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História We Found Love - . t w e l v e . Tudo Em Demasia É Perigoso


Escrita por: SerenityElian

Capítulo 12 - . t w e l v e . Tudo Em Demasia É Perigoso


Apartamento de Shura

Liebe abriu a porta do apartamento do namorado, finalmente seu dia chegou ao fim. Não fosse o suficiente estar em período de provas, ainda precisaria entregar e apresentar trabalhos, estava exausta. Mas isso nem de perto era o mais desgastante. Era a saudade que sentia do namorado.

Estar no apartamento dele sem ele era estranho. Admitia que ficara completamente derretida com o gesto de confiança que ele demonstrou ao lhe dar uma cópia da chave de sua moradia. Shura dissera que ela poderia ficar lá o tempo que quisesse enquanto estava fora, fosse para estudar, dormir, fugir do ciúme dos homens da família Stefano... no entanto, o que queria mesmo, era ele ali com ela.

Observou a moradia do capricorniano por um momento. Shura era um homem extremamente organizado, limpo e minimalista. Mas a essência dele estava em cada canto. Sorriu triste. Maldita saudade. Deixou sua mochila em cima da mesa da sala e rumou para o banheiro, um bom banho ajudaria a relaxar o estresse do dia.

Assim que saiu, secou-se, enrolou a toalha nos cabelos cacheados, colocou um pijama fresco e mais curto, pois a noite dava indícios de que seria quente. Caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e pegou um chá gelado, o vício do namorado. Shura passava a impressão de que era aquele Investigador de Polícia viciado em café. Ledo engano, ele odiava café, sequer suportava o cheiro e era alvo de uma brincadeira ou outra de Liebe, como “Nunca confie em quem diz que não gosta de café”. Sorriu, boba ao lembrar da brincadeira. Serviu-se de uma generosa caneca da bebida e foi para sacada do apartamento que ficava no último andar do prédio de quatro andares.

Apesar dos prédios ao redor, ainda era possível ver o final do crepúsculo cobrir o céu com o véu noturno. A cena era linda, mas acompanhada seria melhor. Entrou, lembrou então da existência do celular. Diferentemente de muitos, mal tocava no aparelho por alguns motivos: seu curso era integral, muito estudo e trabalhos pós aulas — o milagre era conseguir ter tempo para vida social e para o namorado, felizmente ela conseguia —, e porque não gostava de ficar grudada no aparelho. O usava mais para ouvir música e por causa do despertador.

— Vamos ver... — resmungou um pouco enquanto desbloqueava a tela do aparelho para verificar se havia alguma mensagem.

Estou bem e com saudades, cariño, ainda vou ficar mais algum tempo longe.

— Shura.

Franziu o cenho e torceu os lábios, não havia o que fazer, era o trabalho dele. Respondeu à mensagem. Quando ele retornasse não permitiria que deixasse o apartamento por pelo menos uma semana para matar as saudades. Depois respondeu às mensagens dos pais. Vasculhou um pouco mais, mas não havia mais nada.

 Achou um pouco estranho, pois não encontrou o grupo com as meninas e se tocou de o ter criado. Aquilo havia ficado sob sua responsabilidade, mas escapulira e nenhuma delas criou também, a vida de todas estava corrida.

Aproveitou que estava sem nenhuma matéria ou tarefa para o dia seguinte e criou o grupo, com um nome aleatório no grupo e mandou a primeira mensagem.

E aí, meninas! Grupo enfim criado.

Ágape: Ué, já não tínhamos?

Pandora: Acho que não!

Amanda: Do jeito que as provas estão me comendo... Nem lembrei do grupo...

Shina: Tá faltando gente não?

Liebe: Estão todas adicionadas

Ágape: Serenity nem deve ter visto. Tadinha ela tá desesperada com as provas

Amanda: Achei que ela estava estudando com meu irmão...

Ágape: Amanda, seu irmão também tem as próprias provas pra estudar... rs.

Amanda: Eles poderiam estar estudando juntos...

Pandora: Tá, gente, deixem a bebê da turma estudar sossegada, agora vamos a questão mais importante! Quando vamos nos reunir? E sem os meninos, claro.

