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História What to expect (When you're expecting) - Wish I had no expectations


Escrita por: FuckingSwen

Notas do Autor


Eu volteeeeeeeeeei! hehe

Em homenagem a Lauren, suas fãs e claro, as leitores MARAVILHOSAS CAMREN eu escolhi esse título para o cap, até porque combina bastante kasjdnaksjdnaskjdn

Quero agradecer pelos 500 favoritos e dizer que se a fanfic existe é por vocês, de verdade. Quando eu digo que comentários são importantes, eu falo sério. Não é sobre número e sim sobre a qualidade, nós escritores amamos ler o que vocês comentam, falam e suas teorias também. Obrigada de verdade por quem tira um tempo e vem admirar um trabalho meu, eu amo vocês demais!

Bom, o cap ficou gigante e choca o total de 0 pessoas kasjdnaksjdnakjd me perdoem pelos erros pq ne, daquele jeito....

Boa leitura!!

Capítulo 25 - Wish I had no expectations


Fanfic / Fanfiction What to expect (When you're expecting) - Wish I had no expectations

— Bem vinda de volta, senhorita Luthor — Jess a cumprimentou com o mesmo sorriso e educação de sempre, voltando rapidamente os olhos para a figura fofa dentro do carrinho.

— Seja educada e cumprimente a Jess, filha — brincou e Lizzie encarou a secretária com curiosidade, seus olhos azuis brilhando como sempre.

— Pretende voltar ao seu posto em Agosto? — perguntou.

— Oh não, ainda tenho um tempo até voltar, Lizzie é muito nova e creio que a Sam jamais me deixaria tirá-la daquela cadeira — Jess riu — aliás, ela está ocupada?

— Na verdade ela cancelou as reuniões de hoje de manhã ao saber que viria — pontuou — sentimos sua falta por aqui, principalmente os estagiários do programa de bolsa de estudo.

— O projeto ainda está funcionando? — era um dos seus favoritos, especialmente porque isso significava mais tempo nos laboratórios.

— A senhorita Árias garantiu que os investidores mantivessem os créditos e temos novos participantes, dessa vez um estrangeiro se inscreveu no programa — Lena sorriu aliviada por saber que algo tão bom e tão simples ainda continuava de pé.

— Sam é realmente a alma dessa empresa — foi sincera.

— Ela é sim, mas toda alma precisa de um coração — a morena corou sem graça — devo anunciá-la antes de entrar?

— Não precisa, avisei que cheguei há alguns minutos — voltou a segurar o carrinho e o virou para a porta — aliás Kara vai chegar a qualquer instante, então deixe-a entrar.

— Certo, tenha um ótimo dia — ela acenou e desejou o mesmo.

O click da fechadura tirou a outra morena de seus pensamentos, que estavam bem longe, talvez numa ruiva. O sorriso em seu rosto foi incontrolável e ao encontrar sua amiga empurrando uma gordinha falante, seu coração saltou no peito. A L-Corp podia ser a melhor empresa do ramo tecnológico que a América tinha, desbancando muitas outras comandadas por homens que sempre menosprezavam o trabalho de mulheres fortes como Cat Grant, por exemplo. No entanto, todo o mérito vinha apenas de uma pessoa: Lena Luthor. O mais incrível era que ela mal sabia da importância que tinha para cada trabalhador ali, que reconhecia seu esforço, que conhecia bem o seu caráter e nunca julgavam suas escolhas. Lena jamais deixou de olhar por cada um deles, saber do que precisavam e defendê-los quando era preciso. Várias vezes no dia, Sam tinha que responder suas perguntas e garantir que tanto a amiga quanto a pequena Luthor estavam bem e que a CEO estaria de volta em breve.

— A que devo a honra dessa visita? — provocou.

— Não sou tão importante assim, Sam — retrucou e viu a outra se levantar em sua direção.

— Eu não falava de você, falava da minha sobrinha favorita — piscou divertida e Lena arqueou a sobrancelha.

— Sobrinha? — seu tom de voz continuava provocativo — e por acaso você já é a senhora Danvers?

— Ainda não, mas quem sabe um dia — falou tão despreocupada, pegando Lizzie no colo e beijando suas bochechas, que Lena não esperava por aquilo. Aquela facilidade.

— Uau, eu não sabia que estavam nesse nível — bufou — o que eu perdi?

— Nada demais, eu apenas a amo o suficiente para saber que quero passar o resto da minha vida com ela — deu de ombros, deitando a pequena sobre o peito — porque essa cara?

— Como pode dizer isso tão tranquilamente assim? — sentou-se numa das cadeiras — quero dizer… isso não te assusta?

— Casamento? — franziu o cenho e sentou-se à frente dela.

— Amor — suspirou, Sam então entendeu o ponto — parece que é tão leve e tão simples.

— Porque ele realmente é e sempre deveria ser — seu olhar recaiu sobre a sombra triste que pairava sobre a amiga — o que aconteceu?

— Nada — bufou — melhor deixarmos isso para lá, Kara vai chegar daqui a pouco, não sei se vai entrar pela sacada ou pela porta — rapidamente mudou de tópico, mas essa tática não funcionava com a CFO.

— Você tem duas opções, ou me fala o que aconteceu ou eu vou arrancar isso de você — a Luthor a encarou desacreditada e ofendida — não adianta me olhar assim, só a Lizzie tem meu coração agora, não é mesmo? — sorriu para a menina no seu colo e ela balbuciou quase gritando.

— Você e a Alex são o pior casal do mundo! — bufou nervosa — não é nada demais, eu só… eu só não entendo…

— O que, supostamente, você não entende? — cruzou as pernas.

— Como amor pode ser algo tão simples — e lá estava a sombra no seu olhar, a que deixava seus olhos menos cristalinos e seu verde mais opaco — talvez não seja algo para todos.

— Bobagem, todo mundo pode encontrar alguém especial, independente da situação — pontuou — está se referindo a Kara, certo?

— É… — arfou pesadamente — ela ainda me olha do mesmo jeito e eu ainda me sinto da mesma maneira, como se esse sentimento nunca fosse embora.

— Já disse isso a ela? — Lena negou — ela já te disse como se sente?

— Ela disse que me ama, várias vezes — confessou, ainda sentindo as borboletas no estômago — e eu posso escutar essas palavras toda vez que ela me encara.

— E você nunca disse eu te amo de volta — não era uma pergunta. Era um fato.

Lena, novamente, respirou fundo.

— Está tão claro assim?

— É evidente demais, Lena, e eu te conheço muito bem — sorriu carinhosamente — o suficiente para saber que se algo não acontecer, você nunca vai falar.

— O que quer dizer? — arqueou a sobrancelha e estendeu a chupeta para Lizzie.

— Lena, você tem medo de algo ruim acontecer com ela caso você diga isso em voz alta. Não é sobre a Supergirl, sobre a mentira ou qualquer outra coisa que envolva somente vocês duas — explicou calmamente — é sobre o peso que você carrega sem nem ao menos ter tentado. Me escute bem, porque eu sei que tenho razão e sei que vai desmentir o que eu disser, mas amar Lex não foi o que o colocou na cadeia — Lena encarou o vazio da parede, observando detalhes perdidos nas quinas e tentando não ser atingida por aquela lembrança — amá-lo não o tornou o que ele é.

— Mas não impediu de me quebrar em pedaços quando aconteceu — sua voz se quebrou — amar significa criar laços, se apegar e tudo o que eu amo se perde, simplesmente acaba. Não posso deixar que algo aconteça a ela, eu nunca me perdoaria se isso a arrastasse para o inferno que é ter uma Luthor ao lado e eu já tenho medo o suficiente pela minha filha — suas lágrimas escorreram quentes e pesadas — eu não consigo dizer em voz alta, mesmo que isso me sufoque, mesmo que eu nunca deixe de amá-la. Eu não… eu não posso, Sam...

— Sabe que é injusto com vocês três, não sabe? — não respondeu — Kara nunca vai pedir para você dizer de volta, mas isso não significa que ela não queira ouvir. Ela precisa ouvir, Lena.

— E-eu não consigo — limpou rapidamente o rosto — não posso ser o que ela quer, eu não posso preencher o vazio que ela tem, porque eu não… eu não sou o que ela precisa…

— Lena, respire fundo, okay? — Sam se levantou rapidamente e pegou um copo d’água — me escute com atenção — Lena a encarou — você não tem que se encaixar no padrão que você mesma construiu na sua cabeça. Amor não é sobre preencher alguém, ser a metade da pessoa ou qualquer besteira dessa. Amor é sobre transbordar, sobre ser suficiente sozinha antes de ter alguém do seu lado — sorriu — Kara não quer alguém que preencha a perda de um planeta inteiro, dos pais e dos amigos, ela só quer alguém que esteja ali com ela, que a faça rir e que torne os dias ruins mais fáceis de serem vividos. Você pode não ser o que ela precisa, mas é a pessoa que ela quer e, sinceramente, coisas ruins acontecem você dizendo ou não as palavras em voz alta — pontuou cuidadosamente — Lena, a Kara não é indestrutível, ela pode sim partir a qualquer momento, encontrar uma luta que seja a última da sua vida… — o peso daquela verdade lhe atingiu em cheio e apenas o pensamento de um mundo onde a loira não estivesse presente lhe parecia insuportavelmente doloroso — e quando ela se for você vai se sentir péssima por nunca ter deixado claro como se sentia.

