18h42 marcava no relógio do quarto e Wuxian já havia se entregado ao desespero. Ir “de boas” ao lado de Wangji foi a pior loucura que ele pôde pensar e, pior, dizer! Como andar casualmente ao lado de alguém que fazia a farda da escola parecer uma roupa de gala?
Amaldiçoando a própria bagagem que não continha nenhuma roupa do agrado dele, bagunçando tudo, acabou atraindo a fúria de Baoshan que já havia quase derrubado a porta ao bater mandando que Wuxian parasse com a palhaçada e se arrumasse logo, pois já estava se aproximando o horário e a pontualidade Lan era reconhecida até demais.
Ele havia contado para a tia parte do que aconteceu durante a sua viagem para a casa da família Wen. A mulher preferiu não forçar o sobrinho a falar sobre os pontos que ficaram obscuros e focou no fato de que Lan Wangji havia se declarado para ele e a resposta não foi muito boa por parte de Wuxian.
Era óbvio que parte da história foi omitida pelo sobrinho, mas de fato não era da conta da mulher pressionar o garoto sobre o que ele não queria contar espontaneamente para ela.
Pelo menos, na cabeça de Baoshan, se animava por Wei Ying ter tomado jeito e entendido o próprio erro querendo pedir desculpas adequadamente, mas ria internamente ao perceber que ele se comportava como uma garota indo para o primeiro encontro com o cara popular do colégio e nem se dava conta disso.
E a história dele de dizer “não sou gay, tia, mas isso não significa que tratarei mal Wangji ou deveria ter pisado nos sentimentos dele. Fui um animal e vou pedir desculpas.”. A conversa entre eles girou em torno de “ele não merecia a minha ignorância”, “ele é um cara fechado, então não sei como não pude parar para ouvir quando resolveu se abrir”, “vou pedir desculpas e a gente pode virar amigos”, “um cara que se preocupa assim com os outros não é ruim”.
- “Esse meu sobrinho precisa entender que ele não vê mais o Lan como potencial amigo”. – Pensou Baoshan Sanren rindo consigo.
Se sentando no sofá diante da televisão, acompanhando o noticiário e tomando uma taça do champanhe de primeira depois da mudança de suíte que veio muito bem a calhar, viu Wuxian saindo do quarto perguntando com os olhos “como estou?”.
Baoshan poderia dizer que era a primeira vez que via o sobrinho conscientemente preocupado com a forma como estava vestido e ele não estava nada mal usando uma camisa vermelha, jeans azul com corte moderno e moletom preto, já que a noite naquela região de litoral costumava soprar um vento frio, ou seja, esportista, jovem e bonito.
- Você está para matar, garoto! – Baoshan sentia o dever de ser a tia que iria envergonhar o sobrinho no encontro com o namoradinho por mais que ele dissesse que não era nada disso.
- Não venha com essas conversas, tia. Isso não tem nada a ver. – Se olhando no espelho amarrando o cabelo em um rabo de cavalo alto organizando a franja que insistia em existir. – Wangji falou que eu poderia ir “de boas”, agora eu me pergunto o que é “de boas” para um Lan.
Wuxian se lembrava do estilo casual de Wangji no dia que foram para a Vila Yunping. Uma saída com os amigos e tanto ele quanto XiChen foram em trajes esporte fino. Pareciam dois modelos de roupas casuais que fariam mais sentido nas ruas de Paris do que em uma vila perto de Yunmeng para um festival.
- Provavelmente tirar a gravata e o blazer do terno mantendo todo o resto. – A mulher fez o sobrinho rir com ela o deixando menos nervoso. – Posso te dar uma dica? – Wuxian acenou confirmando.
