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História West Coast - Luz


Escrita por: D_Leao e tamycsol

Notas do Autor


Let me love you - DJ Snake
Taking over me - Evanescence
Dark Paradise - Lana del Rey
Love in the dark - Adele

Capítulo 22 - Luz


Fanfic / Fanfiction West Coast - Luz

“Duvide do brilho das estrelas.
Duvide do perfume de uma flor.
Duvide de todas as verdades.
Mas nunca duvide do meu amor.”

William Shakespeare

 

As ameaças de Stephen podiam ser sérias, contudo, Ben não tinha tempo a perder com elas, não quando Rey continuava irredutível. Ele precisava fazer alguma coisa, imediatamente. Foi por isso que ele o ignorou, focando naquele momento na única pessoa com quem verdadeiramente se importava.

— Rey, espere! — ele gritou quando a viu se afastar.

A figura perversa aproveitou o momento de distração e o atacou. Ben mal conseguiu reagir ao braço que passou em volta de seu pescoço, pois logo sentiu uma dor aguda nas costas, abaixo de uma das costelas. Aquele maldito o havia ferido com o canivete.

— Não! — Stephen gritou, completamente fora de si. Afundando ainda mais o canivete. — Você não vai me humilhar novamente, Ren! — Stephen o derrubou.

Ele gemeu e trincou os dentes com a dor. A lâmina cravada em suas costas, provocando um sangramento no local de imediato, e Stephen seguia mantendo-o preso em seu mata leão, sufocando-o.

— Sai... de cima... de mim..., seu louco! — Ben disse com a voz entrecortada.

Rey, que tentou ignorar o chamado inicial dele, sentiu seu coração despedaçar ao ver Ben caído sendo brutalmente atacado.

— Ben! — ela gritou.

Um sentimento descontrolado de desespero se apoderou de Rey, juntamente com a sensação estranhíssima de estar vivendo um dèjá-vu. Quase podia ver Ben sem vida em seus braços. Isso já havia acontecido? Podia jurar que já tinha visto aquilo, a visão dele neste estado era-lhe quase familiar.

Ben estava sufocando. O aperto do mata leão de Stephen era forte demais. Aquele homem estava carregado de ódio e isso era visível. Isso já tinha se mostrado antes, quando ele falou de coisas de outra vida, misturando com as dessa, porém, não passava pela cabeça de nem um deles, Ben e Rey, que Stephen pudesse surtar dessa maneira e atentar contra a vida de Ben.

— Socorro! — ela gritou. — Alguém ajuda! Socorro!

Não demorou para que seus gritos chamassem a atenção de outras pessoas, e, em poucos segundos, o lugar estava tomado por curiosos. Uns incentivando a briga e outros amedrontados, mas alguns tentando apartá-los, no entanto, ninguém conseguia chegar perto, principalmente quanto Stephen tirou o canivete das costas de Ben e apontou para os rapazes que tentavam separá-los.

— Vai me pagar, Ren! — ele gritou no ouvido do outro, puxando o canivete de novo em direção ao peito de Ben.

No entanto, o rapaz segurou firme o punho de Stephen, usando toda a força que possuía para impedir Stephen de cumprir seu intento. Não obstante, Ben estava em desvantagem.

Rey não chegou a ver isto, pois ela já tinha se afastado correndo em busca de socorro. Ela tinha que tomar uma atitude, pois sabia que só pela sua força e gritos não conseguiria acabar com aquilo. Então ela correu o mais rápido que pôde, em direção ao prédio principal. Precisava avisar a alguém da reitoria. Por sorte, ela encontrou o próprio reitor em pessoa vindo naquela direção.

— Por favor, o senhor precisa me ajudar! — Correu até ele, esbaforida. Ela estava tremendo e sem fôlego.

— Acalme-se, senhorita! O que houve? — perguntou o senhor reitor Orson Krennic, arregalando os olhos de surpreso.

— Não temos tempo! Venha comigo, rápido!

— Espere, o que está acontecendo? — Krennic parou, estranhando a atitude da moça e incomodado. Desde quando estudantes chegam até ele daquela forma quando passeia pelo seu campus? — Como se chama?

— Eu sou Rey Solo, o meu irmão está sendo atacado por outro aluno no estacionamento! Por favor, nos ajude, faça alguma coisa, senhor! — disse apressada. Ele percebeu que ela tremia e soube que ela falava sério.

Eles correram até o estacionamento, pelo caminho, o reitor acionou os seguranças do campus. Ao chegarem lá, a pequena multidão continuava à volta deles, e Ben já estava praticamente desmaiado, mas Stephen continuava seu ataque, apertando ainda mais o mata leão.

— Vejo que está definhando, mestre — disse ele contra o ouvido de Ben. — O que foi? O poderoso Kylo Ren perdendo uma luta para mim!

— Solta ele! — Rey gritou.

— Cala a boca, sua puta! — berrou de volta. — Tudo isso é culpa sua, maldita!

— Solte o Sr. Solo, agora! — ordenou Krennic, com o rosto colérico, abotoando o paletó. Era um homem sério e sisudo, metódico, e muito experiente administrado instituições de educação, porém, jamais imaginou-se tendo que ir resolver uma briga tão estúpida entre alunos no seu próprio campus.

— Merda!, é o reitor! — Stephen afrouxou os braços e Ben se desvencilhou dele finalmente, caindo aos seus pés, de lado no chão, e puxando o ar.

— Esta é uma universidade respeitável e reconhecida em todo o país, eu exijo que se comportem de maneira civilizada, e não como gorilas briguentos! — ele dizia.

— Ele me provocou... — começou Stephen.

— Cale-se! Você! — gritou para o segurança que havia finalmente chegado. — Leve-o daqui. Para minha sala, imediatamente! Tem sorte de não chamar a polícia.

O homem assentiu e foi em direção de Stephen. Segurou seu braço para levá-lo, mas Stephen soltou-se com um safanão.

— Teve sorte hoje — sussurrou perto de Ben, antes de seguir com o segurança.

Outro segurança juntou-se ao primeiro para escoltar Stephen, enquanto outros dois dispersavam o aglomerado de alunos. Ben se viu cercado de olhares e comentários enquanto tentava a todo custo respirar normalmente. A dor em suas costas no local da facada só aumentando, mas ele chegou a se esquecer dela por um instante, enquanto tentava controlar a respiração.

