História Welcome To Las Vegas,baby! - Cartada de Sorte

Sentado em um banco de praça ele suspirava pensativo e tentava entender o que realmente havia acontecido consigo. È certo que ele nasceu azarado desde sempre e já estava perfeitamente acostumado com isso, mas não se recordava de ter ido tão fundo quanto estava naquele momento. O aluguel de seu apartamento estava atrasado, seu carro velho fora roubado, sua carteira de motorista tinha dez pontos a menos por dirigir a 20 numa pista de 60 quilômetros, sua ex-namorada por achar se traída, algo que não ocorreu, rasgou suas roupas e pôs pó de mico na sua cama e só pra completar o desastre sem tamanho ocorrido em sua vida perdeu o emprego de estagiário numa empresa de advocacia.

E quando as coisas não poderiam piorar ele perdeu cinquenta dólares em sabe lá Deus aonde. Se o Diabo veste Prada?! Pra ele vinha de vermelho sangue! Céus! Por quê?! Por que nada simplesmente poderia dar certo na vida dele? E por que quando dava, tudo desmoronava no segundo seguinte? Ele suspirou e respirou fundo lembrando-se de seu passado e das palavras de sua mãe em seu leito de morte. "Não desista meu filho, você é um ser humano bom e de luz. Tenho certeza que faras grandes coisas na vida e onde que estiver saiba que sempre terei orgulho de você." 

Chegava a ser impressionante como aquelas palavras o marcaram como nunca. Isso ele tinha certeza que mesmo quando estivesse velho não se esqueceria nem por um segundo daquele fatídico dia que perdeu o único maior exemplo de vida e de família que teve. E mas essa lembrança o fez suspirar triste mais uma vez sentido falta de algo que não fazia há muito tempo. Fumar. Um de seus vícios que começou ainda jovem em um desses grupos de colégio e tornou-se um grande problema em sua vida, mas quando sua mãe ficou doente por conta do cigarro, ele prometeu a ela e a si mesmo que nunca mais faria aquilo. Mas nunca esteve tão próximo de quebrar uma promessa como naquele momento.

Mas isso fora interrompido por uma bola de futebol que parou em seus pés fazendo-o se dispersar para encara-la. Ele segurou-a com os pés e olhou de onde veio encontrando vários garotos que jogavam no gramado verde nada distante dali. Os meninos pediram para devolvê-la e foi o que fez levantando-se do banco, concentrando a bola em seus pés e chutando-a para eles. E eu adoraria ficar aqui e dizer que aquele fora um momento legal onde tudo ocorreu bem, mas não sou boa em mentir.

Ele até chutou a bola, e chutou bem, mas infelizmente atingiu em cheio a cabeça de um garoto que caiu no chão. Sem duvidas ficou um belo galo ali que o fez fazer a única coisa que realmente poderia sair imediatamente. E foi o que fez. Iria procurar algo que substituísse em escala máxima sua vontade de fumar. Um café. Isso, um café. Nada melhor pra levantar os ânimos do que um bom copo de café acompanhado de um pedaço de torta de chocolate belga. Não melhoraria seu dia em cem por cento, mas já ajudaria bastante e graças aos céus tinha dinheiro pra isso e melhor ainda havia uma ótima cafeteria clássica próxima dali. Esperança é a ultima que morre. Aquilo era só uma manhã seu dia ainda podia ser melhor.

Ou talvez não quando se viu tão distraído com seus pensamentos que não notou que estava atravessando a rua e quase fora atropelado por um caminhão. É não dá pra ganhar todas! Mas ele poderia sorrir, estava vivo, inteiro e aquela bela cafeteria continuava bem ali como um sonho prestes a se realizar.

"Desculpe." Ele pediu ao motorista que ainda reclamava e xingava-o de diversos nomes dos quais não compreendia nem metade. Mas não se importava.

Ele apenas atravessou a rua e adentrou aquela clássica cafeteria que estava ao som de pessoas falando sendo equalizada com Elvis Presley numa maquina de musica das antigas. Interessante. Mas não demonstrou nada apenas entrou e procurou uma mesa reservada, por sorte encontrando na direção esquerda da entrada e colada a grande janela de vidro, sentando-se naquele sofá de couro e analisando o interessante cardápio que estava ali. E por um caso do acaso encontrou um jornal na cadeira a sua frente e gostou, mas como nem tudo ou nada é perfeito aquele jornal era de ontem, mas sinceramente não se importou. Também não havia lidos as noticias de ontem mesmo! Estava no lucro.