Liebe: Depois das provas, antes não tem a menor chance...

Amanda: Digo o mesmo.

Pandora: Tudo bem! Avisem quando acabar!

Marin: Oi, gente! Por que a gente não viaja?

Liebe: MARIN TE AMO! Pra onde vamos?

Marin: Final do mês tem o feriado prolongado, por que não fazemos uma viagem só de meninas?

Amanda: Eu topo!

Liebe: Tô sem meu cabrito então, uma viagem cai muito bem.

Ágape: Saga nem pode falar nada, nem de mim nem da pequena, nós vamos.

Serenity: E Kanon?

Ágape: Outro que não tem que dizer não, vai estar nas melhores companhias do mundo!

Pandora: Agora só falta decidirmos para onde nós vamos.

Liebe: Praia, que pergunta, Pandinha...

Pandora: Tá, ratinha de praia, mas qyal?

Ágape: Lagonisi não, acesso muito fácil dos meninos.

Shina: E se formos para uma das ilhas? Podemos ir de barca! 

Ágape: Milos? Mykonos? Ándros? Nixos? Santorini? Por que não vamos de carro para alguma cidade aqui no continente mesmo?!

Liebe sorriu, o assunto estava rendendo e a fazendo esquecer um pouco da solidão que sentia com a ausência do namorado. A discussão sobre o destino da viagem continuou por mais meia hora. Grécia é um país com inúmeros lugares para se visitar, chegava a ser torturante escolher apenas um.

 

Ateliê de Ágape

Ágape terminava outro modelo quando a campainha tocou. Suspirou, um pouco frustrada pela interrupção, porém foi ver quem era, poderia ser uma possível cliente, então não poderia deixar de atender. Ficou surpresa ao ver quem era: sua adorável e fofa cunhada, no entanto ela estava com uma cara devastada. Algo havia acontecido.

— Pequena, o que houve? — perguntou, deixando a preocupação nítida.

— Gêmeos vão me matar... — respondeu enquanto entrava, os ombros estavam caídos. Ágape ficou ainda mais preocupada.

— Por que eles fariam isso?

— Eu tomei uma mega bomba na prova... — Se jogou no puff da sala de Ágape, era uma atitude um pouco folgada, mas se sentia tão mal pela nota da prova que não se importou com isso.

— Foi tão baixa assim? E em qual matéria? — Sentou-se ao lado dela.

— Matemática. Tirei menos de um. Saga vai falar muito... — Suspirou, triste e frustrada. — Ele tirou dois dias de trabalho pra estudar comigo e...

— Calma — Ágape passou as mãos de maneira ritmada pelas costas dela em uma tentativa de acalmá-la. — Dá para recuperar, não dá?

Serenity apenas a olhou, os olhos azuis marejados. E ela estava com medo da reação dos gêmeos, tanto que foi para o ateliê ao invés de direto para casa. Sentia-se mal, como se os estivesse decepcionando quando eles depositavam tanta confiança em sua pessoa.

— Não sei... Talvez — disse mirando os próprios pés.

— Calma, não vamos sofrer por antecipação. É a sua primeira prova, não é?

— Sim.

— Fica aqui um pouco, se acalma, depois você vai pra casa. Ou se quiser vou com você. Mas não acredito que eles vão ser tão severos quantos está pensando, pequena. Pode ser que sejam até compreensivos.

Serenity queria muito acreditar no que a ruiva falava, porém algo dentro de si não permitia. Não queria decepcioná-los de maneira alguma, e só conseguia pensar na bronca que ouviria, no quão desapontados estavam.

Permaneceu ali com a cunhada até o início da noite, logo Kanon chegaria em casa. Ágape terminou de ajeitar tudo para o dia seguinte e saiu com ela; avisara Saga que estava com Serenity e ele disse que a encontraria lá.

 

Apartamento de Kanon

Kanon chegou exausto, não bastasse ter tido uma reunião antes da hora do almoço, não conseguira comer nada o dia inteiro, pois havia saído direto para o fórum, onde teve não uma, mas duas audiências e seguidas. Precisara correr para não chegar atrasado e causar algum prejuízo ao cliente.

