História Whatever It Takes - Capítulo 39

O encerramento dos Jogos Escolares da China aconteceu com grande festa entre todo o corpo docente e discente, claro, com as consideradas exceções que estavam em Yunmeng para fins escusos.

A maior parte dos estudantes estava no ginásio aproveitando a comida e bebida a vontade e marcavam de visitar os novos amigos nas férias para se divertirem. O clima era muito agradável e contagiava os presentes.

Wei Wuxian olhava ao redor procurando por Lan Wangji, porém teve que deixar o seu intento de cumprimentar o amigo e dizer que tudo ficaria bem mesmo com as notícias que se espalhavam pela mídia, pois se viu cercado pelos irmãos e amigos Nie Huaisang, Wen Ning e Wen Qing, MianMian e Xiao XIngChen.

A quem Wei Ying queria enganar? Ele não via a hora de conversar com o Lan sobre qualquer coisa que desse na telha até alta madrugada enquanto bebiam e ouviam música. Quem sabe ser ele a convidar para dançar dessa vez. Ou só hoje, caso desse tempo, escapar para visitar Suibian uma última vez e mostrar para Wangji o cavalo maravilhoso no qual aprendeu equitação.  

A alegria no rosto de todos fez com que o segundo herói de Yunmeng, mas agora conhecido pelos colegas como orgulho de Yunmeng, sentisse que sua vitória era muito mais do que apenas dele, mas de todas aquelas pessoas que apostaram em si. Ele poderia deixar Wangji esperar um pouquinho mais, mesmo que isso o deixasse agoniado, afinal a segunda jade estava em Yunmeng, contudo longe de seus olhos.

Wuxian achava que não era um cara rico a ponto de outros considerarem vantajoso estar ao seu lado. Perto de todos os amigos e os próprios irmãos de consideração ele não passava de um grandíssimo pobretão, todavia, aquelas pessoas ali pareciam extasiadas com a sua vitória e já faziam apostas, principalmente Huaisang, sobre em quanto tempo Wuxian estaria rivalizando com Luo Binghe em popularidade no esporte.

Wei Ying ainda tinha gravada a ferro e fogo a carta de Wangji e sobre como o outro o via, o que acabava deixando-o ainda mais constrangido com tanta fé que depositavam nele.

- Isso não é nem pra ser discutido. – Disse Jiang Cheng. – Os dois podem ser populares ao mesmo tempo, afinal a categoria de Binghe é a absoluta e Wuxian tá bem mais abaixo. Nem mesmo XiChen ou Wangji ficarão na mesma categoria que eles.

Wuxian respirou satisfeito ao saber disso, mas era um fato inconteste que a segunda jade de Gusu não havia crescido tudo o que deveria e pela própria constituição física dele era claro que se tornaria um homem de estatura impressionante, contudo era bem difícil superar Luo Binghe de qualquer maneira.

- Vamos, vamos. Parem com isso. – Wuxian fez os amigos se acalmarem. – Ainda terei que treinar muito com o resto da seleção antes de dizer que sou mesmo um atleta de elite. – Sorrindo abertamente do jeito que fazia o dia de quem o amava melhor só ao observar, disse. – Eu darei o melhor de mim para ser o orgulho de Yunmeng.  - Jiang Cheng só sabia aprovar aquela fala e todos ali achavam que era difícil haver alguém que superasse os irmãos Jiang na torcida por Wei Wuxian.

Bom, eles não sabiam sobre os pensamentos de Lan Wangji de qualquer maneira.

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O dia prometia sua dose de desgosto com a certeza da conversa com os Jin mais tarde, mas tanto Jiang Cheng quanto Wei Wuxian estavam agora se encaminhando para a arena de artes marciais atendendo ao chamado de Baoshan.

Eles deveriam voltar para casa logo após o coquetel de despedida dos estudantes e professores, então tiveram que se organizar para encontrar a sensei o mais rápido possível. Desde o anúncio pela manhã, até aquele final de tarde, puderam ficar na companhia dos amigos por um bom tempo e nesse período foram convocados pela mestra. A mulher foi firme e assertiva ao dizer que queria apenas os dois na arena de artes marciais após as festividades de encerramento dos jogos.