— Vamos, Sr. Solo, deixe-me ajudá-lo — o reitor ofereceu a mão para Ben, que aceitou prontamente, ficando de pé com dificuldade.

O corte nas costas doeu ainda mais quando ele se esticou e então voltou a se encolher, gemendo alto de dor. A camisa escura encharcada de sangue nas costas, bem abaixo de uma das costelas.

Rey permaneceu a uma certa distância, observando Ben ser ajudado pelo reitor; ele parecia estar recuperando o fôlego. Em um momento se encolheu e gemeu, e aquela distância, ela não podia dizer porque, talvez seu corpo doesse pela briga.

Eles trocaram um olhar, então. Ben pareceu esquecer sua dor novamente, quando viu que o momento de preocupação dela estava passando e agora que a briga tinha acabado, Rey queria se afastar de novo. E antes que ela pudesse vacilar, ela virou as costas e saiu em direção ao laboratório.

— Rey, espere! — Ben deu dois passos à frente, cambaleante, mas seu tom era desesperado.

Ela parou ao chamado dele, mas continuou de costas. Arfava e sentia vontade de chorar. Sentia-se fraca. Se se virasse e olhasse para ele, perderia a batalha entre seu amor e seu orgulho.

— Você me ajudou... Obrigado.

Sua voz soou próxima, e ela soube que ele havia se aproximado mais. Escutou ainda a voz do reitor falando com alguém ali por perto e soube que o homem tinha se afastado de Ben.

Respirou fundo e fechou os olhos. — Não! Isso não significa nada, Kylo Ren, eu só achei que você não poderia morrer sem pagar por tudo que fez.

— Está mentindo. — Sua voz era calma, porém, fraca.

Ela virou e lá estava aquele olhar que doía tanto. Ele olhava para ela, com a mão apertando algum lugar na lateral das costas, com o rosto contrito e uma expressão de dor.

— Como pode ter tanta certeza? — perguntou ela. Ou melhor, exigiu a resposta. Leu a minha mente?

— Não tenho mais esse poder, Rey... — Fez uma pausa, respirando e apertando os olhos. Sentindo dor. — E mesmo se tivesse... não seria preciso, afinal, seus olhos já me dizem tudo.

Ele deu um passo à frente. Tentou endireitar a postura, ignorando o corte. Nenhum dos dois notou as gotas de sangue caindo no chão.

— Fique longe de mim, seu monstro!

Ela continuou andando a passos largos, desesperada para sair da presença dele. Se ficasse mais tempo, fraquejaria com certeza.

— Rey! — ele gritou e ela correu, chorando. Não tinha percebido que ele fora ferido. Na verdade, nem Ben estava ligando muito para isso, mas porque ignorava sua dor por estar mais preocupado com ela.

Ele ainda tentou, mais uma vez, ir atrás dela, mas foi parado imediatamente pela figura sisuda do reitor, que parou bem à sua frente.

— Para onde pensa que vai? — Krennic perguntou irritado. — Não pense que está livre. Para a minha sala! Eu terei uma conversinha com você e o outro.

— Senhor... Ah! — gemeu mais alto, encolhendo-se. O reitor observou então a mão dele e onde ela estava, percebeu que estava ensanguentada.

— Por Cristo... Você foi esfaqueado! — Orson Krennic novamente arregalou os olhos, chocado.

— Aquele desgraçado... — gemeu entredentes.

— Rápido, precisa ir para a enfermaria imediatamente. Você aí! — gritou um dos seguranças. — Acompanhe esse rapaz até a enfermaria, por favor.

— Sim, senhor.

Ben assentiu, não vendo motivo para não obedecer.

— O show acabou, pessoal. — Sr Krennic começou a bater palmas e a balançar os braços, sinalizando para os que ainda insistiam em estar ali, observando. — Depois, leve-o direto até minha sala — ordenou ao segurança que escoltava Solo.

 

Enquanto caminhavam, já fora do estacionamento, Ben precisou enfrentar os olhares curiosos dos alunos pelo caminho por onde passava até a enfermaria, e até mesmo alguns deboches. Metade havia visto a briga e a outra metade já estava sabendo pelos outros. Certamente eles não esquecerão tão cedo daquela cena patética. Felizmente, no momento ele tinha algo mais urgente para se preocupar do que com as consequências daquilo, e um pouco de tempo para pensar.

No entanto, Rey tinha ido embora, tão rápido que nem notou o que havia acontecido com ele. Ainda assim, se não fosse por ela e sua atitude de ir atrás de ajuda, ele só poderia imaginar o que poderia ter acontecido. Seu coração anelava que aquela atitude fosse a prova de que de que ela ainda o amava e se importava com ele, ainda que estivesse confusa com as memórias recuperadas, e magoada.

 

A lâmina do canivete era curta, para o alívio de Ben Solo, pois, como confirmou o médico da enfermaria, o corte não era profundo. A ferida foi limpa e tratada, ele foi enfaixado e medicado. Ele deveria tirar as faixas em 24h, lavar com sabonete bactericida e não fazer esforço. Deram-lhe um atestado médico, caso precisasse faltar nos próximos dias. No entanto, Ben já se sentia muito melhor; ainda doía muito, mas não era insuportável.

Estava mais aliviado por saber que o desgraçado do Stephen, além de um burro por esfaqueá-lo com um canivete de lâmina curta, não havia conseguido cumprir seu intento. Ele poderia estar em maus lençóis agora.

Apesar da recomendação de ir para casa e descansar, e a angústia de seu coração desesperado, de estar louco para ir atrás de Rey e conversar com ela, Ben foi obrigado a seguir para a reitoria. Ele sabia que as coisas não estavam bem para o seu lado.

Encontrou Dopheld Mitaka do lado de fora da enfermaria, sentado no chão e escorado na parede. Quando o viu, Dopheld levantou-se de pronto, correndo até Ben.

— Ben! Meu Deus, o que houve? — perguntou. — Eu fiquei sabendo que você brigou com um cara da Medicina, falaram que você estava ferido e quase morrendo!