- Wangji, provavelmente, vai imaginar um lugar que tu iria gostar. Eu lembro de Qiren e Qingheng-Jun apaixonados pelas esposas e era muito engraçado como faziam tudo por elas. – O olhar de desespero de Wuxian para a tia com a insinuação concluindo o que ela havia interpretado daquela saída estava realmente cômico para a mulher. - Pouco importava se eles gostavam da comida ou do lugar, se elas quisessem assim acontecia. - O olhar de Baoshan parecia distante lembrando-se deles com carinho. – Eles eram amigos muito queridos e fico feliz que você esteja se dando bem com Wangji. Apenas, quando forem sair, não o deixe fazer algo que somente você goste. Tá bom?
- Pode deixar tia. – Mesmo que para Wuxian a mulher tivesse entendido errado, ele iria seguir o conselho. Acenando em despedida se dirigiu para a porta.
- Eu realmente gosto daquele pirralho e A-Ying. – Wei se virou com a porta aberta ouvindo o que a tia tinha para dizer. – Se você não corresponder aos sentimentos dele seja honesto, mas não o magoe. – Wuxian sentiu que iria deixar transparecer a vergonha se falasse para a tia então apenas assentiu – E se você correspondê-lo saiba que irei te apoiar sempre.
Wei Ying ficou tão surpreso que olhou chocado para a tia. A mulher apenas deu uma piscadela mandando que ele vazasse do quarto, afinal ela queria assistir as notícias e torrar o dinheiro dos Lan aproveitando o menu diferenciado da primeira classe.
Wuxian não sabia o que pensar sobre tudo aquilo. Ele não foi criado pensando que era uma possibilidade ser apaixonado por outro homem, pois a própria formação chinesa tradicional não permitia isso. Bom, ele era jovem e poderia pensar em assuntos complexos depois.
Agora ele iria sair com o mais novo amigo dele.
Wei Ying estava levemente chocado com o que estava diante de si. Ele esperava muitos cenários, mas jamais algo do tipo. Wangji estava encostado mexendo no celular distraído em uma belíssima moto. Wuxian jurava que ele viria de carro, mas moto? Não entendia muito de veículos, mas isso não significava que não pudesse apreciar o quão incrível era aquela máquina.
Se aproximando do Lan que o notou já quando estava próximo, surpreso ao ver Wuxian tão bonito, disse:
- Lan Wangji, não sabia que você pilotava. – A segunda jade tentou disfarçar a insegurança ao ouvir aquele comentário. Na verdade nem havia refletido muito sobre a escolha do veículo já que sempre longe do tio e do irmão paranoicos por segurança se dava a liberdade de andar naquelas maravilhas. – Eu gostei! - Bom, se Wuxian havia gostado o Lan não precisava achar que havia feito besteira.
Wuxian não conseguiu deixar de perceber que Wangji realmente gostava de roupas claras. Talvez fosse a influência da família ou algo assim, mas naquela noite ele usava por cima da camisa branca de gola alta uma jaqueta elegante de couro marrom liso e jeans de um azul marinho que mais parecia social e botas casuais de tom escuro. Elegante, sério e esportivo. Parecia um jovem executivo indo para algum happy hour depois de trocar o terno pela jaqueta.
- Eu prefiro motos. – Decidido a se tornar mais comunicativo a qualquer custo e melhorar a sua imagem com o outro, Lan Wangji se esforçou para conversar mais. – Você não precisa me chamar de Wangji.
Wuxian ficou surpreso enquanto recebia o capacete preto colocando sobre a cabeça.
- Então como devo te chamar, Wangji? – Com o capacete Wuxian se sentiu mais ousado para dizer em tom de flerte. – Já devo te chamar de meu amor? – Continuando agora como se estivesse indignado falou: - Mas ainda nem me levou para sair! Que apressado...
Wuxian não estava diminuindo os sentimentos do outro, mas o nervosismo estava se tornando já um tanto desconfortável, logo a melhor técnica que ele conhecia, falar, poderia servir para acalmá-lo, mas também meter o pé pelas mãos.