Por mais que Jiang Cheng não falasse nada ele tentou encontrar, nem que fosse por acidente, a primeira jade de Gusu. Ele não sabia ao certo o que diria ou o que faria, e não negava a vergonha que o tomava de assalto, contudo, ele realmente queria falar com Lan XiChen.

Talvez aproveitar aquele dia junto a ele e, não sabia, quem sabe falar o quanto o outro significava para si? Como se aproximar naturalmente se tudo estava tão artificial? No fim das contas Jiang Cheng percebeu que não conhecia a pessoa pela qual era apaixonado e tinha medo de que com o tempo o afeto tivesse diminuído. Na verdade, ele nunca ouviu da boca do Lan mais velho a confissão dos seus sentimentos e se algum dia eles existiram podem ter se desfeito ou perdido a força.

Wuxian também procurou por Lan Wangji e não o encontrou depois da cerimônia de encerramento dos jogos. Será que o outro decidiu que não valeria  a pena manter a amizade consigo? Não. Wei Ying sabia que dificilmente seria algo assim, afinal se despediram em bons termos e se perdoaram mutuamente. Eles estavam recomeçando para todos os efeitos e o herói de Yunmeng decidiu que não duvidaria da palavra da jade de Gusu que tanto se mostrou para si.

Baoshan, alheia aos conflitos dos mais jovens, olhava ao redor daquela arena e lembrava-se de quando acompanhou o treino dos seus dois melhores estudantes pela primeira vez. O quão pestinhas sempre foram, mas incapazes de ficarem separados e agora a vida exigia que ambos seguissem rumos distintos.

Ela sabia que o nome naquela lista era de Jiang Cheng, todavia, a decisão de mudança claramente improvisada de FengMian tinha a ver com o próprio filho que decidiu se opor a vontade da mãe. Baoshan sorriu satisfeita observando os dois garotos correndo em direção a entrada do dojô como se a vida deles dependesse disso.

- Pensei que vocês não viriam mais, pirralhos.

- Desculpa, mestra. – Jiang Cheng parecia que iria colocar as tripas para fora depois de ter corrido todo o caminho até ali.– Viemos o mais rápido que pudemos. – Completou Cheng.

- Deixa... Eu... Respirar... – Wuxian já conseguia enxergar pontos brancos vindos do além pelo esforço feito. Baoshan segurava o riso da cara de desespero do sobrinho.

- Se recomponham e fiquem em posição de sei-za.

Ambos assentiram e sentaram sobre os joelhos com a postura perfeita. Mesmo sem os judogis eram judocas naquele momento diante da mestra.  Baoshan carregava uma bolsa com ela para curiosidade dos garotos e se colocando na mesma posição que eles procedeu com a saudação de início das atividades dentro de um tatame. Ambos acompanharam a mestra, mas sem compreender o que estavam fazendo ali naqueles termos e sem os trajes apropriados. Havia um clima de solenidade que começaram a estranhar.

- O que significa a faixa preta, pirralhos? – perguntou Baoshan depois de alguns minutos em silêncio olhando seriamente para ambos.

Eles se entreolharam questionando qual o ponto da pergunta. Outro teste da mestra? Se errassem ela os faria subir na corda cinquenta vezes carregando peso amarrado nas pernas? Estavam tão preocupados nos últimos tempos com a situação da irmã, apaixonados por dois caras e morrendo de ódio dos Jin que simplesmente nem lembravam mais de refletir sobre as bases do esporte amado por ambos.

A filosofia de um judoca deveria permear a sua vida. Não era apenas uma arte marcial que tornava mais fácil agredir terceiros, mas havia ali todo um sistema voltado para que os mais fracos pudessem enfrentar os mais fortes e vencer, que os mais experientes estivessem a serviço dos novatos, que quanto mais longe chegasse, mais estaria capacitado para auxiliar quem ainda não havia chegado lá.

A vida havia cobrado um pouco de amadurecimento deles e sentiam que cresceram um pouquinho mais naqueles meses do que nos demais anos. Lutaram as partidas mais importantes das suas adolescências e perceberam que outros dependiam deles agora, Naquele momento ambos compreenderam a pequena história sobre o significado da faixa preta que todos os mestres contavam para os seus alunos.