Ela fechou os olhos por alguns instantes e deixou cada palavra encaixar no seu coração.

— Não estou aqui para forçá-la a dizer, tem que fazer o que quer no seu tempo, mas não acho legal deixá-la pensar que nunca a amou como diz que ama — suspirou — independente dos seus sentimentos, sua mãe já sabe deles e mesmo que nunca saia uma palavra da sua boca, os perigos vão continuar vindo e a Supergirl vai continuar lutando. Não é uma escolha sua, ou culpa sua. São os fatos — Lizzie bocejou cansada e roçou o nariz na camisa da morena — e vocês duas tem alguém muito preciosa nas mãos, que merece poder ver as duas mães juntas e felizes. Pense nisso, okay?

— Okay, prometo que vou pensar — terminou a água e limpou o rosto mais uma vez — obrigada por ser incrível, Sam.

— Quem é a melhor tia, ein? — brincou, cutucando o nariz da pequena — apenas fico feliz vendo vocês se dando bem de novo e não se esqueça da nossa noite de jogos, Winn e Alex não param de fazer apostas sobre quem vai ganhar dessa vez.

— E você acha que a Kara não fala só disso? — bufou — ela fez eu me certificar de que a pizzaria favorita dela estaria aberta hoje.

— E claro que se estivesse fechada você ofereceria metade da sua fortuna só para garantir que Kara tenha o que quer — provocou, vendo a outra corar fortemente.

— Ei! Eu sou sua chefe, me deve mais respeito! — fingiu ofensa.

— Não é você quem está sentada naquela cadeira agora — piscou divertida.

Um baque na sacada cortou o assunto e ambas viraram para encarar a imagem da heroína de capa vermelha. Lizzie, que estava quase adormecida, abriu os olhos e procurou pela mãe, reconhecendo bem aquele barulho. Kara sorriu largamente e adentrou o lugar com certa pressa, revezando o olhar entre sua filha e a Luthor. Quando tinha que trabalhar como Supergirl ou repórter, seu coração doía por ter que passar o dia fora, sem poder deitar no tapete, assistir algum desenho e observar a amiga ler os artigos importantes para algum projeto que ela não entendia. Suas manhãs e tardes favoritas eram sempre aquelas em que ficava em casa com sua família.

— Hey Sam! — cumprimentou a cunhada com um abraço apertado e então foi para o lado da CEO, beijando sua bochecha rapidamente e sorrindo encantada apenas por vê-la ali — como estamos? — encarou a filha.

— Prontas para salvar o mundo — Sam respondeu, beijando novamente as bochechas da pequena e a levantando para cima, ouvindo um gritinho animado.

— Você está bem? — Kara entrelaçou o seu mindinho ao da outra, a nova forma delas se aproximarem cautelosamente. Elas não seguravam as mãos em público ou na frente de amigos, isso era apenas um ato reservado para as duas.

Lena a encarou e assentiu, seus olhos voltando a brilhar.

— Sim — mentiu, mas a loira ergueu a outra mão e secou o resquício de lágrima que tinha. O simples toque fez todo seu coração queimar num sentimento intenso — obrigada — murmurou.

Lizzie, ainda esperando que sua yeyu fosse pegá-la no colo, começou a chorar impacientemente.

— Vai dar atenção para sua filha — falou brincando.

— Nossa filha.

Depois de algumas instruções passadas, como, por exemplo, onde estavam as quatro mamadeiras, as fraldas, roupas limpas e brinquedos, Lena e Sam deixaram a sala, prontas para prosseguirem com o planos acordados anteriormente. Como a loira ainda não tinha coragem de ficar com a filha sozinha, ambas decidiram que ela esperaria na sala da L-Corp e chamaria a outra quando precisasse, era uma segurança boa para as duas, pois a Luthor ainda não se sentia preparada para deixar a pequena longe de si por muito tempo. Beijou os cabelos da menina, sorriu para Kara e pegou seus pertences, avisando que não demoraria muito, afinal a noite de jogos ainda as esperavam e Sam tinha que encontrar Alex na hora do almoço para decidir o que fariam com a Ruby naquela tarde.

— Vocês escondem muito mal — comentou no caminho para o laboratório.

— O que? — franziu o cenho.

— Que ainda se amam — Lena corou fortemente — pretendem voltar a namorar?

— Eu não sei — comentou ao destrancar a porta do laboratório particular que tinha, acendendo a luz e deixando a bolsa sobre a estante. Dois jalecos estavam dispostos num cabideiro, assim como equipamentos de proteção individual e roupas mais confortáveis — sinceramente não sei.

— E porque não? — aceitou o jaleco.

— Nós duas passamos por coisa demais e nem sabíamos se um dia iríamos ser amigas de novo — pontuou — não quero estragar o que temos, não quero trazer mais um drama para a vida da Lizzie e seria… tão injusto — bufou — não quero pensar sobre isso.

— Como quiser — deixou o assunto de lado, por enquanto. Sam sabia, mais do que qualquer um, que não adiantava forçar a Luthor a responder. Uma hora ela mesma repensaria e chegaria a uma conclusão sensata — o que faremos?

— Primeiro, eu preciso que confie em mim e me deixe falar tudo antes de fazer qualquer pergunta — a CFO arqueou a sobrancelha, mas concordou — ótimo.

— E eu tinha outra escolha?

— Não — sorriu presunçosa e Sam rolou os olhos — eu tenho aqui as amostras que te mostrei no outro dia e frascos contendo o seu sangue, Alex me forneceu ontem quando passei na DEO.

— Okay, por onde começamos? — ambas se posicionaram atrás do balcão onde haviam dois microscópios, algumas lâminas, placas de Petri, dentre outros.

— Preciso montar lamínulas novas com suas amostras, por isso faça o esfregaço e deixei-as secar nessa base, enquanto isso eu vou separar as que já estão prontas e montar um pequeno relatório — explicou, colocando algumas barras de metal, que estavam sobre uma mesa de canto, sobre o balcão.

— Para que vamos precisar de barras de ferro e do bico de Bunsen? Achei que íamos só mexer com material biológico — franziu o cenho.

— Faça o que pedi que logo eu termino de explicar — Sam rolou os olhos mais uma vez e apenas obedeceu, passando o restante daquela hora perdida em gotas de sangue e plaquinhas de vidro.

O tempo passou num piscar de olhos, ambas trabalharam em silêncio, concentradas em seus pensamentos e deixando o que estava pronto do lado oposto de onde terminavam o que restava. Lena organizou tudo da melhor maneira, anotou cada resultado numa planilha e suspirava pesadamente ao perceber que chegava muito perto de descobrir mais sobre o DNA de sua amiga; de suas duas amigas, no caso. Ainda não sabia como iria contar para Sam sobre a verdade, sequer tinha um plano para isso. Pensou que talvez fosse melhor abrir o jogo o mais rápido, evitando assim mais dor e espera. Sam estava sofrendo com a falta de respostas, de uma solução para o seu caso e não iria mentir quando perguntasse se suas expectativas eram sempre as piores. Afinal, o que poderia esperar?

Depois de quase duas horas e meia de uma atividade constante, ambas se encararam e aquela era a hora de pôr os pingos nos “is.”

— Bom, terminei o que pediu e todas as lamínulas estão prontas — apontou para cada uma na base — o que são essas anotações?

— São pontos que encontrei que diferenciam essas células humanas das não humanas — explicou — eu montei uma tabela com características comuns a cada uma, separado pelo diferenciamento. Por exemplo, células neuronais têm essas características, as epiteliais tem as próprias e assim por diante — apontou para cada coluna — e fiz o mesmo com as amostra que recebi do sangue da Supergirl, ou da Kara.

— As da Lizzie deveriam ser um meio termo, certo? — Lena assentiu — pretende saber qual teve maior dominância?

— É o que achei que aconteceria, mas aparentemente não existe um padrão — bufou chateada. Seria um longo trabalho e certamente que cansativo — achei que fosse ser mais rápido descobrir uma resposta procurando pelo óbvio, porém acredito eu que vai ser mais cientificamente certo se descobrirmos como elas desviam do sistema imunológico humano para se juntar a uma célula. Lizzie já nasceu com elas prontas, não existe uma mimetização, isso aconteceu no meu sangue e esse será o nosso ponto de partida.

— Porque não tenta fazer uma recombinação? Como se fosse simular um encontro dos dois DNAs e então observa o que acontece — sugeriu e a morena arqueou a sobrancelha — talvez seja mais prático acompanhar a mudança do que pegar ela já pronta.

— É uma ótima ideia, vamos fazer os dois e começar — Sam concordou — agora, sobre o seu sangue.

— Okay — bufou nervosa — Alex me disse que não conseguiu nada, acha que vamos ficar sem resposta?

— Na verdade, é aí que eu preciso que confie em mim e que respire fundo — a outra sentiu o corpo tencionar e toda sua pele ficar gelada. O que Lena queria dizer com aquilo?

