História We Got a Secret (Kakashi Hatake) - Conquista

Kakashi

00:45. Era esse o horário que o meu relógio marcava. Da última vez que eu olhei, eram 00:44 e o tempo parecia me massacrar e passar mais devagar. Todos no bar pareciam ter uma alegria inquestionável, e eu dava o meu máximo para sorrir através da máscara e passar a impressão de que eu estava adorando estar ali.

Bem, eu não estava. Se não fosse por amizade que tenho com Asuma e seu aniversário inevitável, eu iria estar enfiado no meu apartamento lamuriando perder a mulher que eu sonho -constantemente, por assim dizer- para um dos meus amigos, ou melhor, um cara minimamente decente para eu considerar como próximo, como Genma.

Ele passava as mãos nos cabelos pretos, lisos, que passavam sua cintura, como se ele tivesse tanta intimidade, procurando sempre mostrar que quem estava com ela era ele. E eu continuava com a minha cara de “eu não ligo para qualquer coisa que esteja acontecendo ao meu redor”, lendo meu livro.

Eu estava sentado longe deles. Era torturante ver Mina e Genma cada vez mais perto, ver ele tentar se aproximar dela usando todo tipo de artimanha que eu já havia pensado em usar e que haviam ficado apenas em imaginação.

Imediatamente me lembrei do porquê. 

Era verão e Mina  e eu com nossos 13 anos treinávamos perto do lago. Após a morte de Obito e Rin, Mina  foi a única a quem eu permiti que se aproximasse de mim. Então nos encontrávamos semanalmente para treinar, eu havia ingressado na ANBU, ela, por outro lado, se tornou Jounin logo após eu me tornar. Era comum terminarmos o treino e irmos comer no ichiraku, ela sempre conseguiu tirar minha expressão de neutralidade - quase que preguiça de esboçar qualquer reação- e substituir por risadas, talvez os únicos momentos em que eu era capaz de esquecer da minha vida repleta de culpa e tristeza.

Eu tentava ajudá-la com seu Suiton, tentávamos coordenar um suiryūdan quando ela se desequilibrou e caiu no lago. Eu não a vi voltar para superfície por volta de dois minutos e preocupado, mergulhei no lago em procura dela, mas tudo não passava de uma brincadeira e Mina ria descontroladamente quando eu a levei para a superfície. Eu fiquei bravo, mas inevitavelmente, após ver Mina rindo daquela maneira, eu me permiti rir também e sem que eu percebesse, nos aproximávamos, e ainda por cima da máscara, os lábios dela tocaram os meus. Sem que soubéssemos, foi o primeiro beijo de ambos.

Mas a minha mente voou para a imagem de Rin tossindo sangue enquanto a luz azul nas minhas mãos a atravessava e eu precisava sair dali, Mina sofreria o mesmo e eu jamais me perdoaria, então a deixei ali, sentada na grama em frente ao lago e corri para casa. Mas nunca a permiti se aproximar mais do que o necessário após isso.

Eu ri sozinho ao lembrar disso, virei mais um copo de sake e rezei pra qualquer um que me escutasse que essa noite acabasse logo e eu pudesse me isolar novamente longe da felicidade do possível casal que começara a se formar em frente a mim.

Mina

— Mina, o que acha de eu te acompanhar até sua casa hoje? – Genma disse chegando perto do meu ouvido. 

Há algumas semanas meu interesse em Genma começou a aflorar quando eu notei a atenção que ele me dava, a carência e o fato de que o homem que eu desejava pouco mostrava retribuir, eu dei chance para Genma acreditar que algo poderia acontecer entre nós.

Não era mentira, ele realmente me interessava mas ainda existia alguém que me interessava mais do que ele. Kakashi Hatake, o homem que mantinha seu olhar em mim do outro lado da mesa do bar. E eu não fazia a mínima questão de quebrar nosso contato visual.

Eu havia aberto mão de tentar me aproximar, a cada vez que eu o procurava e tentava chegar mais perto, Kakashi me evitava e me colocava no lugar de amiga que eu sempre tive em sua vida, me afastando do pensamento de que poderíamos ter uma chance algum dia.

Então já era hora de deixar de lado, afinal, Genma se mostrava um bom amigo, com intenções a mais, porque não tentar?

Eu ri um pouco, antes de respondê-lo

— Genma, que tal a gente aproveitar a festa e aí depois eu penso no seu caso? – Eu sorri para ele, que respondeu tomando mais um gole de seu drink.

