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História What to expect (When you're expecting) - Something you can't deny


Escrita por: FuckingSwen

Notas do Autor


Voltei! Eu meio q ja tinha o segundo cap pronto hehe
ADOREI OS COMENTARIOS <3 Obrigada por todos os elogios!!!

Bom, eu sei que muita gente ficou nervosa kajsdnakjdnajkdn eu sei q vcs querem q a Kara conte pra Lena sobre o bebe, e tbm querem q a Kara conte q é a Supergirl e tals, mas gente... nem se iludam ne? Isso n vai acontecer agora e sabem disso.

Alias, muita gente taca pedra na Kara por causa disso e olham so pras dores da Lena, mas porra a Kara perdeu um planeta inteiro, os pais, os amigos e todo mundo, então tentem olhar pras dores dela tbm.

Essa fanfic vai ser tanto karlena como supercorp, porém... um só deles terá mais foco hehehe descubram!

Boa leitura e aproveitem!

Capítulo 2 - Something you can't deny


Depois da fase do descobrimento vem a fase da aceitação, ou da negação, dependendo de como você reage com a primeira notícia. Para aqueles que sempre planejaram ter filhos, a descoberta de uma gravidez vem sempre a calhar, sendo surpresa ou não, esperado ou não. Para cada mulher, a fase da aceitação é sempre um processo diferente. Tem aquelas que surtam de imediato, saindo para contar a todos sobre a novidade. Tem outras que ainda ficam pensando se aquilo pode ou não ser verdade, mas que depois da confirmação, a alegria é certa. Porém, existem aquelas que não sabem como reagir e os motivos para tal são diversos.

Primeiro: você não esperava, do tipo realmente não esperava. Sendo casada ou não, nem sempre o desejo de se ter filhos é algo claro ou uma pauta que se foi discutida, e a chegada de uma criança muda completamente todos os planos. Segundo: não foi planejado e não se é casada com o pai. Essa situação até de longe é a mais complicada. Um mulher é perfeitamente capaz de criar um filho sem a presença masculina em sua vida, no entanto, mesmo rejeitando a ajuda do pai, a notícia nunca é tão bem vinda. Terceiro: não foi planejado, não se é casada e não se quer ser mãe. Bom, é aí que as decisões se tornam mais sérias. Não que as outras não sejam, porque tudo que envolve a vida de outra pessoa é sim difícil. A verdade é que nem todas as mulheres querem ser mães e isso é perfeitamente normal. Mas e quando isso acontece?

Então existem duas opções bem óbvias: aborto ou adoção. Aborto é uma questão particular, cada um decide sobre o seu corpo e a mãe merece nada menos que respeito e apoio. Adoção é uma questão também particular e exige uma maturidade imensa por parte da progenitora. De qualquer forma, abrir mão de alguém que se está gerando nunca será uma decisão fácil. E ninguém pode te julgar por isso. Apesar de haver bem mais casos diferentes, como por exemplo a situação onde não se pode ser mãe por não ter condições de criar, essas fases são totalmente díspares para cada caso e para cada mulher. Lena estava ainda descobrindo sobre como seria sua reação até sua ficha cair.

Sua primeira fase pós descobrimento foi a negação, com toda certeza.

***

Lena passou a manhã toda adiantando o trabalho acumulado dos dias que faltou e Jess ficou aliviada por vê-la um pouco melhor, mais corada e animada. As pilhas de papéis escondiam a superfície da mesa, já tinha perdido as contas de quantas xícaras de café havia tomado e seu cérebro se recusava a esquecer o assunto gravidez. Inferno. Era cansativo remoer e remoer o mesmo tópico várias e várias vezes, sem contar que ela precisava se concentrar, precisava manter o foco. Kara havia garantido que não tinha problema nenhum em ela estar grávida do ex namorado alien dela. O que ainda soava muito bizarro. Não sabia o que era pior: estar grávida, estar grávida do ex namorado da melhor amiga ou estar grávida de um cara que é um alien.

Pagaria muito para ver a cara da sua mãe quando descobrisse, mas óbvio que não contaria. Claramente que logo a mídia descobriria, não tinha como esconder uma gravidez, a não ser que ela se mudasse temporariamente para um lugar mais afastado. Isso parecia uma ótima ideia. Talvez, depois que sua barriga começasse a crescer, Lena pedisse um afastamento da L-Corp, deixando seu CFO responsável pelos assuntos mais urgentes e reuniões presenciais, enquanto ela passaria a gerenciar a empresa de algum outro lugar. Talvez essa fosse a melhor opção para escapar dos tablóides.

Bufou. Como ficaria seu corpo depois de nove meses? Nem queria pensar. E também não ia admitir que havia se olhado no espelho umas quatro vezes hoje antes de sair para o trabalho. Já estava soando como uma paranóica, a criança sequer tinha tamanho para ocupar um espaço grande. Aliás, ela deveria chamar de criança, bebê ou feto? Qual a terminação correta? Que seja, não podia se apegar a ela, não podia criar sentimentos e quando se nomeia, você cria afeição. Então essa era a fase da negação. Negar a si mesma que estava grávida de verdade, negar que poderia ou que queria ser mãe, e negar que talvez nem tudo fosse tão ruim como parece.

Ao fazer uma pausa para ir ao banheiro, a Luthor escutou o típico barulho em sua sacada.

— Supergirl — virou-se e sorriu um pouco mais relaxada— Kara me disse que viria.

— Você está bem? — a heroína perguntou preocupada — você me parece abatida.

— Eu estou bem e agradeceria se não dissesse a ninguém sobre minha aparência — falou na defensiva. Agora todo mundo deu para notar sua indisposição? — creio que já deva saber das “novidades” — ironizou e observou a reação da garota de aço.

— Na verdade… — a loira agarrou a barra da capa e abaixou o olhar, se parecendo muito com a Kara do dia a dia — eu estou aqui por isso.

— Vai assumir meu filho? — debochou, arqueando a sobrancelha e cruzando os braços. Supergirl ficou sem reação — estou brincando. Sente-se — indicou o sofá — aceita algo para beber? — perguntou ao alcançar um copo de água, mas a loira negou — certo, estou ouvindo.