— Pelo visto a fofoca se espalha rápido por aqui, não é? — Ben apertou os olhos e respirou fundo. Sem dúvida, esse era um dos piores dia de sua vida. — Escuta, eu estou bem ferrado no momento, o Sr. Krennic exigiu minha presença na sala dele, e só depois eu vou para casa... Tem como você me mandar um resumo das últimas aulas para o meu e-mail?

— Claro, claro que sim. Mas, como você foi ferido?

— Agora não. Vamos, rapaz, o Sr. Krennic está esperando — disse o segurança que o acompanhou até ali, e ficou designado de levá-lo até a reitoria.

— Tudo bem. Toma, está aqui as suas coisas que você largou na sala. — Entregou-lhe a mochila, Ben a pegou e colocou-a com cuidado sobre o ombro direito, pois o machucado nas costas ficava na lateral esquerda das costas. — Depois nos falamos.

— Certo.

Sem mais opções, Ben seguiu o segurança.

[...]

O ar carregado na sala do Sr. Krennic aumentou a tensão de Ben. Ele estalava os dedos e tentava se ajeitar na cadeira, ele nunca soube muito bem o que fazer com as pernas longas demais para qualquer assento.

— Então, vamos lá! Qual o motivo dessa briga, senhores?

Stephen permanecia em silêncio fitando o reitor, Ben revirou os olhos nitidamente desconfortável com aquela situação.

— E então? Estou esperando. — Krennic alternava o olhar de um para o outro, nitidamente irritado.

Stephen imaginou que se aquilo fosse um desenho animado, estaria saindo fumaça pelas orelhas do homem. Chegou a sorrir da cena na sua mente, mas rapidamente disfarçou. Ben, ao seu lado, continuava bufando e inquieto como um touro bravo. Ele sempre foi de péssimo temperamento, isso nunca mudava, era impressionante.

De repente, Ben quebrou o silêncio tenso.

— Sr Krennic, fui eu quem começou. Peço desculpas, isso nunca mais irá se repetir. Posso ir embora agora? — Ben se levantou, pegando a mochila do chão e caminhando em direção a porta.

— Um momento, Sr. Solo! Por que tanta pressa? Eu não lembro de ter permitido que o senhor saísse!

— Por favor, senhor Krennic! Já está tudo resolvido. — Ben disse demonstrando irritação. Ele só não era mais inflexível que o homem sentado do outro lado da mesa.

— Não, não está! — levantou a voz e ficou de pé. Ele podia ser mais baixo que Solo, mas seu olhar era duro e penetrante, e de sabia usar muito bem sua posição de autoridade a seu favor. — Algo me diz que o senhor está mentindo.

Ben hesitou por um momento, apertando os lábios. Por fim, sentou-se. Só após isso, que o Sr. Krennic se sentou também.

— Sr. Huang, estou esperando.

— Problemas pessoais, apenas isso — Stephen respondeu secamente.

— Oh, mas que belo motivo para transformar o meu campus em um ringue! — ele disse, com um sorriso irônico. — Devo montar um palco para os senhores da próxima vez?

Stephen riu de forma debochada. E Krennic não gostou nada. Pela cara que fez, Stephen acabou se mantendo sério de novo, mas nunca sem deixar o olhar zombeteiro.

— Então, senhores, eu pensei que teria o prazer de ver dois grandes profissionais no mercado de trabalho. Mas de alguns meses para cá, ambos vem deixando de lado suas obrigações para com essa instituição. — Ele abanou a cabeça em desaprovação. — Sr. Huang mal vem as aulas e o Sr. Solo certamente tem algum problema com o Dr. Snoke, visto que praticamente não se fez mais presente em suas aulas. Gostaria de informar que, para nós, é uma honra que ele faça parte do nosso quadro de professores.

— Sr. Krennic, as coisas não são bem assim — disse Ben.

— Não, Sr. Solo! — atalhou Orson Krennic, levantando o tom de voz. — Elas são exatamente assim. Ouçam, ou vocês se dedicam ou eu pessoalmente fecharei as portas desse instituição para os dois. Fui claro?

Os dois assentiram. Krennic mostrou-se satisfeito. Encostou as costas no espaldar.

— Ah! — disse, desencostando-se da espaldar e levantando o dedo. — E mais uma coisa. — Fez um breve silêncio de propósito, para dar um ar de mistério. — Resolvam suas rixas pessoais do portão para fora. Não quero mais nenhum circo armado no meu campus. Entenderam?

Nenhum deles anuiu ou disse algo.

— Vocês entenderam? — perguntou com mais irritação na voz.

— Sim — responderam em uníssono.

— Muito bem. Então podem sair.

Ao deixar a sala do reitor, Ben foi, o mais rápido que sua condição permitia, ao estacionamento. Procurou pela Falcon, e logo descobriu que o carro não estava mais lá. Ele passava a mão no cabelo, andava em círculos. Estava com tanta raiva que nem se importava mais com dor alguma.

— Ela já foi pra casa. Por que você não dá um minuto de paz a ela? — ele ouviu atrás de si.

— Traidor — ralhou Ben para ele. A virada brusca em sua direção lançou uma pontada entre as costelas, bem onde havia sido ferido. Mas ele mordeu a bochecha para se segurar e não gemer. — Não tenho tempo pra suas bobagens agora! Preciso falar com a Rey.

— Isso! Vá mesmo! — retrucou Finn. A ironia em sua voz era mais do que clara. — Eu queria ser uma mosquinha para presenciar o tamanho do pé na bunda que você vai levar!

— Sai da minha frente!

Finn deu uma passada para o lado, estendendo a mão para o caminho, com uma elegância que beirava a teatral. Ben via que zombava dele com o gesto, ainda que estivesse com o cenho fechado. Mas não tinha tempo para Finn, então simplesmente passou por ele. Subiu na moto e acelerou.

***

Stephen marchou em direção ao seu carro. Ele precisava sair do campus o mais rápido possível. Sua adrenalina estava a mil e ele sabia do que precisava.

Sabia que tinha perdido o controle e partido para as vias de fato com Ben Solo, além de ter vomitado um monte de sandices pela boca, misturando o passado e o presente. Mas ele não se arrependia de nada. Bom, talvez de não ter uma lâmina bastante longa para golpear Ben Solo. O seu canivete o feriu muito superficialmente e isso o deixou muito frustrado. Não esperava vê-lo de pé tão rápido.