— Lena, está me assustando — mexeu nervosamente na manga do jaleco e retirou o óculos de proteção — eu confio em você, mais do que em mim mesma, então o que quer que tenha que me contar, me conte logo.

— Alex me forneceu todas suas amostras de sangue e eu tirei um tempo para olhá-las, não fiz nada demais, mas observei um padrão conhecido nelas e é por isso que quero que analise com cuidado, preste atenção nos detalhes e tire suas próprias conclusões — pontuou cuidadosamente, pegando duas lamínulas e as encaixando nos dois microscópios — primeiro, olhe essa e me diga o que vê. Depois, compare com essa.

Sam, ainda sem entender o que a amiga queria, respirou fundo e abaixou o suficiente para observar as duas. Na primeira, ela visualizou células estreladas, que estavam posicionadas em filas bagunçadas e numa coloração azulada. Percebeu, que assim como as células humanas, elas tinham o núcleo delimitado por uma membrana, organelas citoplasmáticas diversas que estavam imersas num plasma esbranquiçado. Até então, nada de tão diferente, a não ser o formato delas e a quantidade de organelas. Aparentemente elas possuíam um número menor e uma delas os seres humanos não tinham em sua organização celular. Anotou mentalmente aquelas informações e partiu para a outra, respirando fundo novamente e semicerrando os olhos para enxergar melhor.

A outra amostra estava numa coloração igualmente azulada e a CFO não entendeu o que Lena queria com ela, afinal era idêntica a outra. A mesma organização, as mesmas organelas, o mesmo número e tudo mais. Bufou confusa e tirou mais um tempo para ter certeza antes de perguntar. Achou que eram esfregaços diferentes, de amostras de sangue diferentes, mas agora já não tinha certeza.

— Okay — encarou a outra.

— Me diga o que viu — pediu seriamente.

— Observei que, por mais que sejam células diferentes das humanas, elas possuem características semelhantes, como o núcleo e um citoplasma organizado — pontuou — só não consegui achar o que elas têm de diferente entre si — admitiu.

— É porque biologicamente você só vai achar uma diferença se fizer uma análise genotípica — Sam franziu o cenho — elas pertencem a pessoas diferente. Essa, da direita, é sua e a da esquerda é da Supergirl.

Aquela informação pairou no ar antes da morena deixá-la penetrar sua mente. De primeira, tudo soou confuso e totalmente insano. Se Lena dizia a verdade, então ela e a Supergirl possuíam um sistema sanguíneo idêntico. Mas o pior e o mais difícil de acreditar nem era isso e sim o fato de que Kara não era humana, ela era uma alienígena, vinda de um planeta não mais existente e que outro igual a ela era apenas o Superman. Nem mesmo Lizzie possuía algo assim. E então tudo ficou claro e seu coração errou a batida. Cada peça se encaixou no lugar devido, fazendo vários clicks enquanto seus neurônios trabalhavam para que ela não super reagisse. Respirou fundo e contou até dez mentalmente.

Se Kara não era humana e elas tinham um material biológico igual, então ela não era humana.

Respirou fundo.

Conte até dez, repetiu a si mesma. Conte até dez.

Seu olhar recaiu sobre suas mãos, seus braços e todo seu corpo. Tudo o que sempre acreditou, sua vida, sua infância… era tudo mentira? Fechou os olhos, sentindo as lágrimas quentes fazerem sua retina arder. Se lembrava de alguns pesadelos, de vozes em sua cabeça e de rostos desconhecidos que lhe encaravam através de uma redoma de vidro. Sempre achou que fossem apenas sonhos, pensamentos ruins e sequer teve coragem de contar para sua mãe. Chacoalhou a cabeça e bufou. Quem era sua mãe, afinal? Quem era sua família e porque nunca soube de nada sobre eles? Porque Patrícia nunca lhe contou a verdade?

Eram tantas perguntas e, por mais que tivesse descoberto uma das respostas, era como se as questões tivessem dobrado em número.

— Sam, ainda tenho algo para te pedir — Lena comentou quase num sussurro, com medo de quebrar a amiga apenas com o som de sua voz. Ela alcançou a barra de ferro e ambas se encararam. A morena deu alguns passos para trás, incerta do que a amiga pediria, mas tentou se controlar — não precisa, se não quiser…

— Do que precisa? — sussurrou.

— Dobre-a para mim — a entregou. Sam hesitou por alguns segundos e então a pegou, sentindo o metal frio sobre a palma da mão quente. O material acariciou sua pele como um amante tímido e ela suspirou.

E numa facilidade impressionante, Sam não apenas torceu o metal, como também o partiu ao meio.

***

Ao estacionar o carro na rua tão conhecida, Alex foi invadida por um sentimento de nostalgia e isso tirou seu fôlego por alguns instantes. Não era bem uma sensação boa, mas não era também ruim, na verdade, era como se as memórias povoassem sua mente rapidamente, trazendo flashes de cenas passadas e despertando algo novo em si. Ela se lembrava de como conheceu o lugar com a Maggie, de como a ouvia rir enquanto tomava uma cerveja, ou de como ela apostava consigo todas as noites e o prêmio para quem ganhava era algo que ambas podiam aproveitar, claro. Ainda se recordava das ondas negras que caíam sobre o rosto da morena, da forma como o castanho dos seus olhos brilhava ao sorrir e então suas covinhas cortavam suas bochechas. Maggie de fato era uma mulher linda e encantadora. Respirou fundo e se deu um breve tempo para processar cada imagem de duas mulheres felizes que prometeram se amar para sempre e fizeram planos para um futuro não existente.

E, pela primeira vez, ela não sentiu a urgência de se esconder, de fugir ou de afogar cada lembrança em álcool. Era a primeira vez depois de meses em que pisava os pés ali e também que se lembrava da latina com tanta intensidade. No entanto, não doía mais, não sufocava. Claro, era triste pensar que tanta história havia virado apenas escritos no tempo, porém era bom perceber que havia cicatrizado. Lembraria da policial para sempre, com carinho e com admiração, afinal seria hipocrisia da sua parte dizer que a odiava, ou que preferia a esquecer. Não, Maggie fez parte do que ela era, a ajudou a enxergar que podia sim ser livre, assumir quem era e beijar as meninas que gostava. Era por causa dela que chegou aonde estava e era por isso que a manteria viva no seu coração, numa parte onde ela ficaria guardada e segura.

Olhou para seu lado, no banco do carona e sorriu largamente. Podia ter sofrido com o término do seu noivado, chorado e pedido a deus que tirasse todos aqueles sentimentos de dentro de si, mas ao encarar a figura concentrada num livro, com os cabelos castanhos caindo sobre o rosto e as unhas pintadas de roxo, tudo fez um grande sentido. A vida às vezes se encarrega de coisas estranhas, faz planos totalmente diferentes do esperado e muda todo o rumo da viagem, sem nem ao menos dar um aviso prévio. Entretanto, para que algo novo possa ser tomado, o velho tem que sair para dar espaço e foi assim que Alex encontrou Sam e Ruby. E não as trocaria por nada nesse mundo. Sorriu mais uma vez ao perceber o quão próximo de explodir seu coração ficava ao encarar a menina. Ruby era sem dúvida sua garota favorita.

— Nós chegamos? — Ruby olhou para fora da janela e franziu o cenho — onde estamos?

— Num dos meus lugares favoritos — piscou, fazendo um pequeno mistério.

— Minha mãe não vai deixar a gente de castigo, vai? — ficou desconfiada — eu estou de férias, não quero ficar sentada no quarto.

— Sua mãe não vai nos deixar de castigo e ela pediu para eu te distrair, não foi? — contra isso Ruby não tinha argumentos — ela está com a sua tia Lena e logo nós vamos buscá-la.

— Okay, então vamos — sorriu empolgada.

Ambas desceram e a ruiva tirou a chave que seu amigo havia emprestado no dia anterior. Obviamente que não levaria a menina naquele lugar quanto estivesse cheio, com o bar funcionando e a música alta tocando. Definitivamente ali não era para crianças e ela jamais deixaria Ruby no meio de pessoas estranhas. Por isso, o dono, que era um amigo muito próximo, tranquilamente deixou a chave extra com ela e disse para se divertir o quanto quisesse. Encarou a menina de novo e a porta se abriu, fazendo o ar frio e úmido de dentro acariciar suas peles. Estava tudo escuro, as cadeiras empilhadas e os copos lavados em cima do balcão, assim como as mesas estavam encostadas ao fundo. Ignorou o outro lado e caminhou com Ruby pelo corredor estreito, ouvindo seus passos ecoarem pelo local. Sentia a mão quente e pequena apertar a sua, firme e um pouco assustada.

— Não precisa ter medo, garanto que vai adorar — avisou.

Ao ligar a luz, Ruby entreabriu os lábios e seus olhos se arregalaram em animação. Ela observou as cabines, os suportes das armas, os bonecos de madeira e de metal do outro lado, os protetores de ouvido e então tudo fez sentido. Um tiro ao alvo, só que com munições de verdade, como uma agente de verdade. E Alex sabia que a menina era fã do seu trabalho.

— A gente vai atirar? Igual você faz na DEO? — quase gritou.