— Primeiro, queria dizer que sinto muito que tenha passado por tudo… isso, com a Rhea — começou, tentando manter a postura — queria poder ter percebido antes, ter ajudado ou impedido que ela a levasse para a nave. Talvez… talvez você não estivesse agora tendo que lidar com uma gravidez indesejada — suspirou. Lena analisou cada expressão da mulher ao seu lado e escutou cada palavra com cuidado. Obviamente que ela já sabia da gravidez, mas como? Teria a heroína contado para Kara sobre esse assunto?

Oh, agora fazia sentido sua melhor amiga não ter reagido pessimamente como esperava. Kara já sabia.

— Talvez — respondeu ríspida. Sua raiva veio à superfície ao entender que a Supergirl havia contado algo tão íntimo dela para sua melhor amiga —, mas agora esse é um assunto que diz respeito apenas a mim e a decisão é só minha — foi seca.

— Temo que esse assunto seja nosso — murmurou. Lena novamente arqueou a sobrancelha.

— Como é que é?

— Existe algo que precisa saber e é por isso que eu vim — ficou mais ereta no sofá e bufou — em Krypton era comum usarmos inseminação ou incubadoras para gerar uma nova vida. Os casais que não eram capazes, biologicamente, de se reproduzir acabavam buscando essa alternativa, pois assim seus filhos ainda seriam 100% geneticamente compatíveis — explicou — não necessariamente era preciso das células sexuais, a tecnologia do lado de fora é incomparavelmente mais avançada do que a da Terra e como eu era… muito nova quando tive que partir, não saberei te explicar os conceitos técnicos — confessou.

— Ok, e onde quer chegar com isso? — perguntou seriamente — se puder ir direto ao ponto, eu agradeceria.

— Certo — respirou fundo, buscando uma coragem inexistente — Rhea queria que Daxam tivesse um herdeiro e para isso precisava de uma princesa, que seria você. Mas os planos dela estavam muito perto de dar errado e por isso a rainha tomou essa decisão de criar uma criança sem a sua… er, permissão — isso estava mais difícil do que pensava — quando entrei na nave para resgatá-los, escutei Rhea gritar com um dos responsáveis pelo laboratório e ela dizia sobre a sua gravidez.

— O que ela disse? — seu estômago revirou dentro de si. Merda.

— Disse que havia extraído o DNA do seu sangue e que usou um fio de cabelo do Mon-El, era o que ela acreditava, pelo menos — riu sem graça — acontece que… que o fio de cabelo que tinha na camisa dele não pertencia a ele…

Ok. Aquela informação foi um pouco demais. Lena não estava entendendo mais nada e toda a situação, que já era confusa, estava ficando cada vez mais embaralhada. Então ela não estava grávida do daxamita? Quem seria o pai dessa criança? Subitamente, sua mão pousou sobre seu ventre e o pânico voltou a se fazer presente. Não tinha certeza se queria continuar ouvindo o restante da história.

— E de quem era? — perguntou desesperada — quem é o pai dessa criança?

— Não existe um pai — sorriu sem graça — existe uma outra mãe.

— Eu preciso de uísque — levantou-se depressa, com as pernas trêmulas e serviu-se rapidamente de uma dose. Respirou fundo algumas vezes, tentando manter seu almoço ainda dentro do estômago. Havia uma outra mãe e não um pai. Uma mãe — a quem pertencia o outro DNA?

— A mim — confessou sem levantar o olhar e quando menos percebeu, a morena correu para o banheiro e ajoelhou, apoiando-se na patente de porcelana da privada — Lena! — levantou-se apressada para ajudá-la.

—  Não encoste em mim! — bradou com raiva. Sua força se esvaiu aos poucos e ela se condenou por estar chorando mais uma vez — como… eu…

— Eu sinto muito, Lena, sinto muito mesmo — murmurou chateada, não esperava aquela reação e sequer podia tocar na amiga naquele momento — não queria que fosse assim… — a morena riu irônica. Óbvio que a heroína não queria, aliás quem iria querer ter um filho com uma Luthor?

— Me deixe sozinha — pediu ao levantar-se e lavar o rosto. Se tinha algo que ela aprendeu, era que um Luthor sempre mantém sua postura, não demonstra fraqueza e nem permite que os outros sintam pena.

— Lena…

— Me deixe sozinha! — quase gritou — eu posso estar esperando um filho seu, mas nós não seremos mães. O que espera de mim? Que eu te dê os parabéns? Bom, parabéns, você vai ter um filho e caso queira ficar com ele, presumo que vá ter que arranjar um emprego menos agitado e perigoso como esse que tem — desamassou a saia e ajeitou o cabelo, não se permitiria fraquejar, não na frente da heroína da cidade — essa criança não vai carregar o meu sobrenome ou o seu, seja ele qual for. Eu sequer sei o seu nome, então não haja como se nós fossemos criá-la como um casal feliz. Não somos um casal.

— Eu sei que não — murmurou. Seu coração doía pela mentira e dentro de si ela se perguntava se, caso ela tivesse dito que o bebê era da Kara, Lena reagiria melhor. Não conseguia entender como a CEO podia amar a repórter e apenas admirar a Supergirl, geralmente as pessoas faziam o contrário — só queria que soubesse a verdade e que talvez isso diminuísse a culpa de estar grávida do ex namorado de sua amiga.

— Bom, não diminuiu e nem melhorou nada — falou ao sentar-se na cadeira atrás da mesa — e se permite, tenho trabalho a fazer.

— Não precisa passar por isso sozinha — insistiu — a gente pode…

— Podemos o que? Cuidar juntas? — riu desacreditada — iria comigo nas consultas vestida de Supergirl e deixar todos descobrirem que uma Luthor carrega a sua criança? É isso que quer? — seu tom era duro e a CEO sabia bem o porquê daquela raiva, daquela angústia — ou vai finalmente me dizer o seu verdadeiro nome?

Nada. Supergirl não foi capaz de responder nada, pois a verdade era que Lena tinha um ponto e ela tinha apenas desculpas. Doía como o inferno não contar para a melhor amiga sobre sua identidade secreta, guardar um segredo desse tamanho era custoso e um fardo que jamais desejaria a outra pessoa. Mas seu medo sempre falava mais alto e a loira sempre recuava. Amava demais a Luthor para deixar que algum mal acontecesse com ela.