Mas não tinha sido de todo tão ruim. Fazer aquele maldito sangrar, mesmo que não mortalmente, amenizou um pouco a sua raiva. Mas não era o suficiente e ele sabia disso.

Enquanto dividia sua atenção entre olhar para frente e para a tela do celular, onde rolava pela lista de contatos à procura de um nome específico, ficava muito satisfeito sempre que via que as pessoas que por um acaso cruzavam com ele, mudavam sua rota, saiam da frente ou simplesmente passavam para o outro lado como se vissem um touro furioso numa arena.

Ao achar seu carro, ele levou o celular ao ouvido enquanto olhava para os lados, certificando-se de que ninguém o estava ouvindo.

— Alô?... É, sou eu. Ainda tem daquela?... É a concentrada... Certo, estou indo aí.

Ele jogou suas coisas abruptamente no banco de trás e notou quando sua arma letal e brilhosa caiu de sua bolsa. O mesmo canivete que usou para golpear Ben. A lâmina não era tão longa quanto gostaria. Era só um canivete, é certo, mas talvez seu erro não foi quanto à arma, mas como deveria usar ela e contra quem.

Talvez, pensou ele, alguém mais vulnerável, mais fraco fisicamente falando, e que odiava tanto quanto ou mais do que odiava Ben Solo, e diretamente na jugular, seria perfeito.

— Não foi dessa vez. — Ele apertou os olhos e sorriu diabolicamente enquanto segurava o canivete. — Você ainda vai me pagar por mais essa humilhação, cadela de Jakku!

Ele dobrou delicadamente o canivete e o guardou. Estava pronto para ir, mas antes mesmo dele dar a partida, escutou o bip do celular.

— Ah não, maldição! Porra! — Esbravejou ao ver a mensagem.

"Reunião às 16hs. Fraternidade."

***

 Ao entrar em casa, Ben certificou-se se seus pais não estavam. Chegando ao segundo andar, notou a porta do quarto de Rey entreaberta e resolveu olhar para dentro. Viu-a deitada na cama, virada de costas para a porta, encolhida.

Podia ouvir seus soluços.

Como doía vê-la assim, mais que o ferimento entre suas costelas, que, a propósito tinha voltado a sangrar com todo o movimento que fez até chegar em casa. Mas ver Rey sofrendo era mais doloroso que tudo e o pior é que era tudo culpa sua.

Rey chorava. O sentimento que nasceu de que toda sua vida foi uma mentira, um sonho, era desesperador. Sentia que, a qualquer momento, ela acordaria daquele pesadelo a bordo da Millennium Falcon com um Wookie gritando e cutucando sua testa. Um esboço de sorriso nasceu em seus lábios. Essa parte não era tão ruim.

Mas não conseguia esquecer os sonhos que cultivara menos de 24 horas antes. Como pôde ser usada dessa forma? Como ele conseguiu envolvê-la assim? Como Kylo Ren, ainda criança, já arquitetava esse plano para destruí-la? Seria isso possível? Uma criança? Com certeza seria capaz disso, a dúvida é resultado do seu coração irresponsável e ingênuo tentando justificar os atos do monstro. O mostro que amava... Deus! Como o amava...

— Imbecil! Como você pôde ter sido tão estúpida! — ela gritava consigo mesma. — Agora eu estou nas mãos dele!

Sabe Deus o que ele pretende. Algo terrível com certeza. Precisava agir. Ela se levantou, decidida a tomar uma atitude, não sabia qual, mas algo tinha de fazer. Ficar se lamentando não iria resolver nada. No entanto, ao se virar, Ben estava parado na porta, com os olhos tão vermelhos quanto os dela. Ele também chorava.

Kylo Ren chorando? Já tinha visto isso? Não tinha certeza. Talvez?

— Não se aproxime de mim, desgraçado! — ela berrou, afastando—se como se ele fosse a coisa mais repulsiva da Terra. E em verdade o era, para Rey, naquele momento, o ser mais repulsivo e monstruoso do mundo inteiro.

— Rey, por favor — ele implorou, tentando, em vão, aproximar-se dela. — Eu amo você!

— Ama? — Ela tentou dar uma risada sarcástica, mas o que saiu de seus lábios foi uma lamúria. — Você não sabe o que é isso.

Ele tentou se aproximar mas ela se afastou.

— Eu não vou permitir que você machuque a mim ou aos que eu amo!

— Rey, nem quando eu queria, quando éramos inimigos…

— Éramos... — ela pensou alto.

Ele fingiu que não ouviu. Continuou.

— Eu nunca fui capaz de machucá-la. O que te faz pensar que eu faria isso agora? — Seu olhar atravessava a pele de Rey, ela não conseguiu desviar. — Quantas vezes eu poderia ter te destruído tão facilmente, mas eu não o fiz. E mesmo nesta vida, quando você ainda era ignorante sobre o nosso passado, e eu não fiz nada que pudesse te machucar. E antes eu fui fraco, eu... — Ele levantou os olhos e fitou-a. — Como poderia atacar você? Eu deixava você me ver. Rey, eu preferia ser capturado ou até mesmo morto por seus amigos rebeldes do que ver você ser alvejada na minha frente.

O olhar de Rey ficou distante. Ben sabia que ela pensava no passado, e se perguntava se essas memórias lhe causavam também uma dor cabeça insuportável, como foi com ele no início, após despertar as memórias. Rey encarava um ponto específico na parede, mas ela não olhava de fato para lá. Mais lembranças surgiam em sua mente...

***

A Primeira Ordem conseguiu a localização da base da Resistência. Eles chegaram de surpresas e sitiaram no espaço aquele hemisfério do planeta, enquanto as tropas terrestres cercavam a base. A única opção era lutar.

A Jedi estava ali... Ao sentir sua presença, Kylo desceu até o planeta com sua nave.

Hux aguardava apenas um sinal para atacar. Ele odiava depender de Kylo. Achava uma perca de tempo descer até o planeta. Mas agora que ele era o Supremo Lider, havia decidido cuidar pessoalmente de assuntos relacionados aos remanescentes da Resistência, e ele não tinha escolha a não ser esperar.