"O que vai querer?" A garçonete chamou sua atenção fazendo-o encara-la levemente sorridente.

"Bom dia. Vou querer um café expresso com um pedaço de torta de morango, por favor." Respondeu vendo-a anotar aquilo e sair sem dizer uma palavra. Falta de humor. Ele riu ao lembrar-se que estava assim há cinco minutos.

Ele voltou a ler seu jornal normalmente e mesmo não entendendo nada sobre a bolsa de valores achava interessante sobre aquela matéria. Mas fora interrompido por um arrepio gutural que subiu a sua espinha causando-lhe quase um calafrio. Sentiu-se tão diretamente observado que teve de parar de ler para ver quem era que observava tanto e diretamente.

E foi quando ele a viu. Loira, aparentemente alta, sentada a quatro mesas a sua frente encarando-o lascivamente. Ela sorriu ao canto dos lábios ao ter seu olhar devolvido. Enquanto apenas esboçou do mesmo sorriso e encarou pro pouco tempo já que estava disposto a ler o jornal tranquilamente além acabar de ter isso novamente interrompido por seu pedido que chegou na hora perfeita.

"Para quem precisa relaxar e uma ótima pedida." Ele teve sua atenção desviada novamente só que agora pela voz da mulher que o observava a poucos minutos. Ele simplesmente não pode evitar desviar o olhar para o esbelto corpo dela sem deixar que nenhum detalhe ficasse fora de sua vista.

"E o que a faz pensar que estou com problemas?!" Ele indagou curioso e intrigado. Ela sorriu e sentou-se na cadeira a sua frente analisando-o minuciosamente melhor.

"E o que um homem como você faz numa cafeteria ás 10:00 da manhã?!" Ela encarou-o arqueando a sobrancelha.

"Ahn, que tal, tomando um café, por exemplo?!" Ele encarou-a sarcástico.

"Você não me é do tipo que faltaria o serviço apenas para tomar um café." Que petulância! Quem é ela?! Um detetive CSI por acaso?!

"E você não é do tipo educada, sabia? Normalmente as pessoas dizem oi e se apresentam antes de começar uma CSI sobre a vida alheia." Essa a pegou de surpresa. Ela não esperava uma resposta tão direta e impassível como aquela e definitivamente gostou disso. Ela encarou-o por mais alguns segundo que havia voltado a ler seu jornal como se nada daquilo tivesse acabado de acontecer.

"Spears." Ela disse vendo-o encara-la confuso. "Spears. Britney Spears" Ele encarou-a analítico por um curto prazo de tempo e esbouçou um sorrisinho no canto dos lábios.

"Timberlake. Justin Timberlake." Por decisão nitidamente inesperada, ele pegou uma das mãos dela que encontrava-se na mesa segurando-a com firmeza e levando aos seus lábios deixando um beijo leve em seu dorso. Ato que ela encarou com destreza e intimamente admirada. Era raro ver um homem fazer aquilo.

"Então Justin, o que faz aqui uma hora dessas?!"

"Estou ótimo obrigado por perguntar. E você? Gosta de torta?" Ele arqueou a sobrancelha encarando-a divertidamente sarcástico.

O confronto direto entre ambos era tão nítido quanto à atração fatal criada ali pro uma desconhecida austera e um azarado que não foge da raia. Era simplesmente confronto com o misto de descobertas não ditas entre ambos. Mas infelizmente aquilo fora interrompido pela garçonete que tropeçou graças a um pestinha e caiu derrubando suco de uva na blusa de Justin surpreendendo-o.

"Mais que merda!" Ele esbravejou sentindo aquele liquido gelado contra sua barriga e levantou-se imediatamente. Ele viu a menina caída ao chão e ajudou-a se levantar fazendo-a inconscientemente ver o estrago que havia feito na blusa dele.