— Foi o que pensei — Lena falou decepcionada, sem saber ao certo porque. Por fim, ao perceber que o silêncio continuaria, resolveu finalizar aquela discussão — passar bem, Supergirl.

Kara hesitou antes de dar a volta e ir para a porta de vidro da sacada. Antes de sair, ela fez apenas um pedido.

— Deixe Kara te ajudar. É só o que eu peço.

— Tenha um ótimo dia — foram suas últimas palavras.

***

A CEO jamais se permitiria chorar se fosse em outra ocasião, jamais deixaria que seus muros fosse destruídos dessa forma, fazendo seus pesadelos virem à tona. Ela não estava brava com a Supergirl, ou com o fato de que não era digna de confiança — mesmo carregando o filho dela no ventre — para saber seu nome, até porque a loira nem tinha culpa alguma e não era obrigada a dizer-lhe a verdade a uma Luthor. Foi tudo um terrível e péssimo mal entendido. Porém não se deixaria abater e ser tratada como uma donzela em perigo. Ela estava grávida e não doente, não precisava da compaixão ou da piedade das pessoas. Se fosse ser inteiramente sincera consigo mesma, Lena preferia muito mais estar grávida de alguém tão justa e correta como a garota de aço, do que de um príncipe egoísta, mas o maior problema era que a Supergirl ainda estava na cidade. Caso o bebê fosse do Mike, ele pelo menos estava fora do planeta e sabe-se deus lá onde. Seria mais fácil de lidar, pois não teria a opinião de ninguém.

Mas não, a criança que crescia no seu ventre era da kryptoniana e seria metade alien, como a outra mãe. Mãe. Que piada, pensou consigo. Seria um sonho perfeito, estar num relacionamento com uma mulher como essa, alguém que salvava o mundo diariamente e que fosse o símbolo da cidade. Um Luthor e uma Super. Riu sozinha e rolou os olhos. Isso jamais aconteceria, primeiro porque em mundo nenhum as pessoas aceitariam esse fato, Luthors não foram feitos para amar, principalmente aliens. Principalmente os Supers. No entanto, o karma é um filho da puta e o destino gosta de brincar com a vida dos outros, por isso agora ela estava sentada no chão do banheiro, pensando em como resolveria essa bagunça e em como ignoraria a dor que crescia no seu peito.

Ao lembrar-se de Kara, ela conseguia ainda sorrir um mínimo possível. Fazia sentido agora a reação dela, claro, Lena não estava grávida do seu ex namorado. Óbvio que caso fosse o contrário a loira já teria ido embora, teria ficado extremamente chateada e machucada. A morena não sabia o que a incomodava mais, se era o fato de sua melhor amiga ter reagido tranquilamente por saber a verdade ou se era o fato dela querer insanamente saber como Kara se sentiria caso o bebê fosse do Mike. Devia estar ficando louca, resmungou no escuro. A loira jamais se apaixonaria por alguém como ela, grávida ou não, esperando um filho do ex ou da heroína. Seus sentimentos ainda latejavam no coração e ela os enterrava cada vez mais fundo.

Ao levantar-se e encarar a tela do celular para ver as horas, ela notou que havia ficado sentada por pelo menos quarenta minutos. A L-Corp a essa hora já estava vazia, a maioria dos funcionários havia ido para suas casas e Jess também tinha sido dispensada. Lena caminhou até o bar e retirou sua melhor garrafa de vinho, uma que guardava para ocasiões especiais, mesmo sabendo que nunca ocorreriam. Sentou-se em sua cadeira, a virando para a enorme parede de vidro e suspirou. A cidade continuava viva do lado de fora, a lua deixava o chão da sacada pintado de um branco pérola e não uma havia uma simples nuvem sequer no céu.

Uma noite perfeita. Perfeita para se estar sozinha.

Serviu sua taça e depositou a garrafa no chão. Ao sentir o cristal tocar-lhe os lábios, seu subconsciente reagiu, mais rápido do que esperava. Grávidas não podiam tomar bebida alcoólicas, ela sabia disso. A diferença era que Lena não se importava, não ainda.

— Desculpe por isso — murmurou, passando a mão pelo ventre — não posso ser quem você quer que eu seja, mas prometo encontrar a família ideal. Com uma mãe que vai te amar e pessoas que vão te ensinar a ser alguém bom, justo e correto — como sua outra mãe, pensou em silêncio — me desculpe…

A morena tentou mais uma vez botar a taça nos lábios e sentir o doce do vinho escorrer na língua, porém mais uma vez algo dentro de si a fez parar. Droga. Como podia estar assim tão mexida e envolvida com alguém que sequer conhecia?

— Você mal nasceu e já está me dando trabalho — resmungou, deixando a bebida de lado e se preparando para finalmente sair da sala para ir para casa — e eu não acredito que estou falando com a minha barriga — sorriu sem graça. Pegou a bolsa e ligou para o motorista em seguida, precisava se alimentar ou melhor, precisava alimentar aquela criança — você está com fome? — perguntou ainda com a mão no ventre enquanto descia pelo elevador e seu estômago roncou em resposta — não sou boa em comer de três em três horas, Kara sempre reclama sobre isso — sentiu o coração palpitar mais rápido ao pronunciar aquele nome — você iria gostar dela, é a melhor pessoa do mundo.

Caminhou até a saída, dando boa noite para os seguranças e entrou no carro, pedindo para ser levada até o apartamento. Em nenhum momento sua mão deixou de encostar-se no ventre, passando o caminho todo com ela depositada naquele lugar que ainda não havia crescido. Era inconsciente, como se seus instintos maternos estivessem aflorando sem que percebesse. Ao adentrar a sala de estar escura, Lena não se sentiu sozinha. Pela primeira vez na vida, a Luthor se sentiu preenchida, acolhida de uma forma completamente nova e acompanhada de alguém que a conhecia como ninguém, pois ela tinha certeza que aquele bebê podia escutar seu coração como nenhuma outra pessoa havia conseguido.