— Eu vou te ensinar como faz e tem que me prometer que vai fazer exatamente o que eu mandar — pontuou, retirando alguns equipamentos do armário.

— Eu prometo, prometo, juro de dedinho! — sua empolgação era tanta que ela pulava de um lado para o outro — posso pegar essa? — apontou para uma arma enorme e Alex riu.

Claramente ela era a sua garota.

— Que tal essa? — mostrou uma menor, mas igualmente interessante — se conseguir acertar os cinco pontos vermelhos no centro, eu deixo você escolher qualquer uma.

— Fechado — estendeu a mão. Alex arqueou a sobrancelha com a ousadia dela.

— Sabe que todo agente secreto mantém sua palavra, não sabe? — ela assentiu.

— Um dia, eu vou ser uma agente como você e vou poder bater nos meninos que eu quiser — a ruiva gargalhou — isso vai ser incrível!

— Okay, pequena encrenca — Ruby bufou, odiava esse apelido — quando você crescer, aí voltamos a conversar sobre garotos — colocou os protetores sobre as orelhas da menina e posicionou a arma no suporte — talvez você mude de ideias sobre eles mais tarde.

— Ugh, não! — fez uma careta — eu não quero beijar ninguém, nem meninos, nem meninas. Isso é nojento — falou desgostosa.

— Mais tarde, tipo daqui uns dez anos, a gente volta nesse assunto — rezou internamente para essa fase nunca chegar e ela continuar com a mesma ideia. Odiaria ter que receber um futuro namorado, ou namorada, em sua casa.

— O que eu faço agora? — virou-se para frente — é só puxar isso aqui?

Um estrondo cortou o lugar e atingiu a parede ao fundo, onde haviam outras marcas de tiros.

— Tecnicamente sim, mas com mais calma e mais precisão — explicou — se posicione assim e coloque suas mãos aqui — a ajudou, ficando atrás e se abaixando um pouco — você tem que mirar antes de puxar o gatilho. Primeiro, ele vai destravar e depois atirar. Siga a linha da sua visão e pronto! — Ruby atirou novamente e o boneco de metal ficou com mais um buraco perto da cabeça.

— Uau! — gritou — eu quero fazer isso para sempre!

— Certo, eu vou pegar a minha e vamos apostar, o que acha? — lembrou-se da forma como Maggie a encarava quando dizia isso, a desafiando com um sorriso.

E então Ruby sorriu de lado, a desafiando a sua altura, como uma menina madura e crescida e sem medo de tentar. Foi assim que ela percebeu que não sentia falta do passado, que ela ainda podia se divertir da mesma forma, com as mesmas coisas e ainda se sentir bem, se sentir inteira. Sem contar que ela podia ver a si mesma nos olhos da menina que amava como filha e isso era sem dúvida o melhor que a vida podia ter guardado para seu coração. Não precisava desistir do que queria, do que sonhava e sim podia conquistar cada coisa no tempo certo.

— E o que vamos apostar?

— Se eu ganhar, você lava a louça e recolhe a sujeira do Krypto por uma semana — estendeu a mão.

— Boa, mas eu consigo fazer melhor — e lá estava aquele olhar desafiador — se eu ganhar, quero a minha viagem para a Disney no meu aniversário e uma rodada de sorvete quando formos buscar a minha mãe.

— Não pode ser algo mais perto? Tipo… o parque de diversões em Santa Mônica? — tentou, já sabendo que ia falhar.

— Se vamos até Los Angeles, então porque não vamos na Disney de lá? — esperta, muito esperta — é pegar ou largar.

— Céus, você é pior do que a Lena — bufou e então apertou a mão da menina. Ambas se posicionaram novamente e ficaram em silêncio, cada uma mirando — quem acertar os três círculos vermelhos do centro primeiro ganha.

— Okay.

— Prometo pegar leve com você, encrenca — provocou e Ruby apenas rolou os olhos.

— Eu não prometo nada — retrucou.

Alex gargalhou e jurou silenciosamente que iria proteger sua menina de tudo no mundo, não era possível amar tanto alguém assim, era? Ela não sabia, mas não iria reclamar. Lembrou-se então de quando trouxera Lena ali, para distrair mais a si mesma do que a Luthor. Era uma memória tão fresca e mesmo assim parecia tão distante, afinal já não conseguia visualizar aquela mulher amedrontada, insegura e querendo desesperadamente retomar o controle da sua vida, do seu corpo. Recordava-se claramente dos olhos verdes opacos, tristes, de como sua pele era mais pálida e seu tom de voz mais baixo. Engraçado pensar que não há tanto tempo, Lena se recusava a ser mãe, a aceitar que talvez aquela criança viria para o melhor e não para o pior, que talvez ela pudesse descobrir um novo mundo ao aceitar Lizzie. Bom, ela aceitou e tudo realmente mudou.

Tantas recordações guardadas num só lugar.

Ambos os tiros saíram quase juntos e Alex acertou o centro em cheio, comemorando com alguns pulinhos e vendo Ruby bufar. Ela havia acertado na beirada do círculo vermelho. Vários outros foram disparados em seguida e elas continuaram naquela competição divertida por longos minutos, até que faltava apenas um para desempatar. Aparentemente, a garota era muito boa de mira e tinha conseguido alcançar a ruiva num piscar de olhos, a deixando boquiaberta e muito orgulhosa. Elas se abaixaram, respiraram fundo e esperaram o momento certo, como um caçador foca na presa. Nada foi ouvido, até que então um estrondo forte ecoou nas paredes cinzas riscadas.

Quando foram verificar quem havia acertado, Alex grunhiu desacreditada e Ruby gritou, pulando de um lado para o outro e fazendo uma dancinha muito parecida com a que a Kara fazia quando ganhava qualquer coisa.

— Eu ganhei! Tia Alex, eu ganhei! — gritou novamente e a abraçou forte — vai fazer o que prometeu?

— Promessa de agente secreto — fez um sinal no coração e Ruby fez o mesmo — merda, você realmente é uma Danvers! — resmungou.

— Mas você é a melhor, ainda — provocou e então recebeu cosquinhas na barriga — okay! Você é sempre a melhor!

— Assim que eu gosto, agora vamos para o nosso sorvete — rolou os olhos. Como pode deixar uma menina de treze anos vencê-la no tiro ao alvo? Bufou.

Seu celular tocou e ela o retirou do bolso. Kara.

— Hey — atendeu.

— Hey, ocupada?

— Não, na verdade, estou indo pagar uma rodada de sorvete porque perdi uma aposta — encarou Ruby — topa ir junto?

— Eu e sorvete? Psssst — Alex podia ver a cara de animação de sua irmã do outro lado da linha — é claro que eu topo. Lena e Sam estão numa reunião ultra secreta e Lizzie está com elas, não sei fazendo o que.

— Junte-se a nós e venha para o lado divertido da força — ouviu Kara rir — passamos para te buscar.

— Beleza!

***

Ruby e Kara quase apostaram corrida para ver quem chegava primeiro na fila da sorveteria, que não tinha ninguém além delas e mais algumas pessoas. Ambas discutiram sobre os melhores sabores, coberturas e praticamente tinham o mesmo gosto, pois claro que a pequena Danvers era uma criança no corpo de um adulto. Ela ainda questionou diversas vezes sobre como tinha sido a aposta, se a menina tinha gostado do lugar e se estava curtindo ter um cachorro em casa, o que obviamente ela estava. Assim que terminaram de se servir, Ruby começou a contar sobre a história do livro que tinha pego na biblioteca pública. Tanto Kara quanto Alex ficaram atentas e escutaram com curiosidade, achando incrível como em tão pouca idade, a pequena Arias era interessada em literatura.

— Mas me diga, como foi ganhar da minha irmã? — encarou a outra e sorriu divertida — como conseguiu essa proeza?

— É tão bom ganhar dela! — exclamou ainda empolgada — ela enche o meu saco quando ganha em qualquer coisa e isso me irrita demais — rolou os olhos.

— Sei como é — bufou.

— Foi sorte de principiante — Alex retrucou, ainda sem saber como tinha perdido.

— Ela nunca vai admitir que perdeu — Ruby provocou e recebeu um cutucão da ruiva — mas eu ganhei — mostrou a língua, recebendo o mesmo de volta.

— Aproveite enquanto pode, porque essa aí é insuportável — Kara acusou e Alex a chutou por debaixo da mesa.

— Hum, mudando de assunto, como vão as coisas? — Alex perguntou após as três escolherem uma mesa do lado de fora e Ruby se concentrar no livro novamente — como vai a minha sobrinha favorita?

— Você só tem uma sobrinha, Alex — franziu o nariz.

— Detalhes — deu de ombros — agora me responda.

— Estão… normais, eu acho — encheu a boca de sorvete e repensou — do que quer saber?

— Tudo, afinal muita coisa mudou e eu quero saber se está tudo bem — explicou — porque “acha” que está tudo normal?

— Não sei… talvez… talvez seja só coisa minha — a ruiva arqueou a sobrancelha  e esperou por uma resposta mais clara — nada mudou muito, Lizzie está bem, Lena está aos poucos voltando a trabalhar e eu tenho ido mais vezes para a CatCo, só que…

— Só que…?