Ainda podiam ouvir Baoshan falando para eles quando tinham apenas nove anos de idade. A história era sobre um judoca que se ajoelhou diante do seu mestre em uma tradicional cerimônia. O estudante passou anos praticando o caminho suave, significado da palavra judô, e havia chegado o momento de outorga da faixa preta para ele.  Porém, antes de entregar a faixa, o mestre desse estudante tinha um teste derradeiro.

– “Antes que eu lhe dê a faixa você tem que passar por outro teste”. – Baoshan fazia a voz de um velho mestre falando para seu afoito estudante. - “Eu estou pronto”, o judoca acreditava que se trataria de uma luta então respondeu dessa forma. – Os meninos olhavam encantados para ela esperando o desenrolar da história. - “Você tem que responder à pergunta essencial: qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”, disse o velho mestre. O aluno disse confiante: “O fim da minha jornada”, e depois completou “uma recompensa merecida pelo meu bom trabalho”. O sensei apenas olhou para o seu estudante e disse: “você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.”.

Sabendo que tinha a atenção dos dois espevitados garotinhos, a mestra continuou. - No ano seguinte o estudante se põe aos pés do mestre novamente para pleitear a tão desejada faixa. “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”, perguntou novamente o velho sensei. E ele respondeu confiante: “ela significa a excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte.”. O sensei apenas olhou para o seu estudante e disse: ”Você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.”.

Colocando cada mão sobre a cabeça de um dos meninos, finalizou a história. - No ano seguinte o estudante se põe aos pés do seu sensei. Humilde, esperou a pergunta do mestre: “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?” - Naquele momento, Wei Wuxian e Jiang Cheng, pequeninos, permaneciam completamente concentrados nas palavras da sua mestra aguardando a resposta do estudante teimoso enquanto sentiam o toque de Baoshan em suas cabeças.

E mais uma vez estavam ali, ajoelhados no tatame que tantos treinos deles sustentou, diante da mestra que agora se portava com algumas marcas da idade perfazendo seu rosto bonito, homens, um indo rumo à seleção nacional da China e tomando alegremente o papel de pai de família, e o outro disposto a se preparar para assumir o comando das empresas da família. A vida parecia um mistério, mas era outra coisa também. Ambos sorriram para a mestra e responderam em uníssono as mesmas palavras que ouviram aos nove anos que ficou marcada em seus corações e agora fazia sentido.

- “A faixa preta representa o começo, o início da jornada sem fim de disciplina, trabalho e a busca por um padrão cada vez mais alto”. – Jiang Cheng completou logo em seguida. – A faixa preta significa não esmorecer.

- Não se acovardar, mesmo que tudo esteja contra. – Disse Wuxian se lembrando da declaração desajeitada de Wangji que exigiu tanta coragem do outro e só foi reconhecida bem depois.

- Ser forte para enfrentar os problemas de cabeça erguida. – Jiang Cheng se lembrou de Lan XiChen que ignorou a própria pouca idade para ajudar o tio a cuidar dos irmãos e agora era a sua vez de fazer o mesmo.

- Ser gentil para ajudar os que estiverem começando. – Mais uma vez Wuxian falava, mas em suas memórias havia uma Lan Zhan servindo de uke para uma menininha e incentivando-a a ser uma judoca.

- Ser honesto. – Jiang Cheng sabia que Lan XiChen nunca havia mentido para si. Ele sempre o quis proteger, mesmo que de si mesmo.

Sem saber ambos perceberam que deviam muito da percepção do que era um judoca para as duas jades de Gusu. Se um dia reclamaram sobre aqueles dois já serem faixas pretas pediam perdão aos deuses por isso.

- Jiang Cheng. – Baoshan olhava orgulhosa para o seu estudante mais velho. Ela havia visto aquele garoto deixar de ser um pirralho para se tornar um homem capaz de enfrentar o mundo. – Eu, Baoshan Sanrem, pela autoridade a mim conferida como sua mestra e judoca faixa preta quarto dan, venho outorgar a sua faixa preta. Continue no caminho do samurai, mas se necessário for, não se esqueça de que algumas vezes precisamos nos afastar dele para proteger quem é caro para nós e jamais esmoreça na busca pelo conhecimento.