***

— Alex, eu não sei o que fazer — Kara murmurava pela milésima vez naquela manhã. Seus olhos inchados e o rosto abatido denunciavam exatamente como ela se sentia — você tinha que ver a reação dela, eu nunca… — suspirou tristemente — nunca achei que fosse doer esse tanto…

A ruiva, que terminava de abrir as caixas de pizzas, encarou a irmã com cuidado. Aquela semana tinha sido a mais esquisita da sua vida e ela tinha noção da enorme bagunça que Kara estava criando. Bom, Alex não conseguia se imaginar numa situação daquela e sequer sabia o que dizer. Porém, quanto mais a loira tentasse proteger e evitar que Lena se machucasse, mais ela seria atingida. A mentira gera uma bola de neve maior do que se pode pensar, pois para embasar uma mentira, você precisa de outra e de mais outra, e assim por diante.

— Enquanto você come, eu vou falar o que eu penso — entregou o prato limpo para ela e sentou-se — Kara, quanto mais você enrolar para dizer a verdade, mais isso vai te prejudicar lá frente. E você não está sozinha nessa, Lena também está envolvida e existe agora uma criança no meio — pontuou.

— Achei que quando Lena soubesse que o bebê não era do Mike, ela ficaria… melhor — bufou — não sei o que eu estava pensando…

— É, eu também não — foi sincera, fazendo Kara suspirar arrependida — você sabe como eu sou contra expor sua identidade, principalmente para ela — a loira a fuzilou com os olhos. Alex bufou com a reação — não porque Lena é uma Luthor e sim porque sendo uma, ela corre perigos maiores. Mas eu sou ainda mais contra uma mãe ser deixada para lidar com uma gravidez sozinha, principalmente no caso dela. Se formos parar para analisar com os nossos termos, essa inseminação é o equivalente a um estupro — suas palavras foram fortes e precisas, porém Alex precisava dizê-las — se você não for contar a verdade, então não pode interferir nas escolhas e decisões da sua amiga. A Supergirl pode, mas pelo visto Lena não quer vê-la nem pintada de ouro — Kara de repente perdeu a fome — se quer fazer parte disso como amiga e não como mãe, então esteja lá para dar apoio. Se quiser mudar de ideia, pois não quer desistir dessa criança, então assuma as consequências e lute pelo o que quer — notou que a irmã largou a pizza sobre a mesa, raramente isso acontecia — Kara, porque é tão importante para você que Lena não dê esse bebê para a adoção?

Aquela era uma pergunta com uma resposta dolorosa e muito sincera. Durante aquelas seis semanas, a pequena Danvers só conseguia pensar em como resolver aquele assunto e sentir-se mais aliviada. Mas toda vez que pensava que seria mãe e que aquela criança era biologicamente dela, todos os seus fantasmas e pesadelos voltavam a assombrá-la. Lembrar-se de Krypton, dos seus pais, dos amigos e das histórias que ouvia quando pequena ainda a machucava, ainda a fazia chorar todas as noites. Principalmente quando o fato de ela e Karl-El serem os únicos restante da espécie pesava no seu coração.

— Meus pais podiam ter feito algo diferente, Alex — murmurou, sentindo as lágrimas escorrerem — eles sabia que Krypton iria explodir e mesmo assim preferiram ficar, escolheram desistir de mim — a ruiva estendeu os braços sobre a mesa e alcançou a mão da outra — eu não quero fazer o mesmo, não quero que essa criança cresça achando que seus pais não a quiseram mesmo ainda estando vivos. Pois para mim, meus pais nunca voltariam, nunca me procurariam, mas eu estou aqui e a Lena também… — soluçou — esse bebê é uma parte de mim e desistir dele é como… como…

— Perder seus pais mais uma vez — Alex finalizou e Kara apenas assentiu — eu sinto muito por isso.

— Eu também — sussurrou — não posso deixar Lena sozinha, mas não vou contar a verdade agora. Ainda não… ainda não estou pronta e não quero perder a chance de acompanhar a gravidez. Também não quero perder a minha melhor amiga.

— Você vai ser mãe, entende isso? — falou sorrindo — Eliza vai ficar louca quando descobrir — provocou e Kara arregalou os olhos.

— Oh, Rao! — botou a mão na testa — ela vai me matar!

— Relaxa, irmãzinha — voltou a comer a pizza — pelo menos não foi na adolescência e você sequer dormiu com a Luthor.

— Alex! — bufou — não precisa entrar em detalhes. Lena é apenas amiga.

— Isso não te impede de ser algo mais, principalmente quando eu sei que você gosta dela — pontuou. A loira amaldiçoava o dia em que tinha contado esse segredo para a irmã mais velha há uns meses atrás, antes mesmo de entrar num relacionamento com o daxamita.

— Ela jamais se apaixonaria por alguém como eu, Alex — empurrou o prato para o canto, sem nem terminar de comer — principalmente quando descobrir que eu sou a mãe do filho dela.

— Isso que dá pular as etapas…

— Você é tão engraçadinha — debochou — o que tenho que fazer agora?

— O de sempre — falou de boca cheia — esteja lá quando ela precisar e a convença de fazer o pré natal, logo Lena completa dois meses de gestação e o primeiro trimestre é o mais complicado.

— Certo, vou fazer isso — levantou-se para pegar o celular e ligar para a amiga.

— E Kara… — chamou a atenção dela — como foi que a Luthor acreditou que o cabelo era da Supergirl?

— Como assim? — franziu o cenho sem entender.

— O Mike namorava você e não a Supergirl — explicou o óbvio — como que o cabelo dela estava na roupa dele? Isso sequer faz sentido.

— Eu não… eu não tinha pensado nisso…

— Imaginei que não — voltou a atenção para a pizza. Quando a irmã se retirou para ligar para a amiga, Alex murmurou consigo mesma: “Lena é tão inútil apaixonada.”

***

Kara subiu pelo elevador segurando um buquê de flores e um pacote cheio de donuts. Ok que ela sabia que isso não era o mais saudável para uma grávida, mas se essa criança fosse pelo menos 10% parecida com ela, então seu apetite seria incontrolável, mas teria o seu bom gosto e não comeria couve, ou qualquer outro vegetal. Sorriu para Jess assim que a avistou e antes que pudesse pedir para entrar, seus ouvidos se atentaram a doce e calma voz de Lena ressoar do outro lado. Sua super audição lhe permitia escutar cada palavra que a morena dizia para alguém na sala. Será que ela estava ocupada ou acompanhada?