Kylo ordenou que esperassem o comando dele, pois iria na frente para checar a informação. Hux rebateu que aquele era o lugar, que a base estava lá, porém, o Líder Supremo argumentou que poderia estar abandonada, que poderiam ter evacuado há pouco tempo, ou por sorte, ou por alguma traição, que os informara do ataque.

Com isso, ele foi na frente, sozinho, e deixou um Hux cheio de ódio para trás.

Rey estava na guarda principal, mas ela sabia que bastava uma ordem e toda a base seria atingida por tiros e depois os stormtroopers viriam caçar sobreviventes, apenas para matá-los de vez.

Haveria esperança? A maioria, ou melhor, todos ali diriam que não, mas Rey lutava para manter acesa uma fagulha de fé e se agarrava à esperança de que um milagre aconteceria.

Rey caminhava até o lado de fora da base. E quando o viu, ela parou e apertou os olhos. No primeiro momento, pensou que se tratasse da Força querendo pregar-lhe uma peça. Mas não. Não era uma visão. Ele estava em pé, parado com seu traje negro, porém sem a máscara. Esperava por ela. E ao vê-la, ativou seu sabre de luz.

— Jedi!

— Kylo Ren! — respondeu Rey. —  O que quer? Veio para nos matar? Sabe que não será fácil!

Era fácil. Ela sabia. As naves da Primeira Ordem não estavam muito longe dali. Mas não se daria por vencida. E a Rebelião ainda tinha cartas na manga.

Ele girou seu sabre de luz em volta de si.

— Veremos.

Ele desferiu um golpe contra ela que foi prontamente defendido. Com os sabres um contra o outro, a luz dos dois se misturava, formando uma só luz arroxeada. Por um segundo, essa luz refletida no rosto dele a fez pensar que o equilíbrio seria possível. Que podia salvá-lo. Quando os olhos se encontraram, ela não teve dúvida. Ben Solo estava lá dentro, em algum lugar pedindo socorro.

— Não têm que ser assim. Sabia disso? — ela implorou ainda com os sabres se tocando. — Ainda há luz em você. Eu vejo isso, vejo seu conflito.

Kylo tentou endurecer seu olhar, aumentar sua força. Até que sucumbiu. Largou o sabre que caiu no chão.

— Vão embora! Direi que não os encontrei. Eu deveria, mas não consigo te machucar.

Ela sorriu, estendeu a mão e tocou seu rosto.

— Estarei aqui quando estiver pronto.

Ele se afastou perturbado e foi embora.

 

***

— Isso não significa nada! — vociferou Rey.

— Não diga isso, por favor — Ben pediu. — Kylo Ren era um monstro na maior parte do tempo, mas havia luz nele. — Ele se aproximou mais um pouco. — Você viu, e ele também via, e isso o apavorava a ponto de fugir sempre que essa luz despertava! Ele era... eu era um idiota! Que vida maravilhosa poderíamos ter tido, sem as complicações que existem hoje. Eu perdi você inúmeras vezes e te ver morrer em meus braços... — Ele respirou fundo, de repente parecia que todo ar do quarto tinha desaparecido. — Não consigo lembrar de ter sentido dor maior.

Rey lembrava da ocasião, dos instantes antes de morrer... De seu antigo eu morrer, melhor dizendo. Stephen a havia relembrado horas antes. Quanto mais pensava, com mais raiva ficava.

— Eu morri por culpa sua! — gritou, afastando-se cada vez mais da cama e dele. — Se não quisesse todo aquele maldito poder, tudo poderia ter sido diferente!

— Eu sinto muito, Rey! — Deu choro se intensificou. Isso partiu o coração de Rey. Ela desviou o olhar, não suportava vê-lo assim, mas tinha que se manter firme. — E você tem razão sobre isso, eu fui um maldito tolo. Eu deveria ter ido com você...

— Você não podia ter se envolvido comigo sem me contar a verdade! — gritou Rey. — Isso foi baixo, foi sujo! Assim como tudo o que você faz!

— Rey, por favor, entenda! Como eu contaria uma coisa dessas? Você acreditaria? A única opção que eu tinha era tentar dessa vez fazer as coisas diferentes — disse ele, gesticulando. — Cuidar de nossos pais, amá-los como merecem e... — ele se aproximou e acariciou seu rosto rapidamente — fazer de você a mulher mais feliz do mundo, te dar tudo o que eu não pude no passado. Me redimir, ser melhor. Tenha certeza, mesmo Kylo Ren, depois que a sua Rey se foi, tentou se redimir, passou o resto daquela vida escondido, sozinho, sentindo sua falta.

— Vá embora, Ben! — como odiava se sentir mal por vê-lo chorar. Desgraçado! Consegue manipulá-la tão facilmente que chega a ser patético. Deu um passo para trás.

Ele respirou fundo, sentiu um começo de alívio ao ouvi-la falar seu nome. Quem sabe ainda não havia esperança?

— Talvez você se sinta melhor se conversar com alguém que confie sobre toda essa situação. Eu encontrei Maz Kanata. Conversei com ela.

Ela afastou o olhar confusa até que arregalou os olhos. Maz? Aqui? Seria possível? Ela não deu resposta nenhuma a Ben. Não daria esse gosto a ele.

— Talvez te ajude. Me ajudou quando lembrei de tudo.

Ele deixou o cartão com o endereço de Maz em cima do criado mudo e a deixou sozinha. Ben sabia que paciência seria essencial se quisesse reconquistá-la. Sendo assim, foi finalmente para o seu quarto. Estava machucado – em vários sentidos – e precisava descansar.

Rey voltou a deitar na cama. Tudo que queria era dormir, mas era impossível. Apesar de esgotada, sua mente não parava. Vida passada e vida atual se misturando com sonhos, sensações, estava ficando cada vez mais difícil distinguir o que era verdade. Olhava para a parede e a via riscada como no antigo AT-AT destruído que ela chamava de casa, e quando piscava os olhos de novo, tinha sumido e era a parede simples do seu quarto.

O celular vibrou em seu bolso então.