Kara respirou fundo e encheu a boca novamente, deixando o doce do sorvete derreter na língua.

— Parece que eu e a Lena voltamos na época em que éramos amigas — pontuou chateada, sem nem saber ao certo o porquê.

— E isso não é bom? — a loira não soube o que dizer — quero dizer, melhor do que estar ainda pisando em ovos com toda a situação da… você sabe quem.

— É, eu sei, mas não é que eu esteja mal por sermos amigas, é só… uh, eu não… não sei como dizer — gesticulou com as mãos, fazendo a outra desviar algumas vezes e Ruby franzir o cenho.

— Palavras, Kara — segurou seus pulsos e a encarou carinhosamente — respire fundo.

— É como se a gente fosse amigas, mas com o mesmo sentimento de antes, não aquele de amigas e sim aquele que a gente construiu, entende? — Alex entendia, claro que entendia, mas deixaria a irmã desabafar primeiro — eu… eu olho para ela e ainda vejo que existe algo mais, mas e seu eu estiver só criando expectativa?

— Porque acha isso?

— Ela nunca disse que me ama… quero dizer, eu já disse e ela… ela nunca disse de volta — e então Alex pode ver a sombra de tristeza no azul terno dos olhos de sua irmã, um que ela já havia visto algumas vezes e que sempre cortava seu coração — e se ela nunca disser porque nunca sentiu?

— Kara, nós duas sabemos que isso não é verdade — pontuou cuidadosamente — Lena te ama sim, da maneira dela e eu sei que não ouvir um eu te amo de volta é doloroso, mas talvez ela tenha medo.

— Mas nós passamos por tanta coisa, mais do que qualquer outro casal e eu não quero… — respirou fundo, lutando contra as lágrimas — sabe, é como se estivessemos juntas, mesmo não estando namorando e, sinceramente, isso machuca. Segurar as mãos dela, assistir filme juntas no sofá e às vezes Lena me deixa dormir com ela, quando tenho pesadelos… isso… — encarou o pote de sorvete, com o restante da massa derretendo — eu não quero colocar esperança em algo que pode nunca voltar…

— Kara, meu amor, me escute — Alex tomou suas mãos nas dela — não posso dizer que entendo, eu tento, mas só você sabe como é e bom, eu tenho dois conselhos para te dar.

— Uh… okay — ajeitou o óculos sobre o nariz. Ruby escutava com atenção a conversa e queria poder ajudar.

— Se não quer se machucar por não ter certeza do que a Lena sente, então talvez essa seja a hora de mudar — pontuou.

— Mudar de que?

— De apartamento — a pequena Danvers sentiu o coração afundar no peito — calma, respira. É apenas uma sugestão, para o seu próprio bem, mas sei que não quer ficar longe da Lizzie e eu entendo — explicou rapidamente ao perceber o medo no olhar da mais nova — porém não adianta ficar num lugar onde isso só vai te deixar mal e vai acabar afetando a sua filha também.

— E-eu… Alex, isso é… — não conseguiu terminar.

— É, eu sei e é por isso que tenho outro conselho — ambas suspiraram — se ainda quer tentar, se ainda quer lutar para ter o seu relacionamento de volta, então vai ter que ser sincera e não esperar que ela leia seus pensamentos — a loira franziu o nariz — vocês duas não falam, não colocam para fora o que sentem e acabam se privando de algo bom, algo muito bom e que pode dar certo — entrelaçou seus dedos aos dela e sorriu ternamente — eu vejo que você a ama e sei que ela te ama também, por algum motivo ela não quer falar e só vamos descobrir se perguntarmos, no caso, você perguntar, porque se fosse eu já tinha arrancado isso para fora agressivamente — Kara riu baixo e rolou os olhos — é a sua escolha, se acha que vale a pena, então tente. Caso ache que é algo que só vai te encher de esperanças vazias, então comece a planejar um futuro onde vocês duas são amigas, mães da mesma filha, mas que precisam morar separadas — e, novamente, o coração da loira ancorou fundo em sua alma e a dor era palpável — eu sei que é ruim, términos nunca são bons, porém a vida segue, Kara. Você precisa do seu espaço, Lena também e talvez seja necessário. Saudade às vezes faz bem e ajuda a lembrar da importância que o outro tem.

— Eu não quero fazer ninguém sofrer, principalmente a Lena — comentou chateada — ela não quer que eu vá embora, Lizzie precisa de mim e ela também.

— Claro que precisam, é a sua família, mas se você está sofrendo, qual o ponto? — contra isso Kara não tinha argumentos.

— Você tem razão — admitiu tristemente. Ir embora. Soava como a perda que teve há anos atrás, soava como mais vinte e quatro anos na zona fantasma.

— Não quero você triste, não tem que fazer o que estou dizendo, mas quero que pense bem no que te falei, promete que vai fazer isso? — a loira assentiu — ei, olhe para mim — levantou seu queixo com o indicador e encontrou as lágrimas escorrendo pelo canto dos olhos — vai ficar tudo bem, eu prometo.

— Porque não chama ela para um encontro? — Ruby finalmente falou e ambas a encararam assustadas — se ela aceitar, então já vai ter a sua resposta.

— A Ruby tem razão também, pode ser uma boa ideia — Alex concordou.

— E se ela não quiser? — perguntou.

— Daí você fala que não pode ficar — Ruby respondeu — as pessoas às vezes precisam saber o que é ficar sem para então querer algo de volta.

— Garota, quando ficou tão inteligente? — brincou, beijando os cabelos da menina — é uma escolha também, tire um tempo para pensar — virou-se para a irmã — não precisa decidir agora, pode terminar o sorvete.

— Posso pegar mais? — a ruiva, obviamente, assentiu — eu vou precisar de muito, tipo o triplo do que comi agora.

— Oh céus, Kara — rolou os olhos. Independente do que a irmã fosse decidir, ela sabia que seria para o melhor. Nem sempre as coisas duram para sempre, às vezes é melhor deixar ir embora, mas, às vezes, vale a pena tentar mais uma vez.

Bastava agora saber qual delas era a escolha correta.

***

A casa estava em perfeito estado e parecia até que nunca esteve bagunçada, o que não era verdade. Desde que Lizzie havia nascido, há quatro meses atrás, o apartamento era constantemente bombardeado por mamadeiras, brinquedos, roupas e objetos pessoais das duas mães. Por mais que agora ele estivesse totalmente organizado, os retratos e chupetas da pequena Luthor denunciavam a presença de uma mudança definitiva na vida de todos que iriam se acomodar mais tarde na sala. As fotos dos estágios de crescimento da menina ficavam espalhadas nas estantes, assim como seus livros de borracha, brinquedos, quadros que Lena havia mandado montar com várias fotos delas três. Nada ali era o mesmo e nada voltaria a ser como antes. E era sobre isso que a Luthor se preocupava.

Não que a bagunça em si a incomodasse e sim o fato de não conseguir voltar a ser um pouco da pessoa que era antes de toda aquela loucura de gravidez. Claro, jamais trocaria a vida que tinha com a filha por qualquer coisa do passado, mas certamente que alguns pontos ainda eram difíceis de lidar. Quando se é criada e formatada para ser de uma forma, é complicado aceitar a mudança. Lena havia sido criada para ser perfeita, uma mulher inteligente, forte, destemida, empoderada e que nunca aceita menos do que já tinha. Lilian a ensinou a não chorar, não resmungar e não desobedecer, foi assim durante toda sua infância e ela não sabia como ser diferente. A mansão dos Luthors estava sempre impecável, com as empregadas a todo tempo garantindo a limpeza perfeita e se certificando de que tanto Lena quanto Lex deixassem tudo organizado. Nada deveria estar fora do lugar, caso contrário haveriam consequências severas e Lionel detestava a desordem.

Por isso, naquela tarde de sábado, Kara foi recrutada para limpar cada centímetro do apartamento, pois logo todos seus amigos chegariam para a noite de jogos. A loira bem que tentou explicar que não havia necessidade, ninguém iria cobrar esse tipo de coisa dela. De nada adiantou e ela teve que levantar cada móvel do lugar para que a morena retirasse os resquícios de uma poeira inexistente. Pelo menos para isso a super força servia para alguma coisa, pensou Kara. Lizzie, para sua sorte, ficou apenas observando e tirando alguns cochilos. Agora que estava completando quatro meses, ficava mais tempo acordada, brincava com o móbile pendurado em sua cadeira de balanço e tentava alcançar a orelha da Agnes, que constantemente estava se escondendo da menina. Aliás, até a pobre cachorrinha foi mandada para o pet shop naquela manhã para estar cheirosa para o evento.

As pizzas e bolinhos chineses chegaram meia hora antes do combinado, para alívio da CEO. Ela organizou as bebidas no congelador, separando as alcoólicas das não alcoólicas, afinal ela não iria beber, e colocou os guardanapos e copos na mesa de centro da sala de estar. Conseguia ouvir o barulho do chuveiro e por isso rumou para seu quarto, onde se despiu e olhou Lizzie antes de entrar no banho. No entanto, um barulho chamou sua atenção e a preocupou. Se enrolou na toalha e se certificou de que a filha ainda estava dormindo, saindo em seguida para o corredor. Kara estava dentro do cômodo que havia se tornado seu desde que se mudou para lá e o som da água caindo ainda se fazia presente. Lena hesitou antes de entrar, não sabia se deveria ou não invadir a privacidade dela dessa maneira, mas o pequeno estrondo tinha a assustado e não deveria relaxar quando sua mãe estava por aí dando uma recompensa para o sequestro da própria neta. Algo que, aliás, ela nem conseguiu dizer para a loira.