Antes de bater na porta, ela novamente parou e concentrou-se no novo barulho. Era costume seu tentar desligar todos os sons ao redor e focar em apenas em um, Kara fazia isso para dormir ou quando queria ver televisão. Mas, geralmente, quando chegava na L-Corp, o único som que escutava era o do coração da CEO. Sabia cada batida de cor, cada compasso e até mesmo os contava. Todavia, havia uma outra batida, uma numa frequência mais baixa, porém forte e rápida. Dois corações. Ela podia ouvir dois corações batendo do outro lado da porta.

Segurando a urgência de suas lágrimas, a loira entrou na sala e avistou a Luthor concentrada no notebook, enquanto sua mão esquerda estava depositada sobre o ventre. Era a cena mais delicada e única que já tinha prestigiado.

— Kara! — a morena levantou-se animada e abraçou fortemente a amiga — são para mim?

— Sim! — sentiu as bochechas corarem ao vê-la pegar as flores — e também te trouxe isto — estendeu o pacote pardo.

— Você leu meus pensamentos? — brincou — deve me policiar no que penso? — provocou, como sempre fazia. Kara achou que ia explodir de vergonha.

— Tem se sentido melhor? — perguntou ao sentar no sofá. Lena juntou-se a ela e seus lábios salivaram ao sentir o aroma doce que vinha dos donuts. Era como se seu paladar tivesse super desenvolvido de uma para outra — a Supergirl…

— Não vamos falar sobre ela — interrompeu — esse é um problema praticamente resolvido.

— Mesmo? — disfarçou o tom de chateação ao ouvir Lena excluir a heroína tão facilmente da vida da criança — sabe que ela não pretendia… você sabe, te deixar pior ou qualquer coisa assim.

— Eu sei e acredite, não me sinto bem com nada disso — confessou —, mas não vou interferir na vida dela dessa maneira. Vou lidar com isso sozinha e vou resolver da melhor forma possível — pontuou — Supergirl tem problemas maiores.

— Não precisa passar por isso sozinha — murmurou. A Luthor arqueou a sobrancelha intrigada.

— Foi exatamente o que ela disse — riu tristemente — vocês são tão parecidas, às vezes — Kara sentiu o coração afundar.

— Eu imagino que sim — tossiu nervosa — vamos? Estamos adiantadas, mas acredito que o trânsito não esteja tão bom assim.

— Para onde? — a morena franziu o cenho e lambeu os dedos sujos de açúcar. Céus, ela podia escutar seu estômago gritar de alegria por aqueles doces — que dia é hoje?

— Quarta feira — respondeu — eu te liguei na sexta passada, se lembra? Marcamos de ir ao médico fazer o pré natal… — Lena realmente parecia ter esquecido, pois uma enorme sombra de confusão pairou sobre ela.

— Oh… merda! — resmungou — eu esqueci completamente, como posso ter esquecido essa mer-

— Lena! — a loira tapou a boca da outra — o bebê pode escutar — falou baixinho, fazendo a outra arquear a sobrancelha e resmungar algo ininteligível — desculpe… — a soltou.

— Como sabe que ele pode escutar? — perguntou curiosa. Gravidez certamente que não era sua área de conhecimento.

— Er… eu, uh… — pigarreou sem graça — eu baixei um aplicativo e ele… ele diz que na sexta semana o bebê já pode ouvir o que a gente fala — suas bochechas ficaram vermelhas que nem tomate.

— Você está levando isso bem a sério — franziu o cenho — não se apegue tanto, ok? Você sabe que eu ainda vou procurar um advogado para ver a papelada da adoção.

— Eu sei — tentou não desanimar, estava contando com seu plano mirabolante para convencer a amiga a não desistir do bebê —, mas ainda temos muito tempo até lá e esse aplicativo é realmente bom.

— Você é impressionante, Kara Danvers — sorriu encantada — e é a minha favorita, sabe disso. Mas vamos e me fale mais sobre o que descobriu no seu celular.

— Ok — ambas pegaram suas bolsas e Lena pediu para que Jess colocasse as flores num vaso, avisando em seguida que sairia para uma consulta médica — aqui diz que o bebê ainda é chamado de embrião e já tem cérebro, por isso a mãe pode começar a ter alguns problemas com a memória — leu enquanto desciam até o carro.

— Era tudo o que uma CEO precisava, problemas com a memória — resmungou. Pediu ao motorista que as levasse no endereço indicado — e o que mais?

— Os seus seios ficarão mais sensíveis, devido a grande circulação sanguínea e a alta produção de glândulas mamárias — rapidamente, seus olhos caíram sobre o busto coberto pela camisa vinho da outra, fazendo seu rosto queimar — como… como eles… estão? — Rao, ela ia morrer de vergonha.

— Está mesmo perguntando sobre os meus seios? — provocou, sabendo que a amiga teria um infarto — Kara?

— Eu… er, ok… — tossiu — vamos deixar isso pra lá, né? Olha! Nós chegamos — mudou rapidamente de assunto. Lena sorriu divertida e seguiu a loira até a entrada, deixando avisado ao motorista que ligaria quando fosse sair.

O consultório não era grande e nem luxuoso, porém suas paredes eram pintadas de um branco gelo e a que ficava atrás do balcão era rosa bebê, deixando tudo apresentável e moderno. Os diplomas da médica responsável estavam pendurados por toda parte, assim como algumas fotos de bebês dentro de vasos de flores e segurando cachorrinhos. Havia também brinquedos no canto da sala de espera, com um tapete de borracha colorido onde as letras do ABC estavam escritas de preto. A Luthor nunca tinha pisado os pés num lugar assim antes e a paz que sentiu ao escutar a risada de uma criança que estava sentada no colo de uma das gestantes foi inexplicável. Seus olhos acompanharam com primor os movimentos daquela mãe, que abraçava com tanto carinho o corpo pequeno do menino, mesmo com sua barriga já aparente atrapalhando um pouco.

— Lena Luthor — ouviu Kara responder a secretária.