"Estou preocupado com você. Espero que esteja tudo bem... Ah, BB-8 está comigo. A Jess disse que era para você ter trazido ele para casa hoje. Posso levar mais tarde. Me avise. Finn"

Ela sorriu ao olhar a mensagem. Se espreguiçou e levantou. Olhou para o cartão que Ben havia deixado.

"Tomara que não seja um truque" — pensou.

Entrou no Falcon e resolveu arriscar.

***

— Palmas! Devo lhe parabenizar pelo show de hoje, Sniper — Hux cantarolou ao ver Stephen entrando. — O Supremo Líder ficou muito feliz com a briga de cães raivosos que você e seu mestre protagonizaram hoje no campus. Foi estupendo!

— Não enche o saco, Hux! — retrucou Stephen. — Hoje não estou com humor para suas brincadeiras.

— Muito menos o Líder Supremo! Seu idiota, acha que agindo por conta própria vai conseguir a sua tão desejada vingança? Vai acabar nos expondo e levando tudo que conquistamos para o buraco.

— Que eu saiba você não conquistou nada, Hux, tudo pertence ao Supremo Líder. Acorda! Você não passa de um capacho assim como eu... bastardo!

— Hora, seu... — Antes que eles fossem às vias de fato, foram interrompidos por Keaton, que se interpôs entre os dois e em seguida afastou o irmão para longe.

— Já chega vocês dois! — berrou ele. — Quantas vezes já falei que devemos manter a calma?

— Chegou então a Madre Tereza! — Stephen debochou. — Me diga, querido irmão, onde você estava quando precisei de seu apoio? Hein? Fala, Armory!

— Já falei que meu nome é Keaton! E eu, ao contrário de você cuido do meu presente e futuro — ele respondeu calmamente. — Estava em sala, estudando. Afinal é isso que se faz em uma faculdade e não suscetíveis tentativas de homicídio. Stephen, você o atacou com um canivete e quase o matou sufocado!

— Está com pena do Ren agora?

— Não, idiota! Estou preocupado com você! Não quero te ver preso ou até mesmo morto novamente. Precisamos ter cautela!

— Ah, por favor, Keaton!

— Sim ele tem razão.

Os três se viraram imediatamente ao som da voz de Snoke.

— Supremo Líder! — falaram juntos.

— Perdão, eu tentei controlar a situação, mas o Sniper está fora de si — Hux tentava se explicar.

— Pelo que vejo, não é apenas ele que está descontrolado, general!

— O senhor está afogado em sua soberba, o Sr. Keaton em sua displicência e Sr. Stephen em sua inconsequência. Isso sem mencionar as drogas.

— Stephen, você voltou a usar? Não acredito! — Keaton foi interrompido por Snoke.

— Senhores, a situação é preocupante. — Snoke sentou-se sobre a poltrona próxima à janela e cruzou as pernas, mantendo seu olhar gélido e penetrante sobre os três homens diante dele. — A jovem Rey recuperou a memória. Estamos todos vulneráveis. Talvez levasse um certo tempo até ela fazer essa ligação entre passado e presente, mas o Sr. Sniper aqui — apontou para ele com um gesto lânguido da mão — pateticamente nos fez o favor de apressar as coisas.

— Supremo Líder! Dificilmente ela reconheceria o senhor! Ela não o associaria à Primeira Ordem!

— Até porque a Primeira Ordem já não existe, não é mesmo, Sr. Hux?

— Claro! O senhor tem razão — Hux respondeu baixando a cabeça.

— Hux, eu vejo que sua sede de poder permanece intacta. Mas para alcançar o que tanto deseja é preciso se ter...

— Cautela, sim, eu sei...

— Inteligência, Hux!

— Bom, podemos usar esse retorno de Rey de Jakku a nosso favor — Snoke continuou. — Certamente o jovem Ben Solo ficará cada dia mais perdido e solitário. Duvido que ela esqueça facilmente o quão horrível seu irmão foi com Han Solo e com seus amigos rebeldes. Também já estou conseguindo ótimos resultados com minhas técnicas de persuasão. — Ele sorria satisfeito. — Em breve ele estará ao meu lado novamente.

— E então senhores, teremos nossa vingança! O supremo líder irá reduzir o Ren a poeira cósmica! — disse Hux.

— É claro, general, os senhores terão o que lhes foi prometido.

— Longa vida ao Verdadeiro Supremo Líder! — Hux bradou sendo seguido por Stephen. Keaton repetiu de maneira discreta.

***

 Ao chegar ao lugar, Rey teve a impressão de estar indo a uma cartomante ou numa daquelas tendas de parque de diversões onde uma cigana tentaria ler a sua sorte numa bola de cristal. A diferença é que o local era muito mais elegante e aconchegante. A sala de espera parecia-se um pouco com a de uma clínica, com a diferença de que ela não veria uma médica.

Já tinha se convencido, por tudo à sua volta, desde a decoração até o incenso queimando, de que Maz devia ser uma médium. E pelo que se lembrava de quem foi Mas Kanata há muito tempo, naquela longínqua galáxia, isso era bem a cara dela. Se fechasse os olhos e se concentrasse, veria claramente a pequena mulher subindo na mesa para perscrutar Finn depois de discursar sobre a luta contra o Lado Sombrio que se personificava na Primeira Ordem.

Pensando melhor, ela agora até acharia engraçado, se não estivesse com outras questões mais importantes e preocupantes.

— Com licença — disse Rey, achegando-se no balcão e se dirigindo à mulher posta atrás dele. Ela folheava uma revista, mas ao vê-la, fitou-a com toda a atenção e cordialidade, com um sorriso no rosto. — Por favor, eu preciso falar com Maz Kanata.

— A senhorita tem hora marcada? — perguntou a mulher.

Ela fez uma careta e passou a mão na cabeça.

Não sabia da existência daquele lugar até meia hora atrás. E nem poderia imaginar que Maz estivesse reencarnado ali também.

— Bem, meio que é uma emergência. Eu preciso muito...

Nesse momento, a porta do que deveria ser o escritório da médium se abriu e uma mulher saía.

— Elisa, você poderia... — dizia, mas parou a frase assim que pôs os olhos sobre Rey.

