História What You Gonna Do? - Esclarescimento

Apesar do nariz ainda estar escorrendo um pouco, fui para o trabalho no dia seguinte, tentando me mostrar totalmente disposta, embora não fosse totalmente verdade. Ainda assim, eu estava muito melhor do que estava no dia anterior. Jackson inclusive passou na loja para ver como eu estava, o que só me deixou melhor ainda.

- Como você está? Se sentindo melhor?

- Depois de ser tão bem cuidada, o mínimo que eu posso fazer é ficar melhor – sussurrei, para Hong não ouvir. Ainda que ele estivesse do outro lado da loja, ela não era muito grande, e eu sabia que não era nada profissional de minha parte elogiar os cuidados de um suposto cliente, ainda que este fosse meu namorado. Mas, assim que acabei minha frase, espirrei.

- Não minta para mim – ele fez um biquinho.

- Não estou mentindo. É só um espirro – eu ri.

- Mesmo assim, está frio hoje... – Ele parou por um instante, parecendo pensativo, e depois seu rosto se clareou. Ele foi um pouco para trás e tirou o casaco, que era verde com uma estampa qualquer, que estava usando e me entregou. Graças aos céus ele estava usando outra blusa por baixo. Olhei instintivamente para Hong e virei para Jackson novamente.

- Você mesmo disse que está frio, e ainda assim está tirando seu casaco?

- Você está um pouco doente ainda, precisa se aquecer. Eu vou pro treino agora, então não vou ficar muito tempo com frio. Cuide bem do meu casaco, ok?

- Você não tem jeito – eu enfim peguei o casaco e meio que abracei o mesmo até poder tirar o avental e colocar ele por baixo.

Depois disso, ele se despediu de mim, sorridente como sempre, e foi para o treino. Fui até os fundos da loja e tirei o avental, colocando o casaco verde que me aqueceu quase que instantaneamente, e coloquei o avental por cima de novo. Voltei para a frente da loja onde Hong ria.

- Vocês dois são impossíveis, sabiam?

- Desculpe – corei, abaixando a cabeça.

- Ah, o amor jovem – ele suspirou, ainda sorrindo – Não tem problemas. Você sabe ser profissional quando os outros clientes estão aqui, então tudo certo.

- Obrigada – eu murmurei, não sabendo bem ao certo o que dizer.

- A propósito... Como você está?

- Bem, acho. Um pouco gripada, mas já está passando.

- Fico feliz em saber disso, mas não era isso que eu queria saber.

- Ah – fiquei em silêncio por um minuto – Ele. Certo?

- Faz algum tempo, então fiquei imaginando se ele não te procurou de novo, ou ele só estava agindo por impulso naquele dia.

- Na verdade, ele me procurou de novo, sim – admiti, falando baixo.

- Quando?

- Essa semana. Por isso fiquei doente. Acabei tendo que correr dele debaixo de chuva. Minha sorte foi que minha mãe estava passando de carro e me levou pra casa.

- Parece que sempre tem alguém para te salvar – Hong riu, e eu o acompanhei.

- É, isso é verdade. Mas Kang é covarde. Ele desiste quando vê alguma outra pessoa – observei - Ele tem medo.

- Ele só é um garoto mimado, então? – Hong bufou, aparentemente aborrecido – Eu só vi ele uma vez, e ainda assim ele consegue me irritar.

- Eu falei para a minha mãe. Eu agora irei esperar e ver o que podemos fazer. Por enquanto, não temos provas de nada, então achamos que a polícia não vai se importar muito com isso.

- Infelizmente, isso pode acontecer. Mas, vai dar tudo certo – Hong sorriu, me passando confiança, e eu sorri de volta. Eu realmente tinha que acreditar que tudo daria certo.

Novamente Kang sumiu por algum tempo. Talvez isso fosse um padrão pessoal dele? Aparecer e sumir de repente, para causar um terror psicológico em mim, ou apenas para me pegar de surpresa. Qualquer alternativa me aterrorizava, de qualquer forma.