Wangji quase derrubou a moto olhando arregalado para Wuxian. O herói de Yunmeng não se aguentou e começou a rir como se não houvesse amanhã. Ele não esperava aquela reação. – É brincadeira. Não precisa ficar nervoso. – Mudando de assunto, pois era capaz de ambos morrerem se Wangji não recuperasse o equilíbrio do estado de espírito. – Para onde vamos? Estou curioso! Tem licor?
Wangji decidiu que precisaria desenvolver uma resistência emocional superior para lidar com o amado. Todas as vezes que se envolvia com Wuxian saía com sequelas físicas ou emocionais, mas do jeito que era apaixonado nem se importava mais. Já havia virado parte da “experiência Wei Wuxian” que ele adorava embarcar.
Subindo na moto, Wangji sentiu que Wei Ying se posicionava atrás de si enlaçando sua cintura firmemente. Talvez o subconsciente do Lan tenha previsto aquilo e o consciente estava satisfeito por aquela ideia apesar da vergonha e nervosismo. Ele estava com o cara que era afim indo para um “encontro” apesar de não ser denominado dessa forma e podendo fazer isso de moto.
- Como devo te chamar, Wangji? Não vai me contar? – Wuxian disse baixo ao lado do seu ouvido fazendo-o arrepiar.
- Lan Zhan.
Wuxian sorriu abertamente e disse:
- Então me chama de Wei Ying. – Refletindo um pouco se retratou. – Melhor, me chame de A-Ying. A partir de hoje somos amigos. Não se assuste se eu te chamar de A-Zhan.
A segunda jade de Gusu manteve o olhar todo tempo para frente fingindo que organizava a partida de ambos enquanto ouvia as palavras sendo proferidas as suas costas. Agradecia aos céus por já estar de capacete, senão Wuxian teria certeza que a vergonha teria alcançado níveis alarmantes apenas olhando suas orelhas.
Dando a entender que havia entendido, disse:
- Segure-se, Wei Ying.
E assim ambos partiram do St. Regis em direção a área mais movimentada da cidade onde ficavam os restaurantes de alto padrão. Para Lan Zhan, sempre acostumado com o estilo dos estabelecimentos, não eram nada demais, mas mesmo que Wuxian também frequentasse locais do tipo desde sempre com os Jiang, assimilou que aquela era a realidade dos irmãos, mas não a sua.
E, de qualquer maneira, ele não queria ter que ir para um lugar com Wangji no qual fosse obrigado a se portar com educação, controlar suas risadas e se preocupar com quantos talheres usaria. Ele estava ali com o seu mais novo amigo depois de tanta confusão e queria conversar sobre o que aconteceu. Lembrando-se das palavras da tia se perguntava se realmente Wangji queria ir para algum lugar assim.
Lan Zhan havia estacionado a moto bem na entrada do restaurante que apesar da rusticidade exalava requinte e um manobrista já vinha atarantado receber o veículo. É claro que ele já seria conhecido dali. Pelo pouco que o conhecia era alguém constante que gostava de método e ordem. Como havia se apaixonado por Wuxian que achava normal se apresentar como drag diante dos convidados de um casal de amigos que acabou de conhecer era um mistério.
Vendo que Wangji havia começado a achar que tinha algo de errado por Wuxian ainda não ter descido da moto, ouviu a voz hesitante do outro que não queria magoar o Lan, mas preferia um tempo de real qualidade e onde eles dois pudessem se divertir. Então disse:
- Lan Zhan. – Wuxian pigarreou antes de continuar. – Eu realmente gosto de restaurantes e tal, mas eu preferia ir para outro lugar contigo. - Wangji havia escolhido aquele restaurante pela comida variada e distinta de Gusu que poderia agradar ao paladar do outro sem ofender tanto assim ao seu. Era o restaurante que mais frequentava em Macau quando precisava estar com pessoas de fora da família. – Algum lugar que a gente não iria se estivesse em nossas casas, sabe...
