo dessa aula, mas a hora do almoço tava chegando e eu não via sinal dela nem de Juvia.

   O sinal tocou. Guardei meu material na mochila e esperei que Mira empurrasse sua cadeira para o lugar. Erza já havia saído, acompanhada dos meninos. A aula de física tinha  sido chata, como sempre. Eu não entendi nada, como sempre. E tinha absoluta certeza de que iria fazer prova de recuperação no meio do ano, como sempre. Tudo normal até então.

- Parece que o seu grupinho de merda está prestes a desabar. - disse Lisanna, encostada perto da saída da sala, como se tivesse apenas nos esperando passar.

- Só porque você quer algo, não significa que vai acontecer. - respondi, sem sequer olhar para ela.

- É o que parece. - Ultear apareceu do nada. - A mais idiota vai abandonar vocês quando entrar em depressão por ter perdido o amor de sua vida...

- E a mais vadia vai abandonar vocês quando descobrir que ela não é digna de respirar. - Angel completou.

   Meu sangue esquentou na hora, minha respiração ficou pesada e minha mão ardeu. Minha vontade era de apertar o pescoço de cada uma delas até ver o brilho de maldade sair de seus olhos. Eu teria feito isso, se Mira não tivesse segurado minha mão e me puxado em direção à saída, como se elas não estivessem ali.

- Deixa elas. Só dizem isso porque não suportam nos ver bem. - Mira me encostou na parede.

- É só que... talvez se a gente acabasse com elas, não teriam mais coragem de dizer...

- Ei. - Mira colocou sua mão direita em meu rosto, num gesto carinhoso. - Eu quero que esqueça o que ela disse. Nada vai nos separar e nada de ruim vai acontecer com nenhuma de nós.

   As palavras dela me aliviaram, mas no fundo eu não acreditava naquilo. Nós estávamos crescendo, e a vida não era tão simples como antes. Nossas opiniões estavam mudando, nós estávamos nos descobrindo de uma maneira diferente, e eu tinha medo de que aquelas mudanças pudessem nos afastar.

   Não sabíamos onde iríamos almoçar. Eu estava sem apetite, devido a tudo que estava acontecendo, mas Mira disse que o mínimos que eu deveria fazer era comer. Mandamos mensagem no grupo para saber onde as meninas estavam. Cana foi a primeira a visualizar, mas não respondeu.

   Mira e eu resolvemos sentar na praça de alimentação externa. Algumas pessoas ainda olhavam em nossa direção, talvez porque nunca haviam nos visto em um número tão pequeno. Mira me deixou sozinha por  uns segundos quando avistou Laxus, o que não foi uma completa perda de tempo. Ele disse que Erza falou com o Jellal que iria almoçar na lanchonete do refeitório, então fomos naquela direção.

   Encontrar a Erza no meio de uma multidão que costumava se aglomerar na lanchonete do dormitório não era tão difícil, seu cabelo chamava muita atenção.  Eu e Mira nos juntamos a ela.

- Ué, posso continuar aqui? - ela perguntou, fazendo um drama. - Porque agora vocês escondem coisas de mim, não é mesmo? - ela virou a cara para o outro lado.

- Para de graça. - Mira pôs a mão em suas bochechas e virou seu rosto em nossa direção novamente. - Só estávamos falando sobre o Gray e a Juvia.

- Tudo bem. - ela cedeu. - Não me importo com isso mesmo, vocês sabem . - esboçou um sorriso, mas nós sabíamos que ela se importava.

   Decidi comer um salgado, após ouvir um discurso da Mira sobre como eu não podia colocar minha saúde em risco por causa das minhas amigas malucas. Ela disse em outras palavras, provavelmente, mas foi o que entendi.

   Como eu havia recentemente ganhado o título de ser apaziguador, resolvi que iria procurar a Juvia para saber como ela estava. Foi aí que Erza me disse que ela estava no quarto, com a "outra".

- Okay. - disse me levantando. - Vou ver como estão nossas amigas Cana e Juvia, porque elas estão precisando. - enfatizei o nome das duas, no intuito de lembrar que éramos todas amigas.

- A Cana não se importa com nada. Ela não é minha amiga. - Erza retrucou, enquanto tomava um longo gole de suco. - Se ela me pedir desculpas, talvez eu volte a falar com ela... talvez.

   Não tive paciência para aquele assunto no momento, então apenas assenti com a cabeça e fui em direção ao quarto. Pude ver de longe a Mira tentando entras no assunto. Quando cheguei no quarto pude ver Juvia dormindo profundamente em sua cama e Cana sentada no sofá jogando video-game. A morena me olhou com seu típico olhar de "me conta tudo agora".