Lá estava ela. Ninguém menos do que Maz Kanata. Uma senhorinha baixinha, negra, embora sua aparência fosse bem mais humana do que se lembrava, Rey a reconheceu imediatamente. Ela arregalou aqueles olhos pequenos atrás dos enormes óculos redondos.

— Rey Solo! — ela exclamou. E ficou óbvio que ela a reconhecia e também se lembrava de tudo.

Rey respirou fundo e a abraçou. Maz não era tão baixa quanto seu outro eu e Rey não precisava se ajoelhar para fazer isso.

Ela podia dizer muitas coisas, perguntar muitas coisas. E tudo era relevante. Mas no momento, tudo se resumia em uma única pergunta:

— O que está acontecendo, Maz?

E como Maz parecia ter compreendido, segurou a sua mão e disse:

— Vamos entrar, menina. Elise, cancele todos os meus compromissos para agora. Isso é importante.

Rey a seguiu até sua sala. Sentou-se na poltrona indicada pela anfitriã, Maz se aproximou dela. Não disse nada. Apenas a analisava.

— Maz? — Rey indagou confusa. Sentia-se como um experimento sendo observado com muito interesse pela outra mulher e isso era, com toda certeza, muito desconfortável. Ela ainda estava muito confusa e perdida. Só se lembrava de tudo há o que? Doze horas? Um pouco mais? Por Deus!, nem se passara um dia completo.

— Isso não deveria ter acontecido. — Maz chacoalhava a cabeça. Sua dedução parecia muito óbvia para si mesma, mas não fez nem um sentido para Rey. A que ela se referia? Mas antes que Rey pudesse questionar, Maz a interpelou: — O que você viu, menina?

Rey abaixou a cabeça e fechou os olhos. O que ela viu? Muitas coisas, desde que despertara para a plena consciência de quem foi. E ainda estava recordando muitas coisas com o passar das horas. Ainda havia muitas lacunas na sua cabeça e momentos em que o passado e o presente se interpunham um sobre o outro, porém, ao que parece, sua memória estaria plenamente estabelecida em poucos dias.

Pensou sobre o que responder a Maz. Ela ainda aguardava uma réplica. Resolveu começar, é claro, pelo começo. Isto é, pelas primeiras lembranças que voltaram quando ela acordou e tudo havia mudado completamente.

— Eu vi a nave em Jakku — começou ela. — Vi Han e Leia morrendo, me vi morrendo... — Ela levantou os olhos. Estavam úmidos. — Vi Kylo Ren.

— Isso é incomum — ela balançou a cabeça, insatisfeita. — Mas eu devia ter previsto que aconteceria. Deveria imaginar que você também retomaria sua consciência do passado. Tentei tanto tranquiliza-lo que me distraí.

— Tranquilizá-lo? — Rey vincou as sobrancelhas.

— Sim. O Ben. Ele me procurou. Primeiro assustado com as lembranças, depois desesperado com suas visões. — Ela segurou a mão de Rey. — Ele estava com tanto medo que você o odiasse de novo.

Rey se levantou exasperada.

— Sério que você está do lado dele? Não acredito nisso! Sou eu quem precisa de ajuda Maz, não ele! Aquele desgraçado me manipulou. Se você soubesse as coisas que ele me fez fazer...

— As coisas que ele fez você fazer? Tem certeza?

Rey respirou fundo mas não respondeu. Sabia que ela tinha razão. Não era mais uma garotinha, sabia muito bem o que fazia. Ainda assim, virou-se para não mostrar a ela que suas faces tinham corado um pouco. A pergunta de Maz deixava subentendido que ela sabia de alguma intimidade entre os dois, e como a possibilidade de Ben ter lhe contado era totalmente desconsiderada, só podia concluir que a mediunidade da mulher era mesmo tanta que podia saber isso só em olhá-la.

E isso a deixava com a estranha sensação de ser um livro aberto. E ela não gostava disso. Também havia a opção de Maz ter apenas atirado no escuro para testar uma teoria e a atitude de Rey apenas a confirmou.

— Eu creio que Ben Solo lembrou daquela vida porque agora ele tem todos vocês próximos a ele — Maz continuou, deixando a outra pergunta de lado. Para o alívio de Rey, que pôde virar-se novamente para ela. — Agora ele pode consertar as coisas. E é óbvio que você também se lembraria. Não pensei nisso porque achei que a ligação que existe entre vocês estava se enfraquecendo. Isso explicaria o fato de vocês serem irmãos. Vocês nunca foram irmãos antes, nunca. Isso sim é um mistério.

Rey a olhou com cara de interrogação. Do que era que ela estava falando?

— Você sabe que existe uma ligação especial entre vocês, não sabe? — Maz perguntou, como se fosse óbvio.

— Ligação? — Rey tentou dar uma risada irônica, mas saiu fraca e forçada. — Só se for ligação de ódio! Aquele maldito nunca me trouxe nada de bom!

— Você realmente odiava Kylo Ren tanto assim?

Essa pergunta não podia ter doido mais.

— Odeio! — ela gritou desesperada. Era a primeira coisa que pensou em dizer e queria ter um pouco mais de certeza sobre isso. Mas estava muito magoada e irritada.

— Tem certeza? — Maz, ao contrário, estava irritantemente calma.

— Ele destrói tudo o que toca! — ela refutou. — Destruiu tudo o que eu amava! Matou Han! É um monstro!

— E mesmo assim você o ama...

Rey levantou os olhos e olhou para Maz com raiva. Como ela ousa? Ela quis despejar sobre ela uma lista imensa de insultos e dizer coisas imbecis que com certeza se arrependeria imediatamente após fechar a boca. Mas não conseguia. Não podia, porque ela estava certa.

— Você não o odeia, Rey. Não consegue.

A expressão de Rey passou de raiva para de dor. Ela estava certa. Amava-o com todo o seu coração e toda a sua alma. Odiava o fato de amá-lo tanto, mas o amava com tanta força e com tanto ardor, e o amou por tanto tempo, que seu peito doía, sua alma se dilacerava e seus olhos enchiam-se de lágrimas como se ela própria pudesse transbordar por elas. E Deus sabe como ela queria que o seu amor por Ben fosse embora naquelas lágrimas quando as chorasse. Mas era tolice querer isso. Era impossível.