O Lan ficou sem saber onde pôr a cara de tão envergonhado que estava. Wuxian achando seu silêncio ainda mais aterrador, tentando consertar a forma que havia falado, emendou imediatamente dizendo:
- Não que eu não ache que esse restaurante seja fenomenal, mas a noite está tão bonita! A cidade é imensa e eu realmente queria que a gente se divertisse para valer – Percebendo que daria a entender que não se divertiria com ele em um restaurante se corrigiu. - Não que não seja divertido jantar contigo, mas somos jovens e sei lá – Vendo que se enrolava, finalizou – Eu não quero te magoar te fazendo pensar que eu não estou satisfeito de estar aqui contigo, mas somos dois lutadores, gostamos de esportes, competir, eu acho, então...
- Wei Ying. – Lan Zhan o interrompeu já mais calmo percebendo que seu companheiro ali estava ainda mais nervoso que ele se enrolando para se explicar. – Eu entendi.
Se acalmando, disse:
- Eu não acho que devemos chegar pedrados de cachaça, senão a tia me mata, afinal teremos atividades amanhã, mas escolhe aí algum lugar pra gente. – Se animando ainda mais Wuxian deu uma risada e disse. – Algum lugar que tu sempre quiseste ir, Lan Zhan. Algum lugar que nunca teve oportunidade de visitar, se é que existe algo assim.
Wangji ficou pensativo por um instante e dando partida na moto antes que o manobrista se aproximasse cortou a avenida fazendo Wuxian temer pela sua vida se dirigindo para o cais da cidade de onde era possível visualizar Hong Kong do outro lado da baía. Wei Ying agora estava curioso para saber o que se passava na cabeça do Lan, mas não demorou muito até visualizar as cores vibrantes do que havia sido construído no píer na orla da praia.
Um imenso parque itinerante de diversões com direito a roda gigante, montanha russa, circo, casa do terror, casa dos espelhos, carrossel e tudo o que se tinha direito se estendia perto da área da praia. Se aproximando do estacionamento já era possível sentir o cheiro da pipoca, algodão doce e frituras, bem como ouvir o som das brincadeiras nas barracas de jogos.
A decoração misturava lanternas chinesas de várias cores e lâmpadas coloridas nos brinquedos. Era uma visão de tirar o fôlego e empolgava até o mais sisudo dos frequentadores daquela área. Wuxian mal acreditava que seria algo assim um lugar que o Lan sempre quisesse ter ido, mas nunca teve a oportunidade de visitar. A regra era os visitantes usando chapéus engraçados de todos os estilos imitando personagens ou animais tornando ainda mais divertido o cenário. Alguns até mesmo se arriscavam com as maquiagens artísticas nas barracas.
- Um parque de diversões? – Lan Zhan já havia descido da moto pegando o ticket do estacionamento entregando o seu capacete e de Wuxian para ficarem guardados nos armários. – Essa foi a melhor ideia que você teve! Vamos nos empanturrar de besteira até morrer!
Wangji foi tomado de surpresa ao sentir que Wei Ying segurou a sua mão o arrastando para a bilheteria do parque. Depois de ter ignorado Wuxian, que havia dito que era só brincadeira que faria o outro pagar tudo, comprou as entradas de ambos e várias fichas para participar das brincadeiras de jogos e comprar as comidas que fariam Qiren ter uma síncope se soubesse que o sobrinho estava colocando para dentro com tanto entusiasmo. Era bastante engraçado que o Lan estivesse vestido bem demais para o lugar então Wuxian decidiu dar um jeito naquilo para retribuir a gentileza.
Fazendo-o ficar na fila para a montanha russa correu para uma lojinha de brindes e comprou dois gorros de coelho colocando-o na cabeça do Lan de surpresa. Tirando uma foto com o celular, mostrou-a deixando Wangji ruborizado ao ver-se usando o mesmo acessório que Wei Ying com seu animal favorito. Viraram dois coelhinhos agora quebrando totalmente a formalidade que Lan Zhan tinha no começo.
- Meu presente, Lan Er Gege! – Wangji poderia se considerar oficialmente morto de felicidade e estava tudo bem; Expressou isso com um sorriso discreto que Wuxian estava começando a aprender a reconhecer: ele estava feliz.