Depois rumou direto para casa, estressado e puto. Só queria comer alguma coisa, tomar um bom banho e cair na cama.

No entanto, assim que pisou em casa, tudo estava apagado. Acendeu a luz da sala, deixou a maleta no sofá, junto com o paletó, andou até a cozinha, viu que tudo do jeito que deixara pela manhã. O que não era tão anormal assim. Quando Serenity tinha sessão com o psiquiatra, chegava mais tarde, nesse horário, isso quando não a buscava. Subiu até o quarto dela, tudo apagado.

Ou seja, ainda estava na rua e sem avisar que chegaria mais tarde. Ficou ainda mais emputecido. Ela sabia muito bem da regra. Tateou os bolsos da calça em busca do celular, mas lembrou que estava no bolso interno do paletó. Desceu apressado, pegou o aparelho, destrancou a tela, buscou o número e apertou em ligar.

Ninguém atendeu. Ligou mais uma, duas, três vezes. Algo o dizia que ela o estava evitando, e seu humor passou de ruim para péssimo. Ligou para o irmão para tentar ter alguma notícia dela, Saga respondeu com uma voz séria e preocupada, disse que estava com Ágape e Serenity e que logo estariam ali; também contou ao irmão que sentia algo estava errado com Serenity.  

A espera não durou mais que vinte minutos. Saga entrou seguido pela namorada e Serenity a qual olhava para o chão, os ombros encolhidos, e parecia ter chorado.

— O que está acontecendo? — Kanon perguntou, sua voz saiu mais irritada do que pensou estar. Olhou para Serenity que não o olhou nos olhos.

— Também quero saber — Saga comentou, sua preocupação era nítida. Veio durante todo o trajeto imaginando os piores cenários possíveis, desde uma briga na escola até uma suspensão ou ainda pior. Preferiu não continuar com aquela linha de raciocínio. — O que aconteceu, pequena? Por que está com cara de quem chorou? Alguém te fez algo?

Serenity não respondeu ou sequer olhou para os dois, simplesmente andou até o sofá, sentou-se, cabisbaixa. Aquele comportamento não era normal para a moça. Ágape se sentou ao lado dela e segurou sua mão, querendo demonstrar apoio.

— Pode contar, pequena, duvido que vá ser o bicho de sete cabeças que está imaginando — disse, usando uma voz calma.

Isso não a acalmou como o esperado. Sentia vontade de chorar, estava nervosa, ansiosa, se sentindo culpada. Pegou uma mecha do cabelo e começou a mexer.

— É que... — Sua voz saiu quase como um sussurro. — É que...

— É que? — os gêmeos repetiram, tão nervosos e ansiosos quanto a própria Serenity.

 — Serenity, o que você aprontou? — Kanon não conseguiu segurar-se.

Ela se encolheu, perdendo a coragem.

— Se acalme, Kanon! — Ágape exclamou. — Só vai piorar as coisas.

— Me acalmar? — ele rebateu.

Saga se aproximou e ajoelhou-se na frente da irmã.

— Alguém te machucou?

Aquilo fez Kanon se calar ao mesmo tempo que fez seu sangue ferver. Se alguém se atreveu a tal coisa...

— É que... — Serenity respirou bem fundo. — Eu... Me sai mal...

— Nas provas? Todas?

— Matemática.

Os gêmeos respiraram aliviados. O pior não havia acontecido, uma nota baixa não era algo grave, principalmente quando eram as primeiras provas que ela fazia em toda a vida. Era natural que tivesse dificuldades, aquele cenário fora cogitado por eles. Além do mais, era a oportunidade para avaliarem o emocional dela, seu nível de aprendizado e se apresentava alguma dificuldade em aprender.

— Ah, pequena... — Saga a abraçou. — Se acalma, tá tudo bem.

Ela se afastou dele e o encarou, confusa. Como ele não estava bravo? Chateado? Decepcionado? Nem ele nem Kanon. Imaginou um cenário caótico em sua mente, já que eles depositaram tantas esperanças nela.

— Era uma possibilidade, pequena — Saga colocou uma mecha do cabelo de ébano dela atrás da orelha.