Os garotos mal podiam crer em seus olhos. A sua mestra havia retirado da bolsa duas faixas pretas e as colocado diante de si com os respectivos certificados. O nome de Jiang Cheng estava bordado em linha roxa e o de Wuxian em vermelho, brilhantes como duas joias aos seus olhos. Os certificados estavam logo abaixo das tão almejadas faixas. Eles haviam feito os cursos e atividades exigidas, mas dependia de Baoshan decidir se eles deveriam ou não receber a tão sonhada titulação para os praticantes do judô.

- Wei Wuxian. - Baoshan ria internamente divertida da cara de choque dos garotos. Eles não esperariam receber a faixa naquele dia em hipótese alguma, mas a mulher já estava organizando a regularização do cadastro de ambos junto à federação chinesa desde quando aconteceu a chegada dos avós de Jiang Cheng em Yunmeng. - Eu, Baoshan Sanrem, pela autoridade a mim conferida como sua mestra e judoca faixa preta quarto dan, venho outorgar a sua faixa preta. – Carinhosamente entregando nas mãos do garoto o símbolo de todos daqueles anos de trabalho, completou. - Um faixa preta está disposto a proteger os mais fracos e jamais esmorecer na busca pelo conhecimento e isso implica ser humilde o bastante para pedir perdão quando necessário.

Agora aqueles dois não eram mais seus alunos. Eles eram mestres também. Wei Wuxian recebeu em suas mãos a faixa e sem perceber começou a chorar. Jiang Cheng não estava muito diferente. Baoshan estava muito orgulhosa. Ela amava muito aqueles dois. Tomando um susto mal se deu conta de quando os dois se lançaram sobre ela em uma mistura de membros, lágrimas e catarro falando que ela era a melhor mestra do mundo.

Ela brigava para que aqueles dois homens enormes a largassem imediatamente senão iria sufocar, mas não era como se estivesse fazendo uma força real, afinal de contas o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço, principalmente de pessoas que a gente ama.

Wei Wuxian e Jiang Cheng sabiam no fundo de seus corações que não importava qual dan alcançassem ou quantas medalhas adquirissem. Baoshan Sanren seria a mestra deles para sempre.

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YanLi havia visto os irmãos saírem correndo desesperados apenas dizendo algo como “atrasados”, “Baoshan”, “Vamos morrer”. Ela ria divertida sempre que via a interação de mestra e discípulos, pois a mulher mais velha era bem estressada e os seus estudantes faziam o impossível para tirá-la do sério e depois sofrerem as punições.

MianMian já havia ido embora da escola exigindo que a amiga a mantivesse sempre por dentro das novidades e que já estava preparando roupinhas roxas para o bebê que estava por vir. Segundo ela era uma cor tão Jiang e YanLi riu divertida pelo pensamento da amiga. Wen Qing já havia seguido para o dormitório com Wen Ning, mas assegurou que no dia seguinte estaria pela manhã na casa da amiga para ajudar na preparação das malas dela e de Wuxian.

Huaisang se prontificou a obrigar o irmão a preparar o carro, pois como estavam todos de férias iriam para Pequim junto aos amigos e teriam uma grande aventura. Xiao XingChen se prontificou em organizar guloseimas para todos e perguntaria se Song Lan gostaria de ir também.

Jiang Cheng achou um absurdo estarem organizando aquela viagem e ele sem poder ir, mas Wen Ning imediatamente deu a solução alegando que poderiam chamar os Lan então teriam mais uma pessoa para dirigir além de MingJue. XiChen não se importaria, mas estranhamente Cheng pareceu hiperventilar com a ideia.

As coisas estavam se encaixando nessa vida e YanLi poderia visualizar a vida que lhe esperava. Poderiam ser felizes e não implicaria em toda a eternidade seu irmão preso a si. Ela só queria ter um pouco de tempo para se estabelecer, ter uma profissão e poder cuidar de si e do seu filho sem preocupar sem A-Xian.

Quando o seu irmão encontrasse uma boa moça para casar e construir a própria família ela queria poder ser a maior incentivadora. Já bastava A-Cheng fadado a não viver o próprio romance por todas as circunstâncias que envolviam as famílias e a própria sociedade.

Cada um dos amigos e irmãos precisavam se preparar de uma forma ou de outra para o dia seguinte, mas YanLi sabia que ainda teria que presenciar a conversa daquela noite em sua casa entre os Jiang e os Jin.