Foi particularmente difícil não perder os chapéus na montanha russa, mas depois de alguns perrengues os colocaram intactos sobre as cabeças. Ambos percorreram os brinquedos do parque animados e, por vezes, Wuxian se via surpreso sobre como mesmo a maior parte do tempo calado, Wangji conseguia ser um excelente interlocutor.
Decidiram tacitamente que não conversariam agora sobre assuntos sérios e esqueceriam que do lado de fora daquele parque havia uma miríade de problemas.
Primeira informação que notou sobre Wangji era que ele era fascinado por motos e que o modelo preto no qual vieram era uma Ecosse Titanium Series Fe Ti XX. Wuxian insistiu em saber o valor e descobriu chocado que custava a bagatela de US$ 300.000,00. Só havia treze modelos dela em todo o mundo e Wangji era dono de três, já que tinha outras duas na cor azul marinho e vermelho.
Nunca pensou que o Lan pudesse falar tanto sobre alguma coisa, mas as motos eram algo que o fascinavam e Wuxian descobriu que ele era fã das exposições e o tio o permitia comprar, mas odiava que ele pilotasse com medo de que pudesse se acidentar.
- Já me machuquei mais lutando do que pilotando. É irritante essa preocupação às vezes. – Wei Ying tinha certeza que foi o único a ver o espírito adolescente de Wangji querendo se rebelar. Durante a conversa soube que o amor por motos havia vindo da mãe que adorava fazer trilhas de motocross.
Acabou descobrindo que a música para Lan Zhan era influência do pai que, nas horas vagas, também era músico, mas que XiChen dominava a flauta muito melhor do que ele, já o piano conseguia ser mais fácil para si. Descobriu que o Lan gostava muito de música internacional e não se sentia confortável com pop comercial, que não tinha problemas com gêneros de filmes bastando que a história fosse boa para que ele assistisse.
Conversando mais um pouco soube que ele preferia comidas sem muitos temperos, diferente de si, mas se fosse necessário comer não recusaria. Que não gostava de bebidas alcóolicas, pois não sabia lidar com os resultados, Wuxian já suspeitava, e achava um imenso desperdício alguém fumar. Seu personagem favorito na infância era Edward Elric de Fullmetal Alchemist, a cor favorita era azul e que não se importava em lidar com a parte de gestão de uma empresa, mas que se pudesse investiria para valer em tecnologia.
- Os investimentos que nós temos são muito tradicionais. Hotéis, exportação de commodities, casas de chá, restaurantes, agora iremos lançar uma marca de joias. – Wei estava atento a divagação de Wangji. Ele tinha a leve impressão de que o outro não se permitia fazer algo assim normalmente. – Conversei com Song Lan e ele tem uma ideia parecida, mas os pais não querem arriscar.
- Eu lembro que a família dele é sócia de uma empresa de comunicação.
- Exato, mas a ideia é criar algo voltado para as necessidades da China. Uma rede que o governo acredite que tem controle, mas que seja tão grande e boa que nem mesmo o Estado possa dominar e as pessoas possam produzir o que quiserem. O que temos não chega nem no rastro do Google.
Wei Ying olhou impressionado para Wangji. Aquele cara diante de si planejava desenvolver algo que beneficiaria todo o país em detrimento da política ultrapassada que exigia mudanças.
- Você quer algo como o que tem fora daqui?
- É ridículo que não possamos ter acesso ao mesmo tipo de informação que outros países possuem.
- Isso é incrível. – Wuxian suspirou continuando a falar. - Eu só sou um cara preocupado com as eliminatórias para a seleção de judô e tentando fugir da visita dos avós dos meus irmãos, que me odeiam, aliás. – Direcionando o olhar para Wangji, continuou. – E você, por outro lado, ajuda centenas de crianças e suas famílias a não morrerem de fome, emprega várias pessoas, quer implantar um projeto capaz de peitar empresas ocidentais e ainda por cima é revolucionário.