"Céus! Sua blusa! Desculpe-me! E-eu vou arrumar tudo!" Mesmo ele estando bastante irritado com o fato de que aquela era a camisa polo nova dele e uma de suas favoritas ele se compadeceu com o desespero da garçonete e tratou de acalma-la.

"Hey calma! Esta tudo bem! Acontece!"

"Não comigo,eu realmente não sei o que deu em mim eu..."

"Ah, mas no meu caso sim. Acredite. Eu e a sorte não somos muito amigáveis. E essa foi a coisa mais leve que aconteceu comigo desde que fui quase atropelado há uma hora." Ele respondeu fazendo não só a garçonete como algumas pessoas que observavam a situação rirem um pouco.

"Com licença." Ele disse afastando-se de todos caminhando para o banheiro em tal velocidade que não viu quando deixou cair seu bilhete de loteria juntamente com a foto dele e de sua mãe quando jovem que foi notado por Britney quase que de imediato.

Ele entrou no banheiro e foi direto ao espelho para ver melhor o estrago feito. Merda! Justo a camisa nova dele?! Ah, mas estava bom demais para ser verdade. Ele tem uma maravilhosa ideia de trocar o cigarro por torta com café, e por acaso encontra uma bela cafeteria próximo a praça onde ele via-se só e desolado, e por ironia do destino surge do além uma misteriosa e nada educada mulher do além chamada Britney Spears, disposta a fazer um CSI completo sobre sua vida intima e pessoal sem nem ao menos conhece-lo, tirando o fato de que ela era extremamente (nas palavras de Justin) gostosa. Qual é?! Tinha que ter pelo menos uma boa pegadinha no meio né?! Só pra não perder o habito!

Ele suspirou e respirou fundo disposto a deixar esses pensamentos de lado, tratou de tentar inutilmente diminuir o estrago feito na camisa sem sucesso e lavou e secou o rosto tentando manter-se controlado diante de toda a situação ocorrida. Suspirou. Era hora de voltar pra lá e encarar a CSI desconhecida de novo. Sinceramente ele já havia perdido um pouco do bom humor adquirido mais cedo e já não estava mais muito disposto a encarar interrogações desnecessárias, mas não havia grandes escolhas no momento.

Ele saiu do banheiro e caminhou de volta para sua mesa sendo observado por algumas pessoas ali e deparou-se com algo que estranhou.Britney não estava ali, não mais. Mas como?! Ela estava ali sentada a frete dele a cinco minutos! Mas ao invés disso encontrou uma camisa preta, duas notas de vinte dólares e um bilhete escrito com papel de guardanapo que enrolava a foto de sua mãe e o bilhete de loteria que comprou pela manhã.

"Você é realmente cheio de surpresas Timberlake. Inteligente, impassível, coerente e interessante eu diria. Gostaria de descobrir mais sobre você. E talvez nos vejamos um dia de novo quem sabe. Seria interessante. Até lá fique alerta.

P. S.: Você não fica bem de camisa polo, tente regatas, sociais ou gola "V" de preferencia." Britney Spears.

Ele não aguentou e teve de rir. Surreal. A criatura surgiu das cinzas e para as cinzas retornou deixando só um bilhete ao estilo "até qualquer dia". Vai vendo?! Bom, mas pelo menos deu-lhe de presente inesperado uma bela camisa preta de gola "V" na qual ele fez questão de ir ao banheiro experimentar e quem diria que ficaria tão bom?! Ficou até mais sexy!

Riu novamente sozinho e voltou a sua mesa vendo seu pedido chegar finalmente e suspirando até um pouco aliviado por estar sozinho novamente. Poderia pelo menos apreciar seu café em paz. Sentou-se a mesa agradecendo a garçonete e preparando-se para seu pequeno momento de paz e felicidade. Ah, como era bom experimentar um bom café preto que apesar de ter tomado quando acordou parecia fazer dias que não tomava um nada poderia ser melhor. Ah não ser...

"E VAMOS A SEQUENCIA NUMÉRICA DO SORTUDO QUE GANHOU 2 MILHÕES E MEIO DE DÓLARES NO BILHETE CARTADA DA SORTE: 45-22-17-81-08-05"

Tudo que fora ouvido naquele momento fora alguém que cuspiu café quente em cima da mesa. Trágico. Definição para tudo aquilo: Inacreditável!