Empurrou a porta devagar e observou o quarto iluminado pelo por do sol, tocando a colcha azul clara sobre a cama e a roupa sobre o lençol. O cheiro doce invadiu suas narinas rapidamente, a lembrando de como era tê-lo na sua pele todas as noites em que dormiam abraçadas, em que faziam amor deliberadamente e se amavam com tanta intensidade. Rapidamente seu corpo reagiu àquelas memórias e ela teve que suprimir um gemido saudoso que teimava em escapar dos seus lábios. Se concentrou novamente no que deveria fazer e caminhou até a sacada, olhando para os dois lados e então fechando a porta de vidro, assim como as cortinas. Kara tinha a péssima mania de entrar por ali e esquecer aberto. Assim que percebeu que não havia perigo, voltou por onde passou e outro som chamou sua atenção. Algo tinha caído no chão e levado outras coisas consigo abaixo.

Arqueou a sobrancelha e suspirou. Vinha de dentro do banheiro da suíte. Céus, porque tinha que ser tão curiosa?

Bufou nervosa.

A maçaneta fria tocou seus dedos e, quando menos deu por si, tinha aberto uma pequena fresta, conseguindo espiar o lado de dentro sem chamar a atenção.

— Lena… — um gemido, quase como um suspiro sôfrego, ecoou, ricocheteando nas paredes e atingindo uma parte muito sensível da morena.

Lena sentiu o corpo tencionar e ao mesmo tempo reagir fortemente aquele som delicioso. Seu nome. Porque ele tinha que ficar tão mais saboroso quando Kara o pronunciava? Parecia algo impossível, mas ela conseguia fazer com ele soasse mais intenso. Quis sair dali, correr e voltar para o seu banho, pois a qualquer momento Alex e Sam estariam chegando com os jogos, assim como Winn e James trariam os filmes para mais tarde. No entanto, algo mais forte a fez ficar e terminar de ouvir o que a loira gemia embaixo d’água. Abriu mais um pouco a porta, conseguindo visão da porta de blindex do box e seu ventre formigou em antecipação. Estava excitada, fodidamente excitada e sequer podia impedir seus poros de dilatarem, seu pele de arrepiar e suas pernas pressionarem uma a outra. Mordeu os lábios, engolindo o próprio gemido e soltou o ar devagar, tentando não fazer barulho.

A imagem quase escultural da heroína estava arqueado para frente, os cabelos loiros caindo sobre o rosto e a água quente escorrendo em sua pele bronzeada. Focou o olhar nos seios que subiam e desciam com o movimento da respiração dificultosa, a mão que tinha os nós esbranquiçado por apoiar o peso todo no azulejo florido do banheiro e a outra que se movia freneticamente em sua boceta melada. E isso quase arrancou de si um suspiro alto e doloroso, que fazia todo seu próprio corpo superaquecer e desejar tocá-la, beijá-la e fodê-la da melhor forma possível. Sentia falta de tudo referente a kryptoniana, principalmente do sexo. Há meses não sabia o que era ter intimidade e estava ficando ridículo como isso se repetia em sua vida.

Seus dedos tremeram sobre o tecido da toalha e ela sentiu o próprio líquido escorrer entre as coxas. Kara movimentava o indicador e o dedo médio para dentro e para fora, gemendo o nome da Luthor quase que audível para quem passasse no corredor. Era uma visão diferente, pensou consigo, ver a amiga num momento tão delicado e tão íntimo, apesar de terem passado por tanta coisa. No entanto, jamais conseguiria tirar aquela cena da cabeça, por mais que tentasse muito. Quando percebeu que a loira iria gozar, seu coração errou uma batida e ela rapidamente saiu dali, voltando para o banheiro e aliviando a dor latente em seu próprio sexo, gemendo o nome da mulher que amava, sem nem conseguir negar a si mesma que era amor o que tinha dentro de sua alma.

***

— Alex! — Winn resmungou novamente — Lena, por favor, já passou mais de cinco minutos do tempo dela!

— Eu desisto, Kara, resolve isso — levantou as mãos rendida e viu a loira sorrir para si.

— Estou ocupada tentando cortar esses queijos em cubinhos perfeitos — respondeu concentrada, cortando tão devagar que provavelmente os petiscos ficariam pronto na próxima noite de jogos — droga…

— Eles estão perfeitos, não precisa se cobrar tanto — elogiou sincera, ou talvez nem tanto.

— Isso é um triângulo ou um objeto desconhecido? — Sam se aproximou e provocou a loira, pois nenhum ali se parecia com um cubo — o que acha James?

— Achei que fosse algo abstrato — entrou na brincadeira e Kara bufou em desistência, colocando a faca sobre a pia e fazendo um bico enorme.

— Lena! — exclamou manhosa e seus amigos riram.

— Confie em mim e não escute esses dois idiotas — encarou-os seriamente e Sam riu mais ainda — eles estão perfeitos, querida — beijou sua bochecha, sem nem ao menos pensar em seus atos.

James cutucou Sam e ela assentiu, como quem também tinha percebido aquela cena. Ele tentou convencê-la a deixá-las sozinha, mas óbvio que a CFO jamais perderia a oportunidade de presenciar aquilo para depois mexer com a melhor amiga.

— Experimente com as azeitonas — juntou um cubinho de queijo a uma azeitona e esperou a Luthor abrir a boca — me diga o que acha.

— Hum — mastigou antes de terminar — deliciosos, pode colocar a caixa de palitos na mesa, por favor?

— Claro — sorriu empolgada e pegou tudo o que tinha levar para a sala.

— Alex! É a minha vez! — Winn reclamou novamente, cruzando os braços e tentando convencer a ruiva a soltar sua afilhada.

— Pare de ser chato, ela é minha sobrinha — mostrou a língua e voltou a encarar os azuis da menina — ele é um tio tão insuportável, não é, Liz? Hum?

Lizzie balbuciou como sempre fazia e colocou o punho na boca, melecando tudo de baba.

— Alex, o combinado era dez minutos cada um — Lena avisou novamente, mas a ruiva simplesmente ignorou — não pode dizer que eu não tentei — afagou os ombros do pobre Winn.

— Okay, larga ela e vai ver se a Ruby quer comer alguma coisa — Sam apenas falou e Alex obedeceu, fazendo um bico e entregando a sobrinha para a namorada — pronto, Winn, toda sua. Aproveita e faz o serviço completo, pois a fralda está cheia — o garoto fez uma careta impagável e James gargalhou alto.

— Ei! Você vai comigo, nem pense que eu vou fazer isso sozinho de novo! — apontou para o melhor amigo que logo parou de rir e grunhiu desacreditado — está achando que é fácil ser tio?

— O padrinho é você, cadê toda sua possessividade agora? — James rebateu e Kara apareceu do seu lado.

— Você é o apoio moral que ele precisa, boa sorte — encorajou o amigo e ele bufou — sabem onde fica tudo, voltem com ela limpa — piscou.

James e Winn rumaram para o corredor, enquanto as mulheres terminavam de colocar a comida na mesa e os jogos sobre o tapete. Ruby estava deitada sobre um forte de travesseiros que sua tia Kara tinha montado especialmente para ela no seu quarto e Agnes, que não era boba nem nada, se deitou ao seu lado, esperando receber algum pedaço daquela pizza que a menina comia. Ao voltarem, Winn sentou no chão e colocou Lizzie sobre suas pernas, a deixando confortável e com uma vista privilegiada no tabuleiro. Todos se acomodaram, os petiscos logo começaram a sumir dos pratos e a conversa fluía normalmente. Era sua família, pensou Lena consigo, observando como Alex ria para Sam, como James deixava sua filha segurar seu indicador e em como Winn beijava suas bochechas gordinhas a cada dois minutos.

Sentiu então os dedos quentes da loira se entrelaçar com os seus debaixo da mesa e ela a encarou carinhosamente.

— Tudo bem? — sussurrou.

— Sim — respondeu num tom que só a heroína escutava.

— Okay, foquem em mim e me escutem — Sam chamou a atenção de todos — eu e a Alex escolhemos alguns jogos que não são de tabuleiro, apenas para começar.

— Porque tenho a sensação de que vou me expor mais do que deveria? — Winn comentou e James riu.

— Você faz isso com ou sem jogo, meu amigo — afagou os ombros dele.

— Certo, vamos nos dividir em duplas e claro que eu já escolhi todas — Alex avisou e tirou os papéis de dentro de um copo — eu fiz por sorteio. Primeira dupla é Sam e Kara, a segunda é Lena e James e, por fim, eu e o Winn — se levantou — vamos trocar de lugar.

— Por que eu tenho que fazer dupla com a Sam se sempre faço com  a Lena? — claro que ela iria contestar, pensou Alex.