— Certo, a doutora já vem chamá-las — respondeu — senhorita Luthor, é a primeira vez? — a morena demorou um pouco para raciocinar. De repente, toda aquela atmosfera a fez se perder dentro de si e ela teve a urgência de chorar.

— Sim — Kara respondeu novamente — precisamos preencher algo?

— Você é algo dela ou do bebê? — questionou ao entregar um formulário — caso seja, pode assinar, mas se não for, poderá apenas ajudá-la a preencher e depois a senhorita Luthor terá que assinar — a loira concordou sem dizer mais nada. Porém sua vontade era de gritar que aquele filho também era seu.

— Lena, está tudo bem? — percebeu que a amiga ainda se mantinha calada — está sentindo dor? Mal estar?

— Não — murmurou — eu preciso ir ao banheiro — falou rapidamente e sumiu no corredor do lado esquerdo.

Ao entrar no pequeno cômodo, suas lágrimas escorreram livres e seu coração batia em desespero. Não era para sentir tudo aquilo, toda aquela leveza e toda aquela luz, mas era impossível. Parecia que todo seu corpo filtrava cada ato e os transformava numa grande cachoeira de emoções. Amaldiçoou-se por chorar tão facilmente, por estar sensível e por não saber como sair dali sem parecer que tinha desmoronado em poucos segundos. Kara era sua amiga e estava ali porque queria ajudá-la, porque não queria deixar que ela lidasse com todos aqueles sete meses e algumas semanas restantes sozinha.

Ela ainda conseguia ouvir a voz da Supergirl, ainda conseguia ouvir suas últimas palavras: “deixe Kara te ajudar.”Era por isso que estava deixando? Porque no fundo se importava com a opinião da heroína? Não. Não podia deixar-se envolver assim ou amolecer a esse ponto. Deixou bem claro qual era a sua posição naquela gravidez e já tinha tomado uma decisão. Certo, agora era lavar o rosto e encarar o que quer que tivesse que enfrentar. Sairia viva dessa, ou pelo menos tentaria.

***

— Senhorita Luthor, senhorita Danvers — a bela médica loira de olhos verdes claros indicou as poltronas em frente a mesa — sentem-se, por favor.

— Obrigada — ambas falaram.

— Sou a dra Allison Cameron e sou ginecologista obstetra, como já devem saber — sorriu simpática — preencheram o formulário?

— Claro — Kara entregou o papel.

— Lena, posso te chamar assim? — foi cuidadosa — teremos uma longa jornada daqui para frente e nos veremos com frequência, por isso prefiro chamar pelo primeiro nome.

— Sim, claro — limitou-se a sorrir fraco.

— Vou fazer algumas perguntas básicas, depois iremos para os exames e por fim o ultrassom, tudo bem? — ela assentiu que sim — me desculpe perguntar, mas a senhorita Danvers é sua esposa ou sua namorada? — Kara engasgou com a saliva enquanto Lena corou fortemente.

— Ela é uma amiga e vai me acompanhar nas consultas, se não for problema — a Luthor explicou, aproveitando para alcançar a mão da loira por debaixo da mesa e entrelaçar seus dedos, como quem diz que está tudo bem.

— Problema nenhum, só não quero se sinta desconfortável — explicou educadamente — primeiro, você tem algum problema cardíaco, de pressão, diabetes ou qualquer outra doença que precise de acompanhamento médico ou uso de remédios controlados?

— Não, nenhum — a médica anotava tudo detalhadamente na ficha que pertenceria a Lena dali por diante.

— Possui algum parceiro? — Lena respondeu que não — pode me dar alguma informação sobre o pai? Se não puder, não tem problema. Preciso saber apenas para caso de doenças hereditárias ou pré congênitas.

— Não sei quem é o pai — falou firme. Kara sabia que era a resposta sensata a dar, porque não havia explicação plausível para o que havia acontecido. Mesmo assim, seu sorriso e alegria morreram um pouco naquele momento — sou apenas eu mesma.

— Tudo bem — continuou, mantendo sempre o profissionalismo — sua última relação sexual foi antes ou depois da gravidez?

Oh, Rao.

— Er… depois — respondeu sem graça e sem condições de olhar para Kara, que ainda segurava uma de suas mãos.

A loira franziu o cenho e repetiu aquela informação na cabeça como um looping. Depois? Depois quando? Com quem?

As perguntas continuaram e iam ficando cada vez mais íntimas, mais específicas e a pequena Danvers teve muitas vezes que fingir que não estava escutando nada daquilo. Quando achou que melhoraria, pois a doutora começou a pedir os exames de sangue, urina e ultrassom das mamas, Lena recebeu uma espécie de camisola e foi encaminhada ao banheiro da sala. A loira não sabia para que servia aquilo e então esperou pacientemente, estava na hora do ultrassom e ela mal se aguentava no lugar. Claro, Kara não precisava de um aparelho para ouvir os batimentos cardíacos do seu filho, ela conseguia os escutar agora, juntamente com os da morena.

Ela havia conseguido perceber como Lena havia ficado nervosa na sala de espera e também a escutou chorar no banheiro. Era doloroso não poder bater na porta e a consolar, garantir que tudo ficaria bem, que ela não estava sozinha. No entanto, teve que se segurar e recuar, não podia perder as duas pessoas mais importantes da sua vida. Se Kara parasse para pensar, Lena era a pessoa com quem ela gostaria de um filho, sempre a achou tão carinhosa, tão cuidadosa e amorosa. Maternal, essa era a palavra. A Luthor era a mulher perfeita, em sua concepção.

— Suba na balança de frente para mim — Cameron pediu. A morena já estava despida e apenas com a camisola tampando poucas áreas do seu corpo, afinal ela era aberta na frente — certo, agora deite-se, por favor. Vou precisar abrir sua roupa, tudo bem?

Oh Rao. Como Kara sobreviveria àquilo? Respirar, ela tinha que respirar. Nunca tinha chegado a esse nível de intimidade com a melhor amiga, mesmo que já tivessem compartilhado uma cama algumas vezes, principalmente depois das noites de filme. Não foram tantas vezes assim, porém eram especiais. Lena lançou-lhe um olhar envergonhado e isso foi o suficiente para que a pequena Danvers acalmasse os ânimos, afinal estavam ali para enfrentar o problema juntas. Por isso, a loira moveu-se para a lateral da cama e segurou firme não da amiga.