— Isso não é justo. — Suspirou, incerta se já tinha começado a chorar ou não, mas sentia-se tremendamente cansada.

— Isso não tem nada a ver com justiça, menina. — disse Maz. — Tem a ver com a ligação que existe entre vocês. Vocês lembraram dessa vida especificamente porque foi quando essa ligação nasceu. Por causa do grande poder que os dois tinham, na união de vocês a Força encontrou o equilíbrio, e, a partir disso, vocês se tornaram um só. É por isso que você não consegue odiá-lo. Ele é você Rey.

— Isso é ridículo! — ela balançava a cabeça e andava de um lado para o outro na sala. — Quer dizer então que eu não tenho escolha a não ser me unir a ele?

— Você tem escolha, Rey. Mas escolher se afastar dele só vai causar sofrimento desnecessário para vocês e sua família. Busque seus sentimentos. Você sabe que ele não tem a mínima intenção de fazer mal.

— Meus sentimentos não estão muito confiáveis ultimamente... — murmurou com amargura.

— Quando se trata de Ben Solo, seus sentimentos sempre estarão corretos. Ele é incapaz de enganar você, seria como enganar a si mesmo.

— Não sei se acredito nisso...

— Bem, a escolha é sua. — Maz levantou-se. Mas medite sobre isso, Rey. Você vai ver que eu tenho razão.

Rey respirou fundo. Passou a mão no rosto e descobriu que não tinha chorado. Talvez porque ainda estivesse em choque ou porque sua raiva era maior.

— Agora, vá pra casa. Nada que uma bela noite de sono não concerte. Amanhã você vai se sentir melhor. E, qualquer coisa, pode me ligar.

Maz abriu a porta e Rey foi embora se perguntando se realmente podia levar a sério o que aquela senhorinha estava dizendo. Quantos anos deveria ter? Já deve estar caducando... Mas, lá no fundo, seu coração pedia para que ela lhe desse ouvidos. Para que ela voltasse para Ben. Mas não podia fazer isso. Não podia permitir que aquele maldito entrasse em seu coração de novo, na verdade, o trabalho agora seria arrancá-lo de lá.

“Ligação, uma ova!” — pensava. — “Ninguém controla meu destino. Escolho viver por mim mesma. Não preciso estar atada a uma pessoa que só me fez mal.”

***

Ben decidiu passar uns dias com Mitaka. Talvez fosse melhor dar um tempo a ela. E se ela não o perdoasse... Bem, talvez fosse a hora de procurar outro lugar para morar mesmo. Logo precisaria de um lugar apenas para si, sair da casa dos pais.

Assim que chegou em casa, encontrou sua mãe jantando sozinha na cozinha.

— Oi, filho! — ela exclamou, sorrindo ao vê-lo. — Senta aqui comigo!

— Oi mãe! — Ele deu um beijo no alto da sua cabeça. — Onde estão todos?

— Seu pai ainda não chegou e Rey está no quarto — respondeu. — Ela chegou agora há pouco. Não disse aonde foi, mas saiu bem angustiada e voltou mais calma. Preferi deixar ela quieta. Mas você bem que poderia me explicar o que ela tem, não é?

Ben respirou fundo. Não sabia o que dizer para a mãe. Pensou em retrucar com algo infantil como “E eu por acaso sei que bicho mordeu ela?”, porém, estava claro que sua mãe já sabia que ele tinha algo a ver com Rey estar tão amuada.

— Por que vocês brigaram de novo? — perguntou, confirmando os pensamentos dele.

Novamente ele quis responder com algo infantil, mas não fez isso.

— Ah, é complicado — suspirou. — Acho que é porque somos tão iguais que a gente acaba se estranhando às vezes.

— Não acho que vocês sejam tão iguais assim, não — respondeu. — Pelo contrário. Rey é um raio de sol, você é a luz da lua...

— A semelhança é mais profunda... — pensou alto.

— Como?

— Nada não, mãe.

— Tem algum namoradinho no meio não tem? Eu sinto o cheiro dessas coisas...

— De certa forma, sim. — Ben corou, aquele era um território perigoso. Não devia dizer muita coisa para a mãe, pois sabia que ela insistiria mais no assunto até ele quase se comprometer. Era melhor não arriscar. — Mas prefiro não entrar em detalhes sobre isso. Melhor que ela lhe conte, se quiser. Mas eu acho que é melhor dar um tempo para ela.

Hm. Você pode estar certo — ela anuiu. — Bom, e como você passou o dia? Ficou fora o dia todo também.

Ben achou que era melhor que a mãe fosse a primeira a saber, e que soubesse logo, que ele estaria saindo de casa por um tempo.

— Mãe, vou passar uns dias no apartamento do Mitaka. Quem sabe eu não me mudo de vez. Acho que já tá na hora.

— Nunca vi necessidade de vocês saírem de casa — ela disse com certa tristeza. — Eu preferia ter você aqui.

— Acho que pode ser melhor assim — respondeu Ben. — Pelo menos por um tempo. Rey precisa de espaço também, ter um irmão chato no pé dela o tempo todo não deve ser fácil.

Leia riu. Abraçou o filho.

— Você é o homem da minha vida sabia? Te amo tanto!

— Achei que fosse o Han...

— Ele também! Mas você é meu preferido!

— Eu também amo você mãe! — Estava emocionado. A opinião da mãe a seu respeito era mais importante do que ele era capaz de medir. E era um alívio saber que ela o amava, em meio a tudo que estava acontecendo, ele nunca perderia o amor de Leia. — Nunca duvide disso! — Deu outro beijo nela, dessa vez na bochecha e então se afastou. — Vou arrumar minha bolsa.

— Vá, querido! Não deixa de me mandar notícias, está bem?

— Claro que não.

Ele saiu da cozinha então, e ao vê-lo se aproximando, Rey – que estava na escada ouvindo tudo – subiu correndo, mas não o suficiente para não ser vista.

— Rey!

Ela não respondeu, mas seu olhar era um misto de desespero e raiva. Como gostaria de ser capaz de odiá-lo.

Simplesmente deu meia volta e entrou no seu quarto batendo a porta atrás de si.


Notas Finais


Mais um capítulo baphonico! Segurem os corações!


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