Não sei dizer se o homem uma hora se cansaria de suas investidas muitas vezes respondidas com não, eu tinha interesse, desejo, mas eu precisava de tempo para dar um lugar a Genma na minha vida e eu esperava que ele entendesse. Ele sempre parecia querer mostrar algo, e enquanto estávamos em público suas demonstrações de afeto só aumentavam. 

O efeito da bebida começava a me dar pensamentos. Mas eles não eram sobre Genma, e isso era um problema.

— Genma, vou pegar a Mina emprestada por 10 minutos - Kurenai chegou perto me tirando dos braços dele que rodeavam minha cintura e sorriu rapidamente pra ele 

 — Você não escapa de dançar comigo hoje, ein? –  Ela sussurou pra mim, me puxando pelo pulso, mas não antes que eu pudesse levar o meu copo de sakê comigo. 

Genma logo se virou para conversar com Kotetsu e Izumo, mas eu ainda sentia olhos em mim, e não eram os dele.

Kakashi 

— Ela mexe com você. - Eu ouvi um sussurro próximo ao meu ouvido. Gai.

— O quê? Do que está falando? – Eu arqueei minha sobrancelha visível, não iria entregar o jogo e virei para encará-lo.

— Vamos, Kakashi, você não mente para mim, seu eterno rival, mentir envelhece. - Ele falava baixo para que só nós pudéssemos ouvir.

— Eu não minto porque não escondo nada, não tenho tempo pra ter interesse em ninguém e você sabe. - Voltei meus olhos para o livro que segurava e em seguida tomei outro gole da minha bebida, esperando que sendo ignorado, Gai desistisse de saber a verdade.

— Tudo bem, amigão, mas se quer continuar sustentando sua pose, deveria passar menos tempo com o olhar fixo nela, sabe, seus olhares são bem significativos - ele enfatizou o “bem” e eu não pude deixar de olhar para ele, que continha o usual sorriso enorme, piscando um de seus olhos pra mim. 

Droga de juventude, alegria, ou sei lá mais do que Gai chamava isso que ele tinha, ele não desistia.. e quase descobriu.

Mina

Eu sentia o álcool se apoderando dos meus sentidos enquanto dançava com Kurenai e Anko, passos que nem a gente sabia que existiam, mas só queríamos aproveitar a música e o tempo livre.

Os meninos estavam sentados na mesa conversando enquanto nós, bom, nós estávamos aproveitando o melhor que a noite tinha para oferecer. Parecia justo.

— Mina, o Hatake simplesmente NÃO tira os olhos de você. - Kurenai disse alto e rindo, enfatizando o "não" e eu corei, negando.

— Acho que você tá bêbada, Yuhi - minha voz já não tão certa teimava - Ele nem tira os olhos daquele livro dele.

— O Hatake é um mistério, mas o Genma não faz questão de esconder que quer você, sua lerda, devia aproveitar aquele pedaço de pecado! - Ela falou tomando um gole grande do copo- Vou dar meu jeito de acabar com o Kotetsu hoje, não importa como! - Anko disse com exaspero em sua voz, totalmente embreagada pelo sakê e nós todas rimos.

— Por Deus! Vocês precisam beber água - eu disse me desfazendo em gargalhada com minhas amigas e quando dei mais um passo de dança, pisei em falso e me desequilibrei.

 Estava certa de que cairia no minuto seguinte, mas nunca cheguei ao chão. Senti braços fortes me segurando e minhas costas encostarem em um peitoral. Como ele chegou ali tão rápido? Minhas duas amigas que mais pareciam duas patetas olhando pra nós com a boca aberta e seus copos na mão.

— Kakashi. - Eu olhava para cima para encontrar seus olhos. 

— Vocês sim estão aproveitando a festa, né? - Ele piscou pra mim e sorriu com os olhos para as meninas. 

Eu sentia que meu coração poderia pular do peito.

— Obrigada, Kakashi-senpai.- Kakashi senpai, porra..de onde você tirou essa, Mina? Maldito alcóol que não me permitia segurar minhas palavras, que vergonha.

Me virei pra ele com certeza de que minhas bochechas queimavam em vermelho.

Ele soltou um risinho que eu poderia julgar como cafajeste se eu não duvidasse plenamente da minha capacidade de julgamento nesse momento.

— Não tem problema, Mina. - Ele disse, confiante, segurando um copo de sakê. - Você tá bem?

— Si-

— Finalmente achei você. - Genma se aproximava, me cortando.

—  Ah, oi, Genma. - Eu respondi, me afastando de Kakashi, ainda sem jeito.