— Claro — Lena confirmou, sentindo-se mais calma.

A médica abriu sua roupa e então não havia mais nenhuma barreira que impedia a kryptoniana de olhar o corpo nu de Lena. Mas ela não o fez, não iria faltar com respeito num momento tão intenso e embaraçoso como aquele. A CEO estava confiando nela, se deixando ser extremamente vulnerável, permitindo que Kara a visse como nenhuma outra pessoa viu, Não era justo ela ver qualquer parte do corpo dela. Aquela não era sua função, não era o seu papel ficar encarando os seios ou a barriga de sua melhor amiga e não queria a deixar desconfortável. Seu olhar continuou focado no verde dos olhos dela e em como eles brilhavam diferente naquela tarde. Cameron apalpou cada mama, perguntando se ela sentia dor, também apertou a região do útero e do abdômen, felizmente Lena não tinha nada.

— Vamos para a melhor parte — a doutora sorriu e despejou o gel frio sobre o ventre da Luthor — não vamos conseguir ver nitidamente e qualquer coisa vocês podem me perguntar.

— Dá para saber se é menina ou menino? — a loira perguntou ansiosa, sorrindo sem graça.

— Ainda não podemos ver o sexo, apenas a partir da décima terceira semana, às vezes até um pouco mais tarde — o aparelho deslizava sobre a barriga lisa de Lena, causando lhe um pouco de desconforto e arrepios — e aqui está o seu pequenino — focou a imagem no corpinho ainda sem uma forma exata — você acabou de entrar na metade sexta semana de gestação, então o cérebro já está formado e a medula espinhal está em processo de formação — mudou o foco da imagem — aqui temos os braços e as pernas, conseguem ver?

— É tão miudinho — Kara falou apaixonada, mesmo sem saber decifrar o que via — e é tão lindinho…

— Kara, mal conseguimos enxergar o que está na tela — Lena pontuou, achando graça da amiga — ele nem tem um rosto.

— Na verdade, o rosto está sendo formado nessa semana — explicou — a partir da oitava semana, poderá pedir um ultrassom 3D, caso queira saber se ele vai ter seu queixo ou o seu nariz — brincou.

— Eu acho que vai ter os seus olhos — a loira comentou ainda extasiada e sem desviar o olhar da tela — olhos grandes e verdes, como os seus.

— Menos, Kara — a morena riu, mas na verdade ficou se perguntando se seu filho teria olhos como o dela e cachos loiros como o da Supergirl. Esse pensamento fez seu estômago revirar e a morena fez logo questão de esquecer — está tudo bem com ele?

— Perfeitamente, Lena — Cameron tirou algumas fotos e continuou a deslizar sobre o gel — e aqui está o coraçãozinho — avisou antes de ligar o som.

Rapidamente, a sala foi inundada por batimentos cardíacos rápidos e precisos. Eram como batidas apressadas na porta. Kara sorriu como nunca havia sorrido antes, seu coração quase batia junto com o do bebê e sua alegria redobrou, pois agora sua amiga também saberia como era escutar aquela melodia tão incrível e milagrosa. Lena, por outro lado, lutava contra as próprias lágrimas, mais uma vez. Não podia se apegar, não podia. Ela tinha um plano a seguir, tinha uma vida e uma empresa para gerir. Não sabia nem como ser mãe.

Mas como resistir àquele som?

Era seu filho, tão pequeno e tão frágil. Ela era tudo o que ele tinha, sua proteção, sua fonte de nutrientes, sua casa e seu aconchego. Nunca se sentiu tão importante para alguém como agora, nunca pensou que fosse ser essencial para a vida de um serzinho como aquele, um serzinho livre de maldade, de rancor, de dor e de angústia. Lena podia sentir seu coração ancorando dentro do peito, conseguia sentir suas mãos querendo se mover até o ventre para então sussurrar que estava tudo bem. Chegou até a se perguntar se aquele aparelho não o machucava, não queria ninguém machucando o seu bebê.

Ninguém jamais o faria mal, nem que ela tivesse matar ou morrer para cumprir essa promessa.

— Seu bebê tem aproximadamente cinco gramas e mede de 0,6 a 0,8 centímetros — informou, tirando a Luthor dos seus pensamentos.

— Do tamanho de uma semente de romã — Kara comentou e Lena franziu o cenho.

— Exatamente, senhorita Danvers — sorriu — agora vou te limpar e aí poderá ir se trocar. Como sabia sobre isso? — encarou a loira.

— Ela está um pouco empolgada demais com essa gravidez — a Luthor explicou — está acompanhando por um aplicativo.

— Aplicativos são uma forma bem divertida de acompanhar toda a gestação — jogou os papéis no lixo e retirou a luva — pronto, pode ir vestir-se. Eu vou pegar o restante dos seus pedidos de exames e volto em alguns minutos, fiquem à vontade.

Allison se retirou e ambas puderam respirar mais aliviadas e leves. Kara ajudou Lena a se levantar e fechou a frente da camisola, dando um pequeno laço no cordão que ficava solto.

— Está tudo bem? — encarou preocupada aquelas íris tão cristalinas — você está… quieta.

— Muita coisa para processar num dia só — confessou.

— Mas… você gostou do que viu? — referiu-se ao ultrassom — gostou de ouvir?

— Vou me trocar — respondeu sorrindo, sem realmente dizer o que queria,  e deixou a loira sozinha com seus pensamentos.

A verdade, era que Lena queria dizer que amou e que não podia permitir-se amar alguém que não poderia ter.

***

Ao saírem da clínica, Kara a convenceu de caminhar até a lanchonete que havia duas quadras para baixo, usando a desculpa de que Lena precisava se movimentar mais para garantir uma melhor circulação sanguínea nas pernas. Ela tinha um ponto, realmente isso ajudaria a morena, mas ambas sabiam que o foco ali eram as enormes vitaminas de frutas e os sanduíches de queijo, sem contar que só a menção dos nomes das comidas fez o estômago da kryptoniana roncar alto.

E o mais engraçado foi que o estômago da Luthor roncou junto, pela primeira vez.