Por esse motivo ela preferiu ficar um pouco sozinha para se divertir daquela escola na qual pôde viver tanta felicidade. Foi maravilhosamente divertido ser uma estudante de Yunmeng e ela se lembraria para sempre com carinho de tudo o que viveu.

Aquela área da escola era a sua preferida. O lago de lótus ficava posicionado como se fosse uma continuação do prédio servindo como um espelho de água natural.

Caminhando na passarela que dava uma visão privilegiada para o lago mal se apercebeu que não estava mais sozinha no lugar até que uma mulher alta que mais lembrava uma modelo se posicionou ao seu lado. Seria alguma visitante? Mãe de aluno? Professora? Outra profissional?

- O fim da tarde em Yunmeng é maravilhoso. – Disse a estranha bem próxima a si. – Quando me falaram sobre ele eu jamais pensei que fosse tudo isso.

YanLi achou estranha a abordagem, mas estavam dentro da escola e sentiu que não havia perigo para si mesmo que estivesse um tanto deserto ali. Sorrindo docemente, disse:

- Sim. Yunmeng tem um poente lindo. – Ela precisava acrescentar a pergunta a seguir. - A senhora veio à visita?

A mulher sorriu encostando um leque nos lábios. Ela era extremamente encantadora e seu sorriso de uma delicadeza que fazia YanLi sorrir em resposta. Além de bonita ela era realmente muito alta. Quase a mesma altura de A-Xian.

- Eu vim por você, senhorita Jiang Yanli. – A mulher se virou totalmente e disse. – Espero que a senhorita esteja disposta a me ouvir por alguns instantes, pois preciso convencê-la de que está correndo risco aqui.

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Jin GuangShan sabia que existia aquela possibilidade, mas realmente confiou que Madame Yu não permitiria que Wei Wuxian ficasse a frente do filho até notar quem estava naquele momento segurando a mulher. Baoshan prendeu com mão de ferro ZiYuan e era capaz de partir o braço dela caso se movesse.

Com isso, as coisas mudavam de figura e ele permanecia atentamente avaliando as peças daquele tabuleiro enquanto tomava sua bebida na recepção para as autoridades escolares que conversavam entre si.

GuangShan era um homem precavido e quando se viu sozinho antes da recepção leu o parecer do seu advogado e sorriu satisfeito com o que causaria naquele dia. Sua ideia inicial era a prova de falhas, mas encontrou entraves, e ele ficou bastante contente com o seu sobrinho que havia instrumentalizado todo o plano desenvolvido por GuangYao.

A visita a mansão Jiang era longe de amistosa. Madame Yu achou um acinte por parte do marido não oferecer um jantar para os Jin, mas FengMian queria deixar bem claro que encarava a outra família como verdadeiros inimigos.

A intervenção de Jiang Cheng, Wei Wuxian e Jiang YanLi serviu como um raio de esperança e o patriarca Jiang sabia que a filha e o neto estariam bem com Wei Ying. Ele conhecia a índole do garoto que havia criado, bem como o quanto se amavam.

- Boa noite, Jiang FengMian. – GuangShan estava mais do que confiante nas suas informações privilegiadas. – Creio que nós dois devamos conversar sobre o assunto que concerne as nossas famílias.

- Concordo. – Completando suas palavras sem se mover da poltrona na qual estava, disse. – Estamos todos aqui para discutir os rumos das nossas famílias.

ZiYuan pensou seriamente que o marido a relegaria para segundo plano naquele momento levando a discussão para o escritório, mas aparentemente ele queria ter a sua presença e dos filhos. A verdade era que Jiang FengMian confiava na força da esposa muito mais do que ela acreditava e era necessário que o resto da família estivesse presente.

Tamanho complexo de inferioridade era fruto da criação dos Yu que distorceram o espírito poderoso de uma garotinha transformando-a em uma mulher amarga que era incapaz de perceber as pessoas que a amavam e o quanto a consideravam.

Mesmo Wuxian sendo alvo de boa parte da amargura da mulher não tinha qualquer ódio por ela, muito pelo contrário, sua percepção sobre a mãe dos irmãos era de que se tratava de uma mulher forte e capaz, mas que não via o quanto era abençoada pela família que tinha.  