—  Vamos? Já estou indo e posso acompanhar você até a sua casa. - Ele sorria gentil pra mim, por Deus, Genma, porque você tinha que ser tão atencioso? E lindo..

Eu olhei para Kurenai e Anko que ainda permaneciam sem esboçar reação, olhei mais uma vez para Kakashi que agora tinha sua expressão neutra e usual no rosto enquanto o homem de cabelos marrons ainda sorria para mim.

—  É melhor você ir, Mina, tenha uma boa noite. - ele sorriu uma última vez e se afastou com as mãos no bolso, caminhando para a mesa novamente.

—  Então, vamos? - Ouvi a voz de Genma gentilmente me estendendo o braço e me esperando.

— Uhm, sim, vamos. - Eu sorri gentilmente e me despedi das meninas.

Droga, Kakashi, se você ao menos me pedisse pra ficar..

Kakashi

Muito bem, Kakashi, sendo um covarde mais uma vez, espero que fique feliz em entregá-la nas mãos dele.

— Então é assim que pretende ganhá-la? - Gai apareceu e eu podia jurar que ele havia brotado do chão.

— E quem disse que eu a quero? - Rebati seco, eu não iria admitir tão fácil.

— Não é preciso dizer, está quase escrito na sua testa. Agora vamos beber, meu amigo, você precisa. - Gai me acompanhou até a mesa.

— E você precisa de um médico. - ele riu e me empurrou, era praticamente impossível tirar uma ideia da cabeça do Gai.

××××

Larguei as chaves em cima da mesa que ficava ao lado da minha porta e adentrei meu apartamento. Nunca desejei tanto estar aqui como hoje.

Me joguei no sofá encarando o teto, eu poderia mentir inúmeras vezes para os outros mas pra mim mesmo, bom..essa era a parte mais difícil. Eu estava muito ferrado, numa encruzilhada, eu, Kakashi Hatake, pela primeira vez, me sentia perdido. 

Mina

Acordei com o barulho do meu despertador e uma puta dor de cabeça, o sakê ainda estava no meu corpo. Levantei e procurei o copo de água que usualmente ficava na estante ao lado da minha cama e tomei o conteúdo que havia ali, levantando e indo tomar banho.

Já pronta pra fazer o meu café, escuto minha campanha sinalizando que há alguém ali.

— Só um minuto - Sai da cozinha para atender e ao abrir a porta me surpreendi.

— Oh, Genma. - eu o encarava surpresa. Ele tinha sacolas nas mãos e um sorriso ladino acompanhado de seu palito.

— Bom dia, Mina, Imaginei que você acordaria com ressaca então resolvi comprar umas coisas e passar aqui. Espero que não tenha sido uma má idéia. 

— Não, oh meu deus, entre, por favor - dei espaço para que ele entrasse e quando ele o fez, fechei a porta.

— Obrigada pela gentileza, Genma, é realmente muito doce da sua parte. - Eu sorri pra ele e quando o mesmo colocava as sacolas em cima da mesa. Isso realmente mexeu comigo, ele trouxe um café da manhã completo pensando em mim.

— Eu vou conquistar você, Mina, sei que alguém já ocupa seu coração, mas eu vou conquistar você. 

— Genma..eu.-

— Vamos tomar café? – ele me cortou e começou a tirar as coisas e dentro da sacola, eu agradeci internamente pois eu não saberia o que dizer mesmo..

— É uma ótima ideia – sorri para ele e o ajudei a organizar as coisas. 

Genma era doce e isso me deixava mexida, era o tipo de atenção que eu não costumava conseguir de Kakashi. Impedi de que minha mente voasse para ele novamente e foquei no homem lindo a minha frente.

Nós sentamos e começamos a tomar o café.

— A ressaca está melhorando? – Ele sorria encantador pra mim enquanto eu tomava um gole do café que preparei antes de ele chegar.

— Ah, vamos lá, eu não exagerei tanto ontem a noite! – Eu ri e ele riu comigo, eu tentava disfarçar que era fraca pra bebida

— Não precisa mentir pra mim, Mina, você estava mesmo linda com as bochechas coradas.

E como um passe de mágica minhas bochechas coraram de novo. Ele sabia as palavras certas pra deixar uma mulher sem jeito.

Eu soltei um riso envergonhado 

— Obrigada, Genma, com todos esses doces e comidas gostosas que você trouxe, eu realmente acredito que não tem ressaca que continue aqui - Eu disse e ele continuava a olhar pra mim, será que eu estava suja? 

— Uhm, o que? – eu limpei ao redor da minha boca 

— Mina, o que acha de jantar comigo essa noite?