— Está vendo? — a loira comentou animada — vocês estão com fome.

— A sementinha de romã está com fome — pontuou, sentindo os pés doerem no sapato — eu acabei de comer.

— Donuts não podem ser considerados como uma refeição completa — soou como uma especialista e isso fez a outra arquear a sobrancelha.

— Ah, não podem né? — provocou, pois sempre que usava dessa verdade, Kara continuava a afirmar que doces eram comida como qualquer outra — então finalmente vai admitir?

— Não use minhas palavras contra mim — resmungou fazendo bico. Adorável, pensou Lena — você está grávida e precisa se alimentar bem.

— Me alimentar bem é quase um eufemismo — bufou — essa criança tem meus genes e o seu apetite — o peso daquelas palavras iluminaram o coração da pequena Danvers.

Antes que pudesse comentar, uma mulher morena alta, de longos cabelos negros e olhos azuis, se aproximou das duas. Havia um salão de beleza antes da esquina da lanchonete e provavelmente ela saía de lá.

— Lena Luthor — sorriu — o que faz por aqui? — a Luthor desesperou-se e sabia que a mulher ligaria uma coisa na outra, pois atrás de si tinha apenas a clínica de obstetrícia. Kara percebeu seu desconforto.

— Helena — sorriu de volta — eu estava apenas…

— Me acompanhando — a loira finalizou e estendeu a mão — Kara Danvers.

— Muito prazer, Helena Bertinelli — a cumprimentou e encarou as duas — gravidez? — apontou para a barriga dela.

— Sim, sexta semana — Kara respondeu e, para dar mais crédito a sua atuação, colocou a mão sobre o ventre — Lena estava apenas garantindo que eu não fosse ficar nervosa.

— E você, o que faz por aqui? — a morena tratou de interromper.

— Apenas de passagem — limitou-se a responder — devíamos nos ver mais, Lena.

— Creio que não será possível, a L-Corp exige muito de mim e eu preciso estar inteiramente envolvida — deu a sua melhor desculpa e então o estômago de Kara roncou mais uma vez, deixando a kryptoniana vermelha de vergonha — e preciso resolver essa urgência.

— Como preferir — Helena acenou se despedindo — sabe onde me encontrar.

A CEO não respondeu, pois jamais que voltaria a se encontrar com Bertinelli. Sua vida já tinha problemas e confusão demais. Ambas continuaram a caminhar e tudo o que Kara pensava era se aquele “depois” que a amiga respondeu a médica se referia a essa mulher. Teria Lena dormido com ela? Não, não podia imaginar isso. Mas subitamente um ciúmes incômodo se apossou do seu coração.

Helena era linda, com uma postura impecável e estilo invejável. Como a pequena Danvers competiria com ela? Como chegaria naquele nível? Começou a olhar suas roupas e viu que nunca tinha se preocupado o suficiente para vestir-se a altura da CEO, sentiu-se um pouco mal.

— Kara, querida, está tudo bem? — Lena tocou seus ombros carinhosamente — espero que Helena não tenha te deixado desconfortável.

— Não, está ok. Tudo ok — apressou-se a responder.

— Aliás sobre… aquilo — suspirou — obrigada por não contar e por fingir, não sei se eu conseguiria lidar com ela nesse momento.

— Não pretende contar? — falou enquanto pegava o menu sobre a mesa — nem quando ver sua… amiga de novo? — talvez ela tenha apertado o papel com muita força.

— Não pretendo contar a ninguém, não é como se fosse uma novidade ou algo que minha família ficaria feliz em saber — pegou um dos menus também — e não voltarei a vê-la. Helena não é bem uma… amiga — confessou, deixando a outra incomodada.

— Certo — respirou fundo — vai comer o de sempre? Salada e esse suco nojento da cor do Hulk?

— Por mais apreciadora que eu seja de uma alimentação saudável, não — voltou os olhos para as opções — nesses últimos dias não tenho conseguido comer nenhuma das minhas saladas. Essa criança, aparentemente, não é muito fã — bufou.

— A sementinha de romã realmente tem o meu bom gosto — brincou, mesmo sabendo que era verdade.

— Um ótimo apelido — riu ironicamente e então ambas fizeram os pedidos — não entendo como pode estar tão animada com a ideia de eu ter um filho. Eu podia estar grávida do seu ex namorado, foi apenas um erro que impediu isso de acontecer, como pode estar tão tranquila?

Kara suspirou e sabia que uma hora teriam essa conversa. Claro que a melhor amiga teoricamente era para estar esperando um filho do Mon-El, mas não estava e isso que era importante. Não porque ela ficaria mal se estivesse e sim porque a criança é dela, assim como é da Luthor. Agora elas seriam ligadas para sempre por algo bem mais forte do que apenas amizade. Agora havia um bebê, o filho delas.

— Lena, independente do que poderia ter acontecido — estendeu a mão para segurar a da outra — eu jamais te culparia e jamais te deixaria sozinha. Você é minha melhor amiga, sei que não faria nada para me machucar e o bebê sendo ou não do meu ex não mudaria nada.

— Você o amava? — perguntou com cuidado e desviando o olhar. Não sabia bem se queria ouvir a resposta.

— Eu não sei — confessou sincera — sabe quando você ama a ideia que criou da pessoa? Quando a sua concepção e imaginação projetam algo bem maior do que é? — Lena assentiu que sim, porque em sua vida, todas as pessoas eram melhores apenas na sua cabeça. Lex era um garoto que ela pensava ser carinhoso e atencioso, mas ele se mostrou diferente e o que ela amava nele era apenas a ideia que tinha criado naqueles anos — é assim que me sinto.

— Sinto muito — sorriu — e obrigada por estar aqui.

— Eu não te deixaria, Lena, você não está sozinha — entrelaçou seus dedos ao da outra, com seu coração batendo a mil por hora — é para isso que servem as amigas, certo?

— Sim, é para isso que servem as amigas.


Notas Finais


É para isso que servem as amigas ne aksjdnksjdnjsadnkj ai como eu odeio essa frase
digam o que acharam e façam suas apostas sobre a sementinha de romã, será que Kara consegue convencer a Lena???

até a próxima!


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