Ágape olhava aquele cenário, porém não estava gostando, especialmente por causa da reação dela. Conversaria com os dois assim que ela fosse para o quarto.

— Vamos fazer assim: toma um banho, a gente sai pra comer alguma coisa, esperamos o resto das suas notas saírem e então a gente vê o que vai fazer.

Serenity ponderou por um momento, ainda incerta e insegura. Acabou acatando o que Saga disse e subiu para seu quarto. Nesse momento Ágape aproveitou a brecha, séria:

— Vocês sabem que isso representa de certa maneira um problema, não é?

— Amor? — Saga a olhou sem entender o ponto.

— O medo dela quanto a reação de vocês — explicou. — Parecia uma criança assustada e não uma adolescente.

— Do que está falando? — Kanon perguntou.

— A estão superprotegendo. Deixando-a dependente de vocês, de certa maneira. Precisam moderar isso, dupla. Excesso de zelo também faz mal.

O olhar de ambos estava fixado nela. Ótimo, poderia continuar.

— Serenity tem que ser tratada como adolescente, não uma menina de oito anos, Saga. — Direcionou seu olhar ao namorado: — Sei que não faz por mal, mas tem que frear um pouco esse seu amor fraternal. E você, Kanon, ela não é uma bonequinha de porcelana que vai se quebrar a qualquer momento se você soltar.

— Eu não...

— Quieto, Elián, hoje vocês escutam — disse, levemente brava. — Ela precisa conviver com outras pessoas, sair mais. Não com vocês dois ou comigo, mas adolescentes como ela. Regulus seria uma boa companhia para ela, um bom amigo.

Os gêmeos ficaram quietos, cada um sentindo uma pontada de ciúme a sua maneira. Ainda se lembravam bem o que era ser um adolescente daquela idade e o quanto aprontaram. Imaginavam que, por melhor gente que fosse o primo mais novo de Aiolia, ainda era um adolescente cheio de hormônios e sabiam bem o ponto de ebulição dele.

 — As meninas querem fazer uma viagem no feriado prolongado que está por vir e acho que seria uma oportunidade perfeita para ela viver um pouco por conta própria.

— Nunca a impedimos de fazer nada — Kanon rebateu.

— Não, mas, sem a aprovação dos dois, ela não vai fazer. E, antes que falem mais alguma coisa, ela vai na viagem, independentemente das notas. Ela precisa sentir-se mais dona de si, mais independente.

— Ágape... somos os tutores dela, fazemos o que acreditamos ser o melhor para ela — Kanon argumentou, ao menos tentou.

— Tutor não é pai, Kanon — Olhou para os dois. — Sei que a querem bem, mas precisam tratá-la de acordo com a idade dela.

— É o que fazemos, Evangeline — Kanon soltou a frase com um certo escárnio.

— Mas será que a ouvem? — jogou a pergunta. — Sabem do que ela realmente gosta? Se tem algum sonho? Alguma vontade? Ou ela apenas segue a de vocês e o que esperam dela? Ela consegue ser ela mesma?

Os questionamentos da ruiva deixaram os dois um tanto pensativos.

— Quantas vezes vocês deram voz a ela? Serenity é uma adolescente, teve uma vida difícil, como me contaram; Só que tem tanta coisa que ela precisa de ajuda, que precisa ser trabalhada e a autoestima dela é uma. Deixem-na respirar um pouco sozinha, caminhar sozinha, sabendo que vocês estão sempre com ela.

Nenhum dos dois soube responder aquele questionamento e sentiram-se envergonhados. A protegiam em demasiado, quase em uma bolha, entretanto, Serenity conhecia o lado ruim da vida e talvez soubesse se proteger melhor do que eles.

— Foi o que eu pensei. Deem espaço para ela falar, ou será uma adulta problemática. Serenity precisa sentir que realmente confiam nela.

Cerca de meia horas depois, Serenity reapareceu, de cabelos lavados, usando uma calça jeans escura, uma blusa preta de mangas pretas transparente e uma sapatilha preta. Continuava calada, olhando para o chão.