— Porque foi um sorteio e seria totalmente um roubo deixar vocês duas juntas — explicou, já se sentando ao lado do Winn.

— Mas isso não é justo! — emburrou, vendo Lena se sentar ao lado de James — eu sempre faço dupla com ela, porque vamos mudar isso? — bufou — já não gostei desse jogo…

— Kara, essa é apenas a primeira rodada, prometo que fazemos uma dupla na próxima — a CEO tentou intervir, mas claramente que a pequena Danvers estava longe, muito longe, de aceitar — ela não vai mudar, vai? — encarou Alex.

— Não, não vai não — concordou.

— Vem, passe para cá — James se levantou e piscou para a loira, que sorriu largamente e quase pulou por cima da mesa.

— Satisfeita? — Lena provocou, porém isso sequer chateou a outra.

— Muito — entrelaçou suas mãos, se esquecendo que todos podiam ver e então ajeitou o óculos sobre o nariz.

Todos fingiram não ver nada e Alex tossiu alto para chamar a atenção mais uma vez.

— Posso continuar, ou a madame vai ficar me atrapalhando? — cruzou os braços e Kara mostrou a língua.

— Vai, Alex, o que temos que fazer? — James perguntou.

— Escolhi algumas perguntas engraçadas e as escrevi nos papeizinhos que estão aqui dentro — levantou a tigela de plástico — são perguntas sobre a sua dupla e que, caso você não acerte, terá que contar algum segredo.

— Então eu tiro a pergunta e faço para a Sam e se ela não acertar então seguimos no segredo, certo — repetiu para confirmar e todos assentiram.

— Vamos começar pela minha dupla, que na verdade é um trio — encarou a sobrinha que estava quase dormindo no colo do padrinho, fazendo um barulhinho com a chupeta — escolhe uma.

— Qual o comportamento estranho que sua dupla tem? — Winn perguntou — que tipo de pergunta é essa?

— Sei lá, eu só tirei da internet — bufou — vício secreto… você é o cara mais esquisito que eu já conheci.

— Ei, não precisa ofender — retrucou.

— Anda logo!

— Certo, eu acho que é ir na sessão de filmes nerds da locadora apenas para poder comentar sobre Star Wars sem se sentir oprimido e ainda flertar com a menina do caixa — o garoto corou em vários tons de vermelho e tossiu nervoso — acertei?

— Eu não vou lá para flertar com ela! — se defendeu — apenas gosto de curtir gostos iguais aos meus.

— Sei bem que gosto você quer curtir — Sam provocou e Lena gargalhou.

— Vocês agora — Kara pegou o pote e escolheu um papelzinho — essa eu quero ver…

— Certo, vamos lá — virou-se para a amiga — qual o hábito engraçado que sua dupla desenvolveu nos últimos meses?

Lena sorriu de lado e a loira arregalou os olhos. Ela sabia bem o que a CEO estava pensando e nem por Rao ela deixaria aquela resposta ser dada.

— Lena, não, por favor, não — quase se ajoelhou para suplicar — eu faço qualquer coisa para você, só, por favor, não conte!

— Mas eu nem disse nada ainda, como sabe o que vou contar? — arqueou a sobrancelha. Claro que a loira sabia.

— Porque eu te conheço melhor do que ninguém — cuspiu as palavras no desespero.

— Wow, pegou pesado — Winn comentou divertido e Alex concordou.

— Qualquer coisa? — repetiu para Kara e ela assentiu — qualquer coisa mesmo?

— Kara, você vai se arrepender de ter falado isso — Sam comentou rindo.

— Ugh, Lena! — bufou — qualquer coisa, eu prometo.

Lizzie então começou a resmungar e chorar, claramente com fome. Lena a pegou do colo do padrinho e a aconchegou em seus braços, descendo a alça da blusa e pedindo para a loira cobrir seu ombro com o lenço. E o jogo continuou.

— Agora você tem que falar um segredo — Alex pontuou — o que Lena Luthor guarda a sete chaves nessa cabecinha — sorriu maliciosa e piscou para a amiga.

— Vamos ali no meu quarto que eu te conto — provocou de volta. Kara colocou a mão no rosto e Sam quase cuspiu a cerveja de tanto rir.

— Dez pontos para os Luthors — Winn comemorou e fez um high five com a morena.

— Bom, quando eu tinha uns quatorze anos, Lilian descobriu que eu estava apaixonada por uma menina da minha sala e que era por isso que eu ficava até mais tarde na escola todas as quintas — explicou — um dia, eu fiquei esperando dar o horário de sempre para esperá-la e minha professora me chamou na diretoria para explicar que os pais dela tinham descoberto sobre nós duas e mandado ela para um colégio interno na Áustria — Kara nunca tinha escutado aquela história e ficou cada vez mais curiosa — eu me senti tão mal que praticamente me afundei nos livros e mal saía de casa, pois o sonho dela era se formar ali por causa do projeto com o professor de física. Enfim, descobri mais tarde que minha mãe, claro, tinha um dedo nisso.

— Lena, era para contar um segredo e não um desabafo triste — Alex retrucou — e aliás, onde está o segredo nisso?

— Vai deixar eu terminar de falar ou vai ser insuportável a noite toda? — a encarou e a ruiva sorriu divertida — como eu descobri a verdade, naquela época meu irmão estava desenvolvendo um protótipo de um aparelho para a Luthor-Corp e eu então invadi o laboratório dele na empresa, numa das visitas que fiz com Lionel, e sabotei o projeto. Retirei algumas peças que ele demoraria a ver e substituí por outras que eram mais frágeis. Ele nunca conseguiu terminar para vender — deu de ombros, como quem conta uma história qualquer — e é assim que os Luthors são criados, James — piscou para Olsen, que riu baixo.

Os termos entre os dois estavam bons, James não discutia mais, apesar de ainda ter receios sobre a morena, porém aceitava a escolha de sua melhor amiga. Sem contar que ele era apaixonado na Lizzie e não conseguia resistir ao seus olhinhos azuis. Por isso, ambos ficaram mais tranquilos e nenhum tocava no assunto de antes, ou nas brigas.

— Eu escolhi amar a pessoa certa — Alex comentou e Lena piscou para ela — agora vocês dois.

— Okay — Sam retirou um papelzinho — qual o lugar mais inusitado que sua dupla já transou?

— Como eu vou saber disso? — James exclamou.

— Simples, eu namoro com a Alex — a ruiva sorriu sem graça e levantou as mãos em rendição — pense bem.

— Eu não sei… — bufou — na cozinha?

— Homens… — Sam colocou a mão sobre o rosto — sempre sem imaginação… foi na ala médica da DEO.

Winn cuspiu a bebida e Lena teve que se conter para não rir alto e assustar a filha que mamava ainda no seu colo. Kara desejou ser surda.

— Sam! Ugh… quem tem que revelar o segredo sórdido é ele e não você! — James ainda estava chocado e preferia não entrar no assunto.

— Aliás, outra coisa — pontuou.

— Lá vamos nós — Winn suspirou, ainda sem conseguir respirar direito.

— Eu nunca fiz sexo a três — revelou, deixando a namorada um pouco curiosa sobre isso.

— E você gostaria? — Alex questionou e todos ficaram em silêncio.

— Talvez no passado, agora não tenho certeza, porque se alguém encostar no seu corpo sem a minha permissão eu não respondo por mim — simplesmente explicou e tomou mais um gole da cerveja — talvez se fosse a Lena, não tivemos essa oportunidade na escola — piscou para a CEO.

— Wow — ela gargalhou — estão realizando meu melhor fetiche — entrou na brincadeira.

Mas tinha alguém que não estava feliz com aquilo. Nem um pouco.

Kara se levantou de repente e foi para a cozinha, totalmente em silêncio e sem olhar para trás. Alex fez menção de ir atrás, mas Lena pediu que não, pois ela sabia bem como a amiga estava se sentindo e que ela mesma deveria consertar a conversa para que Kara entendesse que era apenas uma brincadeira. Aproveitou que Lizzie tinha adormecido, colocou-a para arrotar sobre seus ombros e caminhou atrás da loira, deixando os outros na sala conversando e ainda rindo de toda as perguntas. Suspirou nervosa e tentou não gaguejar. Era estranho que ambas sentisse ainda tanto ciúmes uma da outra, sendo que não namoravam, então eram livres para conhecer qualquer pessoa que quisessem. Mas, aparentemente, nenhuma queria isso. A teimosia de seus corações era grande demais para lutar contra.

— Kara, está tudo bem? — encostou levemente a mão na base das costas dela e esperou.

— Você ficaria mesmo com elas? Digo… minha irmã ou a, uh… Sam, ou as duas… — perguntou cabisbaixa e torcendo a barra da camisa — e-eu… eu não devia perguntar isso, eu…

— Claro que eu não faria isso, Alex é minha amiga e sua irmã, e Sam é minha melhor amiga — pontuou.

— Eu também era sua melhor amiga — bufou. Rao, porque tinha que ser sempre tão difícil?

— Isso foi diferente, sabe disso. Eu sempre quis que você fosse algo mais — a loira sorriu fraco, porém ainda não se sentia tão segura — e agora você sempre vai ser algo mais. Sempre.