Na sala permaneceu a Senhora Jin, ostentando uma cara repleta de enfado e resignação, ZiXuan demonstrando todo o seu desgosto e Jin Ling que não sabia como disfarçar a vergonha. Ele realmente admirava muito os heróis, não, os orgulhos de Yunmeng.

Se alguém perguntasse para ele a sua opinião sobre unir as famílias, ouviria que achava o máximo a ideia de ser parente de Jiang Cheng e Wei Wuxian. Jiang YanLi era algo completamente fora de série e seu irmão não merecia uma garota como ela.

Mas o que diria Jin Ling? Era apenas o caçula e preterido até pelo bastardo Jin GuangYao.

O clima na sala estava muito pesado, mas desde que receberam as faixas pretas mais cedo recaiu sobre a consciência dos dois orgulhos de Yunmeng que eles não eram mais garotos, mas homens. Aquele era um momento delicado para a família e precisavam agir de acordo.

Jin Ling, por outro lado, não queria ficar ali dentro mais nenhum segundo que fosse. Pedindo licença solicitou para os presentes autorização para se retirar e acabou recebendo a anuência tanto dos pais quanto dos anfitriões que, particularmente, não tinham nada contra o caçula dos Jin. Logo após a saída do garoto a conversa alcançou contornos pouco agradáveis para os Jiang.

FengMian congelou a face para não fazer transparecer toda a sua fúria. O ódio subia pela garganta como um verme banhado em lava corroendo todos os seus sentidos, mas ele não precisou reagir antes que sua esposa batesse no braço da poltrona e exclamasse ferozmente.

- QUE PORRA É ESSA? – Disse Madame Yu.

- Eu não esperava que uma dama tão distinta tivesse um palavreado tão chulo. – O deboche pingava de cada sílaba proferida por Jin GuangShan. A Senhora Jin apenas direcionou a vista para qualquer lugar longe da amiga. Quando obrigada a presenciar as negociações escusas do marido ela preferia se lançar em um universo paralelo ignorando a todos. – Eu estou apenas apresentando o novo regimento da Federação Chinesa de Judô.

O plano de emergência orquestrado por GuangShan e GuangYao, com a instrução dos advogados, era alterar a regra de permanência de judocas do sub-18 em prol de uma iniciativa que tornasse o atleta completamente concentrado no esporte.

Antes não havia qualquer regra nesse sentido, mas nos últimos dias o diretor de Lanling, grande patrocinador da Federação, conseguiu aprovar um artigo no qual dizia que atletas com idade inferior a dezoito anos não poderiam ser casados ou ter qualquer tipo de relacionamento que se enquadrasse em uma união estável.

Ademais, a lei era bastante rígida dizendo que atletas adolescentes que fossem pais também não seriam considerados para o programa da sub-18 sendo imediatamente desligados caso comprovada a relação marital ou paternal. Esses termos não se aplicam para a categoria sênior ou acima da sub-18.

Os atletas adolescentes deveriam viver nas instalações da Federação obrigatoriamente e não poderiam possuir outro endereço em uso. Só teriam direito a salário após os dezoito e até lá receberiam uma bolsa que só daria para eles se sustentarem. Plano de saúde só para o atleta. Dependentes apenas após os dezoito poderiam ser indicados.

Era uma norma da federação que atingia diretamente a situação de Wei Wuxian e Jiang YanLi obrigando que o garoto escolhesse entre a irmã ou o esporte travestida de preocupação com a produtividade e crescimento dos jovens atletas no esporte.

- Wei Wuxian será um excelente representante de Yunmeng em Pequim, mas creio que seja inviável que Jiang YanLi possa ir com ele a essa altura, afinal poderiam as más línguas afirmarem que eles estariam vivendo como se casados fossem. – O aviso era claro. Se aquela história continuasse nos termos da herdeira Jiang chegaria uma denúncia anônima para a federação.

- Todos sabem que o filho é de Jin ZiXuan. – Madame Yu salientou o óbvio.