Saíram para jantar, no entanto, a conversa não rendeu tanto quanto os gêmeos gostariam. Pois Serenity se fechou um pouco, sentiam o receio dela em falar mais alguma coisa.

Sexta-feira, consultório médico

Serenity saiu da escola diretamente para o consultório de Dokho. Não era típico para uma sexta-feira, mas o médico precisou remarcar a consulta em decorrência de uma questão familiar.

Agora estava na sala de espera do consultório. Enquanto aguardava o seu horário, aproveitou para jogar League of Legends: Wild Rift, que foi recomendação de Amanda. A amiga era gamer nas horas vagas e no dia em que a conheceu a amiga falou bastante do jogo e o recomendou.

— Srta. Elián, já pode entrar. — Informou a secretária.

Serenity guardou o celular na mochila, a colocou no ombro e entrou na sala de Dokho.

— Boa tarde, Serenity.

— Tarde.

— Esse tom de voz está muito desanimado, menina.

Ela suspirou. Sentou-se na cadeira de frente para o médico e o olhou brevemente. Sua semana foi de mal a pior.

— O que aconteceu?

— Fui mal nas provas. Muito mal.

— Calma, menina, não é o fim do mundo, mesmo que sinta assim.

Dokho a olhou com mais atenção. A adolescente ainda caria de autoconfiança, sentia a dependência dela em relação aos gêmeos, só que não era culpa exclusiva dela. Por ter crescido sozinha, a necessidade de pertencimento, de conexão era ainda maior nela, que só encontrou em idade quase adulta.

— Tem medo deles te repreenderem?

— Sim.

— Como eles reagiram quando falou sobre a primeira nota?

Ela contou o que se passou quando a nota de matemática saiu, sua reação, não ter ido direto para casa, a forma como Ágape a ajudou e até mesmo a defendeu da superproteção dos gêmeos.

Dokho anotou cada detalhe. Um caso como o dela, não era recorrente, então cada anotação era importante, principalmente para a evolução dela. Saga e Kanon fizeram muito em procurar ajuda para ela desde o princípio, pois havia uma chance enorme de a adolescente se tornar uma adulta problemática, no sentido de não saber lidar com suas próprias emoções, expressar-se de maneira alguma; no pior dos cenários envolver-se com drogas, prostituição, brigas ou roubos.

— Ágape tem um ponto. Você sente que não é ouvida, Serenity?

— Eu... não entendi muito bem quando ela falou isso.

— Você consegue ter um diálogo aberto com Saga e Kanon? Ou tem medo do que eles possam achar?

Serenity desviou o olhar do médico para a janela. Gostaria de acreditar que sim, porém desde que Ágape, sua cunhada, deu aquela dura nos gêmeos, passou a questionar se tinha mesmo ou era apenas coisa de sua cabeça.

— Não sei.

— Não sabe? Ou não tem?

— Não sei.

O médico sentiu ali um alerta vermelho, um novo ponto a ser trabalhado por eles. Naquele momento sentiu que a adolescente ainda se fechava muito, não poderia alegar que não era esperado.

— Serenity, você confia nos gêmeos?

— Confio!

— Confia mesmo?

Serenity olhou para Dokho com cenho franzido. Onde ele queria chegar com tal pergunta? Claro que ela confiava neles, caso contrário já teria fugido há tempos. Admitia que no começo não confiava, mas eles foram tão amáveis, solícitos, demonstravam boa vontade em ajuda-la verdadeiramente que deu uma chance.

— Confio, mas...

— Ah, o ponto que eu queria chegar. Ainda não confia totalmente.

— Eu...

— Confiança vem com o tempo, menina, assim como eles permitiram que entrasse no mundo deles, você precisa deixar que eles entrem, bom, não apenas eles, mas as pessoas que você considera suas amigas.

— Nunca pensei assim.

— Sei que existem detalhes da sua vida que ainda não se sente segura para partilhar com ninguém e está tudo bem. Vamos no seu tempo.

— Como eu... deixo as pessoas entrarem?

— Se abra no seu tempo, Serenity, não se deixe pressionar por outros, principalmente quando sentir que estão te pressionando para aceitar quando outras pessoas impõem suas visões, crenças.