   Me sentei ao seu lado, e pude perceber que ela não iria querer tocar no assunto da discussão que ela teve com a Erza antes. Então comecei a falar sobre o que aconteceu entre a Juvia e o Gray. Cana defendeu completamente a Juvia, e disse que depois teria uma conversa séria com o Gray. Eu decidi não contar o que eu e a Mira supomos, muito menos o que a Lisanna e sua turminha jogou em cima da gente na saída. Não queria que ela ficasse com muita coisa na cabeça.

   As meninas voltaram para o quarto, nos chamando para a próxima aula. Cana disse que não iria, dando a desculpa de que ficaria para cuidar da Juvia, mas eu sabia que ela odiava ser o centro das atenções na sala, e era isso que aconteceria se ela fosse apenas assistir a última aula.

   Matemática não era minha matéria favorita, muito menos o professor sem noção eu a ensinava. Warren tinha um jeito meio peculiar. Ele vivia dando em cima das meninas, especialmente as mais quietas, feito a Juvia e a Sherry, e, apesar de não ir com a cara da cereja ambulante, isso me irritava completamente, mas tentava abstrair isso. Eu só podia agradecer por ter somente dois tempos com ele.

   Após sairmos da aula foi necessário apenas uma pequena discussão entre o Natsu e o Gray para que eu voltasse correndo para o quarto.

- Eu interrompo quem eu quiser seu merda. Se ponha no seu lugar e obedeça seus superiores. - pude ouvir Natsu berrando de longe.

- Não pode estar se referindo a você como meu superior, né... - Gray retrucou.

   Logo em seguida ouvi sons de gemidos, assumi que Erza havia batido neles novamente. Continuei no caminho da minha desejada paz, com Mira ao meu lado. Pode ser repetitivo, mas aquela primeira semana de aula estava me deixando exausta, eu estava perdendo o apetite de uma maneira absurda e só queria chegar em meu quarto para dormir.

   Eu queria ter ficado com os meninos só por um instante, mas as vezes temos que passar por determinada situação para crescer. Mira e eu caminhamos até o nosso quarto silenciosamente. Pude enxergar de longe alguém caminhando até a porta com o número 105 escrito. Reconheci quem era na hora, aquele uniforme arrumado de uma maneira desleixada e os cabelos rebeldes e castanhos não passariam desapercebidos por mim.

- Lucy! - ele disse um pouco atônito assim que me viu chegar por trás dele.

   Ver os olhos brilhantes da pessoa que foi meu porto seguro por tanto tempo fez meu estômago embrulhar. Mira me perguntou se estava tudo bem, apenas com o olhar, e abriu a porta do nosso quarto assim que obteve minha resposta positiva. Um clima um pouco tenso se instalou no ar. Ele não parava de sorrir e de passar a mão pelos cabelos. Eu reconheci que as vezes sentia muita falta dele, afinal ele foi meu primeiro amor correspondido.

- Então... o que você quer? - comecei num tom simpático.

- Sabe, Lucy, eu vim aqui porque realmente sinto sua falta. - ele disse corando.

- Eu também. A gente não se fala desde o ano passado, né.

- Sim, mas é que... - pude perceber que ele hesitou antes de continuar. - Topa fazer alguma coisa amanhã depois da aula?

- Hibiki, nós não temos mais nada, se lembra? - aquela resposta foi como um escudo automático.

   As pessoas passavam por nós com menos frequência, o que fez com que ficássemos sozinhos por uns minutos.

- Infelizmente, Lucy. Mas eu não quero perder o contato com você. - ele completou. - Vamos, vai ser legal. Só para relembrar os velhos tempos.

   Acabei cedendo, seria ótimo sair com o Hibiki novamente. É claro que eu queria relembrar dos velhos tempos. Aquela conversa acabou me deixando em dúvida sobre eu ter feito o certo terminando com ele.

   Nos despedimos com um sorriso no rosto. Entrei no quarto exalando felicidade, o que fez com que Cana, e Juvia ficassem com um ponto de interrogação na cabeça. Mira não contou para elas, e eu também não tinha a intenção de contar. Erza entrou no quarto uns minutos depois, reclamando constantemente sobre o comportamento infantil do Natsu e do Gray. Cana apenas colocou um travesseiro por cima da cabeça para poder cochilar.

   Passei o resto da tarde com o Hibiki em meus pensamentos...



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