Em um fim de semana Jackson me ligou, e eu atendi prontamente.

- Sim?

- Quero conversar com você... Podemos nos ver, hoje?

- Ahm, claro – assenti, um pouco confusa. A voz de Jackson tinha um tom sério, o que era incomum. Afinal, se tratava de Jackson Wang – Daqui a trinta minutos?

- Ok. Te encontro daqui a pouco.

Dado o tempo que combinamos, desci e comecei a andar para encontra-lo, mas ele estava do lado de fora da minha casa, apenas de costas, olhando a rua. Quando me aproximei, o cumprimentei novamente.

- Oi... Tudo bem?

- Está tudo bem com você? – Ele perguntou imediatamente, assim que virou para mim. Ele correu seus olhos em mim dos pés à cabeça.

- Tudo, eu acho...? Do que está falando?                 

- Está mesmo? Nenhum machucado? Nada?

- Jackson, o que aconteceu? – indaguei, estranhando aquele comportamento. Ele ficou um minuto em silêncio até suspirar e dizer:

- Porque você não me contou nada?

Mordi o lábio inferior no mesmo instante, sabendo exatamente do que ele estava falando. Baixei o olhar por um instante, enquanto ele me encarava, sério, talvez pela primeira vez desde que nos conhecemos.

- Quem te contou?

- Eu encontrei Hong fora da loja, ontem. Ele perguntou se havia alguma novidade no caso. Coisa que eu não sabia responder, porque eu nem sabia do que estava acontecendo – ele ergueu as sobrancelhas, me olhando, esperando uma resposta.

- Eu não queria te preocupar...

- Eu sou seu namorado, e me preocupo com você, sempre.

- Exatamente – sorri um pouco, olhando para ele – Por isso, não queria que você se preocupasse ainda mais.

- Lembra do que eu te disse, no festival? Eu irei te proteger do que você precisar. E eu não disse isso apenas por dizer, eu realmente irei. Mas, para isso, você precisa confiar em mim e contar esse tipo de coisa.

- Não é uma questão de confiar ou não, e você sabe disso... Me desculpe – abaixei a cabeça novamente, e fui surpreendida por um abraço dele.

- Não diga isso. Não vim aqui para ouvir um pedido de desculpas, e sim para entender o que aconteceu.

Sentamos em uma praça próxima da minha casa, a mesma onde havíamos ido para brincar com Aimee, e então eu contei a história toda, desde o começo. Jackson ouviu tudo atentamente, e pareceu até mesmo chocado ao saber quem o meu perseguidor era ninguém mais que o idiota da festa, onde ele havia me salvado. Depois de contar tudo, ele me abraçou novamente, tentando me confortar.

- Vai dar tudo certo. Vamos dar um jeito nisso, juntos. Certo?

Tudo o que fiz foi concordar com a cabeça, enquanto me deixava ser confortada por ele. Seu abraço era extremamente aconchegante, e me deixava feliz.

Mas admito que foi uma surpresa e tanto quando, na segunda-feira, vi Jackson fora da loja quando eu estava indo embora.

- O que está fazendo aqui? – eu sorri, e ele me cumprimentou com um sorriso, também.

- As duas vezes em que ele apareceu foram depois que você estava saindo daqui. Então, estou me certificando de que isso não vai mais acontecer.

- Isso não vai te atrapalhar? E seus treinos?

- Tudo tem um jeito na vida – ele piscou, enquanto começávamos a andar – Eu passei meus treinos para um horário mais cedo, então eu estarei sempre livre nesse horário.

- Não precisa se preocupar assim, sério – eu ri.

- Ei, nada melhor do que uma boa desculpa para ver minha namorada todo dia, não acha?

- Vendo por esse lado... Gosto da sua idéia.

- Eu sou um gênio, eu sei, pode aplaudir.