— Então, eu não deixei ninguém entrar.

Serenity ficou contemplativa. As palavras do psiquiatra rodavam em sua mente. Será que ela deixava mesmo as pessoas entrarem? Ou apenas pensou que sim e a verdade era o oposto?

Dokho apenas observava a jovem, vendo as engrenagens da mente dela funcionar e estava em alerta. Serenity ainda se embolava para entender algumas coisas, ou fazia em exagero ou fazia de menos. Sofria de ansiedade que poderia ser atribuída ao tipo de vida que levou enquanto morava nas ruas. Situações de constante perigo e estresse, impotência diante de algumas. Uma vida que não foi escolhida por ela, mas foi escolhida por ela.

— Não é verdade, Serenity e você sabe disso. Confia em Saga ao ponto de considerá-lo seu irmão, ou seja, permitiu que ele entrasse e ele vem respeitando seu tempo quanto a se abrir totalmente, me contou isso em uma das nossas sessões.

A voz de Dokho era calma e suave, jamais o médico alterou ou foi grosseiro com ela quando precisava ser um pouco mais... categórico com ela, já que uma mente ansiosa como a dela ou qualquer outro ansioso, criava cenários catastróficos em suas mentes. Quando iniciou as sessões com o psiquiatra, Serenity mal dava uma palavra e ele pacientemente a observava, deixando-a confortável, permitiu que ela passasse toda sessão sentada no chão, usando a pequena mesa — destinada a pacientes bem mais jovens que ela — desenhando, se expressando de outra forma até que estivesse pronta para falar e o método funcionou perfeitamente.

— Você me contou que não gostava que encostassem em você, por medo do que poderiam fazer. E pelo que me foi contado, Saga te abraça, te aperta, te pega no colo. Então sim, Serenity, você o deixou entrar.

Serenity mordeu o lábio inferior, pensando nas palavras dele. Era verdade, Saga fazia aquilo tudo, demonstrava que o que sentia por sua pessoa era verdadeiro e genuíno. Ágape que uma pessoa praticamente recente em sua vida partilhava dos sentimentos de Saga.  

— Dokho.

O médico olhou para a adolescente interessado no que ela tinha em mente.

— Ágape e as meninas querem viajar no feriado que está chegando.

— E querem que você vá?

— Sim. Acha uma boa ideia? Mesmo com...

— Serenity, tire sua mente das notas das provas por um momento, não fique se torturando, se maltratando. As pessoas podem tanto bem quanto mal em avaliações, mas elas não determinam quem você é! Se acalme. De novo eu pergunto, eles brigaram com você?

— Não, disseram que cogitaram isso acontecer.

— Então não fique remoendo o passado, já aconteceu, o que você pode fazer é mudar o futuro. Foi mal nas provas, okay, sente, avalie onde se saiu mal, caso tenha dificuldade em enxergar onde precisa melhorar, peça ajuda. Pedir ajuda não é um ato vergonhoso, pelo contrário, é sinal de que quer melhorar. Por isso estamos aqui.

Serenity comprimiu os lábios, Dokho tinha razão.

— Vamos voltar a falar da viagem, sim?

— Tudo bem.

— Somente as meninas vão?

— Pelo que eu entendi, sim.

— É uma ótima chance para você, precisa sair um pouco da sua rotina, Serenity, de ser apenas você e os gêmeos. Sei que tem a Ágape, mas conviver com outras pessoas, outras moças, ter amigas, é importante.

— Ágape não deu chance deles falaram algo.

— Ela quer seu bem, Serenity e pelo que me contou, tem demonstrado ser uma boa amiga, que quer seu bem, te ver bem e feliz.

Serenity sorriu. Ágape era uma pessoa de bom coração, desde o primeiro momento em que se conheceram se deram muito bem, era sim sua amiga.

— Serenity, você tem dezesseis anos, é uma moça. Não mais uma criança e nem pode ser tratada como tal, não pode ser superprotegida, nem posta em uma bolha. O lado feio da vida, infelizmente, você conheceu antes de conhecer o bom. Você precisa também agir de acordo, sei que é cômodo se deixar proteger quando não teve nenhuma quando cresceu.