Lan Zhan ficou ruborizado e disse – Eu não sou revolucionário. Só acho que devemos estar em pé de igualdade com os outros países.
- Qual adolescente que está preocupado com algo assim? A maioria só quer saber da festa mais próxima, da próxima conquista, disputar jogos, e, sei lá, os mais nerds com as vagas na universidade. – Sustentando seu argumento, continuou. – Você e XiChen, A-Qing defendendo a posição dela entre os Wen, MingJue protegendo A-Sang assumindo toda a expectativa da família e, o que mais me angustia, pois acompanho de perto, A-Cheng tendo que suportar toda a pressão da família. Eu me sinto, algumas vezes, como se todos estivessem em uma frequência diferente da minha.
Decidindo contar um pouco sobre si e suas angústias acabou desabafando algo que ia no seu coração. Lan Zhan sabia que nunca havia se concentrado tanto em sua vida quanto naquele momento ouvindo Wuxian falar sobre si mesmo.
Wei Ying deu sorriso sem graça olhando para seu amigo e disse:
- Estou sendo um pé no saco me reclamando. - Wangji continuou em silêncio até falar algo completamente aleatório:
- Do que você gosta? O que gosta de fazer?
Com aquela pergunta descobriu que Wuxian adorava música e não achava que havia estilo a ser desprezado, era grande entusiasta de dançar, nadar, lutar e praticar equitação.
A família Jiang tinha um haras de elite na região metropolitana da cidade e FengMian havia comprado um cavalo para cada um dos filhos praticarem sempre. YanLi tinha medo, logo recusou o presente, mas Cheng e, principalmente, Wuxian adoravam os animais. O nome do animal do primeiro se chamava Sandu Shengshou e o do segundo era Suibian.
- Suibian? Por que esse nome?
- Não interessava o nome, eu já o amava de qualquer jeito. Ele é imenso, veloz, forte e o pelo dele é castanho. A coisa mais linda desse mundo! O de A-Cheng é preto feito breu, muito bonito, mas não tanto quanto Suibian.
Lan Zhan sorriu
- Entendi.
- Sabe, foram os únicos animais que pudemos ter. Madame Yu disse que não queria nem cachorro e nem gato em casa e o tio Jiang não quis perturbá-la. – Se animando com a ideia que cruzou sua mente, se virou para seu acompanhante sorrindo aberto. – Quando você for para Yunmeng de novo eu irei te levar para conhecê-lo. Ele vai gostar de ti com certeza.
- Eu adoraria. – Foi a resposta simples, mas repleta de satisfação de Wangji.
- Nem consigo acreditar que você é um cara normal. - Eles caminhavam calmamente em uma parte mais tranquila do parque iluminada por lanternas tradicionais vermelhas e douradas que completava a decoração onde outros casais conversavam enquanto Wuxian devorava uma maçã do amor.
Wangji pela primeira vez se sentia como nos livros de romance que ele negaria até morrer que os leu. Tudo bem que Wuxian não era uma garota e gostava até demais de uma bebida forte em sua opinião, mas ele não trocaria por nada. - Você não me disse que estaria tendo um parque desses por aqui. Excelente escolha. Estou orgulhoso.
- Ele só acontece nessa semana todos os anos. – Wuxian olhou curioso para ele fazendo-o explicar melhor. – Sempre que eu vim até Macao meu tio não tinha tempo de nos levar e ele não permitiria que eu pudesse vim só.
- Por que você nunca veio com XiChen?
- Deveríamos estar ao lado do nosso tio nas reuniões e, bom, você sabe a história agora.
Wuxian sabia que aquele era o momento para falar sobre o que era necessário. Mal havia notado que já era 22h e não estava nenhum pouco preocupado com o dia de amanhã ali ao lado de Wangji.
- Eu quero te pedir desculpa Lan Zhan.
- Pelo que?
- Por tudo. Pela forma que te tratei, pelo soco, por ter te acusado sem saber a história, por...