- Exatamente. – Jin GuangShan saboreava a vitória - Wei Wuxian só poderá assumir a guarda da criança e a posição de marido da adorada Shijie se abandonar o esporte e perder a vaga de Yunmeng que foi dada a si com tanto sacrifício ou ele poderá continuar na equipe e eu entrarei com o pedido de guarda. – Tais palavras foram ditas enquanto alternava a vista entre um furioso patriarca Jiang e um consternado Wuxian. - Ambos sabemos que posso conseguir na justiça uma ordem restritiva contra YanLi e interná-la, pois, pobrezinha, está louca podendo fugir de casa a qualquer momento e quer tirar o próprio filho. Talvez uns tempos em uma casa de repouso sirvam para ela.

Madame Yu olhava consternada aquele homem diante de si. Sua filha seria entregue ao filho daquele monstro? Por que tanta vontade de subjugar a sua família?

- O que você quer? O que realmente queres? – Perguntou FengMian.

- Eu quero que quando meu neto nasça eu tenha a guarda dele. Meus parentes devem viver comigo, pois os amo muito. – O deboche fez o estômago dos outros presentes na reunião revirarem. – Todos sabem que é tradição nossa que a mulher e as crianças devem se mudar para a cidade do pai e receber, no caso aqui, o registro de Lanling.

Yu ZiYuan controlou a raiva que aflorava, mas agora com a cabeça no lugar ela começou a perceber que a situação não era o que ela pensava. Não se tratava apenas de um casamento sem amor com um acordo comercial vantajoso para os Jin. Havia alguma coisa por baixo que estava fedendo e poderia engolir a todos.

- A única coisa que quero é que vocês convençam YanLi a casar com ZiXuan e, como demonstração de boa fé, poderemos estabelecer a nossa parceria comercial nos termos já esposados, mas posso ignorar tudo isso se o nosso acordo apresentar uma pequena mudança.

- Qual? – Disse FengMian.

- Meu filho não precisa se casar com YanLi já que estão tão dispostos a não aceitar, todavia, a criança será devidamente reconhecida como meu neto. Não me importo que ele seja criado com vocês.  – GuangShan proferiu as palavras com um tom de descaso. – Mas para isso solicito o uso da logística de malha fluvial sem qualquer questionamento sobre os nossos carregamentos e, como demonstração de boa-fé, você nos venderia 40% de suas ações e o direito de voto no conselho.

Wei Wuxian sentia toda impotência que alguém como Jin GuangShan infligia sobre outras pessoas. A força dos contatos e o poder do dinheiro exalavam dos poros daquele homem que mais uma vez virava a situação ao seu favor.

Jiang Cheng olhava para os pais esperando que alguma solução fosse dada, mas todos eram cientes que a lei não estava do lado de Jiang YanLi, principalmente considerando a influência dos Jin como banqueiros e donos de cassinos. Era incontável a quantidade de pessoas que deviam favores ou a vida para aquela família e muitas delas estavam ocupando postos expressivos no judiciário.

Jin ZiXuan era contra a sua união forçada com a herdeira Jiang, mas depois de conversar com o pai e compreender a importância daquele casamento passou a se comportar minimamente bem para que nada desse errado. Sempre havia a possibilidade de FengMian vender as ações para manter a filha em segurança, afinal.

Wei Ying sentiu que sua mente ficava em branco e em um último lapso de pensamento segurou no braço do irmão implorando para que alertassem YanLi. Jiang Cheng, por mais que quisesse, não poderia sair daquela sala e abandonar os pais, logo pediu com os olhos que Wuxian fosse avisar a irmã.

Ele se retirou da sala e correu em direção aos quartos, mas ao chegar diante da porta da irmã viu que estava trancada. Batendo algumas vezes e estranhando o fato de estar silencioso do outro lado buscou a chave reserva no escritório do tio Jiang.

Ao abrir a porta se deparou com a janela aberta e a mala que a irmã havia feito no dia anterior ausente. YanLi não estava em lugar algum do quarto, mas sobre o travesseiro da cama sendo presa por um anel pesado de ametista estava um bilhete escrito com a sua inconfundível letra.

Não se preocupem comigo. Estou com amigos. A família Jin tentará destruir tudo o que construímos e eu irei ajudar. Seja cauteloso, A-Cheng, não deixe a sua raiva te guiar. A-Xian, não desista da vaga na seleção. Vocês são os orgulhos de Yunmeng. Ficaremos  todos bem. Acreditem em mim. Não estamos sozinhos nessa luta.

Com amor, Yanli e RuLan