— Como?

— Como faz?

— Você verbaliza, falando.

— Mas e se eu não sei o que eu gosto?

— Você descobre com o tempo, o que não pode é sempre concordar, deixar-se levar pelo que Saga e Kanon querem ou esperam de você. Vamos tentar algo diferente.

— Tipo?

— Um diário.

— Um diário?

— Sim, um diário serve para escrever o que não queremos contar a ninguém, mas precisamos de alguma maneira colocar para fora. Mas não pense que vai poder se esconder nele, mocinha.

Serenity sorriu amarelo.

— Além do diário, vou passar a recomendação de praticar exercícios físicos, se bem que acredito que tenha feito isso antes, mas reforço. Vão ajudar com a ansiedade, além do remédio.

— Tudo bem.

— Na sessão após o feriado quero ouvir tudo sobre como foi.

Ela sorriu.

— Bom, hoje vamos ficar por aqui, Serenity, até a próxima.

— Até a próxima, Dokho.

Serenity pegou sua mochila e saiu da sala, se despediu da recepcionista e foi embora, na saída do prédio deu de cara com Kanon que a esperava encostado no capô do carro e fumando. Ele apagou o cigarro e jogou a bituca na lixeira próxima.

— Morena.

— Kan.

— Como foi a sessão?

— Foi boa.

— Que bom. Com fome?

— Um pouco.

Ele abriu a porta para ela e depois entrou. Nunca a pressionava sobre o que conversava com Dokho, sabia que o efeito seria o oposto e desde a puxada de orelha que ele e Saga tomaram de Ágape, passou a se frear um pouco, mas só um pouco. Queria sim proteger Serenity de todo mal no mundo, ela já não sofreu o suficiente?

— As meninas falaram mais alguma coisa da viagem?

— Só confirmaram que vai ser no feriado, mas para onde...

— Correm o risco de não conseguirem vaga em lugar nenhum.

Ela olhou ele por um momento. Ele não queria que ela não fosse?

— Não quer que eu vá?

Tentaria seguir o conselho de Dokho sobre verbalizar mais suas vontades, suas dúvidas.

— Não é isso, morena, as pessoas gostam de viajar nos feriados, então pegam o carro, pode haver trânsito na estrada, hotéis lotados... Coisas assim.

— Ah.

— Você quer viajar? Ou elas estão te pressionando?

— Eu quero.

— Tudo bem, mas precisa preparar a mala.

— Tá bem.

— Quer que te ajude?

— Não precisa, eu arrumo.

Kanon a olhou de soslaio para ela e sorriu. A terapia estava fazendo muito bem a ela.

— Ah, Dokho sugeriu que eu praticasse algum exercício.

— Tem algum que você goste?

— Nunca pratiquei, como vou escolher?

— Pesquise na internet, se algum te chamar atenção, aí nós vemos.

Serenity não falou mais nada, porque ele tinha um ponto, seria melhor pesquisar, mas também poderia perguntar a ele, a Saga, as meninas. Quem sabe não ajudavam a encontrar algo? Sabia que os dois praticavam, pois tinham corpos muito bonitos. Fora que Ágape babava em Saga sempre que ele estava sem camisa.

Mexeu na mochila procurando o celular para perguntar se elas decidiram para onde iriam. O grupo tinha mais de cem mensagens, apesar de não gostar muito de ler no carro, preferiu saber logo.

Liebe e Shina falaram alguns lugares, mas somente um foi o vencedor. Vouliagmenis. Praia, claro. Como Liebe queria. Ágape e Marin ficaram responsáveis por encontrar um lugar para ficarem naqueles dias. Achou graças. Esperava que a viagem fosse realmente algo fosse lhe fazer bem.


Notas Finais


Olá, não é que saiu atualização?
Espero que tenham gostado. Hoje foi um capítulo importante para a história, as coisas agora vão ganhar um novo ritmo, acredito que vão gostar. @karimy obrigada pela ajuda que me deu com esse capítulo, assim consegui finalizá-lo.
Por enquanto é isso, meu povo.

Beijos 😘😘😘😘😘


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