- Wei Ying, pare. – Lan Zhan tentou fazê-lo parar com aquele pedido. Não havia nada a ser perdoado.
- Eu quero que tu saibas disso. Queimei a carta no forno de assar pão da vovó Wen. Não sobrou nada, eu juro. Guardarei teu segredo para sempre, quer dizer, só A-Cheng sabe o que aconteceu, porque eu não iria deixa-lo acreditando que seu irmão é um demônio, então me desculpe por isso, mas eu só... - Lan Zhan sabia que não conseguiria impedir Ying de falar tudo o que queria naquele momento. – Eu só quero que tu saibas que eu realmente me arrependo do que disse e fiz.
- Aceito se tu me perdoares também. – Wei Ying já dava a entender que iria interrompê-lo dizendo que não era necessário e que já havia perdoado a forma que ele disse. – Jamais deveria ter dito algo do gênero. Você merece alguém que te ame com a força de mil sóis.
O sorriso de Lan Zhan pareceu dolorosamente triste para Wei Ying.
- Eu acho que nós dois podemos nos perdoar. – Wuxian jogou fora o palito do doce que vinha comendo limpando o excesso de açúcar na calça. Analisando ao redor percebeu que o parque fecharia dentro de duas horas no máximo, então era necessário acabar aquela noite com grande estilo e sem mágoas. – Nós dois somos horríveis em comunicação e, particularmente, eu não esperava que você viesse declarar seus sentimentos daquela forma, então eu te peço um pouco de paciência comigo, pois irei aprender a lidar com isso.
Wangji não estava entendendo bem aquela conversa. Wuxian estaria lhe dando esperança?
- Eu não entendo...
- Sejamos amigos primeiro! Vamos nos divertir, participar de karaokê, nadar no lago dos Wen de novo, comer marshmallow no inverno com chocolate quente enquanto jogamos com nossos amigos, vamos tornar a vida de Chernoboy um inferno, sermos melhores que os Jin como sempre, vamos juntos no festival do coelho... – Wuxian sorriu feliz. – Vamos primeiro nos conhecer. Talvez da mesma forma que eu odiei o que imaginei de você, tu tenha te apaixonado pelo que inventou de mim.
Lan Wangji sabia que aquela resposta poderia significar mil e uma coisas, mas desprezo e ódio não estavam entre elas. Ao menos algo de bom ele poderia dizer que havia construído e se sentia mais maduro do que meses atrás quando foi com muita sede ao pote e descobriu que dentro só tinha veneno. Agora, pelo jeito, se ele esperasse um pouco, talvez encontre água.
- Eu concordo.
Wei Ying notou que Wangji em momento algum tentou tocá-lo o que o fez sorrir carinhosamente para o outro. Surpreendo a segunda jade de Gusu entrelaçou sua mão a do outro dizendo:
- Vem, Lan Zhan, vamos aproveitar o festival. Quero tentar a sorte na barraca de tiro e eu vi que tinha uma cabine de fotos por aqui! – E assim saiu arrastando o outro. Wangji quase tropeçou nas próprias pernas ao ouvir o seu nome de nascimento sendo dito daquela forma por Wei Ying. Do mesmo jeito que o já havia ouvido chamando Jiang Cheng: uma mistura de debochado, brincalhão, divertido e, principalmente, amoroso. O segundo herói de Yunmeng não fazia ideia de que se ele pedisse Wangji era capaz de naquele momento ganhar todos os jogos e tirar todas as fotos, tudo que fosse necessário para fazer Wuxian feliz
I'll do whatever it takes
Eu farei o que for preciso
To turn this around
Para mudar tudo isso
I know what's at stake
Eu sei o que está em jogo
I know I've let you down
Eu sei que te magoei
And if you give me a chance
E se me der uma chance
Believe that I can change
Acredite que posso mudar
I'll keep us together whatever it takes
Eu vou nos manter juntos custe o que custar.
Lifehouse – Whatever It Takes
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