— Mesmo? — a morena assentiu em silêncio — me desculpe…

— Não tem que se desculpar, eu sei como se sente — confessou um pouco sem graça e então ambas olharam para Lizzie, que se remexia no colo da mãe — talvez ela precise de um pouco de carinho da yeyu — Kara sorriu largamente e a pegou para si, beijando seu rosto com tanto carinho que Lena teve que segurar o fôlego.

Elas a levaram para o berço e aproveitaram para passar no quarto da pequena Danvers, onde Ruby estava entretida com o livro e comendo os pedaços de pizza que sua mãe tinha levado para lá. No entanto, quando foram olhar dentro do forte de travesseiros, encontraram uma menina adormecida e uma bola peluda deitada perto de sua barriga, igualmente adormecida. Kara e Lena sorriram uma para a outra, tiraram os pratos sujos, assim como o livro e cobriram a pequena, voltando então para a sala e se sentando ao redor da mesa. As perguntas continuaram, cada vez mais engraçadas e sem sentido. no fim, a família Luthor-Danvers ganhou e era exatamente por isso que Alex não queria deixar as duas formarem uma dupla.

***

A manhã de domingo já acordou agitada. Lena virou-se na cama e sentiu a presença de um corpo quente, porém menor do que estava acostumada. Bocejou, se espreguiçou e coçou os olhos, procurando primeiro pelo seu bebê, que já estava acordado e balbuciando coisas engraçadas, com as mãos e pernas para o ar. Sorriu encantada e então tratou de verificar a outra pessoa do seu lado. A sacada do seu quarto estava com a porta aberta, mas com as cortinas fechadas, indicando que Kara tinha saído logo cedo. Abaixou o lençol devagar e tentou não rir com a situação. De repente, o mesmo lençol foi puxado para cima e o colchão afundou com o movimento brusco.

— Bom dia, Ruby — riu baixo e puxou o pano para baixo de novo.

— Hum… bom dia, tia Lena — a menina sorriu sonolenta e virou-se para a morena, ainda bocejando — sua cama é tão quentinha.

— E você aproveitou disso para vir dormir comigo? — brincou e a deixou abraçar seu corpo.

— Uhum, eu não queria ficar sozinha — confessou — eu ouvi um barulho de manhã cedo e então vim correndo para cá, entrei por debaixo do cobertor e fiquei bem quieta — ambas riram.

— Não deixe a Lizzie descobrir que dormiu comigo, ela fica com ciúmes — cochichou, ouvindo a filha gritar e virar de barriga para baixo — está vendo só?

— Ela pode dormir aqui no meio, não tem problema — ambas riram e então sentaram na cama — posso pegar ela no colo?

— Que tal você trazer ela para a sala e ligar a televisão, enquanto eu preparo o nosso café da manhã? — sugeriu carinhosamente, ajeitando os cabelos castanhos da pequena que caíam em seu rosto. Em sua mente, ela conseguia imaginar Lizzie com treze anos, escapando para a sua cama no meio da madrugada e lhe abraçando logo cedo, pedindo para que fizesse algo diferente para comer.

Seu coração inflou de amor e ela nunca pensou que isso fosse ser possível.

Do outro lado da cidade, a DEO estava tendo problemas. Aparentemente, dois meta humanos, com a mesma características do anterior, estavam soltos perto do porto principal e iam destruindo  tudo ao redor. A luz amarela brilhava nas frestas dos seus corpos, os olhos estavam vermelhos e certamente que eles não sabiam o que estavam fazendo. Os agentes se dividiram em suas funções, saíram dentro das vans pretas e correram para dispersar os civis. Alex estava no comando da missão e esperava ansiosamente pela hora que Kara iria aparecer, pois ela estava terminando um outro caso do outro lado da cidade. Winn narrava os fatos em seu ponto de escuta e ela tentava o melhor para ninguém se machucar.

Um dos meta humanos era um rapaz loiro, magro, porém ele parecia ser o mais forte. O outro se parecia com Hugo, mas era mais alto e estava totalmente desorientado.

Alex, na sua esquerda!

A ruiva atirou e o corpo bateu contra uma placa de metal, fazendo um barulho alto e quebrando os bancos de concreto que ficaram a beira mar.

— Alex! — o som do baque da heroína de aço logo chamou a atenção de todos.

Entretanto, outro baque ressoou no local e logo os agentes enxergaram a capa preta se mexer junto com a vermelha.

Supergirl a encarou e sorriu surpresa. Reign dificilmente se juntava a ela nas brigas, porém desde o incidente no estacionamento, ela estava mais amigável, não no sentido amplo da palavra, claro. Mas já era um ponto positivo, pois uma ajuda era sempre bem vinda.

— Trouxe reforço? — a ruiva perguntou sarcasticamente, com o coração errando algumas batidas. Ela só enxergava sua namorada e isso a preocupava.

— Eu trouxe? — virou-se para Reign.

— Falem menos e lutem mais — bufou nervosa e alçou voo. Supergirl deu de ombros e riu baixo.

Iria ser interessante.

A briga continuou, Winn ajudava com as posições e logo outro meta humano se juntou a essa soma. Nenhum deles sabia lutar, ou se defender propriamente, todavia eles eram fortes, extremamente fortes e tinham a ajuda da radioatividade no centro do peito. A pessoas gritavam e Alex distribuíu seus agentes para conseguirem limpar a área mais uma vez, tirando os civis de vista e os espalhando para o outro lado. Estava difícil manter o controle, a bagunça e a poeira se alastrava pela cidade conforme as duas heroínas se movimentavam e voavam atrás dos rapazes. Além de fortes, eles eram rápidos e ágeis.

— Winn, informações! — Supergirl pediu.

O rapaz loiro era funcionário de uma fábrica no fim da cidade, tem um filho adolescente que mora no subúrbio.

— Certo e os outros dois?

O mais velho tem uma esposa que mora perto da praia no final do porto, ele é pescador e tem uma peixaria que vende bolinho de bacalhau.

— E porque eu deveria saber disso?

Não sei, vai que é importante.

Ela rolou os olhos e o deixou terminar. Winn ainda não havia conseguido encontrar o cadastro do outro e por isso pediu mais alguns minutos. Com isso, ela voltou a lutar ao lado da Reign, que não media forças para bater nos meta humanos e isso era muito preocupante. A investigação sobre Hugo não foi muito longe simplesmente porque ele estava morto, não tinham como interrogar e descobrir como ele havia sumido. Por isso elas não podiam matá-los, bom, Kara não matava, jamais. Mas Reign não se preocupava com moral e bons modos numa briga e certamente que quebraria aqueles três no meio quando tivesse a oportunidade.

— Reign! — a morena a encarou furiosa — não é para matar! Só para…

— Bater? — a loira franziu o nariz, nem sabia o que responder — não posso prometer nada — foi ríspida, como sempre.

— Não! Nós precisamos deles vivos! — gritou novamente e voou atrás dela — bata o quanto quiser, mas é para deixá-los vivos!

— Você é tão sem graça! — bufou.

— Isso aí! Bate aqui! — levantou a mão e a outra franziu o cenho, a deixando no vácuo.

— Bater em você? — ela então acertou um soco no rosto da kryptoniana e as duas caíram no chão.

— Ficou louca? — grunhiu de dor — era para bater na minha mão!

— Porque? Qual o sentido disso? — Rao! Kara pensou. Ela era mais lerda do que ela mesma.

— Esquece.

Supergirl! Precisamos de você na área oeste da cidade!

— Não posso agora, Winn.

— Supergirl! — Alex gritou e chegou correndo — apenas vá!

É uma ordem! Jonn está te chamando!

— Vai logo! — Reign bufou impacientemente e a empurrou.

— É a Lena — a ruiva conseguiu finalmente respirar para falar — mais caçadores de recompensa, eles… estão indo para o apartamento. Jonn chegou a tempo, mas precisa de você.

— Eu fico — Reign comentou e a Supergirl a abraçou — o que infernos está fazendo? — gritou furiosa e a empurrou para longe.

— Abraçando, oras.

— Eu não abraço, odeio abraços! — seus olhos brilharam vermelhos de raiva.

— Impossível — retrucou antes de sair e alçar voo.

Alex suspirou e encarou a mulher ao seu lado. Ela parecia estar numa luta interna, seus olhos variavam do castanho para o vermelho numa velocidade impressionante. Não sabia como aquilo era possível, mas ela podia ver a sombra da sua Sam ali dentro. Foi então que elas se olharam e então a heroína tencionou o corpo. Alex ficou assustada. Reign grunhiu novamente, totalmente enfurecida e alçou voo atrás da Supergirl.

Ela havia se lembrado que Ruby também estava no apartamento.


Notas Finais


a luta continua no próximo e teremos a presença da nossa ilustre e amada Lilian hehe

sobre o relacionamento das nossas meninas, estamos indo devagar, mas quem sabe a gente chega la aksjdnskjdnskjdn

aliaaaaas, a mamãe Luthor vai aparecer, mas a mamãe Danvers tbm, será que Lilian vai conhecer a Eliza?

Aguardemos :)

Até a